Apocalipse 1.9-20

Auxílio Homilético

22/04/2001

Prédica: Apocalipse 1.9-20
Leituras: Atos 5.12,17-32 e João 20.19-31
Autor: Roberto N. Baptista
Data Litúrgica: 2º. Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 22/04/2001
Proclamar Libertação - Volume: XXVI

l. Introdução

Estamos no segundo domingo de Páscoa. Os três textos de hoje estão bem relacionados. Todos podem formar um bloco, apontando numa direção.

Neste nosso trabalho, queremos animar você a celebrar os textos bíblicos. Eles apontam para a nossa realidade. Quero, inicialmente, aproveitar o conteúdo da Páscoa, ou melhor, da pós-páscoa, rico em desafios. Depois olhamos os textos e seus conteúdos. No final, quero provocar você para uma dinâmica, uma simbologia que nos anima para a vida.

2. Passando pela Páscoa

A memória está fresca. Afinal, faz só uma semana. Para além de tudo o que ouvimos e dizemos, a Páscoa também tem sido marcada como a passagem do anjo da morte sobre o Egito, na morte dos primogênitos. Em contraposição, é a passagem desse povo oprimido para um momento de libertação. Assim, a Páscoa-Passagem é sinal de alívio para os libertos e desaprovação e condenação para os poderosos.

Esta perspectiva me parece interessante como ponto de partida para a análise das perícopes deste domingo, sobretudo nas suas inter-relações. Vejamos:

No livro de Atos (At 5.12,17-32), vemos uma comunidade mergulhada em sua fé: cremos na ressurreição do nosso mestre Jesus de Nazaré. No pátio do templo, eles se reúnem. E pelos poderosos da religião são perseguidos. Este trecho é marcado pelo medo, perseguição e libertação. É o sinal da passagem da Páscoa do Senhor.

No Evangelho de João (20.19-31), novamente uma comunidade encontra-se atrás de portas fechadas, cheia de tremor. É o medo da perseguição diante da fé. Também aqui, o Ressurreto vem trazer a libertação. A libertação do receio de seguir adiante.

3. Apocalipse 1.9-20

Penso que não dá para desprezar os conteúdos do medo da perseguição religiosa, ideológica e da libertação que esta mesma fé vem trazer aos fiéis, aos persistentes.
O livro de Apocalipse é mensagem, justamente para a igreja, para os persistentes. Tendo confiança, podemos também, pela fé, afastar qualquer medo. Afinal, devem temer o faraó, os poderosos. É o que o Apocalipse vem anunciar.

Já no início do livro, podemos perceber o horror de Patmos, ilha penal para onde as autoridades romanas enviavam seus criminosos. João se apresenta como irmão vosso e companheiro na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus (v. 9). Dali João diz ter tido todas as revelações ou a revelação que se segue.

O v. 10 enfatiza o dia do Senhor, numa alusão ao domingo ou uma referência ao terrível Dia do Senhor?

Depois, logo vemos o endereçamento do livro. As sete igrejas podem representar a totalidade das comunidades, apontando, portanto, para a Igreja de Cristo.

As imagens a seguir querem engrandecer o personagem revelador, Jesus Cristo. E a autoridade das visões a seguir ficam garantidas. Nos livros que consultei, entre alguns outros pequenos comentários encontrei variações nas interpretações. Algumas imagens são facilmente apoiadas por todos (até pelo próprio texto, v. 20), como por exemplo os sete candeeiros, representando as sete igrejas. Portanto, queria deixar para você buscar alguma definição dessas figuras qualitativas de Jesus (cabelos como neve, olhos como fogo, ele.)  Eu acho que enfatizá-las demais poderia atrapalhar simplesmente por excesso de informação.

4. Conteúdos

A perícope de Ap 1.9-20 pode ser dividida em três partes. A primeira (v. 9-11) é uma introdução às sete cartas que vêm a seguir. Na verdade, ela parece ser uma introdução à nossa própria perícope. O centro (v. 12-16) é a exaltação ao personagem revelado, Jesus Ressurreto. É a certeza e confiança no poder e nas outras qualidades deste Jesus que vem trazer a confiança, expressa na última parte (v. 17-20): em meio às perseguições, Jesus é o suporte, o apoio.

Esse Jesus, apoio que nos ajuda a superar as perseguições, a romper com o medo e a vencer as injustiças, quer falar para a Igreja hoje. Como podemos entender tudo isso diante da nossa realidade? Quais são as perseguições que sofremos? Será que não estamos acomodados, ou como diz um pouco adiante Jesus : conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! (Ap3.15).

Uma igreja vem sofrer as agruras da perseguição quando testemunha a justiça de Deus. Afinal, de que outra maneira poderemos incomodar o mundo? Por outro lado, eu sei, é verdade. A Igreja deve ser apoio, suporte espiritual para as pessoas. Porém, esse apoio deve atingir não só o indivíduo. Deve superar o indivíduo e levá-lo à sociedade. Quero dizer: a mensagem do evangelho é construção comunitária do Reino de Deus. Uma comunidade unida em torno do Reino poderá, aí sim, transformar uma sociedade. Eu iria modificar um pouco aquele ditado e diria que: é bem provável que uma andorinha só não faz verão.
Qual o retrato da sua comunidade? Veja bem, e procure sintonizar o desafio desse nosso texto para a sua realidade. Queremos e devemos fermentar nosso lugar-comum: meia dúzia que anseia e luta por transformações pode despertar muitos outros para a busca comunitária da justiça e da solidariedade. Assim, poderemos ouvir Jesus dizer: conheço as tuas obras - eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta que ninguém pode fechar (Ap 3.8a).

5. Celebração

Quero agora me concentrar numa dinâmica celebrativa. Não tenho a intenção de montar aqui a estrutura da sua celebração. Apenas sugiro uma ideia de caráter simbólico, que pode ajudar a comunidade a exprimir sua espiritualidade e a sua compreensão dos textos deste domingo.

Vou me fixar ao conteúdo básico, que, a meu ver, tanto em Ap 1.9-20 quanto nos outros textos do domingo é: em meio ao medo pela perseguição, encontramos apoio em Jesus-Ressurreto-Libertador, Senhor da Esperança.

Gostaria que você procurasse um exemplo para a sua realidade. Neste ano em que escrevo esta meditação (ano 2000), a Páscoa chegou um pouco mais tarde. Nas regiões mais frias aqui do sul do Brasil, você pode encontrar o fruto da araucária, a pinha. Dentro dela encontramos o pinhão tão consumido em festas juninas.

O lado de fora da pinha possui uma textura espinhenta, que chega até a machucar a mão. Uma dessas pinhas poderia, por exemplo, passar de mão em mão na comunidade para que as pessoas a tocassem. Iriam sentir-se interessadas, mas, com certeza, incomodadas. Afinal, a casca do fruto fere, machuca, dói. Nesse momento, palavras relacionadas ao conteúdo medo pela perseguição poderiam ser declaradas ao público: aflição, tremor, dor, etc. Seria interessante deixar as pessoas da comunidade expressarem esses sentimentos.

Num segundo momento, a mesma pinha ou outra poderia ser aberta na vista de todos para perceberem o espalhar do seu conteúdo. Essa dinâmica foi aplicada num outro contexto e com outro conteúdo pela colega e amiga Sisi Blind. Eu estava junto dela, e lembramos ainda hoje da surpresa e da satisfação das pessoas ao verem a cena. Foi bonito.

O sentido deste segundo momento poderia ser explorado mais ou menos da seguinte maneira. O medo, a perseguição inicial é superada pela surpresa de um conteúdo que agora alimenta a nossa vida. A insistência da Igreja em levar o projeto do Reino de Deus adiante pode ajudar ela mesma a superar o medo e romper para a vida.

Sei que toda essa dinâmica é específica. Muita gente não poderá obter o fruto da araucária. Porém, conhecendo esses conteúdos, quero desafiar você a substitui-lo por uma figura, por um símbolo regional.

Finalmente, acho que faltaria agora explorar o que de início já escrevera: qual é, afinal, o medo hoje das nossas comunidades? Por que não sofremos perseguições? E se sofremos, elas são fruto do quê? Qual libertar comunitário Jesus pode nos trazer hoje?

Realize, se possível, hoje um culto com Santa Ceia. E enfatize a libertação que Jesus nos traz já ao descobrirmos a dimensão comunitária da celebração em torno do pão e do vinho. Boa celebração.

Bibliografia

CROATTO, J. Severino. Apocalíptica e esperança dos oprimidos (contexto sócio-cultural do género apocalíptico). Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana (RIBLA), Petrópolis / São Paulo / São Leopoldo, n° 7, p. 8-21,1990.
KÜMMEL, Werner G. introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas,
1982.
PIXLEY, Jorge. As perseguições: o conflito de alguns cristãos com o Império. Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana (RIBLA), Petrópolis/ São Paulo/São Leopoldo, n° 7, p. 76-88, 1990.


 


Autor(a): Roberto Natal Baptista
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 2º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Apocalipse / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 9 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000 / Volume: 26
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17608
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