É possível ser cristão fora da Igreja?

Entrevista

20/01/1968

ENTREVISTA: É POSSÍVEL SER CRISTÃO FORA DA IGREJA? 

Considera-se ligado à igreja? Como? 

Não. Só me considero como sou plenamente, membro do povo de Deus, do corpo de Cristo. De que maneira? Através do batismo cotidianamente reatualizado, em termos de vivência, de testemunho. Através da auscultação da palavra de Deus, em cada novo dia. Através da participação na Santa Ceia, que reitera o encontro com o Cristo e a comunhão com os irmãos. Através do diálogo com qualquer ser humano, nas mais diversas circunstâncias. Houve um momento em que, para poder realizar e viver plenamente tudo isso, se tornou necessário (para mim) interromper as atividades paroquiais (no sentido restrito). 

Acha indispensável participar da vida da paróquia para ser cristão? 

Depende do que se entende por vida de paróquia. O cristão sempre vive em comunhão com os irmãos, pelo simples fato de ser parte integrante de um Povo, de um Corpo. A forma dessa comunhão é que varia (e muito). Seja como for, não se pode conceber uma comunhão que não se abra para o testemunho no mundo e para o mundo (assim como o Cristo é Senhor do mundo, no mundo e para o mundo). Se for esse o denominador comum da vida da paróquia, será indispensável a participação, justamente para ser cristão. Existem, porém, paróquias, cujas estruturas estão de tal maneira deturpadas que só resta uma alternativa (para ser cristão!): retirar-se o mais depressa possível. Porque a indiferença, a mornidão são altamente contagiosas. 

Considerando que a fé sobrevive isolada; e que a fé tem expressão concreta nos assim chamados frutos, como se concretiza o seu ser cristão? 

A partir do que afirmei na primeira resposta. tenho procurado concretizar meu ser cristão, especialmente, no âmbito do movimento ecumênico. Como? Empregando o conjunto do que sinto serem as dádivas que Deus me deu, em benefício dos esforços que visam dar expressão nova à (já existente) unidade da Igreja de Jesus Cristo. Escolhi e aceitei empregos que tivessem alguma correlação com essa tarefa (e que financiassem o tempo que dedico ao ecumenismo) . Artigos, conferências, grupos de estudo e debate constituem (para mim) campo de atividade pastoral, de encontro e diálogo com o ser humano concreto. Como co-fundador e atual Secretário Geral do Centro de Ecumenismo do Rio de Janeiro, como assessor de praticamente todos os empreendimentos ecumênicos da Guanabara, creio que estou tentando, de modo que me parece válido, ser cristão. Não conto mais porque pareceria propaganda. E não respondo aos críticos, por dois motivos: 1º.) os construtivos sempre vêm falar comigo, no sentido de ajudar a mim e à causa; 2.°) os outros podem ir plantar batatas. 

Que papel tem a estrutura na Igreja? 

Somente um: servir de instrumento para o plano salvífico de Deus no mundo. Daí resulta que a Igreja tem de assumir, sempre de novo, características de povo peregrino, que abandona terreno conhecido, rumo a horizontes novos e, por isso mesmo, desconhecidos. Sempre que a Igreja se assusta diante da jornada e se instala, tem inicio a perversão (que mencionei acima). E não acredito em reformismos graduais de estruturas superadas. Só acredito que justamente a fé em Deus nos capacite a adotar soluções criativas e originais, nesse campo.

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[Prédica publicada também em: Irreverência, compromisso e liberdade. O testemunho ecumênico do pastor Breno Arno Schumann (1939-1973). Escola Superior de Teologia e Koinonia. Presença Ecumênica e Serviço, 2004,p. 93-94.]


Âmbito: IECLB
Título da publicação: Esperança - Centro Ecumênico de Informações / Editora: Tempo e Presença Editora Ltda. / Ano: 1974 / Volume: Suplemento Número 7
Natureza do Texto: Vários
ID: 22301
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