Mateus 20.1-16a

Auxílio Homilético

18/09/2005

Prédica: Mateus 20.1-16a
Leituras: Isaías 55.6-9 e Filipenses 1.20c-27
Autor: Erni Seibert
Data Litúrgica: 18º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 18/09/2005
Proclamar Libertação - Volume: XXX


1.O texto e seu contexto

O texto de Mateus 20 está numa seção do evangelho em que o autor mostra vários ensinamentos de Jesus à comunidade cristã. A vida cristã tem um padrão de comportamento diferente daquele normalmente assumido pelas pessoas na sua vida em sociedade. No texto anterior (capítulo 19), Jesus fala do casamento, sugerindo que o divórcio não deveria existir. Além disso, ele abençoa as crianças dizendo ser delas o reino dos céus e ainda fala duro com um jovem rico, exortando quanto ao perigo das riquezas.

Tudo isso apresentava um forte contraste com o padrão social daquela época. Se compararmos com o padrão social de hoje, veremos que a realidade é tanto ou mais contrastante ao padrão anunciado por Jesus. Jesus falou (19.3-12) que o casamento não deveria resultar em separação. O divórcio só acontecia “por causa da dureza do vosso coração”. Em nossa sociedade, muitas pessoas casam pensando na separação. Jesus disse que das crianças é o reino dos céus (19.13-15). Hoje, crianças não são vistas como proprietárias do reino dos céus. Se possível, filhos devem ser evitados. Se não puderem ser evitados, que, pelo menos, não incomodem demais. Para Jesus, a riqueza não é a questão mais importante. Ao jovem rico Jesus aconselhou vender os seus bens e dá-los aos pobres. Logo depois, Jesus falou sobre os perigos da riqueza (19.16-29). Hoje ninguém parece estar preocupado com os perigos da riqueza. Nessa questão da riqueza, considera-se perigoso não tê-la. Os cursos universitários mais procurados são aqueles que prometem melhores salários na vida profissional. Ter é mais importante do que ser. Todos esses contrastes entre o reino de Deus e a vida aqui no mundo são o contexto anterior ao texto do evangelho em foco no 18o Domingo após Pentecoste.

Logo em seguida, o evangelista apresenta Jesus contando a “parábola dos trabalhadores da vinha”. A história é bastante simples. Trabalhadores são contratados em diferentes horas do dia. No final, mesmo tendo trabalhado períodos diferentes, o salário recebido por todos eles é igual: um denário. Um denário era o valor pago a um trabalhador braçal diarista. E os que reclamam por ter trabalhado o dia todo pelo mesmo valor pago aos que trabalharam apenas uma hora ouvem que não há injustiça nenhuma nisso. Mais um contraste forte entre o que Jesus ensina e a prática diária. Quem não iria considerar injusto trabalhar o dia inteiro e receber o mesmo que uma pessoa que trabalhou no mesmo serviço apenas uma hora?

Logo depois dessa parábola, o evangelista começa a encaminhar a narrativa do evangelho para a história da paixão e morte de Jesus Cristo. É nessa perspectiva que o próprio texto deve ser compreendido.

2. Os demais textos do dia

As demais leituras desse domingo também tratam da diferença que há entre o modo de agir de Deus e o dos seres humanos.

Isaías 55.6-9 é o clássico texto em que a graça de Deus é oferecida a todos. No v. 9, o autor nos lembra que os pensamentos e os caminhos de Deus não são os pensamentos e os caminhos humanos.

Filipenses 1.20c-27 afirma que viver de “modo digno do evangelho de Cristo” é viver de tal forma que “morrer é lucro”. Normalmente, as pessoas dizem que a morte é a derrota. Evita-se morrer. Mas, quando o viver é Cristo, o morrer é lucro.

3. O objetivo do texto

Qual o objetivo de estar esse texto incluído no evangelho? Isso poderá nos auxiliar para estabelecer o objetivo da pregação.

A resposta para essa questão encontramos possivelmente nos últimos versículos dessa perícope. Nos v. 15 e 16 são feitas duas afirmações. Deus em sua soberania e bondade toma decisões que vão além da lógica humana. Ele, em sua soberania e bondade, pode beneficiar os que aparentemente não têm direito, sem prejudicar os que têm direito. Este é o argumento para pagar a mesma quantia paga aos que trabalharam o dia inteiro aos que apenas trabalharam uma hora. Deus é bom. Ele pode fazer o que quiser do que é seu. Não há injustiça no fato de ter beneficiado alguns.

O outro argumento utilizado no v. 16 aponta para uma completa inversão de valores. “Os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos.” Aqui Jesus aponta para o contraste que há entre os critérios humanos, vigentes na sociedade, e os critérios vigentes no “reino dos céus”.

A lógica de Deus parte do fato de ele ser Deus e de sua bondade. Ele trata com o ser humano com um objetivo claro. Ele quer salvar os perdidos. Se Deus quer salvar aqueles que mereciam ser condenados, isto se deve a dois motivos: o primeiro é que ele é Deus. Em sua soberania ele decidiu salvar. Em segundo lugar, deriva de sua bondade. Ele é bom. Ele quer salvar. Ele quer salvar todos. Tanto é que convida todos a participarem do trabalho de seu reino. Não há maiores ou menores, nem pessoas com mais ou menos méritos. Todos recebem o mesmo benefício. E o benefício é mais do que justo para todos.

4. Ler o evangelho

Um exercício útil para a preparação da pregação é examinar o que o texto condena e o que ele traz de mensagem para superar o condenado.
É interessante notar que, nesse texto, nenhum dos trabalhadores está em situação diferente dos outros: todos esperam que alguém lhes traga trabalho. Eles não têm condições de providenciar nada. Não se espera deles que façam algo ou que possam fazer algo para mudar a situação deles. Se ninguém fizer algo por eles, estarão perdidos.

Esta é a situação do ser humano diante de Deus. Ele está perdido. Não consegue fazer nada para mudar a sua situação. Precisa irremediavelmente de ajuda. A ajuda só pode vir de Deus. Se Deus não estende a mão, as pessoas estão perdidas.

Um outro aspecto que chama a atenção no texto é que Deus toma a iniciativa de ajudar aqueles que sem ele estão perdidos. Ele vai até a praça e ali busca os que esperam por ajuda. Ele assume a posição daquele que vai ao encontro. Ele tem o coração aberto para ajudar.

O condenável surge quando aqueles que foram auxiliados na primeira hora julgam-se no direito de receber mais do que os outros. Esse é o ponto problemático do texto. Aqueles que foram ajudados mais cedo e tiveram oportunidade de participar do trabalho mais cedo se julgam com mais direitos do que aqueles que foram chamados por último. O condenável, nesse ponto, é não ter o mesmo amor que o dono da casa teve.

O texto parte do princípio de que, se o dono da casa não tivesse feito nada, todos estariam sem serviço. Mas pelo fato de o dono ter ajudado todos e ter dado a todos a mesma recompensa, alguns se julgaram injustiçados.

Os participantes do reino de Deus deveriam aceitar que Deus em sua soberania e bondade pode fazer o mesmo bem a todos. Os méritos humanos não mudam a situação. Deus dá a recompensa.

É isto que Deus faz aos que ele salva. O malfeitor da cruz recebe a mesma recompensa dos discípulos que passaram a vida a serviço do Senhor. Deus em sua bondade é quem recompensa.

Essa mesma lição aparece no texto de Isaías e na Epístola aos Filipenses. Os critérios do reino dos céus são diferentes dos critérios deste mundo. No reino dos céus, quem não tem dinheiro compra. A morte é lucro. Os últimos serão os primeiros. Graças a Deus isto é assim.

Será que a igreja de Deus tem esse padrão em sua vida diária? Será que os cristãos vivem conforme esse padrão divino?

5. Esboço

Tema: As dificuldades do homem contemporâneo para entender Deus.
1) Entender a sua bondade – são maus os teus olhos porque eu sou bom?
2) Entender os seus valores – Os últimos serão os primeiros.

Ao abordar o texto sob essa forma, lembrar os ouvintes de que nenhum de nós mereceria ser tratado por Deus com essa sua bondade e que ninguém, por si, mereceria os primeiros lugares. Isto deveria levar todos nós a ser humildes diante de Deus e do nosso semelhante e tratar o nosso próximo como Deus nos trata.

6. Sugestões litúrgicas

Mostrar, com ajuda de cadernos de empregos em jornais, que os empregos considerados mais importantes oferecem melhores salários. Mostrar, com ajuda de noticiários, que as pessoas mais importantes são colocadas nas primeiras páginas e nos lugares mais importantes das notícias.

Depois, com o texto, mostrar o contraste disso com o que Jesus diz ser “o reino dos céus”. Aplicar essas verdades à vida da igreja.


 


Autor(a): Erni Seibert
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 18º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 16
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2004 / Volume: 30
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23598
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