Efésios 1.(16-20a) 20b-23

Auxílio Homilético

16/05/1996

Prédica: Efésios 1.(16-20a) 20b-23
Leituras: Atos 1.1-11 e Lucas 24.(44-49) 50-53
Autor: Josias Kippert
Data Litúrgica: Ascensão
Data da Pregação: 16/05/1996
Proclamar Libertação - Volume: XXI


1. Algumas Observações

Conforme o endereço do livro em Ef 1.1, o autor é o apóstolo Paulo e os destinatários, a comunidade cristã dos efésios. Porém a pesquisa aponta diversos argumentos que questionam tal dado. Atesta que Paulo não é o autor e que os destinatários não são cristãos de uma comunidade específica.

O autor provavelmente é um discípulo de Paulo que escreveu por volta do ano de 90 d.C. e contextualizou a teologia paulina para os cristãos de sua época. Descobriu-se que questões relevantes na época de Paulo, como a discussão em torno da lei e do evangelho, tornaram-se de somenos importância.

Efésios é o evangelho encarnado numa nova realidade. Tenta demonstrar o poder de Cristo diante das potências do universo (potestades e principados) e, assim, reanimar pessoas que estão desleixando a sua fé. É uma carta dirigida a comunidades com novas dificuldades. Os seus leitores são cristãos velhos, consolidados na fé, que já superaram as tentações do paganismo vulgar. A tentação, porém, é agora mais grave: uma tentação de relaxamento geral e desânimo. (José Comblin, p. 37.)

Em relação à perícope sugerida para a pregação vale observar que, em propostas anteriores, o conjunto tem sido apresentado de forma diferente e para diferentes épocas do ano eclesiástico (veja Proclamar Libertação, vols. IX e XVIII).

O texto proposto para a pregação faz parte de um conjunto de cunho doutrinário que inicia no cap. l e vai até o cap. 3.

Os textos de leitura (Lc 24.50-53 e At 1.6-11) apresentam um relato sintético da ascensão, localizando o acontecimento no tempo (40 dias após a ressurreição, At 1.3) e no espaço (no povoado de Betânia, Lc 24.50). Porém é bom lembrar que a maioria dos textos neotestamentários se limitam apenas a afirmar que o Senhor, após a sua ressurreição, se assentou à direita de Deus.

2. O Texto

Assim como a maioria dos textos do NT, também a perícope para a pregação não traz um relato da ascensão. Apenas refere-se a ela como um acontecimento pressuposto, inerente à fé dos cristãos da época. É como se fosse desnecessário fornecer informações factuais. A Igreja já teria elaborado um dogma no tempo de Efésios?

O início do nosso texto é marcado por um tom pessoal, comum nas cartas de Paulo. O autor afirma que sempre agradece a Deus em favor dos seus destinatários (v. 16). Porém não aponta nenhuma situação particular que o motiva a dar graças a Deus. Esse fato evidencia que o alvo da sua mensagem são cristãos/ãs anônimos/as. Em seguida, assevera que intercede por eles/as para que obtenham um espírito de sabedoria, a fim de que saibam qual a esperança, a herança e a grandeza do poder de Deus.

Que esperança, herança e poder divino os/as cristãos/ãs devem conhecer?

Verifica-se que não há nenhuma preocupação em detalhar a esperança e a herança das quais se fala. É como se todos/as os/as leitores/as soubessem o que um/a cristão/ã deve esperar e o que pode herdar. Há certa afinidade entre Cl e Ef. Em Cl 1.5s. Paulo fala da esperança que está preservada nos céus e que produz frutos. O autor de Ef e os seus destinatários também pensam assim? Se houver uma identificação entre o sentido do termo nas duas cartas, a esperança da qual fala Ef é, acima de tudo, dinâmica. O conhecimento da esperança, da herança e do poder de Deus não é puramente intelectual: o conhecimento pelo conhecimento. Trata-se de um conhecimento que transforma a vida inteira e que impulsiona para o imperativo do evangelho. Neste caso, a esperança e a herança máximas dos/as cristãos/ãs são, como afirma Cl, os céus. Depois que eles/as conhecem a verdadeira beleza desta esperança e herança, todo relaxamento e desânimo são completamente destruídos, voltam-se para a ação em busca da justiça.

Em relação ao poder, a carta afirma que Deus o revelou no próprio Cristo. Apresenta uma longa argumentação em forma de confissão de fé: Deus o ressuscitou e o fez sentar à sua direita, acima de todos os poderes e de todos os nomes que existem no presente ou possam surgir no futuro. Cristo tem a primazia sobre tudo e sobre todos.

A ressurreição e a ascensão são consideradas a revelação definitiva do poder de Deus e do lugar de Cristo diante das potências espirituais (principados, potestades, poder, domínio) e diante dos poderes injustos instituídos na terra (nome que se possa referir no presente século ou no vindouro).

O NT seguidamente enumera potências que podem agir sobre os seres humanos. Em Rm 8.38s. encontramos uma longa listagem. Há quem diga que tal crença se tornara comum na fé cristã e que provinha de influências de outras religiões (paganismo). A menção de quatro potências espirituais no nosso texto pode corresponder a um esquema cosmológico (os quatro cantos do mundo) (José Comblin, p. 38).

De qualquer forma, a mensagem de Ef certamente é que Deus pôs todas as coisas debaixo dos pés de Cristo, estejam no transcendente ou no imanente. Ele é o poder dos poderes. Derrotou todas as potências malignas, no céu e na terra. Deus revelou o seu poder ao exaltar o seu Filho, pondo-o no lugar mais nobre: à sua direita, acima de tudo e de todos.

O maior privilégio dos/as cristãos/ãs, no entanto, é que o grande vencedor foi dado à Igreja para ser o seu cabeça. Ele é a autoridade máxima da Igreja. A ascensão não significa distanciamento, separação. Cristo está presente, governa, impulsiona e orienta a Igreja. Ela tem o privilégio de ser o corpo cuja cabeça é a potência máxima do universo. Cristo e a Igreja formam um único ser. Se Cristo é importante, tem força para colocar o inimigo sob seus pés, também a Igreja tem valor e é carregada de poder de ação.

Cada membro da Igreja pode se sentir corajoso e seguro pelo fato de estar sob um cabeça tão forte. Cada integrante dela pode confrontar-se com os poderes que produzem a morte. Nem mesmo o Império Romano pode ser mais poderoso ou impor qualquer tipo de amedrontamento. Aquele que está à direita de Deus derrotou a tudo. Tendo como carro-chefe aquele que Deus fez assentar-se à sua direita, a Igreja tem poder.

Aqueles que conhecem a esperança, a herança e o poder de Deus, revelados na ressurreição e na ascensão de Cristo, e sabem que Ele é o cabeça da Igreja, nunca a deixarão. Ao contrário, unidos a Ele num só corpo, se colocarão sob o seu poder e a serviço do Reino.

3. Para a Meditação e Pregação

A pregação poderá iniciar mencionando os dois textos de leitura. Uma releitura de Lc 24.51 e At 1.9 é aconselhável. Estas palavras deixam a impressão de que a ascensão foi uma ruptura entre Cristo e os seus seguidores. É como se Cristo tivesse se distanciado, ausentado ou desistido de tudo o que ensinou e prometeu. Creio que este tipo de comentário poderá ser feito. Dependendo da comunidade, até é possível envolvê-la com questionamentos, tentando verificar a impressão que as leituras causaram.

Num passo seguinte poderá ser feita a leitura de Ef 1.15-23; demonstrar à comunidade que este texto também fala da ascensão; reler o v. 20. A pregação poderá continuar apontando para o jeito de Ef falar da ascensão.

Para Ef, a ascensão de Cristo não significa abandono daqueles que deposi¬taram sua fé e esperança nele. É revelação da esperança, da herança e do poder de Deus. Que esperança, herança e poder de Deus? Pode-se recorrer a Cl 1.5s. para demonstrar que a esperança cristã é a herança do reino de Deus. E o jeito de esperar é aquele que valoriza mais o caminho do que a cadeira. O poder, Deus o revelou quando pôs todas as coisas sob os pés de Cristo. Na época se acreditava em forças espirituais e se sabia que havia muitas poderosas estruturas injustas instituídas pelas pessoas. A ascensão revela que Cristo venceu todas essas potências.

O vencedor está presente entre nós porque Ele é o cabeça cujo corpo é a Igreja. É o nosso carro-chefe. Não é um fujão. É um vitorioso que alcançou o lugar mais nobre: a direita de Deus. É nesta qualidade que impulsiona, governa e mantém a Igreja. Temos pela frente um vencedor. Por isso, não há justificativa para buscarmos outras filosofias ou pessoas dotadas de poderes que não possuímos; tampouco podemos relaxar a Igreja. Se o cabeça é forte, também o corpo tem poder. Se o cabeça pôs todos os inimigos sob seus pés, também o corpo tem forças para lutar contra os poderes adversos da sociedade: pessoas que se arrogam o poder de fazer trabalhos para o mal ou para o bem, patrões, governos, igrejas que espalham a morte. Com um vitorioso na ponta, cada membro pode se sentir importante e com força suficiente para se colocar a serviço do Reino.

4. Bibliografia

COMBLIN, José. Epístola aos Efésios. Petrópolis, Vozes; São Leopoldo, Sinodal; São Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1987.
KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo, Paulinas, 1982. p. 458-480
 


Autor(a): Josias Kippert
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Ascensão

Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 16 / Versículo Final: 23
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14218
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