Estudo 10 - Sacramentos - Tradição sem sentido? ( CA XIII )

Estudos da Confissão de Augsburgo

19/01/1980

ESTUDO 10
SACRAMENTOS - TRADIÇÃO SEM SENTIDO?
(CA XIII)

Wilfrid Buchweitz

1. Introdução 

O batismo faz a criança dormir melhor? 

A santa ceia ajuda o doente a ficar bom? 

O pastor pode negar o batismo de uma criança cujos pais não pagaram a contribuição? 

Por que tanta gente vai à santa ceia na semana santa e para muitos esta é a única vez que vão à igreja durante todo o ano? 

Pode-se batizar crianças que ainda não têm fé? 

Não seria mais responsável batizar adultos? 

Pessoas brigadas podem participar da santa ceia? 

Os membros das comunidades sabem o que significa batismo? 

Quantas vezes se pode ir à santa ceia por ano? 

Que padrinhos se pode escolher para o batismo dos filhos? 

Pode-se repartir a santa ceia com pessoas que não repartem outras coisas com seus semelhantes? 

Estas e outras perguntas são feitas por cristãos luteranos em comunidades luteranas. No tocante a batismo e santa ceia há muitas questões que preocupam. Há uma grande falta de conhecimentos e há, talvez, uma falta maior ainda de vivência. 

Preocupação semelhante aparece nas palavras de Lutero quando se refere aos sacramentos em seu Catecismo Maior: Todo cristão deve receber, no mínimo, um ensinamento breve e geral sobre os mesmos, já que não é possível se chamar e ser cristão ignorando esta matéria; se bem que, por desgraça, até hoje nada se venha fazendo neste sentido. 

2. Artigo XIII 

A Confissão de Augsburgo, artigo XIII, ensina o seguinte sobre o uso dos sacramentos: 

Os sacramentos foram instituídos, não só para identificar os cristãos entre os homens, mas muito mais para serem sinais e testemunho da vontade de Deus para conosco, sinais e testemunho para despertar e fortalecer a fé naqueles que fazem uso dos sacramentos. Por isso os sacramentos devem ser usados com fé, que confia nas promessas apresentadas e externadas nos sacramentos. 

3. Que significa isso? 

Deus nos deu a Sua palavra para nos comunicar o Seu amor. Ouvindo a palavra nós vimos a crer e a viver em comunhão com Deus e com os homens. A palavra nos dá tudo o que precisamos no convívio em fé com Deus e os homens. 

Por Sua livre vontade, no entanto, Deus nos deu os sacramentos junto com a palavra, também para nos comunicar o Seu amor. Palavra e sacramentos nos dão a mesma coisa. Os sacramentos não dão nada além daquilo que a palavra dá. O que recebemos através dos sacramentos, as mesmas coisas também recebemos através da palavra. 

É da vontade de Deus que ouçamos a palavra e participemos dos sacramentos, as duas coisas, palavra e sacramentos. Não temos permissão para querer basear nossa fé e vida em cima de urna destas cousas apenas. A palavra é instrumento de fé e salvação e os sacramentos são instrumentos de fé e salvação. Rejeitar um ou outro destes instrumentos, ou ambos, significa rejeitar a vontade de Deus, significa rejeitar o próprio Jesus Cristo.

No batismo os ouvidos ouvem a palavra oferecendo o amor de Deus, oferecendo e estabelecendo para o batizado a condição de filho de Deus. Ao mesmo tempo, os olhos enxergam e o corpo sente a água lavar o velho Adão, para surgir um novo ser humano. Na santa ceia os ouvidos ouvem a palavra prometendo remissão dos pecados. Ao mesmo tempo os olhos enxergam o pão e o vinho, os dedos apalpam o pão e o cálice, o nariz percebe o pão e o vinho e a boca saboreia o pão e o vinho. Todos os sentidos participam da percepção do Cristo que encarna o amor de Deus para conosco. 

Os sacramentos querem ser sinais e instrumentos da boa vontade de Deus para conosco. Os sacramentos querem despertar e fortalecer a fé naqueles que fazem uso dos sacramentos. 

Nesse sentido, cabe à comunidade administrar os sacramentos, para serem sinais da boa vontade de Deus para com os homens, para despertar e fortalecer a fé entre os homens. Com esta missão e preocupação em vista, cabe à comunidade perguntar como, onde, quando e a quem oferecer batismo e santa ceia. Certamente todos os membros de uma comunidade precisam sempre de novo de um despertamento e fortalecimento da fé, mas especialmente precisam do fortalecimento na fé os membros de uma comunidade que passam por tentações, que não conseguem ver e sentir o amor de Deus, os doentes, os injustiçados, os que se afastaram ou foram afastados do amor de Deus, os que foram aprisionados por algum deus, gente dominada pelo ódio, pela inveja, pelo desespero, pela superstição, pela fome. Cabe à comunidade colocar à disposição dessas pessoas, de maneira especial, os sacramentos, sem impor condições. O amor de Deus é incondicional. Deus nunca exige antes de dar. Deus sempre dá primeiro, para que depois o homem possa dar também. À comunidade luterana cabe o mesmo papel, dar sem impor condições, dar antes de pedir, administrar os sacramentos sem impor condições, administrar os sacramentos com a oração e a preocupação de que são sinais e instrumentos da boa vontade de Deus para conosco, com a oração e preocupação de que despertam e fortalecem a fé naqueles que deles participam.

Ao mesmo tempo, justamente pelo acima exposto, a comunidade luterana e o cristão luterano não podem permitir que se abuse dos sacramentos, usando-os para fins que não são os acima mencionados. 

4. Conclusão e perguntas 

Parece contradição quando se diz que, por um lado, a igreja luterana não pode impor condições para a participação nos sacramentos e, por outro lado, não pode permitir que se use os sacramentos para fins alheios à sua instituição. Isso não precisa ser contradição, onde a igreja luterana aceitar o desafio de procurar e descobrir caminhos adequados e viáveis em resposta às seguintes perguntas: Como administrar os sacramentos adequadamente em nossa comunidade? Quando administrar os sacramentos adequadamente em nossa comunidade? Onde administrar os sacramentos adequadamente em nossa comunidade? A quem administrar os sacramentos adequadamente em nossa comunidade? (Grupos reunidos para estudo podem refletir e compartilhar respostas a essas perguntas.) 

5. Hinos sugeridos 

Nr. 135: O testamento do Senhor dirige tua vida.
Nr. 205: Ao nosso Deus rendamos.

Veja:

Confessando Nossa Fé – Estudos da Confissão de Augsburgo

A Confissão de Augsburgo (sem notas e comentários)

 


Autor(a): Wilfrid Buchweitz
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Confessando Nossa Fé - Estudos da Confissão de Augsburgo / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980
Natureza do Texto: Educação
ID: 19779
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