Marcos 12.41-44

Auxílio Homilético

09/11/1997

Prédica: Marcos 12.41-44
Leituras: 1 Reis 17.8-16 e Hebreus 9.24-28
Autor: Ulrico Sperb
Data Litúrgica: Antepenúltimo Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 09/11/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII


1. Uma Ilustração

O pároco em seu sermão dominical falou sobre a coleta. Após muitos argumentos concluiu:

— Quero que o dinheiro que vocês dão na saída da igreja não seja uma simples coleta, mas sim um verdadeiro sacrifício!

Joãozinho se marcou essas palavras. Na hora do almoço a mãe lhe pôs uma coxa de frango no prato. Joãozinho pegou a coxa e a deu ao Totó. Antes que o cachorro abocanhasse aquela inesperada gostosura, a mãe a arrancou da mão de Joãozinho e pôs de volta no prato, dizendo:

— Que é isso, meu filho? Come primeiro a coxa e depois dá o osso ao cachorro! Joãozinho obedeceu e, ao entregar o osso pelado ao cão, disse:

— Toma, Totó! Era pra ser um sacrifício, mas agora é só uma coleta!

2. Um Fato

Na década de 70 visitei certa vez, com uma autoridade eclesiástica alemã, um culto da Igreja Brasil para Cristo, do missionário Manoel de Mello. Na hora da coleta o missionário disse:

— Aqueles que quiserem dar uma nota graúda, assim como eu, podem vir aqui para a frente e entregar para mim. E aqueles que vão dar notas menores podem entregá-las aos presbíteros espalhados pela igreja.

A igreja era enorme e havia cerca de dez mil pessoas presentes. Então vi uma velhinha vindo lá do fundo da igreja para a frente. Ela andava devagar em seus chinelos. Sua roupa denotava pobreza e humildade. Encurvada pelos anos, ela finalmente chegou ao altar, levantou sua mão e estendeu, sem olhar para cima, sua coleta ao missionário. Este, ao ver a nota que lhe seria entregue, disse:

— Não, minha senhora, aqui é só para as notas grandes! A sua a senhora tem que entregar a um dos presbíteros.

A mulher encolheu o braço, deu meia volta e retornou ao seu lugar. No caminho, colocou sua coleta no saco que um presbítero lhe estendeu.

3. Uma Observação

Escrevo esta meditação em meio à polémica em torno da Igreja Universal do Reino de Deus. Uma das acusações que pesam sobre essa Igreja é a maneira como ela arrecada dinheiro, como faz suas coletas. Não sei como terminará a celeuma com a Universal. Sei, porém, que a discussão já está há três semanas na imprensa e que é muito triste e vergonhoso que algo assim esteja ocorrendo no mundo cristão.

4. O Texto

A leitura do Antigo Testamento prevista para este Antepenúltimo Domingo após Pentecostes aborda o tema da viúva obediente. A viúva de Sarepta confiou na promessa de Elias e foi abençoada. A leitura da Epístola fala do sacrifício definitivo de Cristo pela humanidade. Entrega confiante e sacrifício são os temas da histórica básica para a pregação neste domingo.

A viúva que Jesus observou tem traços semelhantes à viúva de Sarepta. E o sacrifício que ela fez, ao dar seus últimos trocados, se assemelha ao sacrifício do Filho de Deus.

V. 41: Gazofilácio: câmara do tesouro, também pode ser traduzido como caixa de Deus. Eram 13 receptáculos de dinheiro em forma de trombetas, espalhadas no pátio das mulheres, ou seja, na parte mais acessível do templo. Quando eram doadas quantias maiores, soava uma trombeta, para assinalar o momento (Mt 6.2).

V. 42: Quadrante: menor moeda romana. Marcos já fez a conversão para os seus leitores romanos. No mundo grego seria o Jepton. No templo de Jerusalém havia uma moeda própria, o perutha. Dois quadrantes são hoje dois centavos, ou talvez um pouco mais.

V. 43: Jesus compara a oferta da viúva com as doações dos ricos e do povo em geral. Na proporção ela deu mais do que todos os outros juntos. Viúvas e órfãos eram o símbolo do desamparo, da marginalização nos tempos bíblicos. Estavam entregues à própria sorte. Não havia sistema previdenciário que os amparasse. Viúvas não davam coleta — elas pediam esmola.

V. 44: Jesus explica por que a oferta da viúva era tão maior do que a dos outros: os outros deram de suas sobras, ela deu tudo de si. A viúva de Sarepta disse a Elias: Tão certo como vive o Senhor teu Deus nada tenho cozido; ha somente um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija; e vês aqui, apanhei dois cavacos, e vou prepará-lo para mim e para meu filho; comê-lo-emos, e morreremos. (l Rs 17.12.) A viúva que Jesus observou deixou no templo de Deus o sustento de sua vida. Ela entregou sua vida nas mãos de Deus.

5. O Domingo

O texto está previsto para a pregação no domingo, dia 9 de novembro de 1997. Aproxima-se o fim do ano eclesiástico. Vejamos o que Carolina Maria de Jesus escreveu em seu diário no dia 9 de novembro de 1958:

Preparei a refeição para os filhos e fui lavar roupas. Quem estava no rio era a Dorça e uma nortista que dizia que a nora estava em trabalho de parto. Há três dias. E não conseguia hospital. Chamaram a Rádio Patrulha para interná-la e ainda não havia dado solução. A velha dizia:

— São Paulo não presta. Se fosse no Norte era só chamar uma mulher, e pronto.

— Mas a senhora não está no Norte. Precisa providenciar hospital para a mulher. O marido vende na feira. Mas não quer gastar com a esposa, porque quer ir para o Norte e está ajuntando dinheiro.

É, tanto nos tempos bíblicos como hoje encontramos muitas pessoas desamparadas.

6. A Prédica

Um dos aspectos que podemos abordar em nossa pregação sobre esta perícope, sem dúvida, c a coleta dominical, bem como toda a questão que envolve Igreja e dinheiro. A Igreja de Cristo existe no mundo e aqui só se sobrevive com dinheiro. Deus não precisa de nada (At 17.25). Mesmo assim, ele diz: Minha é a prata, meu é o ouro. (Ag 2.8.)

Podemos explicar por que e para que a Igreja necessita de dinheiro. Pode¬mos falar sobre formas erróneas de manipular o dinheiro, de uma forma geral, e especificamente na Igreja.

Também podemos falar sobre a liberdade cristã de lidar com o dinheiro. O pintor Wolfdietrich Wickert, em um de seus quadros, ilustra como a Igreja vive das sobras do capitalismo. A pessoa cristã não dá à Igreja o que está sobrando. Ela inclui a Igreja em seus artigos de primeira necessidade. A coleta e a contribuição à Igreja não são despesas secundárias, mas sim primárias.

Não podemos, porém, esgotar a nossa pregação nesse domingo com a questão financeira da Igreja. A viúva nos leva para além desta fronteira tão delicada.

É bom que o relato bíblico não nos fale sobre as feições da viúva, enquanto entregava tudo o que tinha. O gesto simples nos é narrado, e, por isso, só podemos nos imaginar a simplicidade e a humildade daquela mulher. Ela, porém, foi observada pelo Salvador. Ao entregar o que tinha, ela caiu na vista do Cristo. Ela entregou sua vida, sua sobrevivência nas mãos de Deus e caiu nas boas graças de Jesus.

Não se trata, portanto, de dar a Deus para que ele dê em dobro. Trata-se de uma entrega confiante, sem esperar nada, porém na confiança de que nas mãos de Deus toda a nossa vida está protegida e amparada.

Certa vez Martinho Lutero estava passeando com alguns colegas e deu uns trocados a esmoleiros. Um dos amigos também deu esmola e disse:

— Quem sabe, Deus vá me retribuir isso! Ao que Lutero deu uma risada e disse:

— Como se Deus já não te tivesse dado isso! A gente é pra dar livremente, por puro amor, de boa vontade!

A fé nos liberta de amarras escravizantes e, ao mesmo tempo, nos amarra ao Deus libertador.

As viúvas bíblicas e os marginalizados de hoje mostram o quanto a sociedade está amarrada ao lucro de poucos em detrimento do prejuízo de muitos. A viúva que caiu nas boas graças de Jesus sobrevive até hoje. Não por causa da previdência social, mas graças ao amparo de Deus.

Damos dinheiro à Igreja para que ela possa amparar as viúvas de hoje e para que possa divulgar a mensagem daquele que olha com bons olhos as viúvas e todas as pessoas.

7. As Orações

Confissão de pecados: Senhor, hoje queremos te pedir perdão por algo que nos envergonha, mas que ocupa um grande espaço em nossa vida. É a questão do dinheiro e de como lidamos com ele. Simplesmente não podemos viver sem dinheiro. Mas pensamos mais nele do que em ti. Senhor, quantos problemas existem em nossa vida, em nossa família, em nossa comunidade, enfim, no inundo, por causa do dinheiro! Ajuda-nos, Senhor, a convivermos com ele de maneira sadia. Perdoa-nos quando o tratamos de modo doentio. Perdoa-nos quando o dinheiro nos afasta de ti, quando ele nos separa do próximo, quando origina brigas, guerras e injustiças sociais. Em nome de Jesus Cristo te imploramos: Tem piedade de nós, Senhor.

Oração de coleta: Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador, tu nos ensinaste o mandamento do amor. Amar a Deus sobre tudo e ao próximo como a si mesmo. A mensagem de hoje nos mostra uma viúva que amou a Deus sobre tudo e como tu a olhaste com amor. Abre os nossos corações e as nossas mentes com o leu Espírito Santo, para que possamos entregar com toda a confiança nossas vidas a Deus. Amém.

Oração comunitária:

— Pedir à congregação que mencione três motivos de gratidão a Deus relacionados com o bom uso do dinheiro, dos bens, do que somos e temos.

— Pedir aos fiéis que mencionem três motivos de preocupação no que tange ao mau uso do capital, às injustiças que existem, à situação local e comunitária.

— Formular com esses motivos anotados a oração comunitária.

— Outra opção é iniciar a oração e incentivar as pessoas a dizerem seus motivos de gratidão e preocupação espontaneamente.

8. Bibliografia

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo. São Paulo, Francisco Alves, 1960.

SCHWEIZER, Eduard. Das Evangelium nach Markus. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1967. (Das Neue Testament Deutsch, 2).

VOIGT, Gottfried. Die grosse Ernte. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1976.

ZIMMERMANN, Wolf-Dieter. Markus über Jesus. Gütersloh, Gerd Mohn, 1970.


Autor(a): Ulrico Sperb
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 41 / Versículo Final: 44
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17454
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