Canseira e alegria de um menino de roça

01/12/2011

Canseira e alegria de um menino de roça

P. em. Heinz Ehlert

Quem será que teria semeado ou plantado isso em nossa roça? Não poderia ser ninguém de sã consciência. Será que fora algum diabinho malandro? Em todos os casos estavam aí, em abundância e não serviam para nada - só para dar trabalho e incomodar: As cebolinhas vermelhas!

Não se podia comê-las, não. Nem sequer os bichos as comiam. Simplesmente estavam a cada ano ali, vivinhas da silva. E tinham se multiplicado por si mesmas; tinham se espalhado atrapalhavam. A gente não podia deixar assim. Precisava-se combater essa erva daninha, pois era capaz de sufocar o milho e as outras plantas cultivadas. Mas como?

Na época certa o terreno era arado. Imediatamente depois de abrir um sulco apareciam as vermelhinhas. Vamos lá recolhê-las, amontoando-as ou colocando-as diretamente no balaio. Esse trabalho era confiado aos filhos e filhas menores. Mas muito cuidado: Não pode ficar nenhuma como semente. E levá-las embora o quanto antes. Que canseira!

Mas não era o suficiente. Depois de passar a grade, refinando o terreno para o plantio, lá estavam mais uma vez as mal ditas cebolinhas. Como podiam ter sobrado tantas? Começava a repescagem. Se recolher nos sulcos já era penoso, a repescagem era de amargar. Imagina horas e horas curvar as costas e recolher cebolinhas! Que trabalho absurdo. Que saudade do brinquedo predileto lá em casa: dois cavalos fogosos (feitos de paus de taquara), atrelados por meio de uma corrente velha à carroça (uma frigideira descartada). Correr a toda velocidade em torno da casa. Esperar até domingo?

Ainda bem que existia outra planta: a araruta. Será que anjinhos a haviam semeado? Eram umas raízes brancas, maiores e menores. O jeito de recolher era o mesmo. Felizmente eram mais abundantes. Juntar em montões. Mais tarde seriam levadas à carroça e adiante à fecularia para fabricação de farinha de araruta (amido).

Mas lá em casa tinha uma moedora caseira de araruta. As raízes eram moídas e o produto, lavado, separando o bagaço do amido, que sentava no fundo da tina. A água podia ser tirada depois e o amido sólido tirado para secagem. Isto tudo era trabalho para adultos. A secagem da farinha acontecia ao ar livre em dias de sol. A farinha espalhada em mesas confeccionadas para este fim Alguns dias de sol bastavam.

Só que havia um problema (sempre há um problema!): Os passarinhos. Eles queriam participar - para se refestelar com esta gostosa farinha branca.

Outra vez uma tarefa para os menores. Agora para espantar passarinhos. O dia inteiro! (Às vezes dava para dar uma fugidinha). Que canseira. No fim compensava.

Era essa a lição aprendida: Sem esforço, não há prêmio.

A bela farinha branca era aproveitada pela mãe para fazer o gostoso biscoito de araruta. E quem se refestelava agora? O menino (e a menina) da roça.

O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR


Tempo para tudo Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz. (Eclesiastes 3.1-8)


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Autor(a): Heinz Ehlert
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 2012 / Editora: Editora Otto Kuhr / Ano: 2011
Natureza do Texto: Vários
Perfil do Texto: Crônica
ID: 31832
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