Lucas 11.33-39 - Iluminados por Cristo e luzindo

Prédica

14/02/1979

ILUMINADOS POR CRISTO E LUZINDO
Lucas 11.33-39 (Leitura: Salmo 19) 

«Ninguém, depois de acender uma lâmpada, a põe em lugar escondido, nem debaixo de uma caixa ...» 

Por que se acende uma luz? --- Ora, que pergunta! É evidente: para que o quarto em que nos achamos fique iluminado! Então, quem acende uma luz, quer que o ambiente fique cheio de claridade — claridade que permita ver os objetas e as pessoas. Vamos imaginar esta situação elementar de forma bem concreta. Imaginemos que estamos sentados numa sala escura. Você não sabe quem está sentado ao seu lado. Não sabe o que está acontecendo. Não é possível caminhar pelo recinto sem bater em alguma cadeira ou pisar nos pés de uma pessoa. Há incerteza, há ignorância, e pode haver mais: Pode haver medo, pode haver pânico. — E, de repente, uma luz é acesa. Toda a situação muda, sem que nada, na sala, tenha sido deslocado de seu lugar. A luz é que trouxe a mudança. Nós enxergamos. Reconhecemos a realidade. Vemos o rosto sério ou risonho da pessoa sentada em nossa frente; podemos agir, caminhar sem tropeçar, dirigir a palavra a alguém que conhecemos. 

E se o homem que acendeu a luz viesse para colocar uma caixa (um «alqueire») sobre a lâmpada que ele mesmo acendeu? Não seria um tolo? Ou talvez nem seja tão tolo assim! Talvez seja um espertalhão! Talvez apenas queira ter o nome de um amigo da luz — e na realidade alguma coisa que ele prefere deixar no escuro; assim ele quer uma luz, mas uma luz debaixo do alqueire, uma luz sem consequências. Talvez queira uma luz limitada, uma luz controlada conforme seus caprichos, luz conservada debaixo de sua caixa, para poder dizer: Eu tenho uma luz muito bonita que herdei de meus pais e que se acha muito bem guardada. Até poderei mostrar-lhes o lugar onde ela se encontra. É lá, debaixo desta caixa... 

Luz escondida, luz coberta, luz impedida de luzir: isso é coisa muito séria. Será que não é este o nosso caso? Nós temos a luz. Sem dúvida, nós a temos. Pois temos Cristo. E Cristo disse: Eu sou a luz do mundo. Cristo disse dos seus discípulos: Vós sois a luz do mundo. Quer dizer que, se formos de Cristo, luz não vai faltar. Mas o mundo pergunta: Onde está a luz de vocês? — Nós respondemos: Ora, em nossas igrejas, onde o evangelho está sendo pregado! — Graças a Deus, isso é verdade! Mas acontece que para muitas pessoas as igrejas cristãs são apenas umas grandes caixas, uns imensos alqueires que cobrem (ou encobrem) alguma coisa, da qual eles ouviram falar, mas que em realidade não conhecem. Talvez suspeitem que lá dentro nem haja luz verdadeira. Que no máximo haja fumaça. Ou, talvez, um lugar para pôr dinheiro. Sim, muitos realmente pensam assim: a finalidade da igreja é coletar dinheiro! — Você dirá: Mas eles poderão chegar para ver! Poderão frequentar os cultos, poderão deixar de olhar a igreja só de fora, e então eles vão descobrir a verdade! 

Sim, não há dúvida, eles poderão vir à igreja. Mas precisamos ouvir bem o que diz Jesus. Ele diz que a luz é para ser colocada no lumieiro. Isto é, num lugar alto, público. O evangelho, em nosso lugar, em nossa terra, em todo o mundo, deverá ser uma grandeza pública! Deverá ser assunto de notícias! Não assim como um jogo de futebol ou um crime que abala a cidade. Será diferente, mas será assunto público! As pessoas que vivem no escuro, também aquelas que nunca vêm à igreja, precisam descobrir que a luz é capaz de penetrar em sua vida. Que não há nenhum lugar em que elas se podem esconder da luz, sem serem atingidos por seus raios. Vamos pôr a mão sobre o nosso coração e perguntar-nos com toda a seriedade: Será que em nosso lugar, em nossa vila, em nossa cidade o evangelho é mesmo uma grandeza pública? Será que o varredor de nossa rua sabe dele? O velhinho, nosso vizinho, o conhece? Nossos próprios filhos já o descobriram. A luz realmente se acha colocada sobre o lumieiro?
«São os teus olhos a lâmpada de teu corpo. Se os teus olhos foram bons, todo o teu corpo será luminoso. Mas se forem maus, e teu corpo ficará no escuro. Repara pois, que a luz que há em ti, não seja escuridão.» 

Aqui, em nossos pensamentos, teremos que dar um pequeno salto. Há pouco Jesus nos disse para não pormos a luz debaixo de uma caixa, de não escondermos a luz que recebemos de Deus. Agora ele fala de uma pessoa que tem luz. Luz que não vai sendo escondida. Luz de uma pessoa cujos olhos bons refletem o brilho de um «corpo todo luminoso». A gente se assusta um pouco, ao ouvir como Jesus aqui descreve um cristão. E não é para menos. Se é verdade que há gente assim, perguntará o descrente, se é verdade que há gente luminosa, gente agraciada, benigna, perdoadora, dedicada, leal — por que o muno, então, continua tão escuro? Eu vejo é os homens brigando por vantagens mesquinhas; eu vejo cada qual procurar o seu próprio proveito! Pessoas luminosas? Pessoas que realmente iluminem seu ambiente? Onde se encontram? Não é assim, que os peixes grandes comem os peixes pequenos — e os peixes pequenos se devoram entre si? O rico explora o pobre, e o próprio pobre explora o pobre até que a morte acaba tanto com o rico como com o pobre? Luz? Isso seria: ver um sentido na vida da gente, ver que a vida realmente não é um conjunto de acasos, uma luta cega no escuro. Seria ter uma bússola que norteia nossos passos para um alvo certo. Não não creio, diz o descrente. Se realmente há luz, então ela deve estar bem escondida. A culpa não é minha, se nada vejo. A culpa será da luz! 

Alto lá, meu amigo descrente: Você já contou, por um momento sequer, com a possibilidade de que o motivo da escuridão que você está acusando, possa estar em você mesmo? Que você poderá estar rodeado de luz — e continuar sentado no escuro «porque seus olhos não são bons», como diz Jesus ou porque você está cego, ou porque mantém os olhos fechados? Você já pensou na assustadora possibilidade de que a escuridão possa estar em você? Que lhe possa faltar a iluminação que parte daquele, que é a luz do mundo? Que a luz da fé não tenha sido acesa em você que os seus olhos são maus, e que por isso toda a sua vida continua escura? — «Mas eu tenho a minha luz», você poderá dizer. «Eu tenho minha inteligência. Eu sou uma pessoa crítica, de cabeça ventilada. Eu sei o que devo crer e o que não devo.» Jesus diz: Cuidado com esta tua luzinha própria. Repara que esta luz que há em ti não seja escuridão. 

«Se, portanto, todo o teu corpo for luminoso, sem ter qualquer parte no escuro, será todo resplandecente, como a lâmpada que te ilumina em plena luz.» 

Mais uma vez teremos que dar um pequeno salto em nossos pensamentos. Vemos diante de nós uma pessoa que foi atingida pela luz. Pessoa que antes tinha vivido no escuro, na descrença, numa existência desordeira e desorientada. E agora esta pessoa passa a ser luminosa, resplandecente. Não é a própria luz dela que ela irradia. É a luz de Cristo: «Como a lâmpada que te ilumina.» 

À primeira vista, sentimo-nos tentados a dizer: Não, Senhor Jesus, isto não existe aqui na terra. Uma pessoa toda luminosa, sem ter qualquer parte no escuro? Isso poderá ser realidade no céu, não neste nosso planeta terra. Deve tratar-se do corpo glorificado dos salvos, da existência depois da ressurreição! — É verdade. Eu também creio que Jesus aqui já está vendo os cristãos à luz da ressurreição. E este próprio fato, de termos um futuro de luz plena, sem mancha nem sombra, poderá encher nosso coração de alegria. Mas essa luz da ressurreição não é só coisa do futuro. Ela já se manifesta agora. Quando uma pessoa é atingida em cheio pelo evangelho de Cristo, quando sua fé se acende -- então a sua vida realmente se torna luminosa. Ela sabe: Eu já não sou um João-Ninguém. Eu sou um filho amado de Deus. Meu futuro já não é um buraco escuro. Em Cristo, o céu está aberto sobre mim. Minha vida deixou de ser uma triste ruína de esperanças desfeitas. Eu experimentei aquele milagre chamado perdão. Minha vida foi renovada. A esperança entrou em minha casa e expulsou o desespero. E tudo isso se deu, porque Deus colocou sua luz no lumieiro. A luz de Deus é Jesus Cristo e o lumieiro é a cruz, iluminada pelo Senhor ressurgido — a cruz, colocada num lugar bem elevado, para que todos os tristes, os desesperados, os deprimidos, os que vivem no escuro — possam ver e possam chegar a ele. Pois foi Jesus que disse: Quando eu for elevado sobre a terra, atrairei tudo a mim. Deus não colocou sua luz debaixo do alqueire. Seu nome seja louvado! 

Hoje, caros irmãos, falamos muito da luz. Mas foi preciso e foi bom. Porque nosso texto não tem outro assunto. E a luz, o evangelho, a boa nova, a nova vida, a fé, a esperança, o amor: isso é uma realidade boa, alegre, jubilosa. É bom nos lembrarmos que os cristãos têm motivo de sobra para serem alegres. E será bom que os outros fiquem sabendo disto, Porque a alegria atrai as pessoas — também para as igrejas, para reuniões de senhoras, de jovens, para grupos de estudo bíblico. A alegria faz as paredes de nossas igrejas ficarem transparentes também para os que estão de fora. O importante é que os de fora descubram que seu lugar é dentro: Dentro da comunidade, dentro da comunhão do povo e Jesus, dentro do Reino de Deus. 

Oremos: Louvado sejas, Senhor e Salvador, por nos teres iluminado com a luz de teu evangelho. Perdoa-nos, por tantas vezes termos colocado a tua luz debaixo da caixa de nossas tradições e de nossos preconceitos. Tu fizeste a luz brilhar, do alto da cruz, lumieiro do mundo. Ajuda-nos para que nos ponhamos a serviço de teu evangelho. Faze a nossa vida brilhar por tua graça. Destrói o brilho falso da vaidade humana. Destrói tudo que impede o evangelho de ser uma força ativa e eficiente em nosso meio. Faze que também o nosso vizinho fique notando que nós somos teus discípulos e que tu és o seu e o nosso Redentor. Amém.

Veja:

 Lindolfo Weingärtner

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

 Editora Sinodal

 São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 33 / Versículo Final: 39
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19709
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