Eleições 2002 - Palavra orientadora

Carta Pastoral da Presidência

26/08/2002

Palavra orientadora sobre as eleições de 03 de outubro de 2002

O rei que governa com justiça, que governa respeitando a vontade de Deus é como o nascer do sol numa madrugada sem nuvens, como o sol que faz a grama brilhar depois da chuva. (2 Sm 23.3-4)

O nascer do sol, num céu limpo e claro, fascina e cativa o nosso olhar. Os raios fazem cintilar o orvalho na grama e revigoram o ecossistema naquele pedaço de chão. Dá gosto de parar e olhar, inspirando o ar regenerador. Essas figuras, segundo o rei Davi, servem de metáfora para a transparência de bons governantes. Elas podem inspirar-nos na busca por critérios orientadores para esta época de eleições. Destaco os seguintes aspectos:

1. A questão do governar é relacionada com a fé em Deus, porque ele é Senhor soberano sobre todos. Segundo esse preceito, governantes não são nada mais e nada menos do que cooperadores na preservação e promoção de vida digna para toda a criação. Este é o objetivo geral que perpassa toda a Bíblia.

2. Política, portanto, deve ser medida por este critério básico. Toda pessoa cidadã e, sobretudo, aquela comprometida com a fé cristã, tem a responsabilidade de medir e avaliar os programas políticos. Nesta época pré-eleitoral importa conhecer também a biografia dos candidatos, sua inserção comunitária, sua honestidade e transparência, seu compromisso com o bem comum e com uma justiça social que alcance, sobretudo, os segmentos mais sofridos da sociedade.

3. Os resultados de tal avaliação dependem de muitos fatores, principalmente do contexto em que cada pessoa se encontra. Desse contexto fazem parte elementos pessoais bem como coletivos, sócio-econômicos, culturais e religiosos.

4. Os resultados de tal avaliação, portanto, só podem ser de caráter multiforme. Contudo, a história mostra que não é fácil conviver com a diversidade de propostas. Por isso, surgem comportamentos e mesmo sistemas ditatoriais, tanto na sociedade quanto na igreja. Os mais fortes conferem à sua visão das coisas e opções o valor de verdade absoluta e a procuram impôr nos demais. Essa postura leva à tirania de algumas pessoas poderosas e à marginalização e opressão da grande maioria das outras. São privadas da dignidade do ser sujeitos e são degradadas como objetos e súditos.

5. Em sistemas democráticos, porém, procura-se fazer jus à multiformidade de visões e opções políticas decorrentes de contextos específicos. Cultiva-se o diálogo e o convívio entre diferentes. Esta disposição política, por si só, ainda não supera as dificuldades de convívio social. Pois, elas parecem ser inerentes à natureza humana.

6. A fé cristã nos proporciona a consciência de que, enquanto neste mundo, apenas “em parte conhecemos” (1 Coríntios 13.9). Isso nos dá paciência conosco mesmos e abertura para com o diferente. E resguarda-nos de fanatismos excludentes.

7. A tolerância, porém, não deve ser confundida com relativismo. Pois nele não vale mais nada que nos comprometa. Quando cada um por si se arranja do jeito que quer, o individualismo desintegra a comunhão. Solidão e desespero acabam triunfando.

8. Deus nos criou como seres sociais. E mais, o Espírito Santo, através do batismo, nos incorporou no corpo de Cristo (cf. 1 Coríntios 12). Sua vontade é que vivamos em comunhão, em comunidade solidária e acolhedora, participativa e terapêutica.

9. Por isso o Plano de Ação Missionária da IECLB aposta em tal comunidade. No desafio permanente de criar e recriar tal comunidade e, por extensão, uma sociedade com bem-estar, é necessário relacionar evangelicamente a fé com a política. Precisamos distinguir entre política partidária e política não-partidária, se é que pode ser usado esse termo; pois qualquer postura tem implicação política, também a evasiva de votar em branco.

10. É necessário que nos conscientizemos de nossa inserção social para que não vivamos e atuemos de maneira ingênua. Na comunidade cristã devemos e podemos ter espaço para todos os membros, concedendo-nos uns aos outros o direito de opções partidárias específicas.

11. Essa liberdade expressa grande maturidade, que nem sempre temos manifestado. Muito menos a temos como posse. Antes, precisamos recebê-la com recorrência e sempre ensaiá-la no dia-a-dia.

12. Que o Espírito Santo nos liberte e nos capacite para o exercício dinâmico da responsabilidade cristã, para colocarmos sinais de reconciliação e esperança na sociedade em que vivemos. Nesse sentido, segundo o lema da IECLB para 2002, coloquemos MÃOS À OBRA – porque Deus nos amou primeiro!

Com votos de alegria para a participação responsável na sociedade,
Fraternalmente,

Huberto Kirchheim
Pastor Presidente


Autor(a): Huberto Kirchheim
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade / Instância Nacional: Presidência
Natureza do Texto: Manifestação
Perfil do Texto: Manifestação oficial
ID: 13957
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