Marcos 1.29-39

Auxílio Homilético

08/02/2009

Prédica: Marcos 1.29-39
Leituras: Isaías 40.21-31 e 1 Coríntios 9.16-23
Autor: Günter Adolf Wolff
Data Litúrgica: 5º. Domingo após Epifania
Data da Pregação: 08 de fevereiro de 2009
Proclamar Libertação - Volume: XXXIII


1. Introdução

O texto já foi trabalhado por Roberto Zwetsch no PL 28 (p. 87-99). Ele apresenta a dinâmica básica da primeira comunidade cristã: ensino
(catequese) – v. 29, que é seqüência do texto anterior, em que Jesus ensina na sinagoga (cf. v. 21); serviço (diaconia) – v. 31; e pregação (palavra) – v. 38-39.
A sinagoga é o espaço que Jesus usa para expressar a fé. Depois ele sai para combater demônios, curar, ensinar, pregar, orar, expressar a vida e a realidade e também mudá-las.

Jesus vence o mal: doenças e demônios. Suas curas são manifestações do reino e do poder que quer restaurar a vida das pessoas e libertá-las do poder do mal que as domina. Hoje nós somos convidados a participar desse processo de libertação das pessoas do poder do mal, encarnado nas causas que geram a doença, e a lutar contra os poderes demoníacos, representados pelas muitas facetas e manifestações do sistema capitalista, que usa até as igrejas e o evangelho de Jesus Cristo para se perpetuar. É nesses gestos de libertação que vai se revelando que Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo. Hoje não precisamos mais esconder que Jesus é o Messias que liberta e luta contra o poder do mal. Hoje Jesus convida seus discípulos e discípulas para sair de suas casas e participar da pregação e construção do reino de Deus, que inclui a luta contra os demônios modernos: a essência do mal – o capitalismo, que é a causa da maioria das doenças e que está pronto para acabar com a vida no planeta Terra por meio do aquecimento global.

1.1 – Leituras

A libertação, por parte de Deus, do sofrimento, da doença e da escravidão perpassa os três textos. Isso precisa ser anunciado.

Isaías 40.21-31:
O profeta pergunta se o povo já esqueceu o que lhe havia sido anunciado: que Deus é o Senhor todo-poderoso, criador do céu e da terra. Deus dá força aos enfraquecidos. Fala isso aos escravos na Babilônia, que por causa do sofrimento estão perdendo a esperança. Há saída para o sofrimento das pessoas, pois Deus anula o poder dos príncipes e dos juízes, pois são mortais.

Isaías lembra que os impérios são passageiros; eles sobem e desaparecem, mas Deus permanece, assim como permanece seu projeto de vida plena e livre. Deus vai fazer desaparecer o sofrimento que a realidade impõe às pes- soas. Deus dá força para resistir na opressão e contra a opressão, pois ela não é eterna, mas passageira.

1 Coríntios 9.16-23:
“Ai de mim se não pregar o evangelho!” Esta é nossa tarefa e ela está conforme o texto de Marcos 1.38: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim”. O evangelho do reino de Deus exige o trabalho missionário, ele desaloja e desestabiliza. A questão é procurar as pessoas dentro de sua realidade e a partir de sua realidade. Isso exige do missionário humildade e saber fazer análise da realidade, pois o evangelho não se impõe, mas parte da realidade das pessoas. Exige respeito à sua cultura e situação concreta. Ir ao encontro e em busca das pessoas é a exigência do evangelho; nunca com arrogância de quem se sabe salvo, mas com humildade: “Fiz-me fraco para com os fracos, a fim de ganhar os fracos”. Esta é a liberdade cristã: mobilidade, versatilidade e humildade. Buscar as pessoas para que o evangelho as liberte.

2. Exegese

2.1 – Ensino

O ensino acontece no sábado na sinagoga. Logo após, é realizada a cura da sogra de Pedro. Jesus anuncia o reino por meio de palavras e ações. O papel de Jesus é transformar a realidade, mudando-a pela transformação da mente das pessoas (Rm 12.2) – o ensino – e pela transformação da doença em saúde e vida plena – curas. Jesus ensina através das curas e da expulsão de demônios que o reino de Deus já chegou.

A sogra está doente, com febre. Será porque ela se preocupou com o fato de que Pedro resolveu seguir Jesus? Quem vai suprir a família se o genro vai acompanhar o mestre? Será doença psicológica? Não se sabe. Apenas se sabe que, após curada, ela passa a servir a todos os presentes.

Jesus ensina e cura nas sinagogas. Usa o espaço religioso, que é parte da causa da miséria, da doença e do sofrimento, pois era aliado do poder romano; era usado pelos romanos para oprimir e calar qualquer resistência; era aparelho ideológico do Estado. Na Antigüidade, a base da sociedade era a religião. O país vencedor colocava nos templos dos vencidos os seus deuses para mostrar quem manda política, econômica, cultural e religiosamente. Jesus começa a transformar essa base religiosa e a subverter essa base religiosa, pois com isso atingia toda a estrutura social, política, cultural e econômica. A religião, a política e a economia sempre estiveram interligadas. Por isso os demônios querem falar e dizer que Jesus é o Messias, pois ele representa um perigo para essa sociedade doente. Daí dizem no v. 24: “Vieste para perder- nos?”.

2.2 – Cura e serviço

“Tomou-a pela mão; e a febre a deixou, passando ela a servi-los.” Isso lembra Marcos 15.41: um grupo de mulheres seguia Jesus e servia (diaconia). A cura é a nova vida que a sogra de Pedro recebe. Contato com Jesus traz nova vida e um novo compromisso de servir. A ação de Jesus – a cura – produz pela gratidão o serviço ao próximo, que é a forma do discipulado da mulher (Mc 15.41; Lc 8.3; Jo 12.2; lembra ainda o servir em Mc 9.35; 10.43). Jesus é mais livre do que os rabinos, que diminuíam o serviço das mulheres que serviam a mesa. Deus nos serve, e nós servimos aos outros. Martim Lutero diz que nós somos que nem um cano pelo qual passam as bênçãos de Deus, que são repassadas aos outros. Não somos bacia que retém e acumula tudo o que recebemos de Deus. Jesus pega na mão, toca fisicamente as pessoas – o contato do calor humano e divino cura. Vemos isso nos textos a seguir:
Tiago 5.14 diz: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor”.
Atos 28.8 diz: “Aconteceu achar-se enfermo de disenteria, ardendo em febre, o pai de Públio. Paulo foi visitá-lo, e, orando, impôs-lhe as mãos, e o curou”.
O texto não fala de qualquer pedido para que Jesus cure a sogra de Pedro. Jesus faz isso espontaneamente. Mateus 6.32 diz que Deus sabe do que necessitamos sem que precisemos falar.

V. 32 – “À tarde, ao cair do sol”. Está terminando o dia de sábado; as pessoas vêm trazendo os doentes mesmo contra a tradição de não realizar qualquer serviço no sábado (trazer doentes e caminhar muito era considera- do trabalho). O povo já está quebrando as tradições e tabus do judaísmo. Lucas 13.14 aponta para essa questão: “O chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, nesses dias para serdes curados e não no sábado”. Para os sofridos e oprimidos só há uma saída: o contato com Jesus e o evangelho do reino de Deus. Eles afluem de todos os cantos. Isso quer apontar para o centro da fé e da salvação: Jesus. Antes a doença e os demônios eram o centro de suas existências; agora são Jesus e sua libertação plena.

2.3 – Expulsão dos demônios

No v. 33 diz: “Toda a cidade estava reunida à porta”. Cura e expulsão de demônios como ato de justiça, pois a porta da cidade era o local para fazer justiça, o local do tribunal. Com a cura se julgam também as raízes da doença e da possessão demoníaca, pois são afastados e eliminados. Ali, na porta, Jesus não deixa os demônios falarem que ele é o Messias. Somente a ressurreição vai revelar isso. O poder do mal já sabe quem é Jesus. É a luta de Jesus contra o mal. Jesus vence o mal pelas curas, aos poucos, e por fim vence o mal e a morte pela ressurreição. Somos desafiados a combater e calar os demônios, assim como Jesus o fez. Os demônios trazem o sofrimento e a doença, e Jesus traz a cura e a vida plena. Temos que ver quem são os demônios hoje que trazem doença, sofrimento, escravidão e diminuição da vida. Para mim, é a estrutura do sistema capitalista que traz tudo isso e que por isso precisa ser combatida e eliminada. O demônio maior hoje é o sistema capita- lista, que precisa ser calado e eliminado.

2.4 – Oração

Jesus ora. Jesus retira-se para falar com o Pai para a reflexão e avaliação de sua missão. Martim Lutero usava boa parte do dia para a oração, o que lhe deu forças para enfrentar o sistema dominante da época. Dizia que hoje havia muito trabalho e que por isso precisava dedicar mais tempo à oração. A função da meditação e da oração é preparar-se para a ação concreta de transformação do mundo a partir do evangelho do reino de Deus. A oração tem em vista a ação concreta; não é fuga da realidade. A oração leva-nos ao confronto com a realidade que precisa ser mudada pelo evangelho. A oração motiva-nos para a luta e não para a acomodação e a alienação.

2.5 – Segredo messiânico

Esta é uma característica teológica de Marcos: esconder que Jesus é o Messias, pois isso apenas será revelado na Páscoa. Esse Messias só se consegue compreender totalmente na Páscoa com sua ressurreição.

2.6 – Tarefa

V. 38 – “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que eu pregue também ali, pois para isso é que eu vim” (Lc 4.43 também fala isso). É o desafio da missão. Fé em Jesus como tarefa essencialmente missionária de procurar os outros e anunciar o evangelho do reino de Deus, que confronta o sistema deste mundo que traz doença, injustiça e sofrimento. Não dá para ficar tranquilo no seu canto, pois a tarefa do reino nos desaloja de nosso comodismo e conformismo. O reino precisa ser tornado visível.

3. Meditação

A realidade de hoje é apontada pelo texto.

3.1 – Ensino

O grande desafio e tema na igreja e no movimento popular e sindical é a formação de lideranças capazes de intervir na história e na realidade para transformá-la. Há uma necessidade urgente de capacitar jovens para que tenham aptidão de intervir na história. O Plano de Ação Missionária da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (PAMI) 2008-2012 coloca a for- mação como parte principal da evangelização.

3.2 – Não deixar os demônios de hoje falarem

Temos uma religião demoníaca no sentido de transformar a fé no Jesus que liberta em ópio do povo (Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel, Karl Marx). Uma religião que dá respaldo à ideologia da classe dominante a serviço do imperialismo. Uma religião que se deixa usar como aparelho ideológico do Estado. Os demônios falam hoje por meio da imprensa conservadora, de programas religiosos da TV e perpassam toda a vida da sociedade. Os demônios falam através das igrejas que entram na concorrência do mercado religioso. O termo “mercado religioso” já é uma aberração e um insulto ao evangelho, pois ali não é Jesus o centro, mas a igreja. Vende-se religião; vende-se Jesus Cristo. Vale lembrar novamente o que Napoleão Bonaparte falou da religião:

No que me toca, eu não vejo na religião o segredo da encarnação, mas o segredo da ordem social: A religião empurra a ideia da igualdade para o céu, o que impede que os ricos sejam massacrados pelos pobres. A religião é como uma espécie de vacinação, consequentemente uma vacina que sempre beneficia os charlatões e vilões, pelo fato de satisfazer a nossa queda pelo milagroso. Os sacerdotes são mais valiosos do que muitos Kants e todos os sonhadores alemães. Como se pode manter a ordem num Estado sem religião? A sociedade não pode subsistir sem uma desigualdade das riquezas, relativamente, de bens, e a desigualdade das riquezas, relativamente, de bens, não pode subsistir sem a religião. Se uma pessoa morre de fome enquanto que seu vizinho nada em fartura, então lhe é impossível achar uma explicação para essa desigualdade, se não há uma autoridade que lhe diz: Deus quer que assim seja; tem que existir ricos e pobres no mundo; mas na eternidade finalmente tudo será dividido de maneira diferente (CASALIS, Georges. Methodologische Überlegungen zu einer Theologie der Befreiung für Westeuropa. In: Geschichte – Theorie – Praxisberichte. ChristInnen für den Sozialismus 5. ed. Münster, 1992. p. 77).

Diz no PAMI 2008-2012:

A ética de algumas dessas igrejas é baseada na teologia da prosperidade e na batalha espiritual. A “vontade de Deus” é que seus filhos e filhas prosperem na vida, aqui e agora, de modo que toda a prosperidade é bênção de Deus e sinal de fé. Ao mesmo tempo, o crente precisa ser fiel e combater os espíritos do mal que o atrapalham ou o impedem de receber as bênçãos divinas. Deus dá a prosperidade como sinal de sua bênção para o fiel que a mereça participando do mercado religioso e esforçando-se para vencer satanás.
Apropriando-se de modos midiáticos de apresentar as suas mensagens, novas igrejas instituem novos modos de ser religioso, onde ser cristão é participar do mercado de produtos religiosos, com características do mercado secular de produtos culturais. Ou seja, comprar um CD de música gospel, ou ler um romance “cristão”, ou, ainda, assinar uma revista feminina religiosa, é o que torna o crente um “verdadeiro cristão”.
Como parte das necessidades concretas é forjada pela ilusão da liberdade de escolha, os produtos religiosos nem sempre são tão distintos. O que muda substancial- mente é a forma como as pessoas se apropriam deles. Nesse sentido, as pregações procuram falar mais à emoção e sintonizar-se com a cultura do ouvinte, o que não quer dizer, absolutamente, que nas novas igrejas não haja pregações fundamentalmente bíblicas e evangélicas. A emoção e a cultura embutidas no ‘novo’ discurso fazem a diferença.

Temos que calar os demônios dentro de nós (assim como Jesus fez no v. 34: “não lhes per mitindo que falassem”), que nos dizem para não evangelizar e não combater o sistema deste mundo mantido por eles. Os demônios de hoje também sabem do poder do evangelho de Jesus Cristo quando anunciado; por isso eles nos ameaçam quando os combatemos. Os demônios estão no meio e dentro de nós. Eles precisam ser expelidos. A igreja está cheia deles. Só o poder de Jesus pode combatê-los. Esse poder nos foi dado no Batismo.

3.3 – Doença

Somos um povo doente, atingido por epidemias como o câncer, a dengue e a malária; sem contar os acidentes de trânsito que matam 40 mil pessoas por ano, a maioria jovens. O evangelho quer ir à raiz da doença, da violência que não é somente o pecado humano individual, mas é fruto do sistema capita- lista também. Temos saúde e por isso servimos, é automático – é o que nos mostra a sogra de Pedro. O dom da saúde capacita-nos ao serviço. Saúde como dom de Deus para servir ao reino. Ter saúde e não servir é rebelar-se contra o reino e negar a bênção da saúde que Deus nos tem dado.

3.4 – Diaconia

Diaconia é o serviço que prestamos por ter sido salvos por graça e fé. A sogra de Pedro foi curada e começou a servi-los. Nós fomos curados de nossos pecados e por isso servimos à medida que nos engajamos no processo de transformação e combate aos pecados estruturais de nossa sociedade, que geram a doença, a opressão e a exploração, que são o sinal do poder do mal em nosso meio. O oposto da doença (sofrimento) é o serviço ao próximo, que ataca a raiz de todos os males: o capitalismo, que é o instrumento do diabo no meio de nós e que está dentro de nós.

3.5 – Oração

Hoje a oração está a serviço da sociedade de consumo, em que as pessoas pedem que Deus lhes conceda dinheiro para consumir. A oração está a serviço do egoísmo, da ganância, do capital. Tem uma igreja em Palmeira das Missões (RS) que tem em cada dia da semana a celebração de um milagre: na segunda, o milagre do carro próprio; na terça, o milagre da casa própria; na quarta, o milagre do dinheiro; na quinta, o milagre da cura da doença, e assim por diante. A fé é usada como alienação e para legitimar a sociedade de consumo e obter os bens cobiçados que o capitalismo oferece. Oração para Jesus é outra coisa: é força para a luta pelo reino de Deus e não legitimação do reino deste mundo.

3.6 – Expectativa messiânica

O texto de Marcos contém o segredo messiânico, que para nós hoje aponta para a expectativa messiânica. Um outro mundo é possível de ser construído a partir da fé em Jesus Cristo, em oposição ao capitalismo, conforme aponta o evangelho. Enquanto esperamos o Messias (sua volta), com- batemos a religião do capital, que não aponta para o Messias e sua volta, mas usa a fé cristã para abortar a esperança messiânica, tentando convencer-nos de que estamos no fim da história. A esperança messiânica aponta sempre para uma nova história possível que virá com a volta de Cristo. Nem com a volta de Cristo a história termina, mas finalmente começa uma nova história, com a qual sonhamos desde a saída da escravidão no Egito.

3.7 – Tarefa

Temos a tarefa de não deixar os demônios de hoje falarem. Lembro do livro “Os demônios vêm do norte”, falando dos movimentos pentecostais e das igrejas midiáticas. Hoje os demônios também usam e abusam do nome de Jesus para solidificar a realidade injusta na qual vivemos. São esses demônios que se apossam da mente das pessoas para reproduzir o sistema deste mundo, inviabilizando a transformação da realidade que o reino exige.

Jesus não ficou num lugar apenas. O texto aponta para frente, para a tarefa missionária de não se acomodar com a fama e o bem-estar gerados quando se fica apenas entre amigos. O texto desafia a ir como cordeiros para o meio dos lobos e dos demônios (que não são feios e horríveis, mas se apresentam belamente como a única saída para o mundo, como o fim da história e que por isso têm tantos seguidores; a eles nós contrapomos Jesus Cristo e seu evangelho do reino de Deus).

Temos a tarefa de proclamar e viabilizar, a partir da fé em Jesus Cristo, o evangelho do reino de Deus, que se põe na contramão do reino deste mundo, que é o sistema capitalista neoliberal globalizado, capitaneado pelos EUA. João 17.9-11,14 coloca essa questão do mundo; Jesus não roga pelo mundo, mas pelos seus. Jesus diz em João 17.14: “Eles não são do mundo”, referindo-se a seus discípulos. Os discípulos e discípulas de hoje têm que ter isso claro: que não somos do mundo (do capitalismo, com suas múltiplas facetas). O problema é que os assim chamados discípulos de Jesus defendem o mundo (capitalismo) com unhas e dentes. É só combater e explicar como funciona o capitalismo na igreja para ver isso pela reação dos membros em querer mandar o pastor ou pastora embora.

Sonhar com o novo, olhar e apontar para frente, para longe. Ter um projeto para o Brasil (para a América Latina) como resultado da prática e fé no evangelho. Mudar a realidade que cria a doença, a religião alienante. Viabilizar o serviço como gratidão e compromisso de fé em Jesus. Fé engajada no processo de transformação e não como cimento da realidade de opressão.

Temos a tarefa de resgatar a utopia a partir do evangelho do reino de Deus. Sem utopias, não há mobilizações motivadas pela esperança, nem possibilidade de visualizar um mundo diferente, novo e melhor.

4. Subsídios litúrgicos

Versículo de entrada:
1 Coríntios 9.16: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!”.

Confissão de pecados:

Confessamos que somos acomodados e não queremos nos deixar desestabilizar pelo poder do Espírito Santo para anunciar o evangelho de Jesus Cristo, que liberta de todas as opressões. Confessamos que fazemos muito pouco para calar as vozes dos demônios de hoje. Confessamos que somos acanhados e medrosos em anunciar o evangelho do reino de Deus às pessoas.

Absolvição:

Isaías 40.27-28: Povo de Israel, por que você se queixa dizendo: “O Senhor não se importa conosco, o nosso Deus não se interessa por nossa situação”? Será que vocês não sabem? Será que nunca ouviram falar disso? O Senhor é o Deus Eterno, ele criou o mundo inteiro. Ele não se cansa, não fica fatigado; ninguém pode medir sua sabedoria.

Kyrie:

Pelas pessoas com HIV, que se sentem abandonadas e de fato estão abandonadas. Pelos sem-terra acampados à beira das estradas. Pelos desempregados, que estão passando por dificuldades.

Glória:

Exaltamos-te, ó Deus, por sempre te colocares ao lado dos que choram e dos que sofrem. Exaltamos-te pela cura que experimentamos após longo período de doença. Exaltamos-te pelo anúncio de teu evangelho, que nos ajuda a libertar os outros de suas escravidões.

Oração do dia:

Senhor Deus todo-poderoso, que sempre animaste o teu povo a resistir contra todas as opressões que o sistema deste mundo impõe: anima-nos a sair de nossa casa para anunciar o teu poder libertador e participar da luta pelo teu reino de paz e de justiça. Anima-nos com a tua palavra a ouvir agora para nos mostrar que estás conosco e a fortalecer-nos para a caminhada missionária de anunciar e viver o evangelho do reino vivido e anunciado por Jesus, teu Filho. Amém.

Intercessão geral da igreja:

Pelos doentes e pelos que cuidam de doentes. Pelos governantes, para que governem para todo o povo e não apenas para o pequeno grupo que controla a economia do país. Por todos nós, para que nos animemos a ir ao encontro das pessoas para anunciar-lhes o teu evangelho, que liberta das opressões deste mundo. Pela igreja, para que lute contra os demônios de hoje. Pelas lideranças da comunidade, para que se saibam amparadas na luta contra o sistema deste mundo.

Oração eucarística:

Prefácio (Ação de Graças)

P: Sim, é digno, justo e do nosso dever que, em todos os tempos e lugares, rendamos graças a ti, Deus eterno e todo-poderoso, por Jesus Cristo, nosso Senhor, que enviaste ao mundo para libertá-lo das opressões do peca- do, através de sua morte e ressurreição. Por isso, com toda a tua igreja e os coros celestiais, louvamos e adoramos teu glorioso nome, cantando o sempiterno hino: Santo.

Reatualização (anamnese)
P: Graças te damos, ó Deus, por teres escolhido no Egito a classe camponesa escrava como teu povo. Graças te damos por tê-lo acompanhado em sua caminhada, da escravidão para a libertação, em direção à tomada da Terra Prometida e na construção de uma nova sociedade fraterna, solidária e sem classes sociais. Graças te damos pelo envio dos profetas e das profetisas para denunciar as injustiças da classe dominante, alicerçadas na elite de ontem e de hoje, e anunciar o teu projeto de vida digna, fraterna, igualitária e eterna. Graças por teres vindo a nós em Jesus, teu Filho, que libertou os oprimidos, curou os doentes, aceitou e conviveu com os excluídos, chamou todos ao arrependimento e à conversão, proclamando o novo tempo. O teu reino foi provado por multidões de empobrecidos, marginalizados e excluí- dos, que se reuniram em torno de teu filho Jesus, o Cristo. Os poderosos viram isso como uma ameaça a seu poder econômico, político e religioso. Por isso Jesus foi preso, torturado, condenado, morto numa cruz por nós e sepultado; mas não ficou no sepulcro, e sim ressuscitou no terceiro dia. Após 40 dias, subiu ao céu e, em Pentecostes, enviou o Consolador para nos guiar e iluminar no caminho de teu reino, que tu já nos preparas enquanto ativamente esperamos que retornes em glória no Dia do Juízo final. Nós te glorificamos por continuares hoje no processo de libertação com todos os que choram, sofrem, lutam, são torturados, massacrados, espoliados e excluídos pelo sistema deste mundo ou por pessoas individuais. Queremos proclamar para esses a tua libertação, que já se pode experimentar na comunhão do partir do pão e do fruto da videira aqui e agora e no processo de luta por transformações profundas na vida diária das pessoas e de toda a sociedade.

Narrativa da instituição

P: 1 Coríntios 11.23-26

Pedido de envio do Espírito Santo (epiclese)

P: Envia, ó Deus, o Espírito de vida e de amor, de glória e de poder. O mesmo que falou por Hagar no deserto, por Miriam e Moisés no Egito e no deserto, por Raabe em Jericó, por Débora em Efraim e por todos os profetas e profetisas. Aquele que desceu sobre Jesus no rio Jordão no dia de seu batismo e sobre os apóstolos no dia de Pentecostes. Esse que iluminou Martim Lutero na luta pela Reforma e que continua hoje descendo sobre os discípulos e discípulas de Jesus; para que, partilhando o pão da vida e o cálice da salvação, sejamos preenchidos com o Espírito Santo e nos tornemos, em Cristo, um só corpo; para que o apresentemos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, renovemos a nossa mente constantemente e não nos conformemos com este século. 

Cantemos:

Com: Vem, Espírito de Deus, vem nos consolar. Dá-nos tua força, vem revigorar!

Intercessões

P: Guia-nos, Senhor, a esta festa da alegria, preparada para teu povo em tua presença com os patriarcas e as matriarcas, os profetas e as profetisas, os apóstolos e as apóstolas, todos os fiéis cristãos que nos antecederam e todos os mártires que caíram assassinados pelo aparelho repressivo do Esta- do por causa de sua luta pela democracia, pela liberdade, pela igualdade e por uma sociedade sem classes sociais, fraterna e solidária, onde a justiça irmanada com a paz flui como um rio perene; onde vivenciamos a unidade em teu corpo. Nessa comunhão vivemos proclamando e anunciando: o teu reino de felicidade já está no meio de nós.

Louvor

Com: Por Cristo, com Cristo e em Cristo, seja a ti Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre. Amém.

Bibliografia

DREWERMANN, Eugen. Das Markus-Evangelium. Bilder von Erlösung. Erster Teil. 7. ed. Olten und Freiburg im Breisgau: Walter-Verlag, 1997.

SCHWEITZER, Eduard. Das Evangelium nach Markus. In: Das Neue Testament Deutsch, v. 1. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1976.

GORGULHO, Frei Gilberto & ANDERSON, Ana Flora. O Evangelho e a Vida. Marcos. São Paulo: Paulinas, 1975.


Autor(a): Günter Adolf Wolff
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 29 / Versículo Final: 39
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2008 / Volume: 33
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18581
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