Liturgia batismal - Imposição das mãos, unção com óleo, selagem

Pode-se dizer que temos aqui três atos distintos: a imposição das mãos, a unção com óleo e a selagem. No entanto, geralmente a unção com óleo e a selagem fundem-se num ato só. Assim, é mais adequado falarmos de dois atos: a imposição das mãos e a unção com óleo ou selagem.

A origem da imposição das mãos remonta ao Antigo Testamento, onde aparece relacionada com ações sacrificiais (Ex 29.15; Lv 1.4 e outras), em bênçãos (Gn 48.13-20) e em “ordenações” (Nm 27.18ss; Dt 34.9). Ela não tem o sentido de uma ação mágica. Trata-se de uma ação visível e percebida pelos sentidos, relacionada com a fé do povo de Deus, a qual pede bênção, aceitação de um sacrifício, entre outras coisas.

No Novo Testamento a imposição das mãos se expressa com diversos significados. Ela pode ser realizada: a) para a cura de enfermos (At 28.8; Tg 5.13ss); assim, executada por Jesus, que, por sua vez, seguia os costumes de sua época; b) como doação e recepção do Espírito Santo (At 8.14ss; 19.6); c) na instalação ou ordenação para certas tarefas (At 6.6; 13.3; 1Tm 4.14; 2Tm 1.6); d) como bênção.

Ainda no Novo Testamento, a imposição das mãos relacionada ao batismo só aparece em dois relatos de Atos dos Apóstolos: em At 9.17ss (batismo de Paulo) precede o banho batismal; em At 19.5s (os homens de Éfeso) é realizada depois do banho. Em ambas as passagens, porém, está mais vinculada com a cura e a bênção.

Embora desde então o cristianismo tenha praticado a imposição das mãos de modos diversos, em grandes traços o que adotou foi a forma, o sentido e o uso que foram dados a essa ação no Novo Testamento.

Nas diferentes regiões do cristianismo primitivo a imposição das mãos relacionada ao batismo foi compreendida e realizada de diferentes maneiras:

Para Lucas (que é a fonte mais antiga a respeito de batismos cristãos), batismo, recepção do Espírito Santo e Igreja são uma unida59 de: através da recepção do Espírito Santo, depois do banho batismal, a pessoa passa a ser parte da Igreja (ingresso ao cristianismo). A dádiva do Espírito Santo, segundo Lucas, outorga carismas e dons: leva a pessoa a atuar, lhe dá poder e tarefas a serem realizadas. Paulo, por sua vez, também ensina que batismo e dádiva do Espírito Santo são inseparáveis.

Na Didaqué (fins do século 1) e em Justino (morto em 165) não há vinculação da imposição das mãos e da doação do Espírito Santo ao batismo. Em Tertuliano (aproximadamente 160 a 220) encontramos a seguinte ordem batismal: banho batismal, unção, selagem (ou sinal da cruz) e imposição das mãos. Esta vai acompanhada de uma oração, pedindo que o Espírito Santo derrame sua bênção sobre a pessoa a ser batizada. Na Tradição Apostólica de Hipólito (215) encontramos: banho batismal, unção, imposição das mãos com oração (“Senhor Deus, que os tornaste dignos de merecer a remissão dos pecados pelo banho da regeneração, torna-os dignos de serem repletos pelo Espírito Santo e manda sobre eles tua graça para que te sirvam de acordo com tua vontade, pois tua é a glória, ao Pai e ao Filho com o Espírito Santo na santa igreja, pelos séculos dos séculos. Amém.”), selagem com imposição das mãos, ósculo da paz. A imposição das mãos depois da unção confirma o renascimento da água através do Espírito Santo e outorga carismas e dons. Outros pais da igreja apresentaram outras variações no uso desses elementos litúrgicos.

A partir dos séculos 4 e 5, o elemento pós-batismal da imposição das mãos incorporou-se definitivamente à liturgia batismal na maioria das igrejas. Através dele enfatiza-se o significado do batismo como doação do Espírito Santo. Entende-se que quem atua na imposição das mãos é Deus; Deus mesmo, e não a pessoa que impõe as mãos. A imposição das mãos é um ato visível e concreto do amor de Deus.

A imposição das mãos é realizada, colocando-se-as sobre a cabeça da pessoa batizada num toque físico direto, percebido e vivenciado pelos sentidos. A imposição das mãos é executada separadamente sobre cada pessoa recém-batizada. Ela vem acompanhada de uma oração que pede o derramamento do Espírito Santo sobre essa pessoa.

Muito cedo, a imposição das mãos pós-batismal (com oração) foi vinculada à unção e à selagem. A unção era feita sobre a fronte da pes60 soa, com óleo ou mirra, que é azeite misturado com essências. A selagem era o traçar do sinal da cruz, com ou sem óleo, também sobre a fronte da pessoa. Tanto a unção quanto a selagem são marcadas com o polegar, enquanto a mão se apóia sobre a cabeça da pessoa. Em muitas liturgias, desde os primórdios, a unção e a selagem são um ato só.

No Antigo Testamento tanto a imposição das mãos quanto a unção dramatizam a transmissão de poder e bênção (confira em Gn 27, a bênção de Isaque a Jacó e, em Gn 48, a bênção de Jacó a seus netos) e a outorga de poder (confira em 1 Sm 16.13 a unção de Samuel a Davi). Tanto no hebraico quanto no grego há uma forte associação entre os termos “ungir”, “Messias” e “Cristo”. No antigo Israel, sacerdotes e reis são ungidos com óleo, quando são empossados em suas funções. Conforme 1 Pe 2.9 e Ap 5.10, a imposição das mãos e a unção significam a outorga do Espírito Santo para as pessoas que ingressam no sacerdócio real.

Na unção batismal ocorre uma democratização radical da outorga do poder sacerdotal e real. Esse dom, outrora restrito a determinadas pessoas escolhidas, é agora derramado sobre todas as pessoas batizadas. Diante de Deus, todas as pessoas batizadas têm a dignidade e o ministério de sacerdotes e reis, sacerdotisas e raínhas. Também a selagem é um elemento muito significativo.

Etimologicamente, “selar” significa: marcar, fechar, lacrar, reservar. Selagem é, pois, a ação de marcar. Ao longo da história humana, a selagem está presente em todas as culturas, de variadas formas, em diversas áreas e múltiplas ocasiões. O selo é, sobretudo, um símbolo de poder e autoridade. Representa o signatário e serve para autenticar ou preservar um documento. O rei colocava seu selo nos decretos. Os bispos recebem um anel com o signo da cruz, como sinal de autoridade. O selo pode ser, ainda, símbolo de: legítima propriedade (marca algo como possessão do dono do selo), identidade (em anéis, que, antigamente, traziam o brasão do dono ou, atualmente, as iniciais de nome e sobrenome), segredo, liberdade ou posição destacada (só homens livres podiam usá-lo).

Desde o século 4, o termo “selar” está vinculado ao uso do sinal da cruz. Traçá-lo sobre uma pessoa ou coisa indica pertença, identidade, incorporação à comunidade das pessoas que seguem Jesus.

O Novo Testamento descreve a transferência da escravidão ao pecado à escravidão à justiça e desenvolve o tema em termos de mudança de senhorio, de ser marcado com o selo de propriedade: [Deus] também nos selou e nos deu o penhor do Espírito com nossos corações. (2Co 1.22) [Cristo] Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o que é o penhor da nossa herança até o resgate da sua propriedade, em louvor de sua glória. (Ef 1.13-14) E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. (Ef 4.30) E foi-lhes dito [aos gafanhotos] que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma, e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre as suas frontes. (Ap 9.4) (...) esse conceito de selar se relaciona com o Batismo. Selar corresponde a tornar-se, em Cristo, filho adotivo de Deus (ver Gl 4.4-5 e Rm 8.22-23). (BRAND, Eugene L. Batismo: uma perspectiva pastoral. São Leopoldo: Sinodal, 1982)
 

Fonte: Livro de Batismo da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
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Filipenses 4.6
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