Apresentação
Em 1983 a cristandade estará lembrando os 500 anos do nascimento do reformador da Igreja universal: Martim Lutero. Entre nós, no Brasil, Lutero continua a ser um grande e ilustre desconhecido É certo que a maneira de apresentar Lutero passou por mudanças bastante profundas. Já vão longe as polêmicas do Pe. Leonel Franca S.J. (1) e do Pe. Júlio Maria S.D.N. (2), longe também vão os contraataques de Lysâneas de Cerqueira Leite, de Frederico Hansen (Otoniel Mota) e de Eduardo Carlos Pereira (3). Passados 20 anos, dificilmente uma editora também reeditaria o capítulo de Ruth Guimarães a respeito de Lutero (4). A produção de tal literatura polêmica pertence hoje ao passado anterior ao Concílio Vaticano II. O leitor brasileiro da era pós-conciliar pode contar com publicações do quilate de Jerônimo Jerkovic’ e Breno Schumann (5), de Harding Meyer e Erwin Iserloh (6) ou com o excelente número da Revista Concilium, Lutero Ontem e Hoje (7). Ao lado destas publicações, feitas por uma editora ligada ao catolicismo brasileiro, as próprias igrejas luteranas passaram a, em data mais recente, publicar material para o estudo de Lutero (8). Mesmo assim o material existente é pouco. É possível que as comemorações relativas aos 500 anos do nascimento do reformador venham a nos fornecer material para suprir as lacunas existentes. Sabemos que a Comissão Interluterana de Literatura prepara uma edição das obras de Lutero.
Com a presente edição especial de Estudos Teológicos queremos oferecer ao público leitor algumas Reflexões em torno de Lutero de autoria de professores da Faculdade de Teologia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Talvez estas reflexões possam suprir um pouco as lacunas que se fazem sentir em nosso meio.
Neste ano de 1981 a Faculdade de Teologia da IECLB comemora 35 anos de existência, criada que foi em 1946. Quando da fundação da instituição — na época denominada de Escola de Teologia — seus professores publicaram pequeno caderno de 40 páginas, intitulado Luther vive (9). Entre os estudos publicados encontramos um, de autoria do Professor P. Bertholdo Weber, que leva o título A Morte na Teologia de Luther. Se hoje publicamos uma coletânea com reflexões em torno de Lutero, temos dois motivos. O primeiro é motivo de gratidão pelos 35 anos de existência da instituição, o segundo é o do nosso agradecimento a Bertholdo Weber, mestre e colega, pela colaboração abnegada prestada em 35 anos. A ele dedicamos esta edição especial de Estudos Teológicos como pequeno sinal de reconhecimento.
Martin N. Dreher
Notas:
(1) Cf. Catolicismo e Protestantismo, 2ª. ed., Rio de Janeiro 1952; Protestantismo no Brasil, 3ª. ed. Rio de Janeiro, 1952.
(2) O Diabo, Lutero e o Protestantismo, 2ª. ed., Manhumirins 1950; Ataques Protestantes às Verdades Católicas, 5ª. ed., Petrópolis, 1956.
(3) Lysâneas de Cerqueira Leite, Protestantismo e Romanismo, Rio de Janeiro 1941; A Igreja, o Papado e Roma, Rio de Janeiro 1941. Eduardo Carlos Pereira, O Problema Religioso na América Latina, São Paulo, 1920.
4) Ruth Guimarães, Líderes Religiosos, São Paulo 1961. Lutero é abordado nas págs. 235-253.
(5) Martinho Lutero, 450 Anos Depois, Petrópolis, 1967.
(6) Lutero e Luteranismo hoje, Petrópolis, 1969.
(7) Concilium 118, Petrópolis, 1976.
(8) Cf. neste caderno as págs. 121-121 Não podemos deixar de acentuar que antes que as igrejas luteranas começassem a publicar obras a respeito de Lutero, outras denominações protestantes o faziam. Vicente Themudo Lessa escreveu a primeira biografia de Lutero em terras brasileiras (Lutero, 4, ed. São Paulo 1960) e foi a Igreja Metodista quem publicou a primeira tradução das 95 teses de Lutero (As Noventa e Cinco Teses de Martinho Lutero, São Paulo. 1956), em tradução de Pythagoras Daronc da Silva.
(9) Este caderno era editado também em comemoração do 400º. aniversário da morte de Dr. Martin Luther, do 60º. aniversário do Sínodo Riograndense, Igreja Evangélica no Rio Grande do Sul, da abertura da Escola de Teologia era São Leopoldo.
