João 20.19-31

07/04/2002

Prédica: João 20.19-31
Leituras: Salmo105.1-8 e I Pedro 1.3-9
Autor: Mayke Marliese Kegel Dutra
Data Litúrgica: 2º Domingo de Páscoa
Data da Pregação: 07/04/2002
Proclamar Libertação - Volume: XXVII
Tema: Páscoa

1. Introdução

A primeira conclusão do evangelho joanino (20.31) procura defini-lo e situá-lo literariamente. Como a mais antiga pregação da Igreja, é também um “evangelho”: uma proclamação da messianidade e da filiação divina de Jesus, a partir dos “sinais”, para desenvolver a fé em Cristo, como meio de obter a vida.

O autor parece ter sofrido influência bastante forte duma corrente de pensamento amplamente difundida em certos círculos do judaísmo, cuja expressão se redescobriu recentemente nos documentos essênios de Qumrã. Neles atribuía-se importância especial ao conhecimento, dando ao vocabulário um colorido que anunciava o da gnose; exprimia-se certo dualismo por meio de antinomias: luz-trevas, verdade-mentira, anjo da luz-anjo das trevas; especialmente em Qumrã insistia-se, com uma perspectiva escatológica, na mística da unidade e na necessidade do amor fraterno. Todos esses temas reaparecem no evangelho joanino e caracterizam bem o ambiente judaico-cristão, no qual ele parece ter sua origem.

O quarto evangelho, mais que os sinóticos, quer dar a entender o sentido da vida, dos gestos e das palavras de Jesus. É a fase da revelação que o evangelho joanino reflete. Por outro lado, ele demonstra possuir, muito mais que os sinóticos, um caráter cultual e sacramental. É no contexto da vida litúrgica judaica que se passa a vida de Jesus; é em conexão com as principais festas e, muitas vezes, no templo que ele opera os milagres e pronuncia os principais discursos; ademais, o próprio Jesus ensina que ele é o centro de uma religião renovada, “em espírito e verdade” (4.24), que se exprime e se atualiza por meio dos sacramentos.

A concepção da história, que o quarto evangelho supõe, difere profundamente da idéia que dela faz o historiador moderno. O que antes de tudo interessa ao evangelista é manifestar o sentido de uma história, que é tão divina quanto humana, história mas também teologia, que acontece no tempo, mas tem suas raízes na eternidade; quer narrar fielmente e propor à fé das pessoas o acontecimento espiritual que se realizou no mundo com a vinda de Jesus Cristo: a encarnação do Verbo para a salvação das pessoas. Os milagres narrados são “sinais” que revelam a glória de Cristo e simbolizam os dons que ele traz ao mundo (nova purificação, pão vivo, luz, vida). Além dos milagres, o autor tem o dom de captar o significado espiritual dos fatos e de descobrir neles mistérios divinos; vê os fatos materiais, históricos, em sua dimensão espiritual: Jesus é a luz que vem ao mundo, seu combate é o combate da luz contra as trevas; sua morte é o julgamento do mundo; toda a sua vida é, em última análise, a realização das grandes figuras messiânicas do Antigo Testamento: é o Cordeiro de Deus (1.29), o novo templo (2.21), a serpente salvadora erguida no deserto (3.14), o pão da vida que substitui o maná (6.35), o bom Pastor (10.11), a verdadeira vida (15.1), etc.

Tratando-se de João, não se deve contrapor simbolismo e história: esse simbolismo é o dos próprios fatos, brota da história, nela está enraizado, expressa seu sentido e só com essa condição tem valor para a testemunha privilegiada do Verbo feito carne.

2. Análise de versículos

Vv. anteriores: em João 20.1-17 é-nos relatada a ressurreição de Jesus e seu aparecimento a Maria Madalena. Temos aqui o auge da Páscoa. Já nesses versículos, temos a comprovação da ressurreição no aparecimento de Jesus a uma de suas amigas e seguidoras.

v. 19 – As portas estavam trancadas devido à represália dos judeus contra os seguidores de Jesus. Jesus, conhecedor do temor que seus discípulos estavam passando, traz a palavra de paz.

v. 20 – Jesus mostra as mãos e os pés, para que os discípulos vejam que não é nenhum fantasma, mas ele próprio em carne e espírito.

v. 21 – Jesus enfatiza a proclamação da paz e os coloca novamente frente ao projeto de Deus, o “ide” .

v. 22 – Jesus estava concedendo o Espírito Santo aos seus discípulos. Aliás, a palavra traduzida por sopro e Espírito é a mesma. Jesus os estava preparando para ir ao mundo como testemunhas (v. 21) na sabedoria e no poder do Espírito Santo. Fora dessa fonte de poder divino, não havia esperança de vitória. No Antigo Testamento, o Espírito Santo vinha sobre os crentes temporariamente, para tarefas específicas. Esse parece ser o caso aqui. Esses mesmos discípulos seriam batizados pelo Espírito Santo cinqüenta dias mais tarde, no dia de Pentecostes. Mas enquanto isso, precisavam de um preenchimento temporário que os capacitasse para o serviço, até que iniciasse o novo ministério do Espírito.

v. 23 – As Escrituras ensinam que somente Deus pode perdoar pecados. Assim, Jesus não estava dando autoridade aos seus seguidores para perdoarem pecados ou proferirem julgamento por si mesmos. O que então Jesus quis dizer? Podemos ter uma idéia a partir das ações que o profeta executava, segundo o Antigo Testamento. Afirma-se que o profeta realizava coisas que ele de fato apenas relatara. Quando declarava algo como feito (v. Jr 1.10), era como se ele mesmo o tivesse feito. Jesus deu aos seus discípulos, conduzidos pelo Espírito Santo (v. 22), a autoridade para declarar o que Deus já fez quando alguém confia em Cristo.

v. 24 – Tomé não estava presente quando Jesus chegou.

v. 25 – Os discípulos notificam Tomé da vinda de Jesus. Tomé duvida da vinda e, como qualquer humano, só acredita vendo.

v. 26 – Tomé está reunido junto com os outros discípulos, e Jesus aparece novamente, desejando-lhes a paz.

v. 27 – E sabendo da incredulidade de Tomé, Jesus manda-o colocar o dedo em suas mãos e a mão em seu corpo. Com isso, não deixa mais dúvidas sobre a sua presença corporal.

v. 28 – Tomé se defronta com sua própria incredulidade.

v. 29 – Aqui se faz referência ao testemunho dos apóstolos.

v. 30 – Alude-se a outros sinais que Jesus fez.

v. 31 – Destaca-se o sinal da presença corporal de Jesus como testemunho vivo e autêntico, para que não se tenha dúvidas de que ele é filho de Deus e se tenha vida ao ouvir seu nome.

3. Encaminhando a prédica

Fazer referência ao medo dos seguidores de Jesus (v. 19) e perguntar pelos nossos medos atuais como pessoas e como pessoas cristãs.

Trazer a questão da corporalidade de Jesus. Jesus, pessoa presente em nosso meio.

Não colocar Tomé para ser apedrejado devido à sua dúvida, mas aludir a questão do estar presente de Jesus entre nós de forma completa, corpo e espírito. E assim como Tomé se defronta com sua incredulidade como está conosco?

Nós aceitamos que, por vezes, também somos incrédulos?

Jesus toca as pessoas e se deixa tocar. A quantas anda nossa afetividade?

Jesus dá testemunho vivo e autêntico de que ele é o Filho de Deus e que, através do ouvir seu nome, temos vida.

Conseguimos dar tal testemunho?

4. Subsídios litúrgicos

Confissão de pecados: Senhor Deus, chegamos a tua presença como pessoas humildes e pecadoras para confessar-te que, em muitos momentos, deixamos-nos levar pelo medo de enfrentar as perguntas do mundo. Não conseguimos de forma livre e segura testemunhar que tu és Filho de Deus e que através de ti temos vida. Perdoa as nossas dúvidas e medos. Derrama teu poder sobre nós para que sejamos pessoas firmes no testemunho.

Proclamação da graça: Palavra das Senhas Diárias prevista para o dia.

Oração de coleta: Em teu nome nós nos reunimos; portanto, neste culto queremos testemunhar e reafirmar nossa fé em ti e no teu poder de dar-nos vida, vida digna. Amém.

Intercessão: Pelos povos e pessoas perseguidas devido a sua fé, sua cultura, sua situação econômica. Pela Igreja no sentido de não temer represálias ao defender os povos e as pessoas oprimidas.
Pelos presbitérios que estão fechados no mundo empresarial e não se abrem para o agir de Deus. Pelo povo cristão no seu testemunhar Jesus Cristo como Senhor e Salvador de toda a humanidade.

Proclamar Libertação 27
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Mayke Marliese Kegel Dutra
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 2º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 19 / Versículo Final: 31
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2001 / Volume: 27
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7135
REDE DE RECURSOS
+
À casa de Deus não pertence nada mais que a presença de Deus com a sua Palavra.
Martim Lutero
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br