João 15.1-8

Auxílio Homilético

14/05/2006

 

Prédica: João 15.1-8
Leituras: Salmo 22.25-31 e 1 João 3.8-24
Autora: Sisi Blind
Data Litúrgica: 5º.Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 14/05/2006
Proclamar Libertação - Volume: XXXI

Eu sou a videira, vocês são os ramos.
Quem está em mim e eu nele, esse dá muito fruto,
porque sem mim, vocês não podem fazer nada”. (Jo 15.5)
 

1. Ligação com a corrente da vida

O evangelista João traz nos seus relatos mensagens que contemplam a experiência e a vivência da fé por meio dos símbolos que falam da concreticidade do cotidiano. Isso torna-o, por vezes, mais abstrato e contemplativo. Porém não desmerece seu conteúdo. Pelo contrário, ele nos traz a possibilidade e a abertura para a reflexão de nossos processos de vida, que são interligados na corrente do propósito de Deus.

O Evangelho de João convida-nos, nos capítulos 14-17, a refletir sobre a ligação com a corrente da vida, manifestada em Cristo Jesus. Essa ligação é manifestada na forma de como Deus apresenta sua relação com seu filho. Ele vem de Deus e a ele retornará. O elo dessa corrente de vida não é desvinculado. Ele contém a ligação que se manifesta como início, meio e fim.

A comunidade cristã está ligada à corrente da vida de Jesus. Não é uma instituição com início, meio e fim em si mesma. Ela constitui um vínculo com Jesus e estabelece-se no vínculo de continuidade comunitária. São elos que sempre estão entrelaçados. Seja no seu vínculo de sentido, seja no seu vínculo de compromisso.

Essa ligação não objetiva simplesmente um fim em si mesmo, mas se estende a toda a comunidade. Fica, portanto, claro o propósito dessa cor- rente: mostrar que o amor de Deus tem vínculo contínuo e é composto de fases concretas e contínuas. A revelação de Deus não-estática tem a dinamicidade da vida. Essa característica é manifestada com muita clareza no texto de João 15.1-8.

2. A videira: uma corrente de vida

A imagem da videira ressalta ainda mais essa corrente. Se pensarmos no fluxo natural de uma videira, percebemos que ela só se completa se considerarmos o conjunto. O completo aqui mostra-nos essa característica da dinamicidade. Nunca está pronto. Sempre se está em processo. Ser comunidade de Cristo é assim: sempre estar pronto e disposto a viver os processos. A videira cumpre suas estações na dinamicidade de estar completando e estar se preparando para continuar o ciclo. É uma corrente de vida, cujo fluxo é contínuo. Nesse processo, é preciso cortar, limpar para constituir a força para a continuidade.

Quando Jesus diz, eu sou a videira, eu sou a videira verdadeira, então essa imagem expressa que aquelas pessoas que estão ligadas a ele têm a plenitude da energia da vida. Elas são alimentadas pelo centro da videira, ou seja, pelo próprio Cristo. Ele é a força do amor, da luz, da água, da sabedoria. O ramo é alimentado pela força vital da videira. Essa alimentação é corrente, no sentido de correr, de fluir. Somente nessa continuidade que a energia e o vigor podem chegar aos extremos dos ramos e assim possibilitar a condição para o fruto.

Essa imagem da videira é intensamente feminina e também masculina. O vínculo do ramo com o tronco é feito através da circulação da força que alimenta, que dá característica, que nutre e que faz produzir frutos. Assim é a fecundação. O novo ser gerado recebe os genes masculinos e femininos. A força hereditária torna-se corrente e se desenvolve no novo ser, fruto do elo que se formou. Na gestação se dá a continuidade da fecundação. Agora o processo é exclusivamente feminino. É o aconchego do útero, que permite o desenvolvimento. A criança é alimentada pelo sangue da mãe. É sangue que circula, que dá força, que faz crescer, que constitui a estrutura do desenvolvimento. Assim como o ramo é alimentado pela seiva vital da videira, a criança é alimentada pelo sangue da mãe.

A corrente de vida que se estabelece na gestação não tem como fim a própria gestação, mas a geração de um novo ser. O ramo que se liga à videira não tem como fim em si estar ligado à videira, mas objetiva a produção de frutos. Os frutos não objetivam alimentar a videira, mas são produzidos para alimentar outros. Não é a videira que usufrui de suas uvas. Suas uvas são experimentadas e degustadas por uma comunidade externa.

Os frutos não são propriedade da videira. Ela os produz para cumprir sua tarefa de existência. Assim, podemos dizer também que os filhos não são propriedade de suas mães e pais. Eles fazem parte da tarefa da existência dos homens e mulheres. A gestação não tem como fim a maternidade apenas, mas a existência da própria criação de Deus.

Eis uma questão, como mães, difícil de administrar. Nossos filhos não são nossos, assim como não são para nós. Eles são dádiva de Deus e fazem parte de sua criação. Eles não nos pertencem, mas fazem parte de um todo, de um conjunto, que visa à complementaridade.

Esse é o caminho de Deus. É o caminho do desprendimento, o de fazer passar por si, para chegar a seu objetivo maior. O desprendimento, no entanto, não é desvínculo. A seiva vital é elo de relação. Tem o vínculo de partida e de chegada. Os elos de uma corrente só formam a corrente quando estão entrelaçados entre si.

Nossos filhos não são propriedade nossa, mas fazem parte de nossa história. Nossa responsabilidade é fazer com que eles vivam a liberdade de ser também os ramos da videira. Não somos nós, como seres humanos, a medida e o objetivo final de todas as coisas. Antes somos parte de um organismo maior, cuja função é relacionar-se com o todo e permanecer unido à corrente da vida. Essa unidade orgânica só experimenta a verdadeira força da seiva se permanecer vinculada ao tronco maior, que é Jesus Cristo.

Fazer parte da videira, da comunidade de discípulos e discípulas de Cristo, é entender que nossa missão faz parte de um conjunto maior. Nossas forças não dependem de nós, e também não são constituídas para nós. Mas como parte desse processo permanecemos ligados.


Autor(a): Sisi Blind
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2005 / Volume: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23637
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