Marcos 1.40-45

Auxílio Homilético

20/09/1987

Prédica: Marcos 1.40-45
Autor: Rosa Marga Rothe
Data Litúrgica: 14º.Domingo após Trindade
Data da Pregação: 20/09/1987
Proclamar Libertação - Volume: XII


I - Introdução

Marcos introduz na literatura universal o gênero do evangelho. O relato de curas milagrosas obedece o mesmo esquema formal helenístico utilizado pelos narradores gregos para tais fenômenos supranaturais.

O objetivo do autor de Marcos, entretanto, é mostrar que Jesus não é apenas um taumaturgo a mais. O próprio Jesus recusou este papel que a multidão queria lhe atribuir. Os evangelistas mostram que Jesus se afasta sozinho para enfrentar a tentação. A miséria é grande e o povo quer ser libertado de seu sofrimento. Jesus aparece profundamente humano a ponto de assimilar totalmente o sofrimento do irmão. Ele atende, ouve, vê, sente e age, sua missão, porém, não se resume em feitos extraordinários limitados a determinado espaço num curto período histórico, atingindo apenas um determinado povo.
Jesus é o Messias que vai se revelando aos poucos, sem se impor mas também sem fugir dos conflitos. Cada encontro é um desafio, uma oportunidade para romper com preconceitos e indagar pelo verdadeiro sentido da vida. Entretanto, a compreensão intelectual não basta para entender quem é Jesus e qual é a sua missão. Só entende quem adere incondicionalmente, assim como só nada quem larga a borda, sabendo que existe alguém que não o deixa afogar. Um novo tempo começou. As instituições humanas, principalmente aquelas que se escondem atrás da legalidade religiosa, vão sendo questionadas por Jesus. Sua radical oposição às forças do mal aumenta os conflitos porque subverte e inverte a ordem estabelecida. A singularidade de sua atuação vai se espalhando como notícia libertadora entre os excluídos, esquecidos, marginalizados, explorados, subjugados, oprimidos, mutilados, impotentes e isto tem como consequência a reação destruidora daqueles que temem por seus privilégios.

A grandiosidade da obra salvífica de Deus, através deste seu Filho, cujo caminho fora preparado por João Batista, vai se revelando na sua trajetória para a cruz. A ressurreição e o acontecimento de Pentecostes deixam claro, para aqueles que foram tocados por Jesus, que a cura, além de ser integral, abrangendo o ser humano em sua totalidade, é também universal. Deste modo, o escândalo não só continua, mas prolifera, não há quem possa impedir aqueles condenados que foram curados, a propagar esta maravilhosa notícia.

II - Considerações sobre o texto

Nos versículos anteriores já é mencionado que Jesus ensina com autoridade (vv. 22 e 27) e que sua fama se espalhou por toda a parte e todas as regiões da Galiléia (v. 28). Aos demónios (porque o conheciam) não lhes permitiu falar (v. 34). Enquanto a massa propaga seus feitos extraordinários, Jesus se retira para o contato com o Pai (v. 35). Seus discípulos o chamam de volta para a multidão, Jesus, porém, manifesta a necessidade de ir mais para a periferia e aldeias vizinhas (vv. 36, 38).

O leproso do nosso texto, embora vivendo confinado na periferia da periferia (cf. Lv.13), excluído do convívio familiar e social, deveria gritar impuro, impuro, para afastar qualquer contato, (Lv 13.45-46) aproxima-se. Aquele trapo humano que nos lembra a desfiguração da imagem de Deus descrita por Isaías 53.3ss, diante do qual, ao contrário de nós, Jesus não foge nem desvia o olhar, arrisca tudo para viver como gente. Sua carne está apodrecendo e ele não quer vegetar rumo à morte prematura, humilhante e dolorosa. Nascera destinado para a vida plena mas o mal lhe usurpara as forças, mutilando-o por dentro e por fora. O excomungado arrisca tudo que ainda lhe resta para ficar curado. Jesus interrompe seu caminho, deixa o contaminado se aproximar, vê seu estado, ouve sua súplica e se compadece.

O texto não fala em piedade caridosa mas em sofrer com o outro a dor dilacerante de um filho de Deus que se sabe perdido, vendo-se consumido lentamente, impotente e condenado.

O amor profundo de Jesus pelo semelhante manifesta-se acompanhado de uma ira santa contra os poderes do mal. A mão de Jesus que afaga e cura o leproso é a mesma mão que segura o chicote para expulsar os exploradores e purificar o templo. Sua profunda indignação diante do mal destruidor da vida fica visível em todos os sinais operados para evidenciar a supremacia do poder de Deus.

Entretanto, tudo aquilo, que está acontecendo ali agora, está dentro de um plano programado. O efeito multiplicador não poderá ser abortado. A compreensão daqueles acontecimentos só será possível quando Jesus tiver concluído a sua trajetória até à cruz. Quando ocorrer a Ressurreição, a morte terá perdido o seu poder. O Espírito do glorificado vivificará as testemunhas para anunciar, até os confins da terra, tudo o que o Filho de Deus ensinou, para chamar gente de todas as nações a participar na construção do Reino. Aqueles que antes estavam excluídos experimentarão uma nova vida e ensinarão com autoridade a inauguração de uma nova ordem que estará completa quando todo o mal estiver exterminado.

Isto tudo está implícito na cristologia de Marcos quando conta que Jesus manda o curado embora, ordenando-lhe que nada diga sobre o como da cura. O homem deve tomar todas as providências legais para ser reintegrado na sociedade. Para o curado porém é impossível ficar calado. A vida renovada que explode em seu peito extravasa por todos os poros, fazendo seu corpo todo se agitar. Antes de preocupar-se com o atestado legal de sua condição purificada, ele tem que partilhar os acontecimentos com todos aqueles que ainda estão em busca da libertação. Como consequência Jesus não pode mais aparecer publicamente, tendo que ficar em lugares desertos. Mesmo assim, de boca em boca, os desgraçados descobrem e divulgam seu paradeiro, mesmo que para isso tenham que inventar meios inusitados para chegar ao Salvador.

III - Situação de hoje

Enquanto estou trabalhando neste texto para mandar minha colaboração, já com bastante atraso, fui mais uma vez interrompida com uma notícia de morte, a do padre Josimo Morais Tavares. Conheci-o, menos de um mês atrás, durante a realização do Tribunal da Terra, promovido em Belém, pela Regional Norte II do Movimento Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. Josimo tinha 33 anos, era preto e pobre, simples e calado. Poucos dias antes havia escapado de um atentado a bala. Trabalhava na Paróquia de São Sebastião e também na CPT, na região chamada Bico de Papagaio no Norte de Goiás. Sua cor, seus trajes modestos, sacolinha pequena e puída (com mais papel do que roupa), chinelos gastos e jeito tímido, não o distinguiam dos lavradores que vieram testemunhar os mais horrendos assassinatos no campo. Na rodoviária logo se misturou em meio à multidão de depauperados que formam o quadro comum das estações do Norte e do Nordeste deste rico país.

As denúncias de Josimo que chegaram até à presidência da República tiveram como resposta duas balas pelas costas e a risada dos latifundiários organizados e respaldados.

No dia 10 de maio, véspera do dia das mães de 1986, à luz clara do meio dia quente de Imperatriz, os inimigos dos planos de Deus riscavam de sua lista mais um nome entre outros tantos...

No enterro do padre Josimo choraram muitas mães, viúvas e órfãos daqueles que nem foram notícia de jornal, muito menos destaque em manchete nacional. Os lavradores perderam um irmão, a Igreja Romana diz que ganhou um mártir enquanto se comove com as lágrimas do ministro e do secretário da CNBB. Josimo foi enterrado em Tocantinópolis porque o bispo temia novos conflitos diante da tensão reinante em São Sebastião. Cerca de 4.000 pessoas vieram de todos os lados e, entre cânticos de fé e lágrimas de dor, sepultaram aquele companheiro-irmão que testemunhou o seu Senhor até o último suspiro.

Em 1984 morreram, aliás foram assassinadas, 122 pessoas na luta pelo uso e posse da terra. Em 1985, primeiro ano da Nova República, este número cresceu para 261. Destes assassinatos mais da metade ocorreram no estado do Pará, seguindo-se o Maranhão em 29 lugar. Tudo indica que neste ano de 1986 a progressão será ainda maior. A União Democrática dos Ruralistas (UDR) não está medindo esforços nem selecionando os meios para eliminar qualquer elemento que contrarie ou atrapalhe o seu programa. Esta organização, além das milícias particulares, possui também forte influência econômica e política para eleger vários constituintes, através de métodos nada democráticos.

As famílias que este tímido plano de reforma agrária pretende assentar já estão assentadas, graças à própria organização solidária desses lavradores que, apesar da perseguição sistemática e dos assassinatos seletivos de suas lideranças, não desanimaram em confiar na justiça de Deus. No decorrer destes últimos 21 anos aprenderam a desconfiar da justiça dos homens à serviço de outros deuses. «Para o pequeno agricultor a terra continua sendo dádiva de Deus para alimentar as gerações presentes e futuras. Quando esta gente simples tem acesso à Bíblia, a leitura é feita a partir da perspectiva do oprimido. A mensagem decifrada ganha a plasticidade de fatos muito conhecidos. Velhas doutrinações são comparadas com aquela Palavra de Deus que fala dentro de suas vidas. E, como a Palavra de Deus é vida, ainda hoje acontecem curas. Os cegos passam a enxergar, os mudos a ouvir, os coxos a andar, os paralíticos saem do imobilismo e os leprosos (aqueles que tinham que ficar fora) assumem forma e característica de gente e há gente que quer viver, participar, partilhar, derrubar cercas e construir nova morada.

IV — Uma pequena retrospectiva

Nos últimos 25 anos aconteceram muitas coisas que para muitos ainda são difíceis de compreender ou de aceitar. Evidentemente não cabe aqui uma análise exaustiva que possa abranger todos os aspectos dos acontecimentos históricos de um quarto de século.

Desde a colonização do nosso continente havia um intenso intercâmbio com o velho mundo. Daqui para lá iam as riquezas e de lá para cá vinham as ideias. Assim aconteceu também na África e nos demais países hoje chamados de terceiro mundo. Tanto é que um africano cristão resumiu uma triste realidade da seguinte maneira: Quando o branco chegou aqui nós éramos os donos da terra e ele tinha a Bíblia. Hoje nós temos a Bíblia e ele tem as terras. Para responder aos desafios cada vez mais conflituados deste continente latino-americano cientistas, pedagogos e também teólogos viram a necessidade de analisar e rever dogmas e axiomas que vieram no bojo das importações ou no alforje do colonizador. Deste modo, ideias europeias foram sendo retrabalhadas a partir da perspectiva do colonizado. Quase simultaneamente surgia, na América Latina, a teologia da libertação e no Brasil um novo método pedagógico, conhecido hoje e no mundo inteiro com o nome de Paulo Freire. Ambos trazem, no seu cerne, uma semente que, através de remanescentes de vários povos escravizados, veio sendo plantada sem que impérios e ditaduras conseguissem neutralizar sua força multiplicadora. Conseqüentemente, o teólogo não é mais um mestre mas um servidor do seu povo e o pedagogo não é mais aquele que deposita fórmulas decoradas dentro de cabeças supostamente vazias. Ambos, teólogo e pedagogo, para que assim possam ser chamados, têm que aprender as experiências vividas pelo povo e, com a ajuda dos outros ramos da ciência, com o uso da tecnologia tem que descobrir e devolver causas e consequências, para serem trabalhados juntamente com este povo. À medida que o povo participa deste processo dialético ele vai se descobrindo como sujeito e agente transformador, exigindo espaço para participar nas discussões e decisões em todos os níveis. Deste modo as instituições desde a família patriarcal à igreja hierárquica até ao estado teleguiado pelo imperialismo passam pelo crivo crítico. A ideologia criada e veiculada pela classe dominante através de todas essas instituições de repente não encontra mais receptáculos tão passivos como nos séculos anteriores. Paralelamente ao crescimento da resistência popular frente a esta ideologia que em nada serve para seus interesses, os poderosos deste mundo se articulam para estudar novas estratégias e planejar táticas mais refinadas. Quando a guerra ideológica se mostra insuficiente para manter os povos domesticados, parte-se para a investida bélica de nações inteiras, ataque aos focos de maior resistência ou extermínio de suas lideranças. Entre as táticas ideológicas constam a apropriação do uso da linguagem popular, métodos e técnicas que já são frutos de um trabalho conjunto das bases com os intelectuais orgânicos.

Como exemplo bem claro disso temos o atrelamento de centros comunitários, sindicatos e partidos políticos ao Estado através do maciço investimento de recursos financeiros para as eleições de pelegos. Vemos também os esforços do Vaticano para esvaziar a teologia da libertação, retirando dela o fermento transformador e mantendo apenas seu invólucro já conhecido e aceito pelas comunidades eclesiais de base. As organizações de massa acima arroladas surgiram como instrumentos de oposição aos regimes autoritários dos últimos anos e, em parte, contribuíram para empurrar para fora do poder político o opressor imediato que era fácil de identificar por sua farda militar. Hoje entretanto já não é mais tão fácil esta tarefa da identificação do inimigo. O opressor está mais travestido do que nunca e capacitado para infiltrar os seus servidores no meio da massa ainda despreparada para este novo momento. Satanás não se conforma diante das sucessivas quedas de ditaduras militares na aldeia global. Agora ele compra, seduz e mantém cativo pelo complexo de culpa, pessoas e grupos que se contentam com uma parcela de poder.

Hoje, 17 de maio de 1986, eu faço a seguinte leitura da realidade: com o rótulo de cristão pendurado no pescoço, a coroa do privilégio na cabeça e o joelho dobrado diante dos ídolos, vejo os membros das diversas organizações da chamada direita, lançar a sua fúria sobre os preferidos de Javé e seu filho Jesus Cristo encarnado nestes. Vejo ingénuos e covardes que apesar de não concordarem com os planos de morte, mas que acabam prestando bons serviços para a execução dos mesmos. Estes quiseram de Jesus apenas uma cura espiritual para salvar a própria alma. A cura integral os assusta pois implica uma adesão incondicional à causa deste Jesus que insiste na vida plena para a pessoa toda e para toda as pessoas. Vejo o ministro para Assuntos Fundiários prestar-se para ser menino de recado entre o governo Sarney e a Igreja Romana, assim como o presidente da república, gastando suas energias no complicado malabarismo entre as oligarquias nacionais e o imperialismo transnacional, coordenando seus movimentos para poder jogar, no momento adequado, um e outro pacotinho de bombom e assim engabelar as barrigas que roncam ruídos desagradáveis.

Vejo ainda as organizações chamadas de esquerda incorporando em suas práticas, métodos e ideias assimiladas no decorrer de um período histórico já passado , investindo, desse modo, mais em digladiações mútuas do que na aglutinação de forças para fazer frente às manobras mortíferas.
Enquanto isso a maioria do povo continua vivendo que nem animal amestrado e no espetáculo circense não falta a batuta do maestro dirigindo a antiga marchinha Pra frente Brasil, como também não faltam os animadores devidamente providos de uma alegre maquilagem que lhes confere um largo sorriso, para puxar o refrão tem que dar certo.

V - O que Jesus quer de nós hoje?

Certamente ele não quer que sejamos distribuidores de anestésicos. Se a sua indignação contra o mal não está presente também no nosso dia-a-dia, então não somos os seus seguidores. Se nós não somos impulsionados pelo desejo do partilhar a vida renovada com aqueles excluídos que encontramos no caminho pa¬ra o templo, então ainda não fomos curados. Se não buscamos a cura integral então também nós vamos atrás de paliativos e sedativos.

Mas Jesus está disposto a nos curar e para isto será muito útil entrarmos em sintonia com a rádio cipó através da qual o povo transmite o seu paradeiro e as manifestações sobre as curas realizadas. Se estivermos atentos iremos verificar que, mesmo sendo proibido aparecer em público, ele continua ensinando com autoridade e curando os miseráveis, porque é dele o senhorio. Seus ensinamentos e o testemunho dos curados continua subvertendo a ordem estabelecida. Vamos perceber também que o crucifixo que ainda está pendurado nas salas de torturas e de júris infames, na verdade não tem mais o corpo que as forças do mal gostariam de ver pregado ali com segurança. O corpo do crucificado, desde a Páscoa não pode mais ser aprisionado por poder nenhum, ele rompeu com todos os limites, estando dentro e no meio daqueles que estão empenhados na construção do Reino.

VI - Pistas para a prédica

Nos cultos realizados em Belém, introduzimos a prédica dialogada. Uma equipe prepara o culto e reflete sobre o texto bíblico a ser apresentado. Prepara¬mos um roteiro com uma série de questionamentos para meditar em conjunto so¬bre a mensagem para dentro do nosso contexto, desde o particular até o mais ge¬ral. Animamos os presentes para indicar pistas de atuação e, somente depois dis¬so é que celebramos a parte da liturgia referente à confissão de culpa dos pecados pessoais e coletivos, para em seguida, renovarmos a nossa confissão de fé e for¬mular a oração de intercessão.

Sugestão para a ficha-roteiro

1) Quem são os leprosos da nossa realidade?

2) Quem são os inimigos do Reino que mantêm tantos dos nossos irmãos excluídos da vida plena?

3) Quem são e como agem os adoradores de ídolos?

4) Onde é que estamos nós, como igreja de Jesus Cristo que queremos ser em nosso país?

5) A igreja que conhecemos favorece ou atrapalha a cura?

6) Podemos afirmar que entre nós se ensina com aquela autoridade que faz com que os marginalizados se aproximem?

7) Estamos dando sinais de cura? como, quando e onde?

8) Como vamos fazer para chegar à cura integral?

9) O texto pode fornecer-nos algumas pistas?

10) Que posicionamento teriam os profetas do povo de Israel diante de organizações como por exemplo a UDR?

11) Que outras organizações similares conhecemos?

12) Que podemos fazer frente a elas?

13) Qual é a cura que Jesus quer operar por nosso intermédio?

VII - Subsídios auxiliares

Dentro e em volta de cada comunidade existem excluídos como o leproso; no Brasil, na América Latina e nos países do terceiro mundo eles formam a grande maioria da população. Há os que foram excluídos pelo pecado capital e há os que se excluem por não conseguirem aceitar a reconciliação oferecida por Jesus Cristo. Há também os mensageiros da Boa Nova que anunciam a cura experimentada e não podem conservar isto somente para si. Apesar das proibições eles são impelidos à partilha. Há os que gritam por socorro e há os vencidos pelo desânimo que já nem gritam mais, acomodados que estão à escravidão e convencidos que foram de que esta é a vontade de Deus. Há ainda os excluídos entre os excluídos como por exemplo as mulheres, os velhos e as crianças das camadas marginalizadas por sua condição econômica, étnica, religiosa, cultural, etc. que duplica ou triplica o seu sofrimento.

VIII - Subsídios litúrgicos

1. Canto: SEU NOME É JESUS CRISTO

Seu nome é Jesus Cristo e passa fome
e grita pela boca dos famintos,
e a gente quando o vê passa adiante,
às vezes pra chegar depressa à igreja. S
eu nome é Jesus Cristo e está sem casa,
e dorme pelas beiras das calçadas,
e a gente quando o vê aperta o passo,
e diz que ele dormiu embriagado.

Entre nós está e não o conhecemos,
Entre nós está e nós o desprezamos, (bis)

Seu nome é Jesus Cristo e é analfabeto,
e vive mendigando um subemprego,
e a gente quando o vê diz: é um A-TOA,
melhor que trabalhasse e não pedisse.
Seu nome é Jesus Cristo e está banido,
das rodas sociais e da igreja,
porque dele fizeram um rei potente,
enquanto que ele vive com o pobre.

Seu nome é Jesus Cristo e está doente,
e vive atrás das grades da cadeia,
e nós tão raramente vamos vê-lo,
sabemos que ele é um marginal.
Seu nome é Jesus Cristo e anda sedento
por um mundo de amor, de justiça,
mas logo que contesta pela paz,
a ordem o obriga a ser de guerra.

Seu nome é Jesus Cristo e é maltrapilho,
e vive nos imundos meretrícios,
mas muitos o expulsam da cidade,
com medo de estender a mão a ele.
Seu nome é Jesus Cristo e é todo homem,
que vive neste mundo ou quer viver,
pois pra ele não existem mais fronteiras,
só quer fazer de nós todos irmãos.

2. Confissão de culpa: Senhor Jesus, tu nos enviastes para aluarmos dentro deste mundo e chamaste-nos para o engajamento em favor dos nossos semelhantes. Nós porém temos preferido refugiar-nos em esferas celestiais. Corremos atrás de seguros espirituais e materiais, preocupados que estamos com a própria salvação. Dizemo-nos cristãos mas estamos aprisionados pelo medo. Padecemos de cegueira, surdez, mudez e paralisia. Pouco ou nada temos feito para eliminar do nosso meio as estruturas de dominação e de exploração. Não podemos negar a nossa convivência e participação na marginalização dos nossos irmãos. Ainda estamos muito longe de seguirmos o exemplo daquele leproso curado. Mas, tu Senhor, podes curar também a cada um de nós e purificar o templo de Deus. Compadece-te também de nós que aqui te suplicamos. Amém.

3. Oração de coleta: Guarda-nos, Senhor, do isolamento que excomunga. Ensina-nos a partilhar tudo o que de tuas mãos recebemos. Não permitas que nos sintamos satisfeitos quando temos tudo o que falta na casa de tantos dos nossos irmãos. Abre os nossos olhos para que consigamos enxergar-te na figura de todos os excluídos desta sociedade. Acende em nós a chama ardente do teu amor que é capaz de sofrer e de alegrar-se com o outro. Dá-nos novo impulso para que saibamos opor-nos a todo tipo de injustiça. Capacita-nos para que saibamos assumir a vida oferecida mediante a tua morte na cruz para que sejamos de fato testemunhas da tua Ressurreição. Amém.

4. Subsídios para a oração final: Solicitar à comunidade para que interceda pelos casos conhecidos de pessoas perseguidas, excluídas, mantidas na escravidão; pela paz com justiça; por uma reforma agrária que atenda às reais necessidades do nosso povo e em conformidade com o plano de Deus; por força e coragem para conquistá-la; pelo crescimento da ação solidariamente organizada entre todos os marginalizados; pelo extermínio das raízes de todo o mal; por uma re-educação em todos os níveis em torno dos mandamentos do amor cristão; pela presença visível de Cristo em nosso meio que cura e purifica pessoas e organizações fazendo ruir as estruturas injustas para a edificação do Reino de Amor. Amém.

IX - Bibliografia

- WEBER, B. Meditação sobre Mc 1.40-45. In: KIRST, N., coord. Proclamar Libertação, v. VI. São Leopoldo, 1980.
- WEISER, A. O que é milagre na Bíblia. São Paulo, 1978.


Autor(a): Rosa Marga Rothe
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 15º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 40 / Versículo Final: 45
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1986 / Volume: 12
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17866
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É isto que significa reconhecer Deus de forma apropriada: apreendê-lo não pelo seu poder ou por sua sabedoria, mas pela bondade e pelo amor. Então, a fé e a confiança podem subsistir e, então, a pessoa é verdadeiramente renascida em Deus.
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