Efésios 1.3-14

Auxílio Homilético

03/01/2010

Prédica: Efésios 1.3-14
Leituras: Jeremias 31.7-14 e João 1. (1-9) 10-18
Autor: Marcia Blasi
Data Litúrgica: 2º. Domingo após Natal
Data da Pregação: 03/01/2010
Proclamar Libertação - Volume: XXXIV


1. Introdução

Ainda estamos no tempo de Natal. Passada a euforia da véspera, do dia de Natal e da virada de ano, vale a pena relembrar que ainda é tempo de ouvir o anúncio do nascimento de Jesus, da Palavra que se fez ser humano e que veio para transformar também a nossa vida, trazendo paz e esperança.
É salutar continuar celebrando neste culto o tempo de Natal e não antecipar o tempo de Epifania. A celebração da Epifania terá seu próprio tempo.
Durante os 12 dias do Natal, nós continuamos a cantar e a regozijar-nos na bondade de Deus. Nós celebramos a luz que venceu a escuridão: Jesus Cristo. Essa luz vem até nós pela encarnação: a palavra se tornando carne e vivendo entre nós.

Natal é um tempo de acolher, assim como Deus nos acolheu – acolher a pessoa estranha, acolher a forasteira, acolher a ovelha perdida, acolher a criança recém-nascida. É tempo também de acolher a Palavra e desejar que ela se torne viva em nós. Não é tempo de recriminações, mas de celebrar e acolher Deus em nós, para que ilumine nosso ser, cure nossas feridas e nos encha de esperança.

2. Os textos

Jeremias 31.7-14 – O texto é um convite para celebrar e confiar no amor de Deus. Mais uma vez, Deus ouviu o clamor do seu povo e vai cumprir a aliança estabelecida com ele: Deus vai trazer o seu povo de volta do exílio para reconstruir a nação. O povo vai voltar “chorando e orando”, e Deus o guiará. Quando o povo chegar, vai experimentar os presentes preparados por Deus.

João 1.(1-9)10-18 – O Evangelho de João nos apresenta Jesus como a manifestação plena da graça e do amor de Deus. “A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós” (Jo 1.14), e por meio desse ser humano temos recebido “bênçãos e mais bênçãos” (v. 16). Nosso viver e nosso testemunhar revelam esse amor ao mundo, iluminando a realidade com uma nova luz.

Efésios 1.3-14 – Não há consenso sobre a autoria da carta. Enquanto alguns autores afirmam ser uma carta de Paulo, escrita durante seu tempo na prisão, outros autores e autoras afirmam ser uma carta escrita por um jovem “discípulo” de Paulo e atribuída a ele como forma de honrá-lo. Também o destino da carta não é muito claro, nem se de fato ela foi escrita exclusivamente para a comunidade de Éfeso. A referência ao destinatário não é encontrada em muitos manuscritos. Também não são mencionados nomes conhecidos ou fatos sobre a comunidade. Provavelmente a Carta aos Efésios foi uma “carta circular”, enviada para muitas comunidades, e seu tema principal é a unidade em Cristo.1

Depois de saudar as pessoas destinatárias da carta, o autor expõe o tema da mesma, bendizendo Deus por ter realizado seu eterno plano de reconciliação com toda a criação. O povo de Deus faz parte desse plano e participa dele. Por meio de Cristo nos tornamos filhos e filhas de Deus e pelo Espírito Santo fomos selados/as nesse amor. O texto é ao mesmo tempo um hino de louvor a Deus e uma confissão de fé2 .

Versículo 3 – Um convite para agradecer a Deus – bendizê-lo; a palavra eulogetos seria melhor traduzida por “bendito” e é uma palavra usada somente com referência a Deus. Acima de tudo, Deus é bendito por ser Pai de Jesus Cristo e por meio dele com “dons espirituais no mundo celestial”. Essa expressão apare- ce somente nesta carta e se refere à união entre o mundo terreno e o mundo celestial.

Versículo 4 – Deus nos escolheu “antes da criação do mundo” para viver “unidos em Cristo” (tanto judeus como gentios). Por causa disso precisamos ficar “sem culpa diante dele”.

Versículo 5 – “Deus já havia resolvido… pois esse era o seu prazer e sua vontade”. Aqui fica bem claro que a escolha é obra de Deus. Foi Deus quem tomou a iniciativa. Algumas traduções usam o termo “adotou”. Por causa do seu amor, Deus nos adotou, dando-nos o status de filhos e filhas. A adoção reforça a iniciativa da parte de Deus e é um ato de amor, determinação e esperança.

Versículo 6 – Por “sua gloriosa graça” Deus merece ser louvado. Por graça Deus nos concedeu um favor que não merecíamos, portanto foi presente gratuito. “Por meio do seu querido Filho” nos lembra o batismo de Jesus, quando do céu veio uma voz que o identificava como “meu filho querido” (Mc 1.11).

Versículos 7-8 – “Pela morte de Cristo na cruz”: salvação e perdão dos pecados são possíveis. A graça de Deus é dada a nós com fartura.

Versículo 9 – Em Cristo Deus nos revelou o seu plano de salvação para toda a sua criação.

Versículo 10 – Quando o tempo de Deus chegar, Deus irá reunir tudo “o que há no céu e na terra”, sem distinção nem separações.

Versículos 11-14 – A carta afirma o lugar das pessoas que recebem a carta como beneficiárias do plano de Deus. Tanto gentios como judeus fazem parte desse plano e agora são parte do “nós” cristão. Essas pessoas já foram marcadas pelo Espírito Santo, seladas por ele e de antemão já receberam um aperitivo das promessas de Deus.

3. Meditação

Não podemos pensar nosso relacionamento com Deus como algo construído somente por nós. Pelo contrário, esse relacionamento é um presente gracioso de Deus, dado a nós através de Jesus Cristo. O convite e o sacrifício para pertencermos à sua família foi exclusivamente obra de Deus. A Carta aos Efésios nos convida a louvar essa bondade de Deus. Puramente pela graça nós fomos abençoadas/ os, escolhidas/os, tornadas/os filhas/os, perdoadas/os e salvas/os. Pela vontade de Deus temos recebido graça sobre graça, herança misericordiosa e fomos marcadas/ os com o selo do Espírito Santo, com a promessa de que receberemos o que Deus prometeu.

Por termos sido escolhidas/os por Deus, temos a responsabilidade de responder a seu amor. Por seu poder e misericórdia Deus pode transformar o mundo, como de fato transforma, dando pão a quem tem fome e água a quem tem sede. Deus também nos convida a colaborar nessa tarefa. Como integrantes da família de Deus, precisamos assumir nossa parte na construção desse novo reino, não como condição para fazer parte dele, mas em gratidão por já termos recebido bênçãos e mais bênçãos. A graça de sermos filhas e filhos de Deus, salvos pelo amor de Cristo e selados pelo Espírito Santo, precisa nos levar a viver a alegria do Natal e da Páscoa em tudo o que fizermos.

Nesses dias de Natal, a verdade sobre o grande amor de Deus pela humanidade pode ficar escondida por trás de tanta propaganda e de tantas tarefas a fazer. Por isso vale a pena preparar um bom culto de Natal ainda no dia 03/01, proporcionando um espaço de vivência, reflexão e gratidão pela maravilhosa obra de Deus e pela maneira como Deus optou em realizar essa obra. “A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós.” Essa palavra precisa ser contextualizada e precisa alertar para a realidade do nascimento de Jesus, que aconteceu em uma estrebaria sem luz, sem esterilização e sem o mínimo de conforto.

Para que a Palavra nasça no meu coração, é preciso que eu me dispa de tudo aquilo que impede que eu veja o pobre bebê deitado numa manjedoura. Somente quando eu entender a grandeza dessa obra é que o louvor vai ser verdadeiro, pois vai brotar de dentro, vai brotar de um coração agradecido. E mais: o louvor vai se tornar ação, apontando para Deus e para a esperança no reino de paz, justiça e amor.

4. Imagens para a prédica

Após uma breve introdução, enfatizando a época natalina, e talvez relembrando os acontecimentos dos últimos dias, sugiro informar à comunidade que chegou pelo correio uma carta de alguém que a ama muito.

Depois sugiro abrir um envelope com o texto bíblico e ler o texto de Efésios 1.3-14. Assim como nas primeiras comunidades cristãs, as comunidades atuais também são formadas por pessoas diferentes, com dons, habilidades e sonhos diferentes. Em Cristo, no entanto, essas diferenças são consideradas importantes partes de um todo. Creio que o grande enfoque da pregação deveria ser a unidade no amor de Deus. Essa unidade no amor não apaga as diferenças. Ao contrário, elas são importantes para a diversidade na comunidade.

A unidade precisa tornar-se concreta no envolvimento em ações que transformem a realidade de fome e injustiça em gestos de solidariedade e esperança. Infelizmente, os gestos de solidariedade (visitas, distribuição de alimentos, troca de presentes, generosidade natalina) que acontecem no tempo de Advento e Natal não fazem parte da vida de fé o ano todo.

É importante incentivar a comunidade a continuar vivenciando o amor de Deus, recebido por meio de Cristo. Fazemos isso quando nos comprometemos com a vida, buscando os irmãos e as irmãs entristecidas, esquecidas, doentes, desamparadas, famintas de pão e carinho, sedentas de água e de esperança.
Por Cristo nos tornamos parte da grande família de Deus e através do Espírito Santo recebemos todos os dons necessários para transformar o mundo em que vivemos. Infelizmente, nem sempre confiamos nisso. Esperamos que Deus transforme o mundo sem o nosso envolvimento e sem o nosso esforço. 

Pensando e agindo assim, perdemos a maravilhosa oportunidade de viver em comunhão, de sentir Deus agindo também por nós. Essa oportunidade deve ser relembrada a cada pregação.

5. Subsídios litúrgicos

Cântico de entrada:

Bom é estarmos unidos – Hinos do Povo de Deus – vol. 2 – n° 334; O Povo
Canta n° 157.

Oração do dia:

Deus de bondade, tu encheste nosso coração com a luz de Cristo. Permite que nossa fé seja um reflexo dessa luz e que, em tudo o que fizermos, transpareçam a tua vontade e o teu amor; por Jesus Cristo, nosso Senhor, que contigo e com o Espírito Santo reina de eternidade a eternidade. Amém.

Kyrie:

O amor que recebemos de Deus também nos convida a abrir nossos ouvidos ao clamor de tantos irmãos e irmãs que choram por causa de injustiça, violência, opressão e morte. Por isso vamos unir nossas vozes e clamar pelas dores deste mundo cantando: Pelas dores deste mundo, ó Senhor... (Rodolfo Gaede Neto).

Versículo de aclamação:

“A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós.” Aleluia!

Sugestão de hinos:

Que a graça do Senhor Jesus – Hinos do Povo de Deus – vol. 2 – n° 350; Cantai cristãos a Deus louvai – Hinos do Povo de Deus – vol. 1 – n° 14; Vinde a Cristo, ó vinde unidos – Hinos do Povo de Deus – vol. 1 – n° 19.

Notas:

1 Russell, p. 6-8.
2 O texto foi tema da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos em 2000.

 

Bibliografia

CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL. Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, 4 a 11 de junho de 2000: Bendito seja Deus... que nos abençoou em Cristo (Ef 1.3-14). Brasília: CONIC, 2000.
FOULKES, Francis. Efésios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1963.
RUSSELL, Letty M. Imitators of God: A Study Book of Ephesians. New York: General Board of Global Ministries – The United Methodist Church, 1984.
Sundays and Seasons: Year C. Minneapolis: Augsburg Fortress, 2004.


 


Autor(a): Márcia Blasi
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Natal
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Natal
Testamento: Novo / Livro: Efésios / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 3 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2009 / Volume: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18594
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