1 Coríntios 15.1-11

Auxílio Homilético

07/02/2010

Prédica: 1 Coríntios 15.1-11
Leituras: Isaías 6.1-8 (9-13) e Lucas 5.1-11
Autor: Pedro Kalmbach
Data Litúrgica: 5º Domingo após Epifania
Data da Pregação: 07/02/2010
Proclamar Libertação - Volume: XXXIV


1. Introdução

Conforme o Antigo Testamento, Deus chamou uma e outra vez pessoas para incumbi-las com uma missão. Assim existem diversos chamados: Abraão, Moisés, Gideão, Samuel, Amós, Isaías, Jeremias e outros. Isaías 6 apresenta o chamado ou a vocação de Isaías. Lucas 5 relata o chamado que Jesus fez a Pedro, que de pescador no lago de Genesaré passou a ser pescador de pessoas. Nos primeiros versículos de 1 Coríntios 15, Paulo afirma e recorda que é apóstolo pela graça de Deus (em Atos 9.3-6, Lucas narra a aparição de Jesus na vida de Paulo).

Encontramos nos três textos o tema da vocação daquelas pessoas que foram chamadas por Deus. As três pessoas chamadas, conforme esses textos, têm em comum que não se consideram dignas para a tarefa proposta [Isaías afirma que está perdido e que não pode dizer nada (Is 6.5); Pedro se reconhece como pecador e por isso pede que Jesus se afaste dele (Mt 5.8); Paulo não se considera digno de ser chamado apóstolo por ter perseguido a igreja (1Co 15.9)].

2. O texto

No capítulo 15, Paulo confronta-se com a incredulidade dos coríntios diante da ressurreição em geral. A ressurreição de Cristo parece que era algo indiscutível, mas essa eles (a comunidade dos coríntios) não relacionavam com a ressurreição dos mortos. Paulo assinala que a fé na ressurreição dos mortos não é um detalhe a mais para os cristãos. Segundo esse apóstolo, entre a ressurreição de Cristo e a ressurreição dentre os mortos existe uma íntima relação. Os versículos 1 a 11 são, nesse contexto, um prelúdio para o que segue e que é um tema central para Paulo: a ressurreição dos mortos.
Nos versículos 52 e 57, o apóstolo afirma que Deus nos quer fazer coparticipantes de sua vitória sobre a morte. Nesse sentido, a afirmação e confissão de que Cristo morreu e ressuscitou (v. 3 e 4) passa a ser o fundamento da esperança que vai além da morte. A ressurreição da morte, vida a partir da morte. É disso que se trata e é o que dá força para resistir à morte, apesar de ter de morrer. Pois Deus não venceu somente a morte para ele e para seu filho. Dessa maneira, Paulo enfrenta as dúvidas e a incredulidade a respeito da ressurreição que existiam entre os coríntios.

O texto da prédica (v. 1-11) relembra a comunidade e cada pessoa de que no horizonte da ressurreição dos mortos estão o fundamento e o princípio da fé cristã.

Cristo morreu por nossos pecados (v. 3) e ressuscitou no terceiro dia (v. 4). Paulo identifica o Cristo morto com o Cristo ressuscitado. Esse Cristo foi visto por Cefas, depois pelos doze, mais tarde por mais de quinhentos irmãos e irmãs etc. (v. 5-7). Por último, ele apareceu a ele, ao menor dos apóstolos (v. 7).

Paulo lembra as pessoas cristãs em Corinto de que a fé que os sustenta vai muito além da morte e que elas vivem sob a graça de Deus por meio de Cristo. Apesar de não merecer ser apóstolo, por ter perseguido a igreja de Deus, Paulo compartilha que é apóstolo por pura graça e bondade de Deus. É Cristo que, com sua presença, com sua misericórdia e doação, fá-los comunidade, sustenta e chama para viver assim como ele vive.

3. Meditação

Mesmo que 1 Coríntios 15 aborde fundamentalmente o tema da ressurreição dos mortos, sugiro delimitar o tema que o texto de 1 Coríntios tem em comum com os outros textos (Lucas e Isaías) para o 5 ° Domingo após Epifania: a vocação dos que foram chamados por Deus e que essa vocação vai mais além das aptidões das pessoas e de sua história.

Deus chamou Abraão, Isaías, Pedro, Tiago e João, Paulo e um sem-número de pessoas ao longo da história. No sentido estrito, ao expressar sua misericórdia e seu amor, Deus chama cada pessoa que se diz cristã. A cada uma ele dá dons, vocaciona para que possa responder a esse chamado, dando testemunho de sua presença e de sua vitória sobre a morte. Liturgicamente, as comunidades cristãs celebram o chamado de cada pessoa com o Batismo. É ali que se marca radicalmente o que o ato salvífico de Cristo é para cada pessoa. Por sua vez, a celebração do Batismo expressa que Deus chama a pessoa ao seguimento.

Nesse sentido, a vocação é expressão da confiança que Deus deposita na pessoa. Apesar de todas as calamidades, apesar da rebeldia humana, apesar da morte imperante no mundo inteiro, Deus não desiste do ser humano, confia nele e o vocaciona para que dê testemunho seu, para que ele o ame acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Paulo, que havia perseguido os cristãos, confessa que foi a graça de Deus que o converteu em apóstolo (v. 10). Isso não foi por mérito próprio; foi porque Jesus lhe falou e assim o quis. Diante de sua busca, esse apóstolo encontrou uma resposta clara e assim o compreendeu até o fim de seu ministério. É provável que muitos de nós não encontremos sempre uma resposta clara para nossa busca. Em todo caso, a resposta terá que estar relacionada com a forma na qual entendemos que Jesus está falando a nós.

No mundo globalizado em que vivemos, com seu sistema socioeconômico neoliberal, as regras do jogo na sociedade castigam aqueles que fracassam no trabalho, no estudo e nas relações humanas em geral, sobretudo quando não se consegue cumprir determinadas expectativas de consumo. Essas situações podem levar ao desespero, à depressão (estima-se que, no ano de 2020, a depressão será a segunda enfermidade, considerando a percentagem de pessoas doentes na população mundial), a uma autoestima frágil e deteriorada. Frente a essa situação pode ser de vital importância o ato de saber-se vocacionado por Deus para a realização de uma tarefa neste mundo. Se Deus pede que amemos o próximo como a nós mesmos, é porque ele confia em nós e sabe que temos a capacidade para fazê-lo. Se ele pede que amemos, é porque ele nos amou primeiro.

Entendo que nesse texto Paulo nos coloca frente a três questões básicas:

a) Lembra quem eras. Tantas vezes vivemos nosso ser cristão como se fosse algo de rotina ou como se fosse simplesmente algo que damos por subentendi- do, sem que isso faça ou produza alguma diferença em nossas vidas. O apóstolo lembra-nos a insegurança e a fragilidade de nossa confissão. Ele nos chama a atenção para o fato de que tantas vezes já nem somos conscientes do privilégio que significa o ato de saber que não estamos sozinhos frente às diversas mortes e nos lembra, em meio a esta vida, nossa fé na ressurreição a partir da morte.

b) Ele vive e também tu deves viver. Na vida de muitas pessoas não faltam as coisas materiais para viver. Sem dúvida, suas vidas estão tomadas pelo medo, pela tristeza, pela dor, pela solidão, pela inveja, pelo ciúme, pela avareza, pela cobiça. Na vida de muitas pessoas ainda faltam as coisas materiais para viver dignamente. Tanto em uma como na outra situação, o Ressuscitado chama para a vida, para a busca irmanada por uma vida digna de mútua entrega.

c) Lembra sempre qual é o fundamento de tua vida hoje e amanhã. Paulo perseguiu a comunidade cristã. E o fez ouvindo falar sobre Jesus. Somente quando sente/escuta o chamado de Jesus em sua vida, ele se converte em cristão. Diante das críticas e dúvidas dos coríntios a respeito de sua pessoa e autoridade, Paulo não formula argumentos, exceto o de testemunhar que Jesus também apareceu para ele. É sobre esse fundamento que o apóstolo escreve a Carta aos Romanos: “Pois eu tenho a certeza de que nada pode nos separar do amor de Deus: nem a morte, nem a vida; nem os anjos, nem outras autoridades ou poderes celestiais; nem o presente, nem o futuro; nem o mundo lá de cima, nem o mundo lá de baixo. Em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor” (Rm 8.38-39).

4. Imagens para a prédica

Quantas vezes desesperamos quando os planos que tínhamos fracassaram ou quando em situações de crise ou de tomada de decisões não temos em que nos agarrar. Por outro lado, costumamos encher-nos de orgulho e de certa onipotência quando as coisas saem como havíamos planejado ou quando temos êxito em nos- sos empreendimentos. No fundo, ambas as situações, a do desespero e a da onipotência, têm em comum o fato de que se sustentam na dificuldade de poder colocar a vida nas mãos de Deus, tomando consciência de que a fonte de vida e de nossos dons está nas mãos de Deus. Para a pregação podem ser usados exemplos de situações de onipotência ou de desespero que são comuns na vida cotidiana e contrapô-las ao chamado e à vocação de que somos destinatários.

Confiar no chamado e na vocação é poder confiar na ressurreição, é deixar-se guiar sem que nossos olhos possam divisar o que ainda está por vir. É poder despojar-se, deixar de lado as seguranças construídas com as próprias mãos e dessa maneira abrir-se para o novo e diferente que há de vir. Assim como Abraão e Moisés, que se puseram a caminho deixando para trás as velhas seguranças, confiando tão-somente na promessa dada pela palavra de Deus.
É importante lembrar sempre que somos cristãos, que nosso fundamento na vida encontra-se na misericórdia, na justiça e no amor de Deus; que foi ele quem nos deu a vida e que nos chama a sair de nosso egoísmo, de nossos medos e de nossas clausuras.

5. Subsídios litúrgicos


Litania:
L: Dos medos e das clausuras, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da falsa segurança que oferecem os bens e o dinheiro, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da cultura do consumo e da superficialidade, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da violência em nossos lares, na rua, no trabalho, nas escolas, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da indiferença frente ao sofrimento de nosso próximo, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da indiferença frente à destruição da tua criação, do meio ambiente, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da escravidão das drogas e de outros comportamentos adictos, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: Da angústia e da indiferença, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L: De uma falsa espiritualidade e de uma vida sem ti, te pedimos: C: livra-nos, ó Senhor.
L:Tu que és a vida, o caminho e a verdade, livra-nos em tua misericórdia, em teu amor e verdade.
C: Amém.

Bibliografia


COMBLIN, José. Paulo, apóstolo de Jesus Cristo. Petrópolis: Vozes, 1993. QUESNEL, Michel. Las cartas a los corintios. Estella (Navarra): Verbo Divino,
1985. (Cuadernos bíblicos nº 22)
SCHNEIDER, Nélio. “Meditação sobre 1 Coríntios 15.1-11”. In: Proclamar Libertação. V. XVII, São Leopoldo, 1991.

 

 

 

 


 


Autor(a): Pedro Kalmbach
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Coríntios I / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2009 / Volume: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18600
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