1 Coríntios 2.1-5

Auxílio Homilético

04/02/1996

Prédica: 1 Coríntios 2.1-5
Leituras: Isaías 58.5-9a e Mateus 5.13-20
Autor: Almir dos Santos
Data Litúrgica: 5º Domingo após Epifania
Data da Pregação:04/02/1996
Proclamar Libertação - Volume: XXI

 

Irmãos, quando eu fui ter convosco, não me apresentei com o prestígio da palavra ou da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deus. Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Assim inicia este cap. 2 de l Coríntios. Eu colocaria em destaque deste trecho inicial o que São Paulo diz: ' 'Eu vos anunciei o mistério de Jesus crucificado.'' Por quê?

Este Cristo crucificado, que constitui o mistério (no sentido de revelação) de Deus, foi o tema predileto de Paulo, embora sabendo que não teria êxito em apresentá-lo segundo a sabedoria deste mundo, i. é, com palavras sublimes, atraentes e convincentes (v. l e 2 Co 11.6). De fato, o caminho da cruz é duro (Mt 7.13-14). No entanto, o Espírito operou através da sua fraqueza, como bem demonstra a fé dos coríntios, baseada no poder de Deus: a cruz (vv. 4-5).

Homens e Mulheres: Somos Luzes do Mundo

O trecho evangélico próprio para este dia está no contexto das bem-aventuranças. Os que são proclamados bem-aventurados não o são só para si mesmos, mas também perante o mundo; para a realidade terrestre são luz e sal. Vós sois a luz do mundo: Jesus disse estas palavras em primeiro lugar para os que crêem, os discípulos que são os pobres, os mansos, os que têm fome e sede de justiça... São luz não porque pertencem à Igreja, ou porque tenham uma doutrina de salvação a comunicar, nem porque são homens de oração e fiéis ao culto; mas, em primeiro lugar, porque são pobres, mansos, puros de coração...

1. Vejam Vossas Boas Obras

Creio que o trecho de l Co ressalta a luz, pois o Cristo crucificado tornou-se a grande luz. A leitura de Is 58 dá ênfase. Ò Cristo é a luz que ilumina os nossos caminhos... vejam vossas boas obras. Ao povo hebreu, preocupado com a prática exterior e irrepreensível do culto, atarefado em reconstruir o templo destruído, Deus lembra que, mais do que o esplendor do culto, o que lhe agrada é que hospedem os desabrigados, dividam o pão com o faminto... Então a luz romperá como a aurora. Não basta orar e jejuar. A oração e o jejum devem ser acompanhados de ação, para fazer brilhar a luz nas trevas. A abstinência do alimento vale pouco se não for para nutrir o faminto.

Como pode o discípulo, concretamente, tornar-se sal da terra e luz do mundo, está dito também claramente no Evangelho quando conclui: (...) vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus. Não são as palavras que dão testemunho da vinda do reino de Deus, mas a prática da vida, o comprometer-se em tarefas construtivas. O discípulo deve misturar-se, penetrar profundamente no mundo para dar-lhe o sabor novo, o fermento da salvação trazido por Cristo crucificado, mas ressuscitado ao terceiro dia. Este é o grande anúncio de Paulo em l Co. O apóstolo tornou-se vitorioso em sua pregação, não pelo seu prestígio ou pela sua sabedoria, mas pelo poder de Deus: a fim de que a vossa fé não se baseie sobre a sabedoria dos homens, mas sobre o poder de Deus. É isto que São Paulo transmite à Igreja em Corinto: Estive entre vós cheio de fraqueza, receio e tremor; minha palavra e pregação nada tinham de persuasiva linguagem da sabedoria, mas eram uma demonstração do Espírito e poder. Daí a afirmação convincente de Paulo aos coríntios: Eu vos anunciei o mistério de Jesus crucificado.

2. Onde Está hoje a Luz que Salva?

Assim como São Paulo em l Co fala do Jesus crucificado, que é luz, que é poder, o Evangelho fala do sal insípido, que para nada serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens. Fala-se de luz escondida sob o alqueire. É um convite a provar a qualidade do nosso sal de cristãos de hoje e a ver com que obstáculos ocultamos a luz do evangelho. A firmeza de Is não nos permite gracejar ou complicar com sutilezas a palavra de Deus.

Ainda hoje contam-se às centenas de milhões os famintos do mundo, e estão sempre aumentando, consequência de uma lógica férrea, própria de um sistema económico desumano (aí está a política do neoliberalismo), que acumula riquezas cada vez maiores nas mãos dos que já estão fartos e despoja inexoravelmente os miseráveis. O embaraço ainda se torna maior quando lançamos um olhar sobre o mapa da fome, da miséria e da opressão. Os países tradicionalmente cristãos estão no auge da riqueza, da opulência. Mais uma vez afirmamos: de fato, o caminho da cruz é duro. Mas o poder de Deus, através de seu Espírito Santo, opera através de todas as nossas mazelas e fraquezas, como bem demonstra a fé dos coríntios, fundamentada no inigualável poder de Deus: a cruz, cruz esta que é vida e luz.

3. Sinal ou Barreira?

Surge então a pergunta se também nós, cristãos, não apoiamos um sistema injusto e opressor dos fracos e dos pobres. A pobreza do Terceiro Mundo e as estatísticas do subdesenvolvimento não se explicam pela recusa da técnica, ou pela preguiça congénita e irremediável, mas pela secular exploração das matérias-primas, pela submissão forçada de uma raça, pelo comércio internacional baseado na intimidação ou no boicote, nas ajudas internacionais como modo de desfazer-se de forma útil de mercadorias inúteis. Fica, então, uma interrogação: será que a luz de Cristo ainda ilumina este mundo ou, ao contrário, ilumina só um mundo futuro, para o qual devemos caminhar como num êxodo?

A comunidade cristã de hoje corre o risco de ocultar a luz de Cristo atrás de pesadas barreiras. A não-consciência da solidariedade no testemunho, o desinteresse por uma expressão comunitária da nossa fé, a política de lavar as mãos quanto aos fatos em que não estão em jogo os nossos interesses, a intervenção ingênua em defesa da ordem constituída impedem as nossas comunidades eclesiais de fazer ver a luz. É necessária uma contínua reflexão, a fim de que as estruturas não se tornem barreira ou contratestemunho da nossa Igreja. E a reflexão deve tornar-se ação, com sabedoria e eficácia, para não destruir nada de válido, para fazer brotar as sementes de bem que existem por toda parte e que esperam um bom terreno, um cultivo cuidadoso e o confiante recurso ao auxílio decisivo de Deus. Por isso, peçamos a Deus, nosso Pai, por todo o povo cristão, para que acolha a palavra do Senhor e a viva com empenho e fidelidade, de modo a se tornar luz do mundo e sal da terra.

Desde os domingos após a Epifania até este 5a Domingo, somos levados a refletir liturgicamente sobre quatro trechos da epístola de São Paulo que falam da caridade fraterna, que é a mais importante virtude da vida cristã, o resumo da lei, o vínculo de unidade e de perfeição das outras virtudes.

Com a caridade fraterna respondemos ao amor de Deus que nos dá a salvação, tomamos decididamente posição diante de Cristo e das exigências de seu reino, desenvolvemos a conversão e a fé e, sobretudo, vivemos a Páscoa e a Aliança.

Que em nossas reuniões litúrgicas, em nossos cultos e celebrações possamos receber e reviver a salvação de Cristo, não mais crucificado, mas redivivo em nossas vidas. Em casa, nos locais de trabalho cotidiano, desenvolvamos e traduzamos em ato a sua salvação, mediante o amor uns pelos outros.

Oração: Senhor, concede-nos uma ardente caridade para contigo e para com o próximo, a fim de moldar na unidade a nossa família cristã. Amém.

4. Bibliografia

BUYST, lone. Preparando a Epifania. Petrópolis, Vozes.
Celebração da Assembleia Cristã. São Paulo, Paulinas.
Guia da Assembleia Cristã. Petrópolis, Vozes. vol. 11.
Guia Bíblico Litúrgico. Petrópolis, Vozes.
 


Autor(a): Almir dos Santos
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Coríntios I / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 5
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14210
REDE DE RECURSOS
+
Deus governa com a sua Palavra santa os corações e as consciências e as santifica e lhes dá a bem-aventurança.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br