A Igreja e a economia

01/08/1987

 

A Igreja e a economia

Ingo Hering foi um participante da última Assembléia do Sínodo Evangélico Luterano Unido que se realizou em 1967 em Indaial. Ele é Diretor Presidente da Companhia Hering de Blumenau e um estudioso de assuntos econômicos. Apresentamos o presente artigo para a reflexão de nossos leitores.

A Igreja Evangélica Alemã, na qual existem também alas ¨conservadoras¨ e ¨progressistas¨, cujo extremo prega teses parecidas com a ¨teologia de libertação¨ latino-americana, chegou há certo tempo a um consenso quanto à ¨sociedade de livre iniciativa¨ e especialmente sobre o princípio da eficiência, com a seguinte constatação:

¨O princípio da eficiência contribuiu para: 1) a eliminação de privilégios injustificados sociais (feudais); 2) a descentralização do poder econômico; 3) a produtividade; e 4) o melhor suprimento da população.¨ 

¨Críticas contra o sistema de eficiência, como ¨desalojamento do próximo¨, ¨exigências excessivas¨ e ¨coerção alienante¨ precisam ser levadas a sério. ¨Mesmo aqueles que duvidam de que os críticos que fazem tais incriminações geralmente não apresentam alternativas viáveis, precisam reconhecer que se deve procurar modificações, principalmente no sentido que a relação humano no trabalho não se perca¨.

Quanto às relações humanas, pode-se afirmar que, de modo geral, as empresas, hoje, já dão bastante mais importância a este ponto, e que, a partir de certo tamanho, existem hoje altos funcionários — até em cargo de diretor — que cuidam disso. Pois com o tamanho da empresa cresce, inevitavelmente, uma certa alienação. Mas sem maior rigidez e produtividade, não pode haver aumento do salário real.

Da mesma forma, não pode haver formação de capital sem lucro. Do que, porém, um país em desenvolvimento, como o nosso, mais precisa é de capital e especificamente capital de risco. Esta importantíssima função do lucro (que para muitos é palavrão), por alguns círculos eclesiásticos, não é compreendido. E de certa forma trágico que tais círculos que se entendem de progressistas — tanto na Igreja católica como protestante — dirigem as suas baterias mais contra a livre iniciativa (capitalismo), culpando-o de todos os males na terra, do que contra sistemas que prometem mais justiça social, mas a longo prazo só trazem regimes totalitários.

É verdade que a democracia liberal e a sociedade pluralista, que são a equivalência político-social da livre iniciativa, encerram muito mais problemas para o livro arbítrio do homem do que sistemas fechados que, praticamente, indicam para cada pessoa seu lugar e a sua tarefa, — mas isto à custa da sua liberdade. Estes maiores problemas da liberdade são, porém, riscos que temos de assumir.

Temos, ainda, de reconhecer que muitos dos nossos males provêm de uma sociedade semi-feudal ainda bastante presente no Norte/Nordeste que só lentamente ganhauma mentalidade mais empreendedora-capitalista, principalmente depois da criação da Sudene, cuja meta primordial é a industrialização da região, cujo relativo atraso se exprime também pela explosão demográfica e pela migração para o Sul mais desenvolvido, onde ela contribui para a formação das favelas. Estas, por seu lado, são atribuídas à ¨injustiça capitalista¨ pelos intelectuais esquerdistas, inclusive por muitos pastores e padres.

Tais críticos não têm bastante vivência na economia para compreender que as leis econômicas não são feitas pelo homem e, portanto, irrevogáveis, como, por exemplo, a mais importante, a lei da oferta e procura. Quando, então, acontece um desastre como o do Plano Cruzado, justamente pela incoerência daquela lei, eles atribuem o desastre a falhas humanas, principalmente à ¨ganância¨.

Também é difícil, para eles, entender que, nos países em desenvolvimento com explosão demográfica alta, como o nosso, a principal tarefa da industrialização é, primeiro, a criação de empregos. Mas mesmo sob tais condições, os salários mais altos são oferecidos pelas empresas maiores e bem organizadas e entre estas, de longe, as multinacionais.

Mas a simpatia geral é inversa: as mais queridas são as ¨pequenas e médias¨; as grandes, nacionais, são ainda toleradas, mas a ojeriza geral é contra as ¨multinacionais¨.

Não sou, obviamente, contra as pequenas empresas. São elas que nitidamente representam a livre iniciativa. Mas elas, geralmente, por menor eficiência, não têm facilidade de aumentarem os salários reais. Prova disso é que, em S. Paulo, os metalúrgicos conseguem ¨pisos¨ (mínimos por categoria) de, aproximadamente, o dobro pelas grandes empresas em comparação com as pequenas, com menos de 50 empregados. Mas estes já são detalhes, se bem que importantes.

Tudo isto não exclui que o governo, mesmo dentro de um sistema liberal-democrático, deverá assistir o mais possível aos mais pobres, mas preferencialmente dentro do espírito do provérbio: ¨que é melhor ensiná-lo a pescar, em vez de doar-lhe um peixe¨.

A abordagem demasiadamente emocional dos assuntos sociais é, geralmente, um mau conselheiro.

A melhor expressão, neste sentido, que conheço e com que quero terminar, foi de um alto dignatário (católico) alemão: ¨Devemos abordar os problemas sócio-econômicos com coração quente, mas com cabeça fria¨.

Ingo Hering


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Autor(a): Ingo Hering
Âmbito: IECLB
ID: 41033
HISTÓRIA
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