Mateus 22.1-10 (11-14)

Auxílio Homilético

09/10/2005

Prédica: Mateus 22.1-10 (11-14)
Leituras: Isaías 25.6-9 e Filipenses 4.4-8(9-13)
Autora: Vera Regina Waskow
Data Litúrgica: 21º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 09/10/2005
Proclamar Libertação - Volume: XXX


1.Considerações finais

Faz-se necessário lembrar que o texto da pregação foi trabalhado em outros dois momentos. Inicialmente no PL IV, pelo P. Wilfrid Buchweitz, e posteriormente no PL XVIII, por Mercedes García Bachmann. Recomendo a leitura. Levando em consideração que muitas são as pessoas que não têm acesso a esses exemplares, tratarei de, baseado neles e em outros materiais, trazer-lhes uma singela contribuição. 

2. Evangelho de Mateus

Baseado em estudos, fica claro que os evangelistas Mateus e Lucas usaram duas fontes literárias para a sua redação, que são: o Evangelho de Marcos e um outro documento chamado pelos historiadores de “Fonte Q”. Precisamos dizer também que nenhum dos evangelistas se deu por satisfeito apenas copiando os relatos das fontes, mas atribuíram ao evangelho seu próprio testemunho. O evangelho não é simplesmente uma reprodução mecânica, mas um processo de proclamação em que a tradição é reinterpretada. Quanto à autoria, não existem informações precisas. O evangelista Mateus, discípulo de Jesus, foi considerado o autor pela igreja antiga. Mas é bastante difícil afirmar isso, pois o autor trabalha com fontes e não com suas memórias; sendo assim, não poderíamos dizer que Mateus tenha sido uma testemunha ocular.

O evangelista dá uma grande importância ao cumprimento dos anúncios do AT na história de Jesus. Jesus é para Mateus o divino mestre que com autoridade única interpretou a lei e definiu a vontade de Deus.

3. Considerações exegéticas

A parábola das bodas está inserida dentro de um contexto maior que vem desde o cap. 21 ao 25, que se referem ao período em que Jesus viveu em Jerusalém, antes de sua morte. Não podemos deixar de assinalar para a semelhança entre a parábola dos dois filhos, Mt 21.28-32, a parábola dos lavadores maus, Mt 21.33-46, e a parábola das bodas, Mt 22.1-14, aqui estudada. As três parábolas trazem como pano de fundo o distanciamento das pessoas de Deus, mas mostram sobremodo o amor de Deus, revelado na imagem do Pai na parábola dos dois filhos, e a justiça de Deus, revelada nas atitudes do dono da vinha e do rei.

Em nosso texto, esbarramos no v. 11, no qual o rei questiona um de seus convidados por não estar usando uma veste nupcial, uma roupa de festas. Essa atitude nos parece estranha quando sabemos que os convidados são pessoas oriundas das estradas, das encruzilhadas; por que então a pergunta pela veste? Entre muitas respostas encontramos um exegeta chamado Adolf Schlatter, que diz que a cobrança com a veste faz parte de um convite que precisa ser levado a sério. O convite feito deve ser honrado, respeitado. Schlatter afirma que a pessoa que senta à mesa de festa sem vestes apropriadas quer que seus pecados sejam perdoados, mas ao mesmo tempo quer conservá-los. A pessoa que entra sem as vestes das bodas quer fazer sua própria festa, é como alguém que aceita o convite do reino de Deus, mas continua construindo seu próprio reino. E para Deus isto não é possível.

O reino de Deus é presente, é dado de graça. Os convidados não precisam fazer nada, nem contribuir com nada, apenas aceitar o convite. O rei prepara tudo e convida as pessoas indiscriminadamente. Deus quer a casa cheia, quer uma grande festa, mas infelizes serão aqueles que não acolherem o convite. A gratuidade de Deus provoca nossa compreensão utilitarista. Para nós, seres humanos, a graça é inconcebível, mas para Deus ela é a base e o princípio de tudo. Ela é amor pleno.

Deus convida, e aceitar esse convite tem implicações muito grandes. Aceitar o convite significa mudança de atitude, significa mudança de realidade, significa viver a vida sustentada por esse amor que nos é dado de graça. Dentro desse espaço não cabe a velha roupa, não cabe a velha vida. Deus convida todos para um novo momento, um novo tempo, mas poucos são os que aceitam o convite e compreendem a dimensão e o compromisso desse convite.

4. Reflexão

A interpretação dessa porção do evangelho é um grande desafio. No entanto, muito oportuna para a realidade religiosa mercantilista que hoje se apresenta. O povo de Israel recusou o convite para o reino de Deus. Não precisamos pensar em Israel do ponto de vista geográfico, mas simplesmente como povo escolhido por Deus. O criador em sua liberdade escolhe um determinado povo, elege-o, convida-o para a festa do reino, mas este continua a caminhar na sua auto-suficiência. Deus não faz apenas um mero convite, mas insiste (v. 3 e 4), detalhando inclusive características do reino (os bois cevados já foram abatidos, e tudo já está pronto). No entanto, nem mesmo assim o povo escolhido se deixa convencer. Um vai para o campo, outro vai se dedicar a seu negócio, cada qual construindo o seu próprio reino. Há aquelas pessoas que de forma alguma querem reagir ao convite de Deus. A correria, a pressa, os muitos afazeres são colocados sempre em primeiro plano. Os reinos deste mundo são mais importantes. Não obstante, essa atitude, conforme a parábola contada por Jesus, tem conseqüências catastróficas. O juízo de Deus é inevitável. No entanto, é importante observar que o juízo de Deus igualmente se apresenta para aquelas pessoas que aceitaram o convite. Vejamos, a pergunta no versículo 12: “Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial?” Ou seja, aceitar o convite implica uma postura diferente. Não se pode fazer parte do reino mantendo a mesma postura como se dele não fizesse parte. É o conflito do antigo e o novo ser humano, enfatizado por Paulo em suas cartas.

O texto questiona a comunidade e seus membros, como pessoas que aceitaram o convite para a festa do reino. Pois se pressupõe que a pessoa que decide fazer parte de uma comunidade denominada cristã tenha consciência de ter aceito o convite. Neste sentido, o texto pode levantar a reflexão sobre diferentes interesses que levam uma pessoa a fazer parte da comunidade cristã: batismo, casamento, sepultamento, cemitério e tantos outros. Quando a filiação a uma comunidade está sustentada por esse tipo de interesse, não há nenhum comprometimento com o anfitrião da festa: Deus. É claro que a aceitação autêntica e consciente do convite para o reino não trará solução automática para todas as mazelas da humanidade, porque as pessoas continuam sendo humanas e, portanto, falhas, pecadoras, presas ainda ao velho ser humano. Não obstante, fará uma grande diferença. Neste sentido, cada pessoa e cada comunidade em seu contexto precisam levantar a seguinte pergunta: Que diferença faz para a minha realidade ser pessoa cristã, comunidade cristã, que aceitou o convite para a caminhada face à construção do reino de Deus? É ofensa a Deus pessoas e comunidades que confessam a fé no trino Deus manterem postura descomprometida e omissa na sociedade.

5. Pistas para a prédica

a) Em primeiro lugar, quero enfatizar que o convite de Deus se estende a todas as pessoas. Deus não impõe condições, no entanto aceitar o convite implica mudança de vida. Deus não obriga, apenas convida.

b) Deixar claro que nem mesmo a consciência do convite feito por Deus possibilita a implantação do reino. Ele tem caráter escatológico. Não se concretiza plenamente em nosso meio. Está sob controle de Deus e é bom que assim seja. No entanto, essa característica não pode sustentar acomodação da comunidade cristã.

c) Levar a comunidade a refletir sobre a autenticidade de sua fé. Que fundamento sustenta a caminhada da comunidade? Que diferença faz nesse contexto ser comunidade de Jesus Cristo?

6. Recursos litúrgicos

Acolhida: “Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e dêem fruto, e que esses frutos não se estraguem” (Jo 15.16).

Confissão de pecados: “Das profundezas eu clamo a ti, Senhor, meu Deus, nos escute. Veja, Senhor, a culpa em que caímos, veja nosso fraquejar na luta. Sabemos, senhor, que perante Ti não tem valor virtudes e cuidados, pois somente tua graça e teu amor nos absolvem dos pecados. Por isso não confiamos em nossa dignidade, mas sempre nos queremos apoiar em tua fidelidade. Quer dure até o anoitecer, quer surja um novo dia em Ti, Senhor, e em teu poder nosso coração confia. Se mil pecados em nós há, em Ti, bondoso Deus, há mais piedade e por tua mão nos guiará em luta e tempestade. Por Cristo Jesus, amém” (baseado no hino 147 [HPD1] de Martin Lutero).

Kyrie: Sugiro o canto Kyrie eleison, de Rodolfo Gaede Neto; encontramos este hino nos anexos do Livro de Culto, na p. 341.

Glória: Por Deus nos aceitar como seus filhos e filhas, por fazermos parte de sua grande família num convite que nos foi feito de graça e por amor, louvamos e adoramos a Deus, cantando ...

Oração do dia: Bondoso e amado Deus, concede-nos sabedoria, paz e coragem para ouvir, crer e testemunhar tua palavra. Que o teu evangelho, que é fonte de vida, possa nos iluminar mostrando-nos assim por onde andar. Que pela fé que tu nos concedes possamos reconhecer que somos teus filhos e filhas e de tua família somos parte e que assim também possamos viver. Aquieta-nos agora e fala conosco através de tua palavra. Por Cristo Jesus, amém.

Bibliografia

KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 1982. p 121-148.
BRAKEMEIER, Gottfried. Observações introdutórias referentes ao Evangelho de Mateus. Proclamar Libertação II. São Leopoldo: Sinodal, 1977. p. 176.


Autor(a): Vera Regina Waskow
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 21º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 22 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 10
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2004 / Volume: 30
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23599
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