2 Pedro 3.8-14

Auxílio Homilético

05/12/1999

Prédica: II Pedro 3.8-14
Leituras: Isaías 40.1-11 e Marcos 1.1-8
Autor: Claudete Beise Ulrich e Carlos Ulrich
Data Litúrgica: 2º Domingo de Advento
Data da Pregação: 05/12/1999
Proclamar Libertação - Volume: XXV
Tema: Advento


Informações preliminares

O texto de 2 Pe 3.8-14 já foi refletido em outros dois volumes do Proclamar Libertação (vol. XVII, por Aline Steuer e vol. 23, por Baldur van Kaick). A autora e o autor fazem uma bonita reflexão exegética. A motivação das suas reflexões foi o Dia de Finados. Para este ano o texto está indicado para o 2° Domingo do Advento, que também é o Dia da Bíblia no meio evangélico.

As outras duas leituras (Is 40.1-11 e Mc 1.1-8) chamam a atenção para a necessidade de preparar o caminho do Senhor que vem. O profeta Isaías mostra que o Senhor vem com poder (Is 40.10) e ao mesmo tempo de forma muito carinhosa e materna (Is 40.11). A palavra do Senhor permanece eternamente. O ser humano, no entanto, é frágil. Ele é comparado com a erva do campo (Is 40.6-8). O Evangelho de Marcos retoma o chamado para preparar o caminho do Senhor que vem (Is 40.3). João Batista anuncia aquele que é a vida e que traz a vida. Quer que nós o acolhamos. Ele prega o arrependimento. Não quer que percamos a oportunidade.

Advento — anúncio de um novo tempo!

O Advento é tempo de espera. É tempo de preparação. É tempo de abrir o coração. É tempo de chegada de um novo tempo. Esperar alguém requer cuidadosa e alegre preparação e participação. E, hoje, esperar o Senhor às vésperas de um novo século e novo milênio é intensificar nossa vocação de testemunhas da esperança... Esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça (2 Pe 3.13). Esperar com engajamento solidário pela transformação do mundo é apressar o NOVO ADVENTO. Vivemos entre o 1° Advento, que já se realizou com o nascimento e a vida de Jesus Cristo, e aguardamos a sua volta no 2° Advento numa esperança ativa em amor, justiça e solidariedade.

Somos chamados para a esperança ativa? Como estamos nos preparando? Com estas considerações e perguntas, queremos caminhar, sentir e meditar o texto e contexto de 2 Pe 3.8-14.

Contexto

O autor escreve em forma de carta estruturada como um testamento aos que conosco obtiveram a fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo (2 Pe l .1). O motivo da carta é a questão da escatologia. Os hereges gnósticos para os quais aponta o cap. 2 abandonam a esperança escatológica. O cap. 3 aborda o problema propriamente dito de 2 Pe. Os questionadores perguntam o que, afinal, aconteceu com a promessa da parúsia de Cristo. Desde que os pais dormiram, tudo permanece como no início da criação (3.4). Em resposta a este questionamento, o autor de 2 Pe defende a escatologia da cristandade primitiva com as palavras do texto de 2 Pe 3.8-14.

Meditando o sentido do texto

O texto de 2 Pe 3.8-14 trata da parúsia, ou melhor, da demora da vinda do Senhor. O autor se utiliza da tradição bíblica do Antigo Testamento para argumentar, mostrando a sua continuidade histórica e o conhecimento das Escrituras. Ele inicia chamando a comunidade de amados. A comunidade é amada por Deus, não por seus méritos, mas pela graça de Deus em Jesus Cristo. Por isto mesmo ela não pode cair no esquecimento, precisa ser lembrada dos feitos de Deus. Ela está aí para esperar e apressar a vinda do Senhor. Só que é necessário ter clareza de que neste processo de sua vinda/de sua presença/de sua volta Deus usa outros critérios do que os nossos.

O autor argumenta com o Salmo 90.4 para explicar que Deus usa outros critérios, contando/meditando o tempo de modo diferente do que nós. Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia (v. 8). Sua chegada não depende de nossos cálculos, pois ele vem quando a gente menos espera.

O Senhor não retarda a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum se perca, senão que todos cheguem ao arrependimento (v. 9). Deus é fiel em sua promessa. Só que ele está usando outro critério para voltar. Deus é longânimo. É paciencioso. Ele deseja que ninguém pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. O autor aponta para o afastamento de Deus. O afastamento de Deus gera o pecado, a perdição. Ò desejo de Deus é que haja uma volta para ele. Que todos cheguem ao arrependimento. Lembra a leitura do Evangelho de Marcos 1.1-8. Portanto, o tempo presente, marcado pela espera, faz parte do projeto de Deus. Ele é longânimo, está usando de paciência... O tempo presente é o tempo para a mudança de vida, chamado ao arrependimento... metanoia. Lutero, na explicação do Batismo, diz que o arrependimento deve acontecer diariamente, ressurgindo nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus, eternamente.

O autor se utiliza, então, da figura do ladrão — v. 10 (Mt 24.43; Lc 12.39; Ap 3.3), para afirmar que o Dia do Senhor virá como ladrão. É necessário estar preparado. Ninguém sabe quando ele voltará.

Para descrever e aprofundar esta volta, o Dia do Senhor, o autor se utiliza, então, da linguagem apocalíptica. Os vv. 10-12 falam do que vai acontecer, mostrando que Deus é o Senhor de todo o universo. Ele é o criador. Assim como ele formou o céu, a terra, as águas, os seres animados e inanimados, também um dia haverá transformação. Esta forma de linguagem é o jeito como as pessoas daquele tempo imaginavam que isso fosse acontecer: Os céus passarão com estrepitoso estrondo c os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Os elementos da natureza, fogo e água, naquela época eram considerados fatores de destruição.

Portanto, a comunidade, os/as amados/as, estão sendo convocados para viverem em santo procedimento e piedade. Jesus já nos ensinou como viver em santo procedimento e piedade. Encontramos o seu ensino resumido no grande mandamento do amor. A mudança de vida/o arrependimento tem ligação com o santo procedimento e piedade. A atitude dos amados e das amadas de Deus é sempre uma atitude ativa. Quando assim vivemos e agimos, estamos esperando e apressando a vinda do Dia do Deus. Então tudo será transformado; Os céus incendiados serão desfeitos e os elementos abrasados se derreterão. (V. 12.)

Portanto, o mais significativo não é o modo como o Dia do Senhor vai acontecer, mas a transformação de tudo... Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça. (V. 13.) O autor da carta se utilizou de imagens de destruição de elementos visíveis para falar da ação de Deus e da nova realidade que será criada. Este é o objetivo de nossa esperança e, ao mesmo tempo, resultado de nossa atitude ativa. Esperamos a transformação deste mundo, onde a fome, a violência, o desemprego, o egoísmo, o individualismo, a moeda forte, falsos profetas irão passar... A justiça de Deus prevalecerá. A esperança de um novo céu e uma nova terra é testemunhada também em Is 65.17, 66.22 e Ap 21.1. Jesus Cristo diz em Mc 13.31: Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.

O texto de 2 Pe 3.8-14 nos mostra que não é tempo de fazer especulações sobre a última e definitiva intervenção de Deus, o Dia do Senhor. O tempo presente é o tempo usado por Deus para nos chamar para a mudança de vida, para a conversão, para o arrependimento. Somos chamados para o santo procedimento e piedade. O arrependimento é mais do que um exercício mental. Ele passa por Indo o nosso ser, pelo coração, pelas mãos, pelos pés, pelos olhos... Ele se mostra nas relações que nós estabelecemos, abrangendo todos os aspectos da vida. É nas atitudes do dia-a-dia que mostramos e vivemos o santo procedimento e piedade.

Por essa razão, pois, amados, esperando essas cousas, empenhai-vos por ser achados por ele em paz, sem mácula e irrepreensíveis. (V. 14.) O objetivo último é uma vida de paz, digna, aberta, solidária... Que se mostra numa lê ativa na solidariedade!

O que nós estamos fazendo para construir a paz? Como tem sido a nossa esperança? Esperamos e apressamos a chegada do Dia do Senhor? A Segunda Carta de Pedro afirma que é possível apressar o Dia de Deus. Quais são os sinais de que este Dia já está raiando entre nós?

Preparando a pregação

1. O Advento é tempo de preparação. E tempo novo para abrir o coração. É tempo para esperar e viver a justiça e a paz. O primeiro Advento já aconteceu, e Cristo nos ensinou com sua vida, pregação, atitudes e gestos o sentido profundo da vida. Nós estamos vivendo entre o 1° e o 2° Advento. Qual tem sido a nossa vigilância? Como estamos nos preparando?

2. Existem aqueles/as que duvidam do 2° Advento, e outros tantos fazem especulações e cálculos a este respeito. Aqueles que fazem cálculos/especulações e apontam para sinais como o final dos tempos querem na verdade se igualar a Deus. Deus nos mostra que para ele os critérios são outros. Ele entende o tempo de maneira diferente do que nós.

Mudança de século e mudança de milênio são apenas uma compreensão humana do tempo. Para Deus um dia é como mil anos, e mil anos é como um dia. Não são os anos que contam, mas a forma, o jeito como eu vivo os dias da minha vida. Cada momento é um momento especial que precisa ser vivido intensamente na esperança ativa da justiça e da paz. Deus é fiel em sua promessa. Ele já veio a nós em Jesus Cristo. Não quer que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. O tempo que Deus nos dá para viver é um tempo de avaliação, de vigilância, de mudança de vida.

3. O Dia do Senhor irá acontecer quando nós menos esperamos. O Dia do Senhor virá como um ladrão. Haverá mudanças no céu e na terra, pois lodo o universo pertence ao Senhor. Quais são as mudanças que esperamos?

Esperamos o Dia do Senhor, a transformação total do universo. As coisas antigas passarão. Há esperança para toda a criação. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça. Esperar e apressar o Dia do Senhor é buscar já agora um mundo com mais justiça em relação a toda a criação. É necessário voltar-se a Deus, mudar de vida... É necessário que aconteça em nossa vida a metanoia... Somos convidados a buscar a paz... É necessário viver uma vida renovada eticamente, irrepreensível e sem mácula. Que significa isto para minha vida pessoal, familiar e comunitária?

4. Quais são os sinais de que este Dia do Senhor já está brilhando entre nós? Somos desafiados pelo tema da IECLB/99: E tempo de lançar... Como podemos lançar sinais da presença e também da esperança de que o Dia do Senhor está se concretizando e se concretizará totalmente entre nós'? O que lançamos neste ano de 1999? O que estamos lançando neste tempo de Advento''?

Sugerimos fazer um painel já antecipado com palavras, figuras ou fotografias com grupos da comunidade sobre essas questões.

A seguinte história demonstra que para Deus todos são importantes, qur l ;lr veio, vem e virá em Jesus Cristo para todas as pessoas. É necessário oferecer espaço e oportunidades para todos os seres humanos sem preconceitos e discriminação. O Dia do Senhor acontecerá para todos os povos indistintamente. Quem sabe possamos demonstrar nossa solidariedade neste Advento. Há muito o que fazer, é só abrir o coração para Deus e para nosso próximo. Jesus Cristo, o Senhor do Advento, nos dá muitas lições. Vamos à história:

Numa pracinha certo vendedor fazia bons negócios. Como vendia balões, de vez em quando soltava um deles para chamar a atenção. Cortava o fio e o balão subia lentamente. A criançada ficava alvoroçada e acabavam comprando balões vermelhos, amarelos, azuis, verdes, entre outras cores. Então, um menino negro chegou perto do vendedor e perguntou: 'Será que o balão preto também sobe como os outros?'  'Sobe sim', disse o vendedor. E cortou o fio que segurava o balão preto e continuou dizendo: 'Não é a cor que faz o balão subir, mas o que está dentro dele.' (Fonte: Casa Matriz de Diaconisas.)

Subsídios litúrgicos

A pregação deve estar emoldurada por uma liturgia que acenda na comunidade a vivência do ADVENTO, ADVENTO que neste 2° domingo renova cm nós a certeza de que Cristo voltará e que o tempo pertence ao Senhor. O Advento é a oportunidade que nos é dada para refletirmos sobre a metanoia em nossa vida... Quais são os sinais de nosso arrependimento? Deus vem nos visitar em Cristo Jesus! Estamos nos preparando e sendo vigilantes para este Dia do Senhor'?

1. Fazer uma acolhida bem afetuosa à comunidade com um aperto de mão, um sorriso ou um abraço, reconhecendo em cada pessoa a presença do Senhor que chega até nós; ao mesmo tempo, mostrando à comunidade que ela é amada por Deus. O texto da pregação se dirige aos amados.

2. O 2° Domingo do Advento é também o Dia da Bíblia. A Bíblia poderá ser trazida até o altar por duas pessoas. Uma delas diz: Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os nossos caminhos. A seguir, de forma alternada, fazem a leitura de Isaías 40.1-11.

3. A coroa de Advento é o primeiro anúncio do Natal. Ela surgiu na Alemanha, em 1830, por intermédio de Johann Wichern, fundador de um lar para crianças abandonadas. O seu significado simbólico é bastante profundo.
Coroa: vitória em Cristo.
Ramos verdes: esperança.
Fita vermelha: fala do amor de Deus. Fala do amor entre os seres humanos, ensinado por Jesus.
As quatro velas, uma para cada domingo, lembram que Jesus é a luz para o mundo.
A coroa de Advento é sinal bonito dessa preparação. Em cada domingo acende-se uma vela. A vela poderá ser trazida em procissão antes da leitura do Evangelho de Marcos 1.1-8. Isto pode ser repetido em todos os domingos do Advento. Enquanto é trazida a vela do 2° domingo do Advento pode-se cantar: Em nossa escuridão (Celebrações do povo de Deus, p. 39).
Incentivar a comunidade (cada pessoa ou família) a fazer uma coroa de Advento também em sua casa.

4. Orações que expressam esse desejo profundo de esperar e apressar a vinda do Senhor. Por exemplo: para o momento de confissão sugerimos o canto Confissão (O povo canta, 162), que poderá ser cantado ou lido em conjunto com toda a comunidade.

Oração do dia: Deus, fonte da vida e do amor, o tempo que nós humanos estabelecemos passa depressa. Estamos no 2° Domingo do Advento, tempo especial que tu nos concedes viver. Tempo no qual somos perguntados pela razão da nossa esperança. Será que realmente esperamos, segundo a tua promessa, um novo céu e uma nova terra, onde habita a justiça? Muitas vezes estamos tão inquietos e nos deixamos levar por suposições, cálculos, previsões e esquecemos que o tempo pertence a Ti. Também o teu grande dia pertence somente a Ti. Pedimos-Te que fortaleças em cada um de nós a certeza de que tu já vieste em teu filho Jesus Cristo e queres estar presente a cada momento através do Espírito Santo, fortalecendo-nos para uma vida de justiça, paz, solidariedade e amor. Dá-nos coragem e fé para estarmos sempre preparados e vigilantes, acolhendo a tua Palavra em nossa vida, tendo atitudes concretas de mudança e arrependimento em nosso dia-a-dia. Em Cristo Jesus. Amém.

5. Escolher hinos e cantos que expressem o ADVENTO como tempo especial de preparação, acendendo em nós a chama da esperança e vitória em Cristo Jesus — presença do Advento entre nós: É preciso parar (O povo canta, 190), Ó vinde, em humildade (Hinos do povo de Deus [HPD], n° 9), Jesus Cristo esperança do mundo (O povo canta, 32-33), Axé (O povo canta, 75), Cantai, ó piedosos (HPD, n. 7).

Bibliografia

LOHSE, Eduard. Introdução ao Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 1971. p. 232-236. Palavra partilhada. Advento-Natal. São Leopoldo : CEBI, v. 13, n. 4, 1994. Vida pastoral, Paulus, v. XXXIV n. 173, nov.-dez. 1993.

 

Proclamar Libertação 25
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia
 


Autor(a): Claudete Beise Ulrich e Carlos Ulrich
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 2º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Pedro II / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1999 / Volume: 25
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 11393
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Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome: proclamai a sua salvação, dia após dia.
Salmo 96.2
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