Lucas 5.1-11

Auxílio Homilético

05/02/1995

Prédica: Lucas 5.1-11
Leituras: Isaías 6.1-8 e 1 Coríntios 14.12b-20
Autor: Antônio Luiz João
Data Litúrgica: 5º Domingo após Epifania
Data da Pregação: 05/02/1995
Proclamar Libertação - Volume: XX


1. Introdução

Lucas apresenta um Jesus solitário no início do seu ministério na Galiléia (4.14 a 9.50). Numa leitura rápida dos caps. 4 e 5 percebemos isso. Apesar de o nosso texto ser tipicamente de vocação ao discipulado, Jesus ainda é o pregador solitário. Somente em 5.30 é que começam a aparecer os discípulos junto com Jesus. Ele, porém, se retirava para lugares solitários e orava. (5.16.)

O que antecede o texto de 5.1-11 é um resumo das atividades de Jesus na região (4.31-44). Podemos estruturá-lo da seguinte forma:

A. Jesus ensina com autoridade, isto é, tem verdade.

B. Jesus se defronta com um demónio, que quer confessá-lo, mas é proibido de fazê-lo.

C. Jesus cura a sogra de Simão. Supõe-se ser conhecido dele. O mesmo aparece novamente em 5.3-4. Muitas outras curas acontecem.

B1. Jesus se defronta com um demônio que quer identificá-lo; este, porém, é impedido.

Al. Jesus ensina. Esta é sua vocação primária.Neste resumo visualizamos todo o ministério de Jesus na Galiléia.

Até então Jesus estava sozinho. Suas palavras e seus milagres foram sinal de poder de sua pessoa. Agora chamou em torno de si alguns homens. Ainda não podemos precisar o que procurou neles, nem sabemos totalmente o que vai pedir-lhes. Mas já vimos o que será a sua verdadeira função no futuro. A tarefa desses homens concretiza-se no seguir a Jesus Cristo; a sua função é uma pesca, um prodigioso chamar e convocar as pessoas.

O ministério na Galiléia está marcado pelo apelo de Jesus a seus discípulos. Começou com a pesca maravilhosa (5.1-11) e a vocação de Levi (5.27-28). Segue-se, depois, a eleição dos apóstolos, que, na visão de Lucas, foram escolhidos dentre um grupo mais amplo. Em 8.1-3 afirma-se que os doze acompanharam Jesus pelos caminhos e tornaram-se pregadores do Reino (9.1-6).

O que estava escondido nas palavras de Jesus — sereis pescadores de homens — vai-se revelando nas outras narrativas de vocação até o envio dos setenta e o ministério da Igreja primitiva em Atos dos Apóstolos.

2. Leitura do texto

Lucas 5.1-11 é, sem dúvida, uma narrativa de milagre. É um chamado milagre de doação. Milagres de doação se caracterizam por colocar, de modo surpreendente, bens materiais à disposição, conceder dádivas superdimensionadas e incomuns por meio de alimentos transformados, multiplicados ou acumulados.

Para uma compreensão mais didática do texto, podemos dividi-lo da seguinte forma:

a) Introdução: Lucas mostra a multidão apertando Jesus. Todos querem ouvir suas palavras e Jesus, que não mede esforços para anunciar o evangelho do Reino, sobe até mesmo num barco.

b) O milagre da pesca: Jesus propõe a Simão que lance novamente as redes na água. Simão vai, mas não acredita muito no sucesso da pescaria. Obedece o pedido de Jesus, lança as redes e apanha grande quantidade de peixes.

c) Reação dos pescadores: eles reconhecem tratar-se de um milagre. Jesus usa esse momento para vocacioná-los e eles o seguem.

É digno de nota que o milagre não é percebido pela multidão. Apenas Pedro, Tiago e João estão cientes de que ali aconteceu um milagre (vv. 8-9). Eles são pescadores e sabem que aquela pescaria ultrapassou toda norma e experiência que tinham da profissão (5.5), Mateus e Marcos não registram o milagre. Para eles, tudo caminha normalmente: os pescadores estão na sua lida e Jesus os chama.

Nos evangelhos os relatos de pesca e de peixes nos evangelhos estão sempre ligados com a missão de pregação dos discípulos, missão de trazer pessoas para o reino de Deus.

3. Comentário geral a respeito do texto

A cena se dá no lago de Genesaré. Genesaré é outro nome dado para o mar da Galiléia, também chamado de mar de Tiberíades. Trata-se de um lago de 21 km de comprimento por 11 km de largura, atravessado pelo rio Jordão. Por isso suas águas são doces.

Existiam muitas cidades ao redor do lago. Cafarnaum e Betsaida eram centros de indústria pesqueira, isto é, típicas áreas de pescadores. Jesus viu dois barcos e pescadores lavando as redes, tarefa que mostrava que haviam terminado de pescar. Ele entrou em um dos barcos e pediu ao seu dono, Simão, que o afastasse um pouco da margem. De dentro do barco Jesus ensinou a multidão a respeito do reino de Deus (4.42-44). Pela narrativa de Lucas, percebemos que Jesus já havia tido contato anterior com Simão (ele curou sua sogra — 4.38-39).

Após o ensino, Jesus ordenou a Pedro que fosse para o meio do lago e lançasse as redes. Pedro respondeu: Trabalhamos a noite toda e nada apanha¬mos. O texto grego dá a ideia de um trabalho exaustivo. Pedro era um pescador profissional experiente. Ainda assim, resolveu atender a ordem de Jesus. Dá para imaginar a situação de desânimo dos pescadores. Afinal, eles trabalharam a noite toda, não conseguiram nada e estavam prestes a voltar para casa sem o sustento do dia. Obedecer a ordem de Jesus para lançar as redes era a renovação da esperança de conseguir o pão do dia.

Entende-se, pois, a declaração de Pedro no v. 8. Fora um milagre e ele era um pecador. Por isso, prostrou-se diante de Jesus e pediu que ele se afastasse. A resposta de Jesus foi: Não temas. Estas são as palavras mais repetidas por Jesus em todo o seu ministério. Após os acontecimentos vivenciados pelos pescadores, restou-lhes somente uma coisa a fazer: ser discípulos de Jesus.

4. Rumo à prédica

A leitura de Proclamar Libertação V, Iss., IV, 118ss., e XVII, 57ss., enriquecerá muito a exposição e meditação do texto com a comunidade.

Ao lermos o texto, somos levados a olhar para o tema da vocação, do chamado para seguir a Cristo. A pesca é a imagem usada para tanto: ' 'Vinde a mim e vos farei pescadores de homens. Não podemos esquecer, porém, que tudo aconteceu com a presença de Cristo. Para que haja a vocação precisamos da presença de Cristo. E precisamos muito mais da sua presença para exercer a missão que ele nos confiou, pois é uma missão dura, difícil, espinhosa e cheia de perigos.

Não dá para ler Lc 5.1-11 sem se lembrar de Isaías 6.1-8. No relato da vocação de Isaías há a consciência de que estamos na presença de Deus e de que Deus se faz presente diante de nós. As palavras de Paulo em 2 Co 2.17 também vão nessa direção: Porque nós não estamos como tantos outros, mercadejando a Palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus.

Sugerimos trabalhar o texto com a comunidade da seguinte forma:

Objetivo geral: Incentivar a comunidade a realizar sua caminhada e vocação sempre na presença de Deus, crendo que Deus, em Cristo, perdoa seus deslizes e valoriza suas ações.

a) Sentimento de incapacidade: Ao contemplar as injustiças do mundo, o sofrimento humano, a própria pecaminosidade, o ser humano, em especial os discípulos de Cristo, tendem a rejeitar a presença de Deus. Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador. (Is 6.5.)

b) A graça restauradora: O que leva o discípulo a caminhar na presença de Deus, apesar de toda a sua pecaminosidade? É o poder restaurador do evangelho, li a graça de Deus revelada em Jesus Cristo. Jesus revela sua graça ao responder com misericórdia: Não temas. São palavras repetidas várias vezes (Mt 1.20; 14.27; 28.5; Lc 1.13; 2.10).

c) A tarefa, uma ação valorizadora: O fato de Cristo dar tarefas aos discípulos — Serás pescador de homens — é prova de que Deus confia na capacidade do ser humano. Deus nos criou e vocacionou dotados de possibilida¬des. Somos importantes para Deus. Ele nos revela isso colocando em nossas mãos serviços e vocacionando-nos para sermos construtores de uma nova sociedade.

Perigos a serem evitados na prédica:

a) Enfocar em demasia o milagre e perder de vista a aplicação objetiva do milagre, que são os vv. 8-11.

b) Alegorização do texto, ao afirmar que o primeiro barco representa o povo judeu e o segundo, os gentios.

c) Enfatizar a obediência de Pedro — Sobre a tua palavra lançarei as redes — e caminhar para uma pregação puramente moralista.

5. Bibliografia

EHLERT, Heinz. Meditação sobre Lucas 5.1-11. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1979. v. IV.
GEORGE, A. Leitura do Evangelho segundo Lucas. São Paulo, Paulinas, 1984.
KUNERT, Augusto E. Meditação sobre Lucas 5.1-11. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1991. v. XVII
PIKAZA, Javier. A Teologia de Lucas. São Paulo, Paulinas, 1985.
ZIZEMER, Osmar. Meditação sobre Mc. 6.30-44. In: A Salvação Se Fez Pão. São Leopoldo, Sinodal, 1989.


Autor(a): Antônio Luiz João
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17736
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