Jeremias 30.18-22

Auxílio Homilético

24/11/1994

Prédica: Jeremias 30.18-22
Leituras: Colossenses 4.2-6 e João 4.31-38
Autor: Ulrico Sperb
Data Litúrgica: Ação de Graças
Proclamar Libertação - Volume: XX


1. Algumas experiências

a. Num Culto de Ação de Graças em Santo Amaro (SP), colocamos no altar um motor de automóvel. Ele simbolizava o ganha-pão de muitos membros da comunidade que trabalhavam em montadoras e fábricas de autopeças.

b. Na Comunidade de Lontras (SC) o Culto de Ação de Graças precedia a Festa da Colheita. Enfeitávamos a igreja com muitos produtos coloniais que eram leiloados durante a festa.

c. Num Culto de Ação de Graças em Joinville (SC), colocamos a hélice de um barco de pesca no altar. Os donos da fábrica de motores marítimos quiseram agradecer porque superaram uma crise na sua indústria.

d. Noutro Culto de Ação de Graças em Joinville, colocamos ao lado do altar uma grande cesta com pãezinhos. As pessoas foram convidadas a trazerem ao altar a coleta, como gesto de gratidão, e a buscarem um pão, como símbolo de que o pão de cada dia provém de Deus.

e. Na Comunidade de Brasília (DF) realizamos no dia 31 de outubro de 1993 a Vigília de Oração contra a Fome, a Miséria e pela Vida. No PL XIX, pág. 114, falei sobre a Campanha contra a Fome, a Miséria e pela Vida. A vigília fez parte dessa campanha. O lema da vigília foi Cl 4.2, que faz parte da leitura de epístola que sugiro acima. A vigília durou 24 horas. Cada participante que vinha durante esse tempo deveria trazer alimentos não-perecíveis, que eram depositados no altar. Um placar indicava de hora em hora o quanto havia sido arrecadado. No final da vigília chegamos a pouco mais de uma tonelada de alimentos. Eles foram encaminhados a famílias carentes das crianças do Centro Social Cantinho do Girassol, em Ceilândia (DF).

2. Algumas sugestões

a. Mobilizem as pessoas da comunidade para que tragam produtos coloniais e industriais para enfeitarem o altar e a igreja.

b. Durante o Culto de Ação de Graças procurem fazer gestos e atos que simbolizem a gratidão e a partilha.

c. Os produtos depositados no altar podem ser utilizados para auxiliar pessoas carentes.

d. O Culto de Ação de Graças deve ser alegre, festivo, gratificante. Mesmo que a situação seja frustrante, a palavra de Deus proporciona esperança e libertação. E, afinal de contas, nossa tarefa como mensageiros de Deus é proclamar libertação!

3. Algumas orações

a. Ó Deus, nosso querido Pai, em nome de Jesus Cristo, nosso Salvador e Irmão, movidos e irmanados pelo Espírito Santo, nós te suplicamos pelo nosso Culto de Ação de Graças. Que ele seja um marco em nossas vidas e em nossa comunidade. Que mova muitos corações. Nosso desejo é que este culto aconteça em teu louvor e em nosso favor. Nós te agradecemos por nos teres abençoado durante os preparativos de nosso Culto de Ação de Graças. Com toda a humil-dade o colocamos aos teus cuidados. Que ele seja uma bênção. Amém.

b. Bondoso Deus! Tu de fato tens cuidado de todas as pessoas. Tu criaste um mundo no qual há o suficiente para toda a humanidade. Mas a ganância de uns poucos provoca a carência de muitos. Nós te suplicamos por todas as pessoas que sofrem fome, cuja barriga ronca, clamando por algum alimento que lhes garanta a vida. Nós te suplicamos por todas as pessoas que estão na miséria, que já não têm condições físicas e mentais para vislumbrarem a esperança de um novo amanhã. Nós te suplicamos por aquelas pessoas que sobrevivem das migalhas que caem de nossas mesas. Ajuda-nos a transmitirmos com palavras e gestos fraternos a vida em abundância que teu amado Filho Jesus Cristo deseja para todas as pessoas. Amém.

c. Querido Deus! Tu cuidas de nós como um bom Pai e nos amparas como uma carinhosa Mãe! Muito obrigado porque pudemos colher os frutos de nosso trabalho. Tu possibilitaste este Culto de Ação de Graças. Aqui te agradecemos pelas mesas fartas em nossos lares. Aceita o nosso louvor assim como aceitamos de ti as gostosas bênçãos que nos dás. Nós te agradecemos pelo pão de cada dia e pelo alimento espiritual que provém do evangelho de teu amado Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. E é em nome dele que te louvamos, adoramos e agradecemos. Amém.

4 Algumas observações sobre o texto

a. Jeremias 30.18-22 está inserido no contexto de um livrinho que abrange os caps. 30 e 31: Escreve num livro todas as palavras que eu disse (30.2b). Este livrinho é uma coletânea de palavras de promissão. A elaboração do livreto está datada na primeira fase de atuação do profeta Jeremias, sob o reinado de Josias (por volta do ano de 615 a.C.).

b. O conteúdo desse livreto de salvação está descrito em Jr 30.3: Porque eis que vêm dias, diz o Senhor, em que mudarei a sorte do meu povo Israel e Judá, diz o Senhor: fá-los-ei voltar para a terra que dei a seus pais, e a possuirão. Trata-se, portanto, da promessa de retorno do Reino do Norte (Israel) c da retomada da antiga aliança (posse da terra).

c. Nosso texto se relaciona com o retorno de Israel, que aconteceu após a derrota do Reino Assírio e a queda de sua capital, Nínive, em 612 a.C.

d. Jr 30.18-22 contém as seguintes promessas específicas:
— Restauração de Israel (retorno e posse da terra).
— Reconstrução das cidades, sobre as ruínas.
— Renovação do Culto de Ação de Graças.
— Retomo do júbilo e da alegria entre o povo.
— Aumento populacional ao invés da diminuição do povo que ocorreu com a deportação para a Assíria (721 a.C.).
— Novos tempos de glória, em lugar da vergonhosa derrota. Essa glória se manifestará em hinos de louvor a Deus.
— O povo será como antigamente, ou seja, sua fé em Deus será revigorada.
— A comunidade viverá em estreito contato com seu Deus. Vemos que as esperanças de Jeremias são muito mais sacras do que políticas.
— Os opressores do povo de Deus serão castigados. Esse castigo será uma ação exclusiva de Deus.
— Em lugar de um dominador estranho, surgirá do meio do povo um príncipe. O fato de Jeremias falar em príncipe e não em rei reflete a incerteza com relação ao futuro governante. Ao evitar o termo rei, o profeta mostra que a forma de governo ainda não está clara.
— Claro, no entanto, está o caráter sacro do novo governo. O príncipe reinará com e a partir de Deus.
— Vós sereis o meu povo, eu serei o vosso Deus (veja também Jr 7.23; 11.4; 24.7). Esta é a tradicional formulação da aliança. E ela é a moldura para todo o nosso texto.

e. Jeremias coloca toda a sua esperança na ação de Deus. Os fatos políticos são apenas o pano de fundo para o plano salvífico de Deus. O v. 22 é uma declaração de amor incondicional de Deus para com o seu povo.

5. Algumas semelhanças entre Israel de então e o Brasil de hoje

a. Também o Brasil deve ser restaurado. Mesmo que não tenhamos sido deportados, temos sérios problemas com relação à posse da terra e fomos sistematicamente despojados durante cinco séculos.

b. Também as nossas cidades devem ser reconstruídas, sobre a falta de infra-estrutura e sobre as ruínas das favelas.

c. Também os nossos cultos de Ação de Graças devem ser renovados. Perdemos a perspectiva de que o pão de cada dia provém de Deus, principalmen¬te quando vemos com que facilidade (uns poucos) e dificuldade (muitos) ganham este pão.

d. Também nós ansiamos por júbilo e alegria. Vocês já repararam que os momentos de alegria em nossa vida são pessoais ou familiares, quando muito comunitários? Mas o povo brasileiro como um todo não tem muitos motivos para se alegrar e jubilar.

e. Também nós gostaríamos que nossa população aumentasse e que não houvesse mais tantos abortos, assassinatos, acidentes e mortes por causa da fome.

f. Também nós queremos dar glórias a Deus. A glória do povo brasileiro está no futebol (escrevo antes da Copa de 94), em outros esportes (por exemplo, a Fórmula l, o vôlei) ou em alguns líderes políticos (a campanha eleitoral está deslanchando). Muitos deuses são glorificados no Brasil.

g. Também a nossa fé deve ser revigorada. Nossos antepassados vivenciavam uma fé mais firme. Será que então era mais fácil crer? Ou será que agora é mais fácil descrer? Com muita sinceridade devemos analisar até que ponto o Brasil ainda é um país cristão.

h. Também a nossa comunidade quer viver mais intimamente com Deus. As pessoas que participam dos cultos e da vida comunitária merecem ouvir o quanto Deus as ama.

i. Também para os opressores do povo brasileiro vale a promessa do castigo de Deus. A impunidade humana, que é a norma no Brasil, não exclui o fato de que sobre os opressores pesa a palavra julgadora de Deus.

j. Também para o Brasil falta um governante que surja do meio do povo. Ainda estamos sob o domínio estrangeiro, principalmente no campo económico e ideológico.

l. Também nós precisamos de um governante claramente identificado com a fé cristã e os ensinamentos bíblicos. Certamente é anacrónico desejar uma teocracia como a descrita pelo profeta. Mas também temos que concordar que a mundocracia do Brasil é um fracasso.

m. Também nós somos o povo de Deus. Mais ainda, além de povo somos filhos de Deus. Através de Jesus Cristo temos uma aliança com Deus e também uma adoção. Como povo de Deus (cf. l Pe 2.9-10) e como filhos de Deus (cf. l Jo 3. l) podemos encarar nossa vida com esperança.

6. Algumas pistas para o sermão

a. Tanto a situação de Israel na época de Jeremias como nossa situação atual estão mais para o desespero do que para a esperança. O profeta olha para cidades em ruínas e um povo escravizado. Nós olhamos para um Brasil estragado e para um povo na miséria. O povo de Israel era motivo de deboche entre os povos vizinhos. O Brasil está com uma cotação vergonhosa no cenário internacional.

b. Jeremias, porém, não prevê o fim de tudo para o seu povo. Sua mensagem é de esperança. Mesmo que ele esteja olhando para um presente frustrante, anuncia um futuro brilhante. Quase todos os verbos de nosso texto estão no futuro. E as promessas que Deus faz através do profeta são realmente encantadoras.

c. A vontade de Deus para com o seu povo (e seus filhos) é de uma vida digna, gostosa, abundante. Onde as instituições humanas fracassaram, as promessas divinas abrem alternativas ao desespero. O texto de Jeremias mostra como o Brasil poderá melhorar, caso aceitar a palavra de Deus, o evangelho de Jesus Cristo, como norma a ser seguida e alvo a ser alcançado.

d. O Culto de Ação de Graças quer manifestar nossa gratidão pelo que colhemos com o suor do nosso trabalho. Como tal, trazemos diante de Deus toda a nossa realidade e confessamos que, apesar de todas as nossas falhas, fomos abençoados por Deus. Reconhecemos que colhemos o que não semeamos; que estivemos mais preocupados com a comida do que com a vontade de Deus (vide a leitura de evangelho que sugiro).

e. O Culto de Ação de Graças, além da gratidão pelo passado, também quer renovar o pedido de bênção para o futuro. Por isso o sermão pode ser analítico com relação ao passado e profético com vistas ao futuro. A mensagem evangélica de nosso sermão pode destacar que as promissões que Deus fez através de Jeremias valem também para nós. E, muito mais, através de Jesus Cristo temos promissões que ultrapassam todas as fronteiras do futuro (cf. Jo 4.36).

f. Final da Missa da Terra sem Males:

Unidos na memória
da Páscoa do Senhor,
voltamos para a história
com um dever maior.

Unidos na memória
da Antiga Escravidão,
juramos a Vitória
na nova servidão.

América Ameríndia,
ainda na Paixão:
um dia tua Morte
terá Ressurreição!

A Páscoa que comemos
nos nutre de porvir.
Seremos nos teus Povos
o Povo que há de vir.

Os Pobres desta Terra
queremos inventar
essa Terra-sem-males
que vem cada manhã.

Uirás sempre à procura
da Terra que virá...
Maíra, nas origens.
No fim, Marana-tha!


7. Bibliografia
CASALDÁLIGA, Pedro; TffiRRA, Pedro; COPLAS, Martin. Missa da Terra sem Males.
Rio de Janeiro, Tempo e Presença, 1980.
NOLAN, Albert. Jesus antes do cristianismo. São Paulo, Paulinas, 1988.
WEISER, Artur. Das Buch Jeremia. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1966. (Das
Alte Tèstament Deutsch 21).


Autor(a): Ulrico Sperb
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Dia de Ação de Graças

Testamento: Antigo / Livro: Jeremias / Capitulo: 30 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 22
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17731
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Louvemos ao Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo! Por causa da sua grande misericórdia, Ele nos deu uma nova vida pela ressurreição de Jesus Cristo, por isso o nosso coração está cheio de uma esperança viva.
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