1 Coríntios 9.24-27

Auxílio Homilético

26/01/1986

Prédica: 1 Coríntios 9.24-27
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: Domingo Septuagesimae
Data da Pregação: 26/01/1986
Proclamar Libertação - Volume: XI


I — Contexto

Paulo foi confrontado em Corinto com entusiastas que usavam a liberdade alcançada em Cristo para todo tipo de libertinagem. Não obedeciam mais ninguém. No seu entender, uma vez justificados pelo sangue de Cristo, tudo lhes era permitido.

O apóstolo procurou mostrar a partir do Capítulo 8 que o amor da liberdade cristã conhece limites. Isto ele explica usando a prática das coisas sacrificadas a ídolos — não se deve ser um tropeço para os mais fracos. Paulo foi capaz de desistir do seu direito apostólico (9.1-3), desistir de ser mantido financeiramente pela comunidade (9.4-7), querendo estar livre das fofocas, como se tivesse se aproveitando das dádivas. Procurava abster-se dos direitos para não criar qualquer obstáculo ao Evangelho de Cristo (9.11-18). Paulo se colocou como servo de todos para conquistar todos (9.19-23).

Tudo o apóstolo procurava viver por causa do evangelho, para tornar-se colaborador com ele (9.23).

II — Exegese

O apóstolo convida a comunidade para seguir o seu exemplo de amor. Para ilustrar este exemplo, ele usa figuras do mundo esportivo.

V. 24 — Todos correm no estádio — mas um só leva o prêmio. Será que só um vai alcançar o objetivo? E os outros? Paulo não se fixa neste um, mas na necessidade de correr para alcançar o prêmio. Apesar de o cristão saber que foi justificado pelo sangue de Jesus, ele não pode considerar-se pronto, como se nada mais tivesse que fazer. Quem foi atingido, transformado pelo evangelho de Cristo, precisa continuar como o atleta em buscado objetivo final. Não pode querer viver como os entusiastas, que acreditavam ter a certeza da salvação e o poder do Espírito Santo — no mais deixavam o barco correr.

Ninguém pode ignorar que o juízo de Deus é realidade (2 Co 5.10) e que todos serão julgados pelas obras. Por isso, cada um precisa correr para alcançar o prêmio.

V. 25 — Existe uma diferença muito grande entre o atleta que busca uma coroa que o tempo vai deteriorar e a coroa que ficara para sempre. Conforme Ap 3.11 esta coroa é a vida eterna junto do Senhor. Se há tanto esforço, tanto treino, tanto jejum para alcançar um prêmio aqui nesta vida, quanto mais deve haver o esforço para conquistar a coroa, que permanecerá para sempre.

V. 26 — Paulo não corre sem objetivo. Tudo ele faz pela certeza de que foi aceito por Deus em Cristo Jesus. Mas esta aceitação não o deixa imóvel. Deus o usa como seu instrumento neste mundo para propagar e viver o evangelho até chegar no objetivo final.

É usado ainda o exemplo do lutador de box. Este luta por um objetivo — vencer para receber um prémio, que também é passageiro. Paulo se compara com um tal lutador — ele também quer alcançar o prémio, mas o prêmio que permanecerá para sempre.

V. 27 — Esmurrar o seu corpo — parece ser exagerado nas suas colocações. Partindo do termo soma no grego — ele é visto como sendo o lugar da concupiscência, do querer para si — se Paulo esmurra o seu corpo, ele quer expressar que nada quer para si ao correr de encontro do alvo, mas tudo para os outros. Paulo quer viver como cristão para todos. Q amor de Deus para com ele o leva a viver este amor para com os outros. Paulo não quer ser desqualificado no seu correr. Ele quer vencer — mas para vencer ele precisa desistir do seu eu para viver para os outros.

III — Meditação

Pedindo aos coríntios que corram para alcançar o objetivo, Paulo parte do ato salvífico de Cristo: Jesus Cristo por sua morte na cruz, tomou sobre si todos os nossos sofrimentos e quem crê neste acontecimento, é participante da salvação (1 Co 1.4-9,18).

Acontece, entretanto, que um grupo de pessoas se entusiasmou com esta oferta a tal ponto, que passou a abusar desta liberdade alcançada. Nada mais lhe era importante no relacionamento com as pessoas: escandalizavam os outros no comer carne destinada aos ídolos; praticavam escândalo no matrimônio (1 Co 7) — enfim, o importante era ter a certeza da aceitação por parte de Deus. No mais a vivência diária não tinha nada a ver com a sua fé.

Contratai maneira de vida Paulo procurou agir. Quem garante a salvação quando não se tem mais em mente o viver diário? Mesmo tendo a certeza desta salvação em Cristo, não se pode esquecer que ainda estamos à caminho entre o já da justificação e o ainda não na eternidade de Deus. Ainda não chegamos ao alvo como vencedores. Somos iguais aos atletas, que correm para alcançar o alvo, a coroa incorruptível.

Este tempo de correr precisa ser aceito como tempo de prova, lembrando o receber da coroa incorruptível. Para alcançar esta coroa, há necessidade de evitar tudo que possa prejudicar este objetivo. Tudo precisa ser vivido e carregado pelo amor, que é capaz de desistir de vantagens pessoais, que possam impedir os outros de entender e aceitar o evangelho de Cristo (8.1-9,23). Ou: impedir que a existência social ou natural venha a sofrer por seu comportamento (1 Co 6.1-8; 7.1-9,17-24).

Este estar a caminho precisa ser visto como tempo de luta. Esta luta acontece com o próprio eu, que na sua liberdade cristã não aceita qualquer tipo de abstinência. O alvo só será alcançado na medida em que for lutado contra este inimigo. Não podemos possuir o amor de Deus, sem ao mesmo tempo viver este amor na caminhada desta vida. Isto significa que usemos as oportunidades da vida para desistir de nossos aparentes direitos, a fim de viver para os outros — tudo por causa do evangelho de Cristo. Assim alcançaremos a coroa incorruptível.

IV — Esquema para prédica

1 — Introdução — Viver entre o já ter e ainda não ter alcançado. Eu posso ter a promessa de receber uma herança, mas ainda não a consegui. Eu posso ter a promessa de emprego, mas ainda falta a concretização. Eu posso ter a promessa de receber um presente, mas ainda não o tenho nas mãos. Eu tenho a promessa da salvação através da obra de Deus em Jesus Cristo, mas ainda não a consegui. Esta é a nossa situação entre o que Jesus conquistou por nós e o que ainda não conseguimos definitivamente — veja Fp 3.12-14.

2 — Ser cristão significa estar a caminho — É algo desagradável ouvir do apóstolo Paulo que ainda não alcançamos o alvo — a salvação eterna. Sabemos que a última e definitiva palavra de Deus ainda não soou. Por isso ainda não recebemos a coroa que não será destruída. Ninguém pode parar na boa fé que, tendo sido batizado e confirmado, tem garantia a coroa da vida. Não podemos ser entusiastas com o que foi conseguido. Como o atleta está a caminho, assim também nós temos que nos considerar sempre a caminho para conquistar definitivamente o que agora temos na fé. É preciso, portanto, na certeza da graça recebida, continuar movimentando-nos como o atleta para alcançar o prêmio definitivo.

3 — Ser cristão significa permanecer na luta —, Mesmo sabendo que Cristo tomou todas as nossas dores sobre si, não podemos deixar de lutar. E luta significa sacrifício. Quem está a caminho sabe das dificuldades que enfrenta. O atleta faz exercícios diários; ele passa por dietas alimentares rigorosas — tudo para alcançar o prêmio. Do mesmo modo, quem está a caminho que Cristo lhe conquistou, precisa estar disposto para a luta, para o sacrifício. Com as palavras de Paulo: Fiz-me fraco para com os fracos para ganhar os fracos (1 Co 9.22). Ele foi capaz de desistir da ajuda financeira dos coríntios para não prejudicar o Evangelho de Cristo. Ele foi capaz de desistir de certos tipos de carne, para não ser tropeço para os fracos. Paulo não aceitou o pensamento dos entusiastas que, na sua suposta liberdade cristã, acreditavam poder fazer o que bem entendessem. Pelo contrário, o cristão sabe dos limites do seu agir. Justamente por ter sido justificado pelo sangue de Jesus, ele sabe da sua luta que terá para conquistar o prêmio eterno. Ainda não chegou lá — a caminhada continua — as lutas são constantes (doenças, fome, desemprego, dúvidas na vida de fé) e, sobretudo a luta contra o próprio eu, que procura a sua liberdade, mas marginaliza o próximo.

4 — Ser cristão significa assumir responsabilidade — A fé precisa tornar-se ativa no amor desinteressado. Fé sem obras é morta. Não obras para conquistar um lugar na eternidade. Mas obras que assumimos pelo amor de Cristo. Quem se diz cristão, não fica parado. Sua caminhada está repleta pelo testemunho de sua fé em Jesus Cristo e pelo seu servir.

Quando se trata dos pontos básicos da nossa fé, não podemos vacilar nem retroceder. Mas quando, no relacionamento com outras pessoas, notamos que o bom andamento do evangelho está sendo prejudicado, aí temos que tomar atitudes condizentes com o evangelho. Pois não queremos ser escândalo para ninguém. É nosso desejo que muitos sejam ganhos para Cristo. Assim: querer ter razão a todo custo, ser orgulhoso, julgar sem amor, formar grupos elitistas — não serve para a caminhada do cristão.

V — Subsídios litúrgicos

1. Intróito: Diz o apóstolo Paulo: Não que eu o tenha já recebido, ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.

2. Confissão dos pecados: Eterno Deus e Pai! Colocamo-nos diante de ti como pessoas imperfeitas. Apesar de teres conquistado por nós a salvação, não vivemos esta realidade. Perdoa-nos pelo sangue de Jesus e anima-nos a caminharmos para alcançar o prémio da vida junto de ti. Amém.

3. Leitura bíblica: Mateus 20.1-16a.

4. Oração de coleta: Deus, nosso Pai! Agradecemos-te que tu queres dar a cada um o prémio da vida eterna. Agradecemos-te pelo conviver neste culto. Somos como teus filhos, pessoas que estão a caminho e que precisam vivera fé no seu dia-a-dia. Orienta-nos por tua palavra, a fim de compreendermos melhor a nossa responsabilidade nesta vida. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.

5. Oração final: Todo-Poderoso Deus! Elevamos nossas preces a ti, agradecendo-te por tua palavra transmitida através do apóstolo Paulo. Este nos mostrou que, apesar de tu teres feito tudo por nós, ainda estamos a caminho. A coroa eterna ainda não conseguimos. Assim fortalece-nos nas lutas e nas responsabilidades que temos para com o teu evangelho e para com as pessoas neste mundo. Ajuda-nos para desistirmos sempre de novo de nós mesmos, para vivermos para os outros.

— Interceder por pessoas que não são compreendidas e que esperam por alguém que se compadeça — tanto no sentido espiritual, como material, político, econômico e social.

VI — Bibliografia

- BAILER, A. Meditação sobre 1 Coríntios 9.24-27. In: CalwerPredlgt-Hilfen, v.12, Stuttgart, 1973.
- ____. Meditação sobre 1 Coríntios 9.24-27. In: Neue Calwer Predigt: Hilfen, v.2A, 2a ed.( Stuttgart, 1979.
- BAUER, G. Meditação sobre 1 Coríntios 9.24-27. In: EICHHOLZ, G. ed., Herr tue meine Lippen auf, v. 2, Wuppertal-Barmen, 1959.
- DOERNE, M. Meditação sobre 1 Coríntios 9.24-27. In: Die Alten Episteln, 2a ed., Goettingen, 1973.
- FUERST, W. Meditação sobre 1 Coríntios 9.24-27. In: Goettinger Predigt-Meditationen, Goettingen, 28(3):114-120, 1973.
- WENDLAND, H.-D. Die Briefe an die Korinther. In: Das Alte Testament Deutsch, v. 7,7a ed., Goettingen, 1954.


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Coríntios I / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 27
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1985 / Volume: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17765
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