Mateus 14.13-21

08/08/1999

Prédica: Mateus 14.13-21
Leituras: Isaías 55.1-5 e Romanos 8.35-39
Autor: Valdemar Lückemeyer
Data Litúrgica: 11º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 08/08/1999
Proclamar Libertação - Volume: XXIV
Tema:

1. Observações introdutórias

O texto bíblico em estudo, intitulado Jesus alimenta a multidão ou A primeira multiplicação de pães, tem paralelos nos outros três evangelhos. Os quatro evangelistas, pois, narram o milagre da multiplicação dos pães ou como Jesus alimentou com pouca comida uma multidão de pessoas. Há várias semelhanças entre os evangelistas. E há também várias diferenças. Cada evangelista procura não apenas recontar o acontecimento, mas o usa para apontar para Jesus e interpreta a atuação deste.

O texto em estudo faz parte do segundo bloco de Mateus: o ministério de Jesus na Galiléia já indo em direção a Jerusalém. Jesus, com sua ação, responde aos discípulos de João Batista e a todos os demais que Ele é o que estava por vir (O Senhor é aquele que era para vir, ou devemos esperar outro? — Mt 11.2ss.). As comunidades a que Mateus se dirige estavam esperando, há tempo e com ansiedade, pelo Messias, pelo Salvador. Com Jesus as profecias estão se cumprindo. Ele é o Messias que Israel esperava, mas lamentavelmente foi rejeitado pelos judeus. Agora, a Igreja cristã é o novo Israel, que ouve e que é alimentada pelo Messias.

Mateus anuncia o Messias que fala da vontade de Deus, que a interpreta, que a cumpre e que a exemplifica. Os milagres servem para reafirmar a doutrina, a pregação de Jesus.

“Via de regra eles [se. os milagres] possuem função paradigmática, eles não são contados com o intuito de simplesmente impressionar, nem de mostrar o poder excepcional de Jesus. Eles trazem uma mensagem atual, neles a comunidade pode aprender o que significa crer, eles servem de advertência, são sinal da compaixão de Jesus, etc. Em todo o caso, os milagres de Jesus não podem ser compreendidos à parte da sua palavra.” (G. Brakemeier, p. 16.)

A proximidade do reino de Deus, anunciada em palavras e atos por Jesus, requer que os ouvintes entendam e aceitem que chegou o momento de aceitar o convite de Deus e de ser cidadão deste seu reino. Aceitar o convite de Deus fica evidente no cumprimento da lei, na sua execução diária, na prática da lei do amor, da compaixão. Para ser herdeiro do Reino, para ser cidadão dessa nova realidade, não basta dizer Senhor, Senhor, mas é preciso praticar a vontade de Deus. Qual é esta vontade? É, p. ex., dar pão aos famintos (Mt 25), a prática do amor, da justiça (a nova justiça), da misericórdia.

O cumprimento da lei acontece na prática do amor, da solidariedade. Este é o chamado de Jesus para os seus discípulos, este é o convite de Mateus para os seus ouvintes: que façam parte da nova Igreja, na qual a vontade de Deus é cumprida e praticada diariamente em meio a conflitos e adversidades de toda ordem.

“Portanto, a Igreja de Mt sabe que ela ainda não vive no reino de Deus. Ela passa por aflição e perseguição (5.10ss..), pois a vontade de Deus está sendo desrespeitada nesta terra, razão pela qual também Jesus teve que sofrer e morrer. Mas ela compreende Jesus, a sua vinda, o seu ministério, a sua morte e ressurreição como sinal da graça de Deus que libertou a comunidade para uma nova obediência, a qual não mais procura as próprias coisas, e sim o próximo, bem como o reino de Deus e sua justiça.” (G. Brakemeier p. 19.)

2. Comentários exegéticos

V. 13: Jesus se retira para um lugar deserto. Retira-se para se afastar de Herodes, pois ainda não chegou o tempo de enfrentar o poder secular. O tempo da sua paixão ainda não iniciou. O fim, no entanto, será o mesmo de João Batista, morto por Herodes.

As multidões seguem Jesus (os discípulos já estavam com ele ou, a exemplo da multidão, o procuram e o encontram no lugar ermo?). Mateus destaca que a multidão segue Jesus — é usado o mesmo verbo que descreve o seguir do discípulo (cf. 4.25; 8.1; 12.15).

V. 14: Jesus vê a multidão e se compadece. Mateus não menciona expressamente o que motivou a compaixão de Jesus. Marcos destaca que pareciam ovelhas sem pastor, uma crítica clara aos líderes do povo. A compaixão de Jesus o leva a curar os doentes. A multidão o seguia e lhe levava os doentes para que os curasse. E mesmo que Jesus tenha curado doentes em várias outras ocasiões, chama a atenção o fato de que aqui ele os cura antes da refeição, antes da comunhão de mesa! Se, conforme leis existentes, alguns doentes não podiam participar do culto judaico, então Jesus os cura antes, preparando-os para o que virá — assim também eles podem participar do que Deus tem para dar!

Vv. 15-18: Mesmo que as pessoas sejam das proximidades e ainda conseguissem solucionar o problema da alimentação para aquele dia, Jesus tem outro plano em mente: as pessoas não precisam se retirar! Elas podem ficar ali e ali serão alimentadas. Os discípulos, inclusive, são envolvidos nessa tarefa. Mateus omite as perguntas de Jesus a respeito da quantidade de comida disponível: ele sabe o que lazer, ele é o Messias!

Vv. 19-21: A ação concentra-se totalmente em Jesus: ele ordena (veja 8.18; 14.9; 18.25 e outros) que a multidão se sente. O que então é descrito lembra a celebração da ceia: Jesus toma os pães e os peixes, olha para o céu, profere a oração de agradecimento, parte o pão e o dá aos discípulos que o distribuem. A bênção e o partir do pão são os atos centrais praticados e dados por Jesus.

Essa distribuição dos pães (dos peixes não se fala mais) aponta para uma grandeza do reino de Deus: Deus cuida dos seus, ele os alimenta e todos receberão a sua parte, o suficiente para o dia, para a vida. E assim vive a comunidade de Jesus: sob suas ordens e sob sua coordenação os discípulos dão de comer aos famintos.

3. Alguns aspectos para a prédica

A boa nova deste domingo vem vigorosa e claramente através dos três textos bíblicos do dia: a bondade e a misericórdia de Deus são tematizadas uai duas leituras e, em especial, no texto da pregação.

— A comunidade de Jesus Cristo, que se reúne para ser servida por ele, reúne os doentes, os famintos e, sob as ordens do seu Senhor, cura e alimenta os necessitados.

— O pão partido e distribuído é pão abençoado. Ele dá forças, promove a vida, fortalece a esperança na vinda do Reino.

— A comunidade de Jesus pratica, por natureza e por essência, a compaixão. Desta forma está praticando e cumprindo a lei que orienta a nova sociedade.

— O problema mais sério nosso (...) não é a inexistência de pão — e quando dizemos pão, pensamos em tudo aquilo que nos possibilita e sustém a vida! — mas a falta de partilha deste pão. (O. Zizemer, p. 58.)

— Nós, os cristãos de hoje, somos convidados a viver o exemplo de Jesus. O amor une e congrega as pessoas. Ele faz surgir comunidade onde ideias e bens são compartilhados. Fé não se pode viver sozinho, isolado. (...) A Igreja se serve, que se engaja de fato por uma vida boa para todas as pessoas — não só para seus membros —, assume e vive o desafio de Cristo, o Diácono.

A Igreja que questiona situações de injustiça e de desamor, uma Igreja que é aberta para as pessoas que são diferentes, que estão à margem, que não têm voz nem vez, entende e vive o projeto de amor de Deus neste mundo, comunica-se com autenticidade, vive a diaconia. (K. Nordstokke [org.], p. 24.)

4. Para a liturgia inicial

Intróito: Escutem, os que têm sede: venham beber água! Venham os que não têm dinheiro: comprem comida e comam! Venham e comprem vinho e leite, que tudo é de graça. Por que vocês gastam dinheiro com o que não é comida? Por que gastam o seu salário com coisas que não matam a fome? Se vocês ouvirem e fizerem o que eu ordeno, vocês comerão do melhor alimento, terão comidas gostosas. (Isaías 55.1-2.)

Oração do dia: Senhor, nós nos lembramos de milhões de pessoas, em nosso mundo, que terão fome no dia de hoje: todos aqueles que não têm nem mesmo o mínimo necessário para viver, para os quais a própria vida se tornou um fardo (...) Das profundezas clamamos a ti, Senhor. Escuta a nossa voz e ouve a nossa oração. (Jesus Cristo, a vida do mundo, p. 29.)

Confissão/Afirmação de fé: Creio no Deus vivo, Pai e Mãe de toda a humanidade, que cria e sustenta o universo em poder e amor. Creio em Jesus Cristo, Deus encarnado na terra, que nos revelou pelas suas palavras e atos, pelo seu sofrimento com os outros, pela sua vitória sobre a morte, como Deus é e como a vida humana deve ser. Creio que o Espírito de Deus está conosco agora e para sempre, e que podemos experimentá-lo na oração, no perdão, na Palavra, nos Sacramentos, na comunhão da Igreja e em tudo o que fazemos. Amém. (Jesus Cristo, a vida do mundo, p. 67.)

Bibliografia

BRAKEMEIER, G. Observações introdutórias referentes ao Evangelho de Mateus. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo : Sinodal, 1977. vol. II, p. 9-19.
FRANK, V. Auxílio homilético. In: Proclamar Libertação. São Leopoldo : Sinodal 1995 vol. 21, p. 213-217.
GRUNDMANN, W. Das Evangelium nach Matthäus. 5. ed. Leipzig, 1981. (Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament, l).
JESUS Cristo, a vida do mundo : Sexta Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas. Rio de Janeiro : CEDI, 1984.
NORDSTOKKE, K. (Org.). Diaconia: fé em ação. São Leopoldo : Sinodal, 1995.
ZIZEMER, Osmar. Pão repartido e multiplicado. In: VV. AA. A salvação se faz pão. São Leopoldo : Sinodal, 1989. p. 48-59.

Proclamar Libertação 24
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Valdemar Lückemeyer
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 11º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 21
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1998 / Volume: 24
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7043
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