Mateus 22.1-14

Auxílio Homilético

12/10/2008

Prédica: Mateus 22.1-14
Leituras: Isaías 25.1-9 e Filipenses 4.4-8 (9-13)
Autor: Wilfrid Buchweitz
Data Litúrgica: 22º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 12/10/2008
Proclamar Libertação - Volume: XXXII

1. Introdução

Levei o trecho de Mateus a um grupo que se reúne regularmente para refletir sobre textos e temas. É um grupo entrosado, que se conhece e com o tempo adquiriu bastante liberdade e espírito crítico. Pedi que escutassem e depois reagissem. A reação veio rápida e forte. Transcrevo algumas frases:

“Que texto pesado!” – “É um texto sem-vergonha, bem específico contra camponeses e comerciantes.” – “Não vejo assim; outros também maltrataram e mataram os empregados porque não foram sensíveis ao convite.” – “Dos convidados ninguém foi.” – “Por que não?” – “Não tinham percepção do valor do convite.” – “Não tinham tempo.” – “Não conheciam o Rei.” – “Os excluídos da sociedade foram.” – “Mas foi exigido que tivessem veste nupcial.” – “Que veste nupcial era essa?” – “Não era de coração puro.” – “Como foi excluído? Não foram convidados bons e maus?” – “Não respondeu.” – “Por que era surdo?” – “Por que era mudo?” – “Por que veste nupcial?” – “Não se impregnou do Espírito de Deus. Foi mal-intencionado. Foi, mas contra Deus.” – “Muitos são chamados e poucos escolhidos... Essa frase mata na Santa Ceia. Te põe lá embaixo.” – “Pode pegar ao pé da letra?” – “Nada aqui é ao pé da letra.”– “Se nós recebêssemos o convite agora... não teríamos tempo.” – “Nós aceitaríamos o convite?” – “O que significaria isso?” – “Teríamos veste nupcial?”.

O grupo teve dificuldades principalmente com a violência que há no texto: “Agarraram os empregados, bateram neles e os mataram. O rei ficou com tanta raiva, que mandou matar aqueles assassinos e queimar a cidade deles” (v. 6 e 7) e “Amarrem os pés e as mãos deste homem e o joguem fora, na escuridão. Ali ele vai chorar e ranger os dentes” (v. 13). Confesso que para mim essa violência também é difícil. Temo que a comunidade no culto também sinta assim. Como então ler o texto no culto?

Não lemos na noite os textos de Isaías e Filipenses. Eles teriam adicionado um outro tom e espírito. Mas faltou tempo.

2. Do evangelista Mateus

Dos quatro evangelistas, Mateus é aquele que mais olha para trás para a história de Israel. Para Mateus, Jesus é o Rei de Israel, que realiza todas as promessas contidas no Antigo Testamento. Com Jesus começam as bodas eternas. A característica de seu povo é a alegria duradoura. O que exclui do reino de Deus é a insistência em permanecer com a velha identidade, inclusive com uma velha piedade que não consegue perceber o novo evangelho na pessoa de Jesus e que foi anunciado por profetas e apóstolos. Por isso, para Mateus, Jesus é ao mesmo tempo aquele que condena seu próprio povo e que cria um novo povo de Deus, que é designado, inclusive, como igreja (Schniewind, p. 1). Para isso ele cita, perpassando todo o evangelho, palavras do Antigo Testamento para ilustrar acontecimentos e gestos na vida de Jesus. Ele quer ajudar a comunidade judaica a ver e crer que em Jesus se cumprem as promessas e profecias que no Antigo Testamento apontam para a vinda do Salvador e Messias. Jesus, que em suas palavras e atos parece estranho ao povo israelita, é, na verdade, o Salvador prometido por Deus. A vinculação das palavras de Mateus com os textos do Antigo Testamento são um recurso com o qual ele quer ajudar as pessoas de seu tempo e mundo a perceber a nova realidade e a crer nela. Ao mesmo tempo, a rejeição de Jesus por parte de seu povo perpassa todo o evangelho. Israel não consegue enxergar, ou não quer enxergar, o que acontece em Jesus. E Mateus vê em várias situações o reino de Deus ultrapassando os limites de Israel e alcançando pessoas estranhas. E finalmente cita Jesus dizendo: “O reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do reino” (Mt 21.43).

3. Isaías, Filipenses, Mateus

Se no grupo citado inicialmente ficamos bastante presos à violência do texto de Mateus, as leituras de Isaías e Filipenses trazem novas perspectivas. Isaías traz para dentro da realidade pré-exílio e pós-exílio de Israel, realidade de enorme sofrimento, as poderosas promessas de nosso texto, poderosas promessas e uma poderosa confissão de fé. A desobediência de Israel e a ira de Deus vão ser superadas pelo perdão de Deus e pela conversão de Israel e vai haver um povo de Deus restabelecido. Em Filipenses, o apóstolo Paulo nos abre uma janela para dentro de uma comunidade que lhe traz uma enorme alegria, porque ela vive intensamente o amor e a fé. Onde Jesus Cristo é recebido, ali ganham espaço o amor e a fé e brota vida nova, em pessoas e na comunidade, na comunidade e em pessoas.

Isaías e Filipenses ajudam a dar atenção a um versículo de Mateus que, numa primeira leitura, passou bastante despercebido. Ganha atenção o v. 2, que diz que o reino dos céus é como um rei que preparou uma festa de casamento para seu filho. O rei prepara uma festa. Deus prepara uma festa. O reino dos céus é um reino de festa. O Rei gosta de festa. O Rei quer todo o mundo nessa festa. O Rei não se cansa de distribuir convites e chega ao ponto de convidar bons e maus. Isaías e Filipenses ajudam a ver a parte principal de Mateus. As outras partes são secundárias. Mas secundário não significa que não sejam importantes. Elas são importantes, mas vem em segundo lugar. Em primeiro lugar está a festa do filho (ou festa do Filho).

4. Meditação

Como fico eu diante dos textos? Como ficam os textos diante de mim? Antes de levá-los para a comunidade, preciso colocar-me diante deles. Já disse que, numa primeira leitura, Mateus causou-me dificuldades, mas depois Isaías e Filipenses me ajudaram a transferir o foco. Agora o foco é que o Rei preparou uma festa de casamento e com muitas outras pessoas eu sou convidado. De graça, por graça. Não por mérito meu. Sinto alguma resistência. Gostaria que meus méritos fossem reconhecidos. Como quando nós convidamos pessoas para nossas festas. Todas as pessoas que nós convidamos foram convidadas por algum mérito delas. Mas com Deus é diferente. Se eu quero meus méritos reconhecidos, eu também preciso concordar que meus “desméritos” sejam considerados, que meus pecados sejam levados em consideração. E então eu só tenho chance se Deus me convida por graça. A partir daí, eu consigo vencer minha resistência e consigo dar em mim espaço para gratidão e alegria. Agora eu quero, sim, ser como uma daquelas pessoas de que Paulo fala em Filipenses. Quero ser membro de uma comunidade daquelas. Quero dar minha contribuição nessa comunidade. Quero receber a comunhão e aceitar os serviços de outros membros daquela comunidade. Quero compartilhar as bênçãos de que aquela comunidade usufrui como conseqüência de ter aceito o convite de Deus para a festa. E quero crer e confiar nas palavras maravilhosas do profeta Isaías. Quero experimentar, em parte já agora e plenamente na eternidade, as maravilhosas promessas que estão nas palavras de Isaías.

Mas é preciso ficar atento. Seguidamente me flagro desprezando o convite para a festa e inventando desculpas para isso. Pior: tantas vezes não me flagro. Felizmente, outras pessoas me alertam. Outras vezes correspondo ao convite, mas não visto roupas de festa. Se fosse por mim, Deus teria que me jogar fora e eu teria que chorar e ranger os dentes de desespero. Mas sobre essa possibilidade eu corro o perigo de não refletir muito sobre ela. E não vejo muitos de minha comunidade fazendo isso. Será que transformamos a graça salvadora de Deus em graça barata? Será que banalizamos o juízo? Às vezes, queixo-me de minha igreja. Critico minha igreja porque acho que ela não tem nada daquilo que Paulo relata de Filipos e Isaías de Israel. Acho que há razão para isso. Há pessoas e comunidades que não levam a sério o convite do Rei. Querem as vantagens e benesses do reino, mas não os serviços e compromissos. Graças a Deus, há também o outro lado. Há sinais do reino em minha igreja. Há pessoas e comunidades que ouvem o convite e vão à festa e vestem roupa de festa, com muita dedicação e fidelidade. Como conseqüência acontecem coisas de Filipos e Israel. Às vezes, penso que eu deveria prestar mais atenção aos muitos sinais do reino na minha igreja. E em igrejas irmãs também. Às vezes, corro o perigo de me deixar vencer pelo pessimismo ou por uma mania de criticar e reclamar. Onde a palavra é semeada, sempre há, no meio de caminhos duros, pedras e espinhos, chãos e terrenos férteis que fazem a semente trazer frutos. Até pela promessa de que a palavra não volta vazia.

5. E a prédica

Certamente, como em todos os textos, há várias possibilidades. Quero apontar para algumas delas:

1 – O reino dos céus é como um rei que prepara uma festa. No lugar ou na situação em que Deus é Rei, acontece uma festa. E nós somos convidados para ela.

A prédica poderia versar sobre esse tópico, essa verdade, esse evangelho. Filipenses e Isaías trazem uma riqueza de detalhes, dinâmicas e traços do conteúdo dessa festa.

2 – No reino dos céus, o Rei prepara uma festa. E Ele nos convida. Não se cansa de nos convidar. Mas nós não vamos. Escolhemos outras prioridades. E Deus deixa-nos de lado e passa o convite adiante.

Um perigo desse enfoque é menosprezar membros da comunidade que saíram de casa e aceitaram o convite, ao menos o convite para o culto, que, é verdade, pode não ser o convite para o reino. Às vezes, ouve-se a queixa de que os pastores e as pastoras criticam membros que não estão no culto e quem tem que ouvir são pessoas que estão no culto.

3 – No reino dos céus, o Rei prepara uma festa. E Ele nos convida. E nós vamos. Mas não usamos roupa de festa. Temos no rol de nossas comunidades muitas pessoas. Mas em muitas delas acontece muito pouco do que está em Filipenses e Isaías. Ou, dito de outro jeito, muitas vezes, em nossas comunidades acontece muito pouco do que está em Filipenses e Isaías. De que maneira a palavra e o culto hoje podem nos ajudar nisso?

4 – Só como observação: Logo está aí o Dia da Reforma. Será possível ou oportuno focar na direção dele?


Bibliografia

BRAKEMEIER, Gottfried. Observações introdutórias referentes ao Evangelho de Mateus. In: Proclamar Libertação II. São Leopoldo: Sinodal, 1977. p. 9. SCHNIEWIND, Julius. Das Evangelium nach Matthäus. In: Das Neue Testament Deutsch. Göttingen, 1950.

 




 


Autor(a): Wilfrid Buchweitz
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 22º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 22 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2007 / Volume: 32
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 20356
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Quem quiser ser cristão, que aprenda a abrir mão de toda preocupação e de todo pensamento angustioso e coloque-os nas costas de Deus, pois Ele tem ombros fortes e é bem capaz de carregá-los.
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