Filipenses 1.3-11

Prédica

Filipenses 1.3-11 – 22º. DOMINGO APÓS TRINDADE

Prezada comunidade! 

Toda pessoa mais ou menos ligada ás atividades da igreja conhece aqueles momentos, em que se gostaria de mandar tudo às favas. Não estarei contando novidades, ao constatar que há situações em que é grande a insatisfação nos diversos setores. Vêm momentos em que os lideres da juventude estão decepcionados com a turma, em que os líderes da comunidade não sentem eco do seu trabalho, em que os pastores sentem falta de ressonância daquilo que fazem; e há momentos em que o grosso dos membros critica o que é feito pelos que estão em posição de mais responsabilidade na comunidade. 

E além dessa insatisfação de uns em relação aos outros, há também aquela preocupação geral e comum, quando percebemos, por vezes, que, apesar de toda força, apesar do empenho de algumas pessoas realmente abnegadas, não conseguimos dar ao Evangelho aquela expansão que desejaríamos; é quando nos damos conta de que há tanta gente por aí que deveria ser alcançada, que necessitaria de auxílio, mas que escapa ao nosso alcance. 

Todas essas preocupações voltam-se para o presente. A elas acrescentam-se as preocupações pelo futuro: se há tanta gente desinteressada pela igreja, se há tantos lugares vazios na igreja, se tão poucos confirmandos entram para o grupo de Juventude, se este mundo se torna cada vez mais secularizado, o que será da Igreja? E não só da Igreja! Que será do próprio Evangelho se as coisas continuarem do jeito que andam? Não vai chegar o dia em que nossas igrejas estarão vazias, em que não haverá quem ocupe seus bancos e seu púlpito ? 

Todo membro responsável e todo líder responsável vê nossas fraquezas e falhas em cumprir com nossa incumbência de levar adiante o Evangelho. E a consciência dessa debilidade pode, até mesmo, chegar a um ponto em que se começa a duvidar da continuidade da igreja e de sua pregação.

II

Mas, abandonemos, agora, essa linha de pensamento. Passemos ao texto que servirá de base para a prédica de hoje e que me levou a tecer essas considerações iniciais. O texto é um trecho da carta que o apóstolo Paulo escreveu aos cristãos de Filipos, uma cidade da Grécia. Os senhores sabem que o apóstolo Paulo foi aquele, que conseguiu levar a boa nova de Jesus Cristo do pequeno círculo de cristãos da Palestina até a Ásia Menor, até a Grécia e mesmo a Roma. E foi nas pegadas desse batalhador incansável que o Evangelho continuou seu caminho até a Europa Central e Setentrional, de onde atravessou o Atlântico, vindo implantar-se também em nossas paragens. Acho que nós nem nos damos conta da importância vital deste homem para nós, aqui, em Porto Alegre. 

Pois bem, em uma de suas viagens missionárias, este Paulo congregou a comunidade cristã de Filipos, dedicando a ela o amor de quem cuida de uma flor em crescimento. Passam os anos, e no decorrer de suas andanças Paulo acaba preso e é posto na cadeia em Roma. Então os cristãos de Filipos fazem um gesto que demonstra seu afeto por aquele que lhes trouxe o Evangelho da salvação em Jesus Cristo. Eles enviam um de seus companheiros mais destacados com uma dádiva em dinheiro para Paulo, na prisão. Quando este enviado, Epafrodito, retorna, Paulo manda junto a carta que conhecemos como Epístola aos Filipenses, a-gradecendo pela dádiva, relatando sobre sua situação na prisão, sobre planos futuros, entremeando ainda uma série de admoestações. É logo no início desta carta, no capitulo 1, versículos 3-11, que se encontra o texto sobre o qual passamos a medita hoje: 

Agradeço a Deus por toda lembrança que tenho de vós sempre em toda minha súplica por todos vós, orando com alegria, baseado na vossa comunhão que rem por meta o Evangelho, desde o primeiro dia até o presente; confiando exatamente nisto: que aquele que começou em vós uma boa obra há de consumá-la até o dia de Cristo Jesus, Aliás, parece-me justo que eu pense isso a respeito de todos vós, porque vos tenho no coração - quer na minha prisão, quer ao defender e fundamentar solidamente o Evangelho - vos, que tendes comigo a participação na graça. Pois Deus e meu testemunha de como sinto saudade de vós com o amor de Cristo Jesus. E também isso eu peço em oração: que o vosso amor superabunde mais e mais em conhecimento e em toda experiência, a fim de examinardes aquilo que é essencial, para que sejais puros e sem mácula para o dia de Cristo, cheios de frutos de justiça, realizados através de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus. 

Até aqui o texto. Procurem os senhores imaginar a situação de Paulo. Está em Roma, preso. Não sabe a que resultado chegará seu processo. E lá, bem distante, está a comunidade que ele fundou, sozinha, sem a sua presença pessoal. Esta carta é, então, a oportunidade que o apóstolo aproveita para dizer o essencial, para deixar sua palavra talvez derradeira, seu testamento àqueles seus filhos na fé. 

Tentem colocar-se bem nesta situação e pensem, então, o que e que seria de se esperar que Paulo dissesse. Nós, em seu lugar, talvez diríamos: Atentem bem, andem na linha, continuem a praticar exatamente o que eu ensinei a vocês; e que ninguém me saia do caminho traçado por mim. Paulo diz bem outra coisa: Agradeço a Deus por toda lembrança que tenho de vós, sempre, em toda minha súplica por todos vos, orando com alegria, baseado na vossa comunhão que tem por meta o Evangelho, desde o primeiro dia até o presente; confiando exatamente nisto: que aquele que começou em vós uma boa obra há de consuma-la até o dia de Jesus Cristo. 

Posto numa linguagem mais atual, Paulo diz: Desde o início, até hoje, vocês vêm trabalhando em conjunto em direção ao Evangelho; e eu estou absolutamente certo de que Deus, que começou isso com vocês, que plantou esta semente, vai concluir, consumar, completar o que começou, vai fazer com que a semente brote, viceje, floresça e se torne uma árvore, até o dia de Cristo Jesus.

Paulo não manda cultivar os costumes que ele ensinou, praticar os ritos e as cerimônias que ele trouxe, guardar a mesma estrutura comunitária que ele implantou. Paulo no faz qualquer determinação referente à sua pessoa, ao seu modo de agir. Ele diz, em vez disso: Eu sei que vocês vêm se empenhando pelo Evangelho; e o meu consolo e conforto aqui, na prisão, e a certeza de que Deus já vai conduzir vocês pelo caminho certo, que Deus vai mostrar a vocês como agir, até que tudo culmine no dia de Cristo Jesus. 

III

Tendo em mente este texto, e a explicação que dei acima, prezada comunidade, voltemos àquela situação que procurei delinear de inicio: a insatisfação reinante no seio da igreja, a apreensão diante do futuro. Não acham que temos uma barbaridade a aprender de Paulo? 

Temos que aprender sobretudo duas coisas: Primeiro, a confiar em Deus; confiar que aquele que começou em nós uma boa obra, há de consuma-la até o dia de Cristo Jesus. Esta boa obra foi iniciada aqui, entre nós, no momento em que os primeiros evangélicos se reuniram para uma comunhão que tem por meta o Evangelho. E, com altos e baixos, esta comunhão vem continuando até hoje. Ela não é perfeita, ela apresenta as mesmas falhas humanas que se verificam em outras organizações. Mais ainda, na Igreja essas falhas humanas talvez até sejam mais salientes do que em outras organizações porque nela os homens, imperfei-tos como todos os outros, têm sobre si uma tarefa que diz res- peito a própria essência da vida; uma tarefa elevada demais e que pode tão facilmente ser deturpada. 

Mas dentro, e em meio a todas essas falhas, que apontamos no início, a meta perseguida na igreja sempre foi e é o Evangelho. Quer dizer: Deus começou a boa obra e lhe deu continuidade até aqui - apesar de todas as dificuldades que os homens lhe impõem. O importante, agora, é confiar em que Deus também haverá de consumar esta obra, de levá-la a cabo. Confiar em que ele abençoará e dará bom resultado a todas as fracas tentativas nossas, dos homens, mulheres, jovens e crianças da Igreja, para que o seu Evangelho tenha continuidade e atinja um alcance sempre maior. 

É evidente que essa confiança em Deus não significa preguiça de nossa parte. Não quer dizer: Ele já vai dar um jeitinho! A confiança em Deus só ser à sincera e legítima, se acompanhada de um empenho equivalente e correspondente pelo Evangelho. Não e possível que alguém recuse todo e qualquer auxílio ao trabalho da comunidade, fique em casa a ver novelas de TV, e pense sinceramente: Meu Deus, eu confio que tu haverás de consumar a boa obra uma vez iniciada entre nós. - Assim não dá! Deus só age através de seres humanos, e nós deveríamos agradecer por esta oportunidade de podermos fazer algo na Juventude, na OASE, na Escola Dominical, na Legião de Homens, na Mordomia e nos demais grupos. 

A nós cabe, portanto, confiar que Deus concluirá até o dia de Cristo a boa obra que ele iniciou em nossa comunidade, em nossa comunhão que tem por meta o Evangelho. 

Mas há ainda um segundo ponto, que devemos aprender de Paulo: o seu desinteresse pela própria pessoa. Ele não fala um instante sequer da continuidade dos seus métodos, dos seus costumes, do seu esquema, etc. Fala apenas na confiança de que Deus consumará, o que ele próprio, Deus, iniciou. 

Prezada comunidade, a igreja sempre manca alguns corpos atrás da evolução do restante da sociedade. Não porque o Evangelho fosse coisa antiquada? Não! Pela simples razão de que não costumamos agir como Paulo, de que procuramos manter o quanto for possível os costumes, hábitos e tradições, adquiridos através do tempo. E não é preciso ir longe para verificar como esses fatores puramente humanos têm entravado o Evangelho. 

Mas, notem bem, não só no passado. Também - e mais do que nunca - no presente. Hoje, mais do que nunca, devemos estar dispostos a demonstrar o desprendimento de Paulo, devemos estar dispostos a abandonar costumes, tradições e estruturas, se descobrirmos que estão a frear o andamento do Evangelho. Não me perguntem o que é que deveremos mudar. Mas há de chegar o momento em que haveremos de reconhecer: Assim não dá mais, temos que transformar nossa forma de comunidade, temos que reconsiderar nossa maneira de pregação, temos que buscar novos caminhos de atingir os homens. E então precisamos estar preparados para deixar cair tudo o que não nos tenha sido ordenado expressamente pelo Senhor. 

Nós só seremos capazes de uma tal atitude, se fizermos como Paulo: se confiarmos que aquele que começou em nós uma boa obra há de consumá-la até o dia de Cristo Jesus. Precisamos ter confiança de que Deus apontará a direção a seguir. Cabe a nós andar nessa direção e não ficar presos nos fatores secundários que nós criamos. Precisamos confiar mais em Deus do que em nós. E nós temos razões de sobra para tanto. Afinal de contas, o ato pelo qual Deus nos salvou em Jesus Cristo foi - mais do que qualquer outro - também um ato revolucionário contra as tradições humanas erguidas pelos escribas e fariseus. No sejamos nós escribas e fariseus. No coloquemos obstáculos ao andamento do Evangelho. Confiemos mais em Deus do que em nós. Amém. 

Oremos: Senhor, nosso Deus, tu que enviaste o Evangelho até nós e criaste em nosso meio uma comunhão que tem por meta o Evangelho, ajuda-nos a confiar mais em ti do que em nós: dá que no coloquemos obstáculos de qualquer natureza á propagação da tua Palavra. Ensina-nos a entender os sinais dos tempos e a estar preparados para, se necessário, abandonar particularidades que possam obstruir o Evangelho. Amém.
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 23º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Filipenses / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 3 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20330
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