Celebração e culto - Salmo 75

Prédica

24/09/1972

CELEBRAÇÃO E CULTO

Nós te agradecemos, Deus, invocamos o teu nome e declaramos tuas maravilhas. Pois disseste: hei de julgar retamente. Digo aos orgulhosos: não sejam arrogantes. E digo aos ímpios: não falem com insistência contra a Rocha. Porque não é do Oriente nem do Ocidente que vem o auxilio. Deus é o juiz, a um derruba e a outro exalta. (Salmo 75, seleção) 

Nossos templos não são apenas casas de pedra, onde as pessoas vão buscar consolo para suas misérias e sofrimentos Nossos cultos não são apenas reuniões públicas, onde alguns repetem palavras e cantos pré-estabelecidos. É claro que não faltam pessoas que vêm à igreja com coração amargurado e sentem que a experiência da oração e do louvor pode aliviar e ajudar. E é claro que sempre existem alguns que misturam glórias, aleluias e bocejos.
Mas nós não queremos perder tempo com aquilo que não deveria ser e acontecer. É muito mais interessante a gente relembrar aquilo que é. 

Nossos templos são o lugar onde acontece uma celebração Nossos cultos são uma festa que pretende anunciar alguma coisa. 

Anunciar e transmitir o quê? Anunciar, proclamar abertamente, publicamente que existe uma nova vida. Portanto o culto não é uma coisa neutra, inconsistente, morna, que não cheira nem fede. Pelo contrário, nosso culto celebra as maravilhas de Deus. Nosso culto celebra a criação de um mundo onde a fraternidade será vivida pelos homens que constroem a paz. 

Quer dizer: quem vem ao culto e participa da festa, está contribuindo para tornar verdade aquilo que ainda não é, mas que pode ser. Os que se julgam donos da verdade, os amargos, os inseguros não sabem festejar. Para anunciar as maravilhas de Deus, e agradecer por elas, é preciso querer festejar. É preciso se descontrair, acreditar naquilo que está sendo celebrado, é preciso perder a rigidez — em resumo: expressar a alegria de estar vivendo. 

O salmo que nós acabamos de ouvir era cantado, rezado e até dançado pelo povo de Israel. Por quê? Porque eles sabiam festejar. E que é que eles comemoravam tão festivamente? 

Eles comemoravam a certeza da promessa de Deus. Eles lembravam festivamente a presença de Deus na luta pela libertação do povo. Assim como nós celebramos a vitória de Deus, vitória que nos redimiu, nos salvou e nos garante o futuro. Alegria é um sentimento que sempre está intimamente ligado à esperança e à certeza. É a esperança que nos faz ir sempre em frente apesar de tudo. A atitude que vem da esperança é uma atitude de coragem. E essa coragem se fortalece com uma certeza: Deus é justo. 

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E agora? Interrompeu a festa? Qual foi o desastre? Qual é o mal-estar? 

No meio da festa, Deus disse: Hei de julgar! Hei de julgar retamente! 

Isso é festa ou é tribunal? A gente não estava mesmo querendo festejar Deus? Festejar o Deus que venceu a morte, que derrotou a escravidão, o Deus que nos libertou em Cristo? 

E no meio da festa, é como se alguém tivesse deixado cair um copo. O dono da festa anuncia que vai julgar. De repente nós nos lembramos daquela frase que todos repetem, domingo após domingo: 

Creio em Jesus Cristo que virá para julgar os vivos e os mortos. 

E então a coragem se esvazia e vem o medo. As canções morrem na metade, a gente sente vergonha. A gente queria comemorar uma nova esperança — mas voltou a incerteza, a dúvida. A gente queria celebrar — mas os pensamentos, o coração, as convicções ficaram lá longe, lá atrás, lá fora. 

Por que, minha gente? Por que é que nós fracassamos tão seguido? Por que é que a justiça de Deus nos deixa tão chateados — ou assustados — ou desanimados e tristes? 

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Nós ouvimos: Deus é o juiz. A uns derruba e ia outros eleva. E essa ducha d'água fria cai sobre nós porque sempre imaginamos que nós é que vamos levar o tombo. É capaz que nós sejamos os derrubados... 

É por isso que tanta gente acaba no espiritismo. Eles pensam assim: de tombo em tombe, de escorregão em escorregão, o sujeito acaba ficando de pé. Se danou nesta vida«? Não faz mal. Vive de novo — e vive de novo — até que tudo conserta. 

É por isso que alguns acabam na macumba. Em vez de levar o escorregão e esborrachar o nariz eu faço um despacho — e quem se rebenta é o outro. 

É por isso que tantos se desiludem e acabam neste ou naquele vício. Nada de pensar muito nem esquentar a cabeça. Deixa pra lá. Pode ser que Deus seja mineiro. A coisa se resolve... Mais uma dose! 

Mas a coisa toda nem é essa, meus irmãos! A justiça de Deus não tem nada a ver com legalidade. A justiça de Deus não tem nada a ver com leis, e princípios, e normas, e pesos, e medidas. Se Deus fosse julgar de 'acordo com um regulamento, pra começo de conversa — não escapava ninguém! Em algum cantinho de nós, cada um é um — pois é, é aquilo mesmo! Cada um de nós! Não adianta ser arrogante ou orgulhoso, não adianta mesmo. 

Justiça de Deus é uma dádiva, um presente que o Senhor nos dá. Justiça de Deus é isso que permite viver e dá a alegria de viver. Para a Bíblia, justiça é o novo relacionamento de cada um e de todos com Deus. Justiça de Deus é essa imensa liberdade de se abrir para o futuro, para o amanhã. Justiça de Deus é a promessa de que tudo aquilo que ainda não é hoje, certamente vai ser amanhã. Justiça de Deus é o mesmo que salvação gratuita. 

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E é por isso que a festa não precisa ser interrompida. Nós não precisamos ficar Corri medo e perder a coragem. Nós não precisamos perder a alegria e a esperança. 

O auxílio, a salvação não vêm do Oriente nem do Ocidente. Nós não precisamos perder tempo com coisas de cá e coisas de lá. A maior maravilha de Deus é justamente isso: que ele é justo, no meio de todas as injustiças. 

Por isso o culto dos cristãos é uma festa. Quando nós ouvimos dizer que o juiz é Deus, podemos celebrar e agradecer. 

Graças a Deus, nós todos só dependemos dele, a Rocha, nossa salvação. Amém. 

(Mar de Espanha — 24-9-72)

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 75
Título da publicação: Esperança - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1974 / Volume: Suplemento Número 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22296
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