Mateus 24.37-44

Auxílio Homilético

03/12/1995

Prédica: Mateus 24.37-44
Leituras: Isaías 2.1-5 e Romanos13.11-14
Autor: Martin Dreher
Data Litúrgica: 1º Domingo de Advento
Data da Pregação: 03/12/1995
Proclamar Libertação - Volume: XXI


1. O Texto

Nossa perícope faz parte dos últimos discursos de Jesus em Jerusalém, conforme o evangelista Mateus (21.1-25.46). Nos textos anteriores a 24.32, as palavras buscam responder a pergunta pelo sinal da vinda do Filho do homem e pela consumação. Até agora, porém, não foi respondida a pergunta relativa ao quando?. A resposta é dada agora em 24.32-44, seguida de três parábolas (24.45-25.30). O texto, a partir de 24.32, é formado por partes que encontramos na mesma sequência em Marcos (24.32-36 = Mc 13.28-32) e por ditos que também encontramos em Lucas, mas que foram abreviados e retrabalhados por Mateus (24.37-41 = Lc 17.26s.,34s. e 24.43s. = Lc 12.30s.). As tradições reproduzidas são muito antigas; como Mateus as insere no discurso apocalíptico de Jesus, elas necessitam ser reinterpretadas, pois se encontram em certa tensão com o mesmo. Vejamos a perícope.

Vv. 37-39: Mateus assume da fonte de ditos a comparação com os dias de Noé e a emoldura com a dupla referência à vinda do Filho do homem, no início e no fim. A vinda do Filho do homem encontrará uma geração que vive muito segura de si, mas que é por ela surpreendida. Ao contrário dessa geração, a comunidade vê, enquanto o cego não vê, está vigilante, enquanto outros dormem e não vêem o perigo que correm. Enquanto a interpretação rabínica do dilúvio declara que aquela geração teria sido destruída por ser depravada, o texto de Mateus fala de sua vivência diária: está segura de si e, por isso, sua vida se resume em gozar a vida.

Vv. 40-41: Quando da vinda do Senhor, acontecerá uma separação. Mateus traz dois exemplos. O terceiro exemplo mencionado por Lucas (17.34) é deixado de lado. Fala de dois trabalhadores no campo e das duas mulheres que trituram o grão no moinho manual. Sempre uma das duas pessoas será tomada; a outra ficará para trás. Qual a base, a fundamentação para essa separação?

Vv. 42-44: Um dito comparativo e uma admoestação dão resposta a essa pergunta. A admoestação chama à vigilância e a fundamenta com a incerteza quanto à hora da chegada do Senhor: é certo que ele vem; por isso, deve-se vigiar; é incerto quando ele vem, por isso, vigiar. Por quê? Porque o Filho do homem que vem é vosso Senhor. Um dito comparativo procura elucidar a admoestação. Originalmente, o dito dirigia-se ao povo e falava a respeito da vinda do Reino (cf. Evangelho de Tomé nQ 21); em Mateus fala da vinda do Filho do homem e dirige-se aos discípulos. É bom lembrar que a imagem do ladrão passou a fazer parte do vocabulário cristão (l Ts 5.2,4; 2 Pe 3.10; Ap 3.5; 16.15). A admoestação final conclama os discípulos a estarem preparados para qualquer hora, pois, assim como a dona de casa, não sabem quando vai ocorrer aquilo que esperam. Ao contrário da geração que se consome no prazer presente, eles estão abertos para o futuro inaugurado por Jesus e que se completará com sua segunda vinda. Essa abertura consiste em vigiar e estar preparado.

2. A Mensagem

Duas vezes durante o Ano da Igreja somos admoestados a vigiar e a estar preparados, a ter abertura para o futuro que iniciou com a morte e a ressurreição de Jesus: Quaresma e Advento. É tempo de refletir sobre o Advento! Por quê? Porque a comunidade cristã vive à luz do Advento. Cremos que Jesus vem, encerra a história e revela em definitivo o reino de Deus. Assim como anunciamos essa esperança, vivemos a partir daquela que nos é e foi anunciada: o Senhor veio, inaugurando o final dos tempos! A comunidade cristã vive desses dois adventos e é importante que saiba distingui-los. Quando do primeiro advento, vimo-nos confrontados com a criança na manjedoura ou com a cena de um Jesus que entra em Jerusalém no lombo de um burrinho. Mas nosso Advento não vive só do passado, vive também do advento que diz que esse mesmo Jesus virá com o poder do que julga o mundo. Não podemos separar esses dois adventos porque nos dois o próprio Deus vem a nós! No primeiro, esvaziando-se para se colocar completamente do nosso lado; no segundo, para cobrar o seu direito, usando de graça e de juízo.

A comunidade de Jesus Cristo está entre esses dois adventos. Ela não está só. Tem o Senhor presente em seu meio, chamando-a pela Palavra e pelos sacramentos, sinais visíveis da presença e do amor de Deus. Entre o primeiro e o segundo advento, a comunidade celebra continuamente o Advento do Cristo que a ela vem de maneira sempre nova, através da atuação de seu Espírito. Ela é chamada a vigiar. A não se ater a falsas seguranças. E chamada a ver. Como é certo que vem, que vigie! Como não sabe quando vem, que vigie! Que se prepare! Não dá para perder essa!

3. Pregação

A relação da comunidade com Deus é interessante. Ela sempre é pega desprevenida por ele. Pois foi assim quando veio. A turma, segundo conta Marcos, não conseguia entender o que estava acontecendo. Só debaixo da cruz foi que um centurião, que nem pertencia à comunidade, descobriu que só podia ter sido o Filho de Deus. A comunidade de Mateus teve que descobrir que ele estava dentro do barco há muito tempo, apesar do temporal (Mt 8). Parece que a comunidade está sempre a ponto de perder o bonde da chegada de Deus. No cap. 25 de Mateus até aparecem aquelas cenas em que ele diz que esteve aí e que a gente não o viu, porque não se conseguia imaginar que ele pudesse estar nu, com fome, preso. Esse negócio de esperar Deus é fogo! Justamente porque ele foge àquilo que nós imaginamos a respeito dele. Ele é simplesmente diferente.

Foi o que aconteceu com Santo Agostinho. Procurou Deus em muitas filosofias. Não encontrou. Daí procurou outra coisa: teve sua concubina. Ela lhe foi fiel. Deu-lhe um filho, mais tarde denominado de Adeodato (dado por Deus! e... ele levou tempo para descobrir isso). Lá pelas tantas, a mãe, Mônica, resolveu que ele tinha que casar com uma moça de bem. Largou da concubina e noivou com a moça de bem. Como ela fosse menina demais, não conseguiu esperar pelo casamento. Arrumou outra concubina. E assim foi. Estudou retórica e foi ser professor da arte de bem falar.

Um dia foi para Milão ouvir um grande orador, o bispo Ambrósio. Ambrósio viu que tinha diante de si uma pessoa muito inquieta e disse a ele: Lê a Bíblia. Agostinho não ligou. Só que... quando estava sentado naquele banco ouviu vozes infantis que diziam: Pega e lê! Pega e lê! Não conhecia brinca¬deira infantil com essas palavras. Por isso, pegou a Bíblia e abriu, sem pensar, e aí Deus o pegou: o texto era Rm 13.11-14, a epístola para o presente domingo. É gozado como Deus pega de surpresa.

A comunidade é chamada a olhar os sinais do Deus que veio, que está aí e que vem vindo. Seria importante dar uma olhada neles com a comunidade. Cuidado para não ser pego de surpresa! Pregador/a, você está conseguindo ver esses sinais de esperança? Cuidado para não trazer só a lei. Traga também o evangelho. Os dois é que formam a palavra de Deus.

4. Subsídios Litúrgicos

Confissão de pecados: Misericordioso Deus, só tu conheces os caminhos de nossos pensamentos; só tu conheces o pulsar de nossos corações; só tu nos conheces completamente; só tu sabes dos problemas, culpas e complexos que carregamos. Queremos confessar isso a ti e dizer que viemos até ti com esse peso do nosso dia-a-dia, porque tu nos convidaste. E nós viemos com o pedido de que com o teu perdão nos dês a coragem para começarmos tudo de novo, por Jesus Cristo. Amém.

Coleta: Todo-poderoso Deus, cumpre o que prometeste, e vem! Entra em nossa vida, entra em nosso coração, para que comecemos a brilhar no teu amor. Entra em nossa comunidade para que comecemos a brilhar de verdade e na verdade que tu nos revelaste em Jesus Cristo. Amém.

Intercessão: Senhor, queres que esperemos. Senhor, ensina-nos a esperar! Ensina-me a esperar pelo teu futuro santo, pelo teu tempo santo.

Senhor, ensina-me a esperar: para que eu encontre tempo para te ouvir, para que eu encontre coragem para a ti orar, para que eu encontre a coragem de te obedecer, para que eu encontre o caminho para te seguir. Senhor, ensina-me a esperar pela outra pessoa. Que eu encontre tempo para a procurar, para a reconhecer, para me encontrar com ela. Senhor, ensina-me a esperar por tua santa palavra. Senhor, ensina-me a esperar para que eu encontre tempo para meditar a respeito dela, para que eu tenha coragem de recitá-la, de responder-lhe, de transmiti-la. Senhor, ensina-me a esperar em tua santa palavra, para que ela se cumpra em mim, quando tu o quiseres. Amém.


Autor(a): Martin Dreher
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 1º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 37 / Versículo Final: 44
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14200
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