A morte é o nosso fim? Creio na ressurreição e na vida eterna

01/11/2009

   Costumamos dizer que a morte faz parte da vida. Nem por isso lidamos com a morte de modo tão natural assim. Na verdade, a morte inquieta e gera insegurança à maioria das pessoas, por isso evitamos o assunto. Temos dificuldades de falar da realidade que envolve a nossa própria morte. Aliás, na sociedade ocidental a morte é, cada vez mais, encarada como tabu. Explorase a morte espetáculo, a do outro, distante de nós, mas ignora-se a morte própria e a de pessoas próximas. As pessoas falecidas são, inclusive, maquiadas para amenizar a ‘feiúra’ da morte, mas ninguém foge da morte e, quando nos confrontamos com ela, em nós mesmos, na perda de

Se não há ressurreição de mortos, então Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e vã a nossa fé (1Co 15.13-14)

familiares e de pessoas amigas, somos profundamente abalados. Abre-se um vazio, normalmente, preenchido pela dor, pela saudade e pela lembrança da pessoa que a morte levou.
   Geralmente, apenas quando as pessoas se defrontam com a morte dos seus entes queridos, elas vão em busca das respostas para essa realidade. A morte suscita em nós uma série de perguntas existenciais: o que é a morte? Por que morrer? Para onde vão as pessoas que morrem? A morte é o nosso fim? Como a fé cristã responde as perguntas que o ser humano faz diante da morte? Existe consolo para a morte?
   De acordo com a tradição bíblica, o ser humano é visto como uma unidade. Ele é corpo e espírito e estas dimensões não se separam com a morte. O ser humano morre em sua inteireza. Isto significa que não há uma continuação retilínea da nossa vida para o além da morte. Com a morte se extingue o ser humano em corpo e espírito, ou seja, existe um fim, sim, que precisa ser encarado em toda a sua realidade.
   É difícil encarar a realidade da morte e dizer que ela é o fim desta vida. Normalmente, se procura fugir dessa verdade. Fugindo dela, certas expressões religiosas constroem uma ‘Teologia’ com respostas muito fáceis. A Teologia cristã, porém, não se constrói em cima de uma fuga. Para ela, a fé, como dádiva deDeus, nos ajuda a olharmos a realidade da morte como fim da nossa vida. Ela nos encoraja a lidarmos com a morte de maneira realista, sem subterfúgios. Ela nãonos engana com doutrinas que pregam a continuação desta vida através de uma imortalidade da alma.
   Este tipo de doutrina não nos ajuda a aceitar a nossa condição de finitude. Ao mesmo tempo, a fé cristã nosconsola e nos dá esperança, pois, a partir da cruz, morte e ressurreição de Jesus Cristo, nos foi dada a promessa de que Deus ‘vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem’ (Rm 4.17).
   A ressurreição dos mortos, no sentido bíblico, não é dada a partir de algo que sobrou em nós. Ressurreição significa que Deus reconstitui a vida a partir do nada. Conforme Gênesis 3.19, somos pó e ao pó tornaremos. Ressurreição é nova intervenção criadora de Deus. Cremos que, assim como do pó fomos formados, pó voltaremos a ser, ou seja, assim como Deus uma vez criou tudo do nada, ele o pode fazer novamente na ressurreição.
   A partir da fé cristã, portanto, podemos enfrentar a morte como o fim da nossa vida, sabendo, porém, que a morte não é o fim do nosso ser. As pessoas falecidas não podem ser separadas do amor de Deus por nada neste mundo e nem mesmo pela própria morte (Rm 8.38-39).
   Vivemos na finitude, mas cremos no Deus infinito e cremos na ressurreição e na vida eterna. Em nossa pequenez, não podemos fazer nada diante da morte, nem pelas pessoas que faleceram, a não ser nos entregarmos às mãos misericordiosas de Deus, crendo que fará nova criação e dará nova vida ao ser humano. Diante de todas as perguntas que permanecem sobre como e quando tudo vai acontecer, o que vale é a certeza de que na eternidade estaremos definitivamente reunidos com Cristo e ‘transformados seremos todos’ (cf. 1Co 15.51).

                                                        A Catequista Dra. Erli Mansk
                                                            atua em tempo parcial na
                                                  Coordenação de liturgia da IECLB

Não somos nós que podemos preservar a Igreja, também não o foram os nossos ancestrais e a nossa posteridade também não o será, mas foi, é e será aquele que diz: Eu estou convosco até o fim do mundo (Mateus 28.20).
Martim Lutero
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