Achados e perdidos

01/12/1997

Achados e perdidos

Gloria Kirinus

Entre outras artes, vivo da arte de escrever. Neste percurso escrevivente, o lápis, o papel e a borracha tiveram seu momento de grande fascínio. Muito papel, muito lápis e inúmeras borrachas passaram por mim, até descobrir, com fascínio ainda maior, a máquina de escrever. Tive aquelas manuais, passei para as elétricas e ainda escrevi nas eletrônicas; aquelas com corretor automático, vídeo e fita de polietileno. Elas, cada vez mais eficazes, mais rápidas, mais belas, me oportunizaram grandes quantidades de papel impresso, de papel editado, de papel lido.

E, agora, chegou a vez do computador. Entrei nele. Melhor dito, é ele, com ares de modernoso, que se intrometeu na minha vida. Chegou insolente, impaciente e nervoso. Precisei de muita calma para suportar seu jeito de metido a inteligente. É isso mesmo... Ele não cansava de me mostrar com muita arrogância a minha distração, a minha lentidão e a minha atitude insegura de aprendiz.

Reconheço que a sua tecnologia avançada merece todo o meu respeito. Eu o respeito Sr. Computador. Afinal, você anda cheio de Comandos, de Diretórios, de Acessórios, de Arquivos e outros deletes que impõem respeito. Claro, que ainda hoje, você me impressiona bem como o seu sotaque estrangeiro. Reconheço também a capacidade de trinta e dois megabites de sua Memória Ram; admiro a sua lógica matemática e a velocidade de suas operações. Não é à toa que confiei nos seus editores de textos, tantas criações literárias e científicas. E ainda, recentemente, o meu trabalho de maior fôlego: a minha tese de doutorado... Mas, por favor, Sr. Computador, em consideração a tanto respeito e admiração, não brinque comigo!

Claro, só pode ser brincadeira sua... Ninguém me avisou que o senso de humor também faz parte do seu espírito computadorial. Sim, eu lembro, a minha tese de doutorado confiada à sua infalível memória desapareceu no dia primeiro de abril... Mas agora, o dia da mentirinha passou e brincadeira tem hora! O primeiro de abril já anda longe, lembrando-me, a cada dia que passa, do meu prazo de entrega.

Conte para mim, que tecla devo digitar para entrar na sua seção de achados e perdidos? Ela existe? Ou o Sr. não é tão perfeito assim? Se for este o caso, aproveito a oportunidade para espalhar por aí — entre escritores e leitores — sua falha humana. Quem sabe, os entendidos no assunto possam atender em breve o meu help e incrementarem melhor a sua distinta e temperamental personalidade com uma indispensável seção de achados e perdidos. E, por falar em reformas, que acrescentem, no seu Winchester um primeiro de maio repleto de verdades.

Aceite meus respeitos e deletíssimas saudações.


A autora é professora da PUC/PR, doutoranda na USP, autora de livros de Literatura Infanto-Juvenil, e reside em Curitiba, PR


Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998
 


Autor(a): Gloria Kirinus
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 1998 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1997
Natureza do Texto: Artigo
ID: 33107
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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
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