1 Timóteo 2.1-8

Auxílio Homilético

11/10/1992

Prédica: 1 Timóteo 2.1-8
Leituras: Amós 8.4-7 e Lucas 16.1-13
Autor: Josias Kippert
Data Litúrgica: 18º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 11/10/1992
Proclamar Libertação - Volume: XVII


1. Introdução

A carta nos informa que o apóstolo é seu autor (1.1). No entanto, as investigações científicas mostraram que tal fato deve-se à necessidade que o verdadeiro autor sentiu de usar a autoridade apostólica de Paulo para que sua epístola fosse aceita. Ele conhece a teologia paulina e dela faz uso e, muitas vezes, escreve como se Paulo mesmo estivesse escrevendo (2.8).

Na verdade, temos diante de nós uma carta pseudo-paulina, que surgiu numa época pós-paulina, provavelmente, no fim do século I. Numa época de perseguição aos cristãos. O que precisava ser dito naquele momento foi dito como palavra de Paulo.

Além disso, nos é dito em 1.2 que ela se destina a Timóteo, pastor da Ásia Menor, fiel seguidor (1.2), colaborador (l Co 4.17s.; 16.10s.), amigo de confiança (Fp 2.19-23) de Paulo. Neste sentido, também Timóteo tinha autoridade. É como se dissesse: se Timóteo recebe e aceita tais instruções, todas as autoridades das comunidades devem seguir estas orientações para organizar a vida eclesiástica das primeiras comunidades cristãs.

2. Texto

V. 1: A perícope para a pregação é uma das múltiplas orientações que as cartas pastorais (l e 2 Tm, Tt) enviam aos dirigentes das comunidades gentílico-cristãs. Aqui se lhes pede que zelem para que se ore em favor de todas as pessoas. A oração dos cristãos jamais poderá privilegiar um determinado grupo. Este caráter universal se baseia na ação salvífica de Deus que é universal: O Mediador se deu em resgate por todos (v. 6).

A introdução, antes de tudo, denota a relevância da oração para a vida da comunidade cristã. Antes de qualquer outra prática deve vir a oração. Conforme J. Jeremias, Teologia do NT, p. 283, o mundo helenístico não tinha costume de orar. Precisamos imaginar comunidades compostas, essencialmente, por gentios-cristãos que não oravam com a mesma frequência que as comunidades judaico-cristãs. Por isso, surge a necessidade de incentivar a oração.
Assim, também se explica o uso de diversos termos com o mesmo significado: súplicas, orações, intercessões e ações de graça. Aqui o termo específico para designar orações é proseuchas. Súplicas, intercessões e ações de graça devem ser entendidos como sinônimos com clara intenção de sublinhar a prática da oração. Ela deve acontecer antes de tudo.

V. 2: Este versículo lembra que a universalização deve ser tal que abranja também o imperador (Domiciano?) e todos os que possuem algum poder sobre os civis (governadores, procuradores, oficiais do exército, soldados...), sem considerar sua religião ou conduta. É possível imaginar que havia cristãos que odiavam estas pessoas. Muitos foram perseguidos ou tinham parentes assassinados. Esses, provavelmente, não conseguiam incluir os reis e autoridades em suas preces. Certamente, preferiam vê-las condenadas ou mortas. Acredito que a necessidade de chamar a comunidade para orar em favor de seus governantes se deve a tal sentimento. É necessário orar sem ira e sem animosidade (v. 8), ainda que se trate de inimigos. O próprio Cristo diz: ... orai pelos que vos perseguem (Mt 5.44b).

Tal postura aparenta verdadeira legitimação do Estado. No entanto, o autor não quer incentivar as comunidades a se submeterem à perseguição religiosa ou a legitimarem o modo de produção escravagista da época. Mesmo porque seu intento imediato não é a conversão do Estado, exclusivamente. A oração da comunidade deve visar, em primeiro plano, o seu próprio bem-estar: ...para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda a piedade e respeito. E vida tranquila e mansa não quer designar apenas liberdade religiosa. Para existir tranquilidade e paz é necessário que também economicamente a vida esteja equilibrada. Assim, ora-se também pelo fim do sistema classista senhor X escravo. De maneira que, a oração tinha uma conotação política antiestatal.

A estratégia que a comunidade devia usar para obter tal fim era um bom relacionamento com as autoridades. Acredita-se que através da prática incessante da oração é possível reverter a situação em benefício da comunidade cristã que se encontra em situação desprivilegiada diante do poder estatal.

V. 3: O pronome isto é uma indicação geral. Se refere à prática da oração. Naquele momento histórico era correio orar em favor de todos, também pelas autoridades, a fim de que Deus desse uma nova direção nos acontecimentos. Esse jeito de orar é bom e aceitável de Deus nosso Salvador.

V. 4: É lembrado aos dirigentes das comunidades que Deus quer salvar todas as pessoas e fazê-las conhecer a verdade. Assim como Deus quer que se ore por todos, Ele também quer que todos sejam salvos, também as autoridades políticas. É rechaçada a ideia de exclusivismo na obra salvífica de Deus. Não é possível eleger grupos ou indivíduos. Vida tranquila só é possível se o Estado conhece a verdade. Além de mostrar a vontade de Deus, também é apontada para a tarefa missionária da comunidade: propagar a verdade entre todos. Neste sentido, este versículo traz uma nova ideia: além de orar por todos é preciso levar a verdade, o caminho da salvação a todos.

Vv. 5-6: A verdade que todos devem conhecer é de que existe só um Deus, um Cristo e um Mediador. Só Cristo é o Mediador, porque só Ele se deu em resgate por todos. É apontado que Cristo era humano e divino. Essa teologia é a mesma de Fp 2.5ss.: O Jesus que se humilhou, tornou-se servo e assumiu a humanidade. É por causa dessa verdade que se pode orar por todos e esperar salvação e vida tranquila e mansa. Essa verdade deve ser anunciada em termos oportunos: sempre quando for necessário; sempre quando o povo sofre por causa de um esta-do que desconhece.

V. 7: O autor fala como se Paulo tivesse escrito o acima exposto. Já sabemos que está estribado na autoridade paulina, a fim de que não seja contestado. Na verdade, em nenhuma passagem autêntica, Paulo se denominou mestre dos gentios na fé e na verdade. Trata-se de um conceito que o autor e o grupo por ele representado formou posteriormente.

V. 8: Novamente aparece uma orientação quanto à prática da oração. Fala-se sobre o lugar e o jeito de orar.

Na generalização do lugar, transparece um conflito com o mundo judaico. Os judeus tinham o costume de orar três vezes ao dia, preferencialmente no templo. Certamente, o assunto foi discutido na comunidade cristã. Diante disso, os cristãos são orientados a orarem em todo lugar, também nas celebrações feitas em casas de famílias.

Em seguida, o autor adverte que ao orar a pessoa deve levantar mãos santas, sem ira e sem animosidade. Deve se imaginar a pessoa orando de pé e com as mãos erguidas para o alto, gesticulando o recebimento do que é pedido. E levantar mãos santas significa que o indivíduo deve orar sem contendas. Ele deve orar pelos inimigos (autoridades que matam e escravizam) sem ódio. A oração só tem eficácia quando a paz reina entre as pessoas. Cristo diz que, se alguém ora e tem contendas, deve perdoar para que Deus lhe perdoe (Mc 11.25).

O outro detalhe que aparece é problemático para a sociedade, hoje. O autor se dirige somente aos homens. As mulheres devem calar-se (11). É um costume proveniente do judaísmo com o qual o incipiente cristianismo não conseguiu romper. As mulheres não podiam falar nem orar em voz alta nas sinagogas durante a adoração pública. Este costume é transladado para o seio cristão. Infelizmente é uma realidade: o texto é essencialmente machista. Esse detalhe não deveria ser abordado ao pregar sobre o texto em análise. Merece um estudo à parte. Textos que ajudam: Gl 3.28; Gn 21.9-21; Jz 4 e 5; Lc 10.38-42.

3. Meditação

O texto em apreço chama a comunidade para orar. Sublinha a importância da oração para a caminhada diária do cristão, a fé, a comunidade e a Igreja. Coloca a oração em primeiro lugar. Ela deve acontecer antes de tudo. Nem a comunidade nem o indivíduo possuem vida se não orarem.

A oração não pode ser excludente. Ela deve ser em favor de todas as pessoas. Assim como Deus quer salvar a todos e quer que todos conheçam a verdade (um só Deus e um só Cristo, o Mediador). Ele também quer que nós oremos por todos. Deve-se orar pelos grandes e pequenos, opressores e oprimidos, ricos e pobres, homens e mulheres, governantes e governados, não para legitimar a injustiça no mundo, mas para que todos conheçam a justiça de Deus; para que todos tenham vida tranquila e mansa, qual seja: casa, terra, salário justo, escola, governo justo e tudo o que pertence às necessidades da vida.

Por fim, ensina que todo sentimento contrário à vontade de Deus, que pode trazer injustiça, anula a efetividade da oração. Deus não atende àquele que ora com o coração cheio de ódio, de contendas, de rivalidades, de cobiça. É preciso orar pelos inimigos e pelo Estado com fé e esperança, porque Deus tem poder de transformar o que os pequeninos não conseguem mudar. Ele destruirá os que roubam, exploram e escravizam o pobre (Am 8.4-9). É preciso orar com essa fé. Isso é bom e agradável a Deus.

A verdade é que pregamos para comunidades tradicionais com cultos que obedecem determinada ordem; que em sua grande maioria só participam nas orações fixas. Raras vezes alguém participa, de forma espontânea, em outros momentos da celebração. São comunidades que seguem costumes com raízes muito longas e densas.

Na vida diária, em geral, os luteranos oram pouco. Há muitos que dizem não saber orar e outros que ainda acreditam que Deus ouve melhor a oração feita pelo pastor. Há os que usam o ora et labora como subterfúgio para não orar. O texto diz que orar é bom. É bom porque Deus ouve a oração.

4. Esquema para prédica

1. Constatar os momentos de oração da comunidade e o espaço que ela, em geral, ocupa na vida comunitária e pessoal. Analisar as constatações.

2. Mostrar que o texto convida a orar; põe a oração em primeiro lugar na celebração e na vida pessoal. Alertar que a oração deve ser universal, assim como a vontade salvadora de Deus; alertar que se deve orar pelos governantes para que haja justiça, para que o povo tenha tudo o que é necessário à vida. Sublinhar este aspecto ideológico. Mostrar que esse jeito de orar é bom diante de Deus; Ele atende aqueles que o buscam (Am 8.4-9).

3. Desafiar a comunidade para participar nas orações durante as celebrações e orar individualmente. Não só orar na Igreja. Sublinhar que sua oração deve ser política. Oração política exige ação missionária.

5. Bibliografia

DAUTZENBERG G. et SCRINER, J. Forma e Exigências do NT. São Paulo, Edições Paulinas, 1977.
JEREMIAS, J. Teologia do NT. 2. ed., São Paulo, Edições Paulinas, 1980. BROX, N. Cartas Pastorales. Barcelona, Editora Herder, 1974.


Autor(a): Josias Kippert
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 18º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Timóteo I / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1991 / Volume: 17
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17995
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