Dia da Bíblia - Êxodo 33.11

Prédica

12/12/1971

DIA DA BÍBLIA

O Senhor falava a Moisés face a face, como alguém que fala com seu amigo. -  Êxodo 33.11

A palavra — amigo — Deus é chamado amigo de Moisés, de Abraão: amigo de seu povo Israel. — Jesus, no momento em que era preso, chama o traidor Judas de amigo, assim como costumava chamar todos os discípulos de amigos meus. E é nesse sentido que podemos entender suas palavras: Não existe amor maior do que dar a própria vida em benefício dos amigos. 

Por aí compreendemos que duas coisas caracterizam a amizade: a conversa sem reservas, a troca sincera de ideias — e os atos de amizade, que podem tornar-se tão concretos, a ponto de custar uma vida. 

Ouvimos, antes, que Deus falava com Moisés como alguém que conversa com o amigo. E lembramos que não era diferente a maneira de Jesus conversar com seus discípulos. Essa intimidade, essa proximidade dá o que pensar. Porque, de repente, notamos que nosso Deus não é uma divindade superior e absoluta. Notamos que nosso Deus não é inacessível ou difícil de tratar. E notamos que nosso Deus em Cristo, faz muita questão de entrar em contato conosco. Deus insiste em iniciar uma conversa de amigo conosco. Aquilo que chamamos de palavra de Deus não é outra coisa do que essa conversa de Deus conosco... 

E é nesse ponto que muitos engasgam, tropeçam e param. O que é fácil de imaginar também. Os irmãos já pensaram, uma vez: quantas palavras. quantas conversas, quantos discursos são feitos e ditos e pronunciados por dia — em JF, no Brasil e no mundo? uma coisa que ninguém pode ou sabe calcular. Mas que é muito, isso é! No meio de todas essas palavras e discursos, existem os inesquecíveis, os que permanecem, porque foram bons, porque ajudaram iluminaram, consolaram Existem as palavras inesquecíveis porque magoaram e separam. Existem discursos que cansam e fazem dormir — assim como palavras boas se perdem, são ditas no ar. No meio de tudo isso, que sentido tem a palavra de Deus — a palavra de Jesus a seus amigos?

Não há dúvida de que a palavra de Deus também encontra ouvidos surdos e corações empedernidos. Para esses, ela caiu no vazio, foi dita ao vento. Mas o mais importante, na palavra de Deus, é que ela se identifica com aquele que fala. Jesus não usava apenas palavras: Jesus é a palavra que fala. Não se podem separar as coisas, não se podem fazer distinções. E é por isso que, quando Jesus fala sobre o mundo, os homens e Deus — tudo isso tem uma relação com o próprio Jesus. Esse o motivo por que Jesus diz: Eu sou a luz do mundo, eu me dou para a vida do mundo. E porque Jesus tem a ver com Deus, com o mundo e com os homens — por isso é que toda a nossa vida é tão sacudida, tão atingida por sua palavra. Aquilo que Jesus diz continua penetrando na vida de todas as pessoas, em todos os lugares. E, de repente, Jesus mesmo está em todos esses lugares. E é por isso que em todos os lugares alguma coisa acontece com as pessoas e com o mundo das pessoas, quando Jesus fala. Mas vamos relembrar: é a palavra, é a presença de um amigo conosco. Assim é que essa palavra, muitas vezes, vai significar o auxilio de que alguém necessita, para não cair, para não ficar sozinho, para não afundar. Outras vezes, essa palavra será dura como a verdade e violenta como um soco no olho. Não são os bons amigos que nos dizem a verdade? Quem mente pode ser um amigo verdadeiro? Jesus não nos ilude. Jesus coloca as coisas como elas são. Porque ele quer ser um caminho que possa ser usado — e não um atalho que leva na direção errada. Jesus quer ser a verdade de nossa vida — porque ninguém consegue construir uma vida inteira sobre a mentira (seja no matrimônio, na instrução, na profissão, na política, na igreja, seja onde for!) E Jesus quer dar e quer ser a nossa vida. Como pessoas ou como povo, como igreja ou como nação nós não temos outra saída, quando a escolha é — vida ou morte. 

Nós todos somos gente muito diferente (origem, capacidade, fé, situação social, realizações, destino). Mas, diante da palavra de Jesus nós todos nos tornamos muito iguais, tremendamente, assustadoramente iguais: nós todos somos gente a quem está sendo oferecida a vida (e não a morte!). Oferta de um amigo. E nós sabemos que não podemos garantir nossa vida. Sabemos o valor e o significado dessa ligação de amizade com Jesus. Sabemos que estamos guardados e protegidos por esse Jesus — pela palavra desse Jesus — até mesmo quando a vida terminar. 

Hoje é o Dia da Bíblia. Dia que nos lembra onde encontramos a palavra de Deus, a palavra de Jesus. Dia que nos relembra onde encontrar a palavra do amigo que quer conversar conosco sobre tudo o que acontece nesta nossa pobre vida. Jesus quer continuar o diálogo conosco. 

Por isso: tempo (que foi dado e que se pode dedicar), aceitemos a humanidade dessa palavra (a Bíblia é sagrada, mas não é divina!), sofrer com essa palavra e vencer por ela (ouvindo, lendo e testemunhando), ser sinceros com essa palavra de um amigo (e dizer a ele quando duvidamos ou não entendemos ou não gostamos). 

Quem não desistir dessa experiência, vai colher bons frutos naquela última hora, difícil e solitária. Talvez não haja mais forcas para dizer. Mas será possível lembrar: O Senhor é meu amigo. E agora que estou atravessando o vale da sombra, da morte, não tenho medo. Porque sei que também nesta hora tu estás comigo. 

Volte a usar sua Bíblia, irmão! Aquelas velhas-novas sempre novas palavras são ainda mais necessárias que o ar que respiramos. Não se impressione muito com as muitas palavras que são ditas por dia neste mundo. 

Fique com as palavras do amigo Palavras que dizem tudo sobre Deus o mundo e os homens Palavras que dizem tudo sobre nossa vida.

(Juiz de Fora — 12-12-71)

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Autor(a): Breno Arno Schumann
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Juiz de Fora (MG)
Testamento: Antigo / Livro: Êxodo / Capitulo: 33 / Versículo Inicial: 11
Título da publicação: Esperança - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1974 / Volume: Suplemento Número 7
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 22298
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É totalmente insuportável que em uma Igreja cristã um queira ser superior aos outros.
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