Filipenses 4.4-7

Auxílio Homilético

17/12/2000

Prédica: Filipenses 4.4-7
Leituras: Sofonias 3.14-18a
Autor: Regene Lamb
Data Litúrgica: 3º Domingo de Advento
Data da Pregação: 17/12/2000
Proclamar Libertação - Volume: XXVI
Tema: Advento


1. - Os temas que perpassam os textos

O texto de Sofonias convida a comunidade para cantar e assim expressar a sua alegria de todo o coração, porque Deus eliminou o inimigo. Deus está próximo do seu povo, no meio dele. Deus mesmo salva e se alegra muito, renova o seu amor. A alegria não é apenas das pessoas, mas de Deus também. Deus ri, dança e possibilita a participação das pessoas nas festas.

Em Lucas aparece, em primeiro lugar, a pregação de João Batista, chamando as pessoas ao arrependimento e para se livrarem do pensamento acomodado de que para eles a salvação já está garantida pelo fato de serem descendentes de Abraão. A sua pregação é clara no sentido de animar as pessoas para agirem logo.

O povo que aguardava o Messias se pergunta se João não seria o Esperado. O seu chamado ao arrependimento, as instruções concretas em relação a atitudes a serem tomadas e o anúncio de um batismo com Espírito Santo e fogo são interpretados como boa notícia. A dimensão do tempo próximo, já irrompendo, que aparece de maneira explícita no texto da pregação, é anunciada por João Batista de forma metafórica: O machado já está posto à raiz das árvores (l ,c 3.9a).Para as comunidades cristãs, a cada novo Advento e Natal repete-se uma série de preparações, que culminam no Natal. A proximidade do Natal gera uma série de preocupações com tudo o que ainda precisa ser preparado, ensaiado e arrumado.

Os textos indicados para leitura apontam o caminho que conduz à pregação da libertação da ansiedade e da alegria.

2. - Aproximando-nos do texto indicado para pregação

O seguimento a Jesus Cristo traz alegria especial e faz convidar as outras pessoas a se alegrarem também.

Paulo escreve da sua alegria porque, mais uma vez, recebeu da comunidade de Filipos a ajuda necessária para suprir as suas necessidades e continuar o seu trabalho de divulgação do evangelho. Temos notícias de sua atividade nesta cidade também em Atos 16. O que o motiva a estar contente é a solidariedade da comunidade com a causa do evangelho. Ele está profundamente grato (Fp 4.10) e chama suas irmãs e seus irmãos a mostrarem a proposta de vida anunciada por Jesus Cristo.

Nominalmente ele se dirige a Evódia e Síntique (Fp 4.2). Não temos maiores informações sobre elas. Porém, é possível que estejam entre os diáconos mencionados no início da carta (Fp 1.2). Também em Rm 16.1 Febe é chamada de diácona. Certo é que elas são líderes na comunidade, e Paulo teme que um conflito entre elas poderia prejudicar a unidade mesma (Fp 4.2).

Assim, ele as convida ao entendimento mútuo, a entrarem em acordo e darem expressão da alegria em Jesus, de sua tranquilidade e firmeza. Deus está perto, próximo. A ele podem ser trazidas as preocupações, as ansiedades e os agradecimentos. A alegria é capaz de enfrentar conflitos. Não os nega ou foge deles. Pois, as autoridades romanas questionavam e controlavam as primeiras comunidades cristãs. O escritor romano Plínio comenta que ele interrogou duas escravas que eram líderes em uma comunidade cristã e ficou surpreso que, mesmo sob a mais cruel tortura, elas permaneceram firmes em sua confissão. Este testemunho nos mostra que mulheres e homens excluídas/os pela sociedade experimentaram na comunidade cristã, sob o senhorio de Jesus Cristo, uma possibilidade de vida digna, da qual elas/es não queriam abrir mão.

Considerando o contexto sóciopolítico do Império Romano e a realidade das primeiras comunidades cristãs, podemos afirmar com certeza que a alegria em Cristo não é passageira. As pessoas que são convidadas a expressá-la são antes desafiadas a se entender e deixai de lado as suas discordâncias. Em Cristo há possibilidade de se unir e dar testemunho em conjunto, de tal maneira que também as pessoas que não têm o mesmo pensamento ficam curiosas pelas fontes que nutrem e sustentam essas pessoas capazes de agirem solidárias e cheias de esperança. A alegria em Jesus Cristo chama a atenção de todas as pessoas.

A proximidade de Deus faz com que o presente já seja iluminado.

Está irrompendo, vem chegando e nada há de detê-lo. Estamos próximos do Natal. Celebramos o nascimento de Jesus, presente no mundo e anunciando a chegada do Reino de Deus.

As ansiedades e as preocupações, tão presentes no nosso dia-a-dia, são mencionadas no texto como empecilhos para a alegria. Interessante é que elas não são negadas, porém é feito o convite para torná-las conhecidas diante de Deus pelas orações, súplicas e ações de graça. Quem leva o motivo de sua preocupação para Deus será cuidado por Ele, acolhido (l Pd 5.7; Mt 6.25ss). Aí a paz de Deus, que foge à compreensão humana, que por nossas capacidades racionais e explicativas não tem lógica, vai guardar a pessoa toda. Integralmente haverá paz de Cristo.

Ora, sabemos que para que haja alegria é preciso ter motivos.

Na compreensão de Paulo, eles foram dados por Cristo.

O convite para se alegrar, feito por Paulo, é como o acender das velas, que já foram arrumadas antes. Anteriormente, Paulo já mostrou para a comunidade os sinais de nova vida que cresceram em seu meio: consolo, amor, comunhão, humildade, solidariedade (Fp 2.1ss).

A alegria é atraída pela descrição da paciência, da bondade de Deus e do Cristo que foi crucificado e exaltado.

Assim, a alegria da fé não depende de circunstâncias favoráveis, pois seu motivo não está no mundo. O motivo está no amor de Deus, e este permanece o mesmo em todas as situações.

3. - Encaminhando a celebração

Nas comunidades tradicionais, temos poucas manifestações alegres. Muitas vezes, há uma seriedade forçada nas celebrações. Estamos bem próximos do Natal. No meio de toda a propaganda e de toda pela luz que enfeita as cidades, é preciso perguntar sinceramente a boa nova de grande alegria para todo o povo.

Esperamos o novo? Ou já nos conformamos com as coisas como estão? Buscar o novo traz desafios.

Rubem Alves escreveu uma estória que se chama Como nasceu a alegria. Esta estória tem como cenário um jardim maravilhoso, onde crescem lindas flores. Todas elas são muito vaidosas e preocupadas em ser a mais bela. Certo dia uma flor, ao sair de seu botão, cortou uma de suas pétalas num espinho. A princípio, ela não se incomodou com sua pétala partida, pois ela não doía. Mas, aos poucos, ela foi percebendo o olhar diferente das outras flores sobre ela. Foi ficando triste, por causa dos olhos das outras flores.

Cansou-se de explicar que nascera assim e chorou. O seu choro assustou a terra, as plantas, as nuvens, os anjos e Deus, e todos choraram também, causando um enorme reboliço ao redor da flor da pétala partida. Ela sorriu ao perceber este reboliço. Nunca pensou que fosse tão querida. E sua tristeza foi virando, lá dentro, uma espécie de cócegas no coração, e sua boca se entortou para cima, num riso gostoso (p. 17).

A flor não se esqueceu de sua pétala partida. Só que não sofreu mais ao olhar para ela, mas agradou-se dela como de uma boa amiga. A sua diferença não muda, mas o seu olhar muda. A alegria nasce do choro.

Nos textos bíblicos indicados para a celebração deste Domingo, a alegria é motivada pelo amor de Deus, pelo chamado ao arrependimento e pelo Cristo crucificado e exaltado. Deus carrega a dor sobre si e gera a alegria em nós. Liberta-nos para olhar as diferenças de frente, para perceber a sua proximidade em todas as circunstâncias. Liberta para a busca da proximidade entre as pessoas.

O maior desafio que estes textos nos deixam é preparar uma celebração alegre, que faz cócegas no coração e que não fica apenas no imperativo da alegria, mas consegue tê-la presente, perpassando toda a celebração.

Cartazes alegres preparados pelas crianças, nos quais elas colocam com sinceridade as suas expectativas em relação ao Natal.

Outra possibilidade é encarregar um grupo da comunidade para receber as pessoas na porta da igreja com um pequeno cartão, no qual está escrito o versículo de Sf 3.17.

Durante a celebração, cantar muitos hinos alegres que também convidam para o movimento.

Li o texto com um grupo de estudo bíblico na comunidade de Seberi. Iniciamos com a pergunta sobre o que hoje traz alegria na comunidade. Transcrevo algumas respostas: o encontro com as pesoas; a igreja arrumada; a preparação da igreja para o culto; o tipo de música que cantamos durante o culto, especialmente o acompanhamento de um instrumento dá caráter festivo ao culto; o Batismo; as bênçãos matrimoniais;a celebração da Santa Ceia.

Chamou atenção a ênfase que todas deram ao aspecto da música nos cultos e sua relação com a alegria. Portanto, para este culto a preocupação com a música é fundamental. Onde não há possibilidade de conseguir o acompanhamento de um instrumentista, pode-se motivar um grupo para ensaiar os hinos que serão cantados durante a celebração.

O texto poético a seguir pode ser usado na liturgia ou na pregação.

Esperamos Aquele que há de vir.
Chegará sem demora e já não haverá temor entre nós...
Há de vir o Salvador!
Esperamos contra todas as evidências...
Que a paz, a sabedoria e a força
Inundem os corações dos filhos e filhas de Deus...
Transformando a violência em amor...
A tristeza em alegria...
Esperamos olhar o mundo com os olhos cheios de amor...
Há de vir o Salvador.

(Vera Lúcia Chvatal)

Bibliografia

ALVES, Rubem. Como nasceu a alegria. São Paulo : Paulus, 1987.
ALVES, Rubem (Org.). Culto arte : celebrando a vida : Advento, Natal, Epifania. Petrópolis : Vozes, 1999.
BRIGGS, Scheila. Der Brief an die Gemeinde Philippi. In: SCHOTTROFF, Luise, WACKER, Marie-Therese. Kompendium Feministische Bibelauslegung. 2. ed. Gütersloh : Kaiser, 1999. p. 625-634.
REIMER, Haroldo. 3° Domingo de Advento (Sf 3.14-18a). In: STRECK, Edson E., SCHNEIDER, Nélio (Coords.). Proclamar Libertação. São Leopoldo : Sinodal, 1994. v. 20, p. 20-22.

Proclamar Libertação 26
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia

  


Autor(a): Regene Lamb
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Filipenses / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 7
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000 / Volume: 26
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17462
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Mal tenho começado a crer. Em coisas de fé, vou ter que ser aprendiz até morrer.
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