Marcos 2.23-28

22/06/2003

Prédica: Marcos 2.23-28
Leituras: Deuteronômio 5.12-15 e II Coríntios 4.5-12
Autor: Vera Maria Immich
Data Litúrgica: 2º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 22/06/2003
Proclamar Libertação - Volume: XXVIII
Tema:

1. Introdução

O texto de Marcos 2.23-28 já foi trabalhado exaustivamente por três vezes no Proclamar Libertação, no v. VIII por Baldur van Kaick, no v. XIV por Wilfrid Buchweitz e no v. XXII por Guilherme Lieven. Recomendo a consulta a estes auxílios para um maior aprofundamento.

2. Informações sobre o sábado

O judaísmo, ainda hoje, guarda o sábado como referência ao descanso do Senhor da criação que, depois de haver criado o mundo, descansou, tal como nos é relatado no Gênesis. Ele revela-se ao mundo criado como o Deus que repousa do seu trabalho. Para os cristãos, o domingo lembra a ressurreição de Jesus, quando este venceu a morte e deu à vida o poder definitivo. Os primeiros judeus cristãos observavam o sábado e se reuniam em culto cristão depois das 18:00hs. Aos domingos, eles faziam os batismos. Mais tarde, os judeus cristãos foram liberados de guardar o sábado. Porém, o domingo somente passou a valer como dia oficial de descanso a partir do imperador Constantino, no ano de 312.

3. O sábado no tempo de Jesus

O sábado é um presente precioso para o ritmo atordoante de nos­sa vida. Israel recebeu este presente das mãos de Deus. O sábado valia para os senhores e os escravos. Na época dos escravos, valia para toda a criação, inclusive para o gado. No tempo de Jesus, o sábado era um dia festivo, tal como ocorre ainda hoje nas tradicionais famílias judai­cas. O sábado era considerado um aperitivo da plenitude - daquilo que viria a ser o reino de Deus.

Na época de Jesus, pregava-se que não respeitar o sábado atrai­ria desgraça para a família do desobediente. Inúmeras regras proibitivas atemorizavam as pessoas. O texto em questão reflete o conflito entre os fariseus, fiéis cumpridores da lei, e os discípulos de Jesus. Este apro­veita a oportunidade para explicar o verdadeiro sentido do sábado, dia de liberdade.

Israel havia formulado uma lista de 39 atividades proibidas em dia de sábado. Essas atividades eram pedras de tropeço na vida das pessoas. Fazia parte desta lista: arar, semear, cozinhar, fazer fogo, co­lher com instrumentos, peneirar, assar, limpar frutas.

Jesus estava colhendo espigas com as mãos. Estudiosos discuti­am acaloradamente se colher com as mãos era trabalho ou não. Fazer o dia de descanso ser respeitado era motivo de longos debates.

4. Três passos para a pregação

a) Qual o sentido do dia do descanso? O que ele proporciona?

- o dia do descanso proporciona descanso;
- quebra com o estresse e a correria da semana;
- permite que tomemos tempo para nós mesmos, desligando-nos das atividades da semana e possibilitando uma avaliação da nossa vida;
- proporciona gratidão pelas coisas belas da vida;
- proporciona comunhão através de refeições saborosas e coletivas (comunitárias e familiares);
- o dia de descanso é tão especial que preparamos alimentos es­peciais que lembram as riquezas das bênçãos de Deus;
- é um tempo especial para nos voltarmos a Deus;
- visa também proporcionar a unidade da família para fortalecê-la na comunhão;
- carrega em si a chance de chegar a Deus e é dádiva do próprio Deus.

Martim Lutero referiu-se ao dia de descanso da seguinte forma: Não podemos somente servir a Deus através do trabalho, mas tam­bém através da festa e do descanso. Por isso, ele nos deu o terceiro mandamento e nos proporcionou o dia do descanso.

b) Como Jesus via o sábado?

Jesus foi responsabilizado por aquilo que os seus discípulos fize­ram. O texto nos diz que foram os discípulos que começaram a colher espigas e não o próprio Jesus. Ele responde como um bom mestre ju­deu com uma contrapergunta: Vocês nunca leram o que fez Davi? Com isso, Jesus estabeleceu um vínculo na argumentação e se dispôs a dialogar. Ele perguntou por que os seus discípulos não poderiam colher, se o próprio Davi, estando com fome, comeu os pães da proposição.

Quando Jesus se compara com Davi consegue atrair para uma outra reflexão: trata-se de um caminho que teve início com Adão, que teve que prover seu próprio sustento. Jesus mostra a eles que Deus é o Senhor do sábado.

Os 12 pães do templo eram considerados santos, renovados aos sábados e distribuídos às pessoas. Para Davi, está claro que a necessidade e a fome estão acima das leis humanas. Jesus subscreve esta compreensão.

c) Como podemos compreender o dia de descanso hoje a partir de Jesus?

Em casos de risco de vida, de extrema necessidade, o manda mento precisa ser flexível para o bem comum. Ou então, como continuar atendendo às emergências hospitalares? O que fazer com os bebês que nascem sem perguntar qual o dia da semana? Bombeiros precisam fazer plantões para socorrer emergências; funerárias precisam estar disponíveis, e tantos outros serviços emergenciais precisam funcionar para a nossa segurança e bem-estar.

Jesus também coloca a necessidade dos famintos acima da lei: n fome precisa ser saciada, pois este é o maior mandamento e é melhor atendê-lo a ser escravo da lei. Com esta compreensão, Jesus passa a defender a atitude de seus discípulos. Desta forma, ele traz à luz o verdadeiro significado do dia de descanso. Jesus limpa o mofo do legalismo e anuncia a soberania da vida humana e suas necessidades.

Jesus não aboliu o dia do descanso, mas apresentou-se como Se­nhor também deste dia. Ele flexibilizou a lei e devolveu ao dia do des­canso a liberdade. Ele lembrou aos fariseus que o sábado foi criado para as pessoas e não pode, portanto, excluí-las. O sábado não pode excluir aqueles que têm fome, mas deve permitir que se alimentem. A lei não pode e não deve estar acima de uma necessidade do ser huma­no. Era isto que Jesus pautava em sua discussão com o grupo de fariseus que o inquiriu.

Todos nós nos saciaremos em uma mesa farta, da qual faz parte o dia de descanso. Saciar-se é o mandamento maior e válido para todos. O mandamento do dia de descanso continua válido nos nossos dias. Mas como o vivemos hoje? Será que não sucumbimos à tentação de transformá-lo em mera oportunidade para fazer viagens? E as refei­ções? Serão ainda preparadas com amor e distinção, procurando pro­porcionar comunhão e satisfação?

O dia do descanso quer levar-nos para além dos horizontes do nosso tempo. Jesus mostra sua autoridade sobre a questão e igualmen­te sobre os discípulos. Ele não responde aos fariseus com insegurança nem procura justificar a atitude dos discípulos, mas lembra-lhes que, no passado, Davi também se alimentou com os pães da proposição. Primeiramente, os sacerdotes podiam comer estes pães e depois todo o povo. Também lembra o maná do deserto que foi dado aos seus ancestrais que estavam com fome.

Portanto, Jesus retoma o verdadeiro sentido do sábado. Ele não diz que agora vale tudo e que não é mais preciso observá-lo. Mas, que, ao observá-lo, não se deve esquecer a misericórdia de Deus e as necessida­des do próximo. Jesus diz ainda: O sábado foi estabelecido por causa do ser humano, e não o ser humano por causa do sábado. (Mc 2.27)

Esta afirmação de Jesus abre uma chave para guardarmos o dia cio descanso, quer seja o sábado ou o domingo, pois o dia foi estabeleci­do por causa do ser humano e não o contrário. É claro que seria prefe­rível e aconselhável, para o bem das famílias, que todos tivéssemos o mesmo dia de descanso. Mas também devemos entender que o mundo não pode parar porque queremos descansar. Devemos estar atentos para não transformar essa dádiva de Deus em mercadoria e em núme­ros rentáveis. Ao mesmo tempo, precisamos respeitar os trabalhado­res que dedicam tempo precioso para proteger vidas e velar pelos nos­sos passeios: bombeiros, salva-vidas e tantos outros.

O dia de descanso é a manifestação da graça de Deus concedida a todos nós. O exemplo de como vivemos este dia é um ensaio para viver a semana inteira.

d) Conclusão

Os outros dias da semana é que dirão como está sendo o nosso domingo, o nosso dia de descanso. Se o domingo está sendo bom, se o Senhor do dia de descanso está nos guiando através deste dia, a sema­na tampouco será amarga. Também nela eu poderei ouvir os outros, tra­balhar com confiança, ter alegria, orar. A semana não será um fardo. E se, no domingo, o Senhor participa da programação, certamente vou sentir a sua presença e sua força acompanhando-me durante a semana.

Que o Senhor nos ajude a viver corretamente o dia do descanso. E que a sua paz e bênção nos acompanhem durante a semana.

5. Proposta para a celebração

a) Acolhida

Dia do Senhor

1. Porque hoje é domingo, eu paro um pouco para olhar a vida. Pare e olhe a vida você também.
2. Porque hoje é domingo, eu vou sorrir, cantar e encontrar al­guém. Sorria, cante e encontre alguém você também.
1. Porque hoje é domingo, eu vou perdoar a quem me ofendeu Perdoe a quem o ofendeu você também.
2. Porque hoje é domingo, eu quero sentir a razão do viver. Descu bra a razão do viver você também.
1. Porque hoje é domingo, eu quero falar com você um pouco só bre Deus. Fale comigo um pouco sobre Deus você também.
l e 2. Porque hoje é domingo, vamos juntas, olhos nos olhos, mãos nas mãos, caminhar pelo parque do domingo da vida, porque Deus nos ama.

b) Oração de gratidão

Deus eterno e misericordioso! Graças te damos por mais este dia de vida que nos concedes; graças te damos porque descansaste após a conclusão de tua obra e nos ensinaste a descansar também; graças te damos porque podemos interromper a nossa rotina e voltar os nossos pensamentos a ti; graças te damos porque podemos dedicar o nosso lazer a ti; graças te damos porque, no dia de descanso podemos vivenciar a comunhão contigo, com nossos familiares e com o próximo. Obrigada, Senhor!

c) Cânticos

Cada comunidade usa um ou mais cancioneiros e essa diversida­de é muito boa. Para este domingo deve-se dar ênfase a cânticos que tenham por tema a gratidão. Ás vezes, convém fazer uma breve intro­dução, destacando o motivo da escolha do cântico.

Proclamar Libertação 28
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Vera Maria Immich
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 23 / Versículo Final: 28
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2002 / Volume: 28
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7057
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