João 21.1-14

Auxílio homilético

25/04/2004

Prédica: João 21.1-14
Leituras: Salmo 30.1-5 e Apocalipse 5.11-14
Autor: Eloir Weber
Data Litúrgica: 3º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 25/4/2004
Proclamar Libertação - Volume: XXIX
Tema: Páscoa

1. Preâmbulo

Invocação

Ajuda-nos, Senhor, a fazer memória do teu cálice e do teu pão,
De tuas mãos abertas repartindo a todos por igual.
Ajuda-nos, Senhor, a não esquecer de beber da tua verdade
E seguir sempre juntos teu caminho sem olhar mais para trás.
Ajuda-nos, Senhor, a alimentar a tua justiça e paz
Para que as migalhas se transformem em abundante pão.
Ajuda-nos, Senhor, a fazer memória neste ritual
E sentir que tu estás entre nós, chamando-nos a dar.
Aleluia! Por tua mesa, por teu cálice, por teu pão,
Por teu convite eterno. Aleluia! Aleluia!
Autor: Pedro Benítez (Argentina)
Texto: Invocación
Tradução e adaptação: Eloir Weber

2. Delimitação, contexto e mensagem

É consenso que o capítulo 21 do Evangelho de João é acréscimo redacional posterior. O indício mais forte para tal afirmação é a conclusão do evangelho, que aparece em Jo 20.30-31.

O texto está bem definido no início e no fim por uma moldura que indica os seus contornos. No v. 1: “tornou Jesus a manifestar-se... e foi assim...”. No v. 14: “a terceira vez que Jesus se manifestava aos discípulos, depois de ressuscitado”. Ele tem como objetivo apresentar o Cristo ressurreto, que se manifesta aos discípulos. No contexto geral do evangelista, dá para compreender que diante do confronto com os grupos gnósticos a comunidade sentiu a necessidade de ressaltar a ressurreição de Jesus e sua convivência com os discípulos até a ascensão. Depois da ressurreição, a comunhão com Jesus foi tão plena, que cearam junto com ele.

Os discípulos pescaram a noite toda sem “apanhar nada”, quando Jesus entrou em cena e orientou os pescadores; o resultado é que “já não podiam puxar a rede, tão grande era a quantidade de peixes”. Quando a missão depende só de nossas capacidades, ela fracassa. Quando a Palavra está no centro da missão, o fruto é abundante. E toda a vida comunitária é celebrada na comunhão de mesa eucarística, em comunhão plena com Jesus, pois é ele próprio quem prepara e convida para a refeição. A missão culmina e é celebrada no culto eucarístico.

3. Motivação para a temática

Basicamente, o texto aponta para dois caminhos, que necessariamente se entrelaçam. Por um lado, a pescaria dos discípulos – missão da Igreja; por outro lado, a refeição na praia – comunhão preparada pelo Senhor ressurreto.

Destaco a importância que Jesus dá às refeições. Não raras vezes, ele relaciona o Reino de Deus a uma festa com muita fartura. Lembro em especial Mt 22.1-14 (O banquete e seus convidados); Lc 7.36-50 (Jesus é ungido estando à mesa para a refeição); Lc 24.13-35 (Jesus ressurreto é reconhecido ao abençoar e partir o pão). Este período da Páscoa nos faz lembrar o Cristo que ressuscitou e ascendeu para junto do Pai. No entanto, lembra-nos da sua promessa: “Eis que estarei convosco...”. Ele continua presente e atuando na comunidade por meio da Palavra e dos sacramentos. Especialmente na Eucaristia, temos a antecipação do Reino em sua compreensão escatológica: “... até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu pai” (Mt 26.29, e também em Mc 14.25; Lc 22.18 e em 1 Co 11.26: “até que ele venha”). Assim o atesta J. White (p.193): “A dimensão escatológica encontra-se nos relatos da última ceia (...) Naturalmente todo o contexto da Páscoa judaica antecipa o banquete messiânico, quando todas as coisas serão consumadas por meio da vinda do Messias. Nos relatos neotestamentários da Eucaristia, a antecipação parece ser um tema tão forte quanto o da comemoração”.

Na IECLB, estamos vivendo um momento muito especial. Depois de muitos anos de trabalho unindo inúmeras mãos em todos os lugares, foi aprovada a ordem litúrgica do culto no XXII Concílio Geral. Com isso surgiu o Livro de Culto, também construído por inúmeras mãos de todos os Sínodos. Quando se fala em liturgia, fala-se em beber das fontes, da nascente do rio da liturgia. Sua origem está na celebração do culto nas comunidades primitivas. Ali encontramos a vertente que brota daquela comunidade de seguidores e seguidoras de Jesus que começaram a reunir-se logo depois de sua ressurreição. Esta vertente é a Liturgia da Eucaristia.

4. Retratos do texto

v. 3-4 – A noite foi frustrante. Muito trabalho, nenhum resultado. A missão precisa da palavra de orientação: “Lançai a rede à direita do barco” (v. 6) e dos sacramentos: “Vinde, comei” (v. 12). É período de Páscoa. Na morte de Cristo, a escuridão tomou conta. A esperança para o mundo se desfaz. Tudo é tristeza e morte. A vida é vencida pela morte. As pessoas que creram e esperavam a vida abundante “nada apanharam” (v. 3). Mas eis que vem o domingo da Páscoa! Páscoa lembra o amanhecer de um novo dia. O renascer das esperanças: “...ao clarear da madrugada” (v. 4). Cristo passou da morte à vida. Nós também! A época da Páscoa nos motiva a celebrar essa passagem da morte para a vida. Esse novo dia nos alcança na promessa da ressurreição. Por isso Páscoa é: “...naquela noite nada apanharam. Mas ao clarear da madrugada...” (v. 3-4). O texto de leitura do Sl 30.1-5 acompanha esta linha de pensamento: “Ao anoitecer pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã”.

v. 5-7 – A pergunta de Jesus gira em torno do assunto comida. Todas as quatro vezes em que Jesus fala no texto, o assunto é o mesmo. Ter algo para dar (“ter apanhado algo”) não é pré-requisito para receber o convite de Jesus: “Vinde, comei” (v. 12). Independentemente da nossa “sorte”, da nossa “competência”, da nossa “habilidade”, recebemos o convite. Portanto, é de mãos vazias que participamos da festa da vida (v. 5). Mesmo assim, os frutos do nosso trabalho são sempre dádivas do amor de Deus (v. 6). Reconhecer que tudo é dádiva de Deus é a nossa reação de fé: “É o Senhor!” (v. 7).

v. 9 – Que acolhida! Isto sim que é recepção! Que aroma gostoso! Que fome! Imagino os discípulos chegando à praia, felizes com o reencontro e a acolhida. Como nós acolhemos as pessoas que vêm para o “banquete que Cristo prepara e serve”? Pensemos nisto. O texto apresenta Jesus como o diácono que trabalha para servir à mesa (servir, não ser servido – Mc 10.45). A atuação de Jesus nos lembra o aspecto diaconal da Eucaristia. Jesus não quer só saciar a fome, mas também vivenciar carinho, afeto, consolo, compreensão.

v. 10-11 – Que belo gesto litúrgico acontece nestes dois versículos: o ofertório. Uma aula sobre o sentido bíblico do ofertório no centro do culto cristão. Os discípulos estão colocando nas mãos de Jesus parte daquilo que ele já lhes deu anteriormente. Devolvendo. Não como obrigação ou pagamento, mas como gesto de gratidão e fé. Jesus fará uso dos elementos para saciar a fome (não só de pão, mas de vida). O ofertório é o gesto concreto no qual vivenciamos nosso compromisso com a vida do semelhante. Isto é diaconia! No entanto, é precisamente esse gesto dos discípulos que tanto causa alvoroço nas discussões sobre a Eucaristia.

v. 12 – “Vinde, comei.” Um convite especial, com características litúrgicas, para saciar a sua fome e sede de vida. “Igreja é movimento de pão. De festa e pão eucarístico. De celebração e partilha. Trata-se da graça de Deus que se manifesta no comer e beber em conjunto. (...) É partilha de pão que gera vida, que nos leva mais perto de Deus e do próximo, que não é separado do amor, que conduz à gratidão. Sem pão e festa a Igreja de Jesus Cristo não é mais Igreja. Igreja lembra-me do chamado de minha mãe: ‘A comida tá pronta, tá na mesa, venham comer!’ Que belo convite! Que festa! Como a gente gostava de ouvi-lo. Igreja, movimento de pão eucarístico e de festa” (Knebelkamp, p. 260).

v. 13 – Jesus repete, em parte, o gesto litúrgico que havia feito na última janta com os discípulos. Ele “tomou o pão e lhes deu”; estes gestos de Jesus repetimos na celebração da Eucaristia: fração e comunhão. Faz parte da anamnesis do culto eucarístico, ou seja, buscar no testemunho bíblico o gesto de Jesus e torná-lo presente. Através da partilha e da comunhão da refeição Jesus auxilia os discípulos a compreenderem o sentido escatológico daquele momento. Na Páscoa, celebramos a vitória do Cristo ressurreto, que se manifesta em amor. Na Eucaristia, celebramos e festejamos essa vitória. É nesse sentido que aponta o texto de leitura de Ap 5.11-14: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e o domínio pelos séculos dos séculos”. Por isso convido para prepararmos uma celebração significativa para este 3º Domingo da Páscoa.

5. A celebração

O texto dá muitas possibilidades para moldar a liturgia. Alguns elementos litúrgicos deveriam receber destaque:

a) Acolhida: As pessoas deveriam receber uma acolhida calorosa para este culto. Que tal organizar o presbitério e receber as pessoas com pão e peixe (v. 9)? Se tiver condições físicas e humanas, por que não assar o peixe numa grelha em frente à igreja (ousar faz bem)?

b) Kyrie eleison: No “clamor coletivo pelas dores do mundo” dar um destaque às pessoas que “nada apanharam” (v. 3). Quem são elas no seu meio? Vamos incluí-las?

c) Gloria in excelsis: O texto de leitura de Ap 5.11-14 deixa uma bela motivação para o Glória; seria interessante aproveitá-la.

d) Interpretação da Palavra: O centro em torno do qual gira a pregação é a ceia que Jesus ofereceu aos seus. Em “retratos do texto” há subsídios para a pregação. Dar um peso especial à Eucaristia, relacionando-a ao Cristo ressurreto.

e) Ofertório: Este elemento aparece bem forte no texto (v. 10s). Vamos valorizá-lo. Quem sabe, além das ofertas em dinheiro, motivar a comunidade ou um grupo de missão a trazer ofertas em alimentos e destinar para alguém do seu meio?

Oração do ofertório: Louvado sejas, Senhor, doador de todas as boas dádivas. Devolvemos a ti parte daquilo que de ti recebemos, para que venha a beneficiar os necessitados e seja um sinal do amor com o qual tu zelas pelas pessoas. Louvado sejas, Senhor, nosso Deus. Tu nos dás o pão e a bebida, frutos da terra e do trabalho humano. Devolvemos a ti parte daquilo que recebemos e te pedimos: faze com que este pão se torne pão da vida para nós e este fruto da videira se torne bebida da salvação para nós. Louvado sejas, Deus, eternamente. Amém.

f) Fração: Procurar ser fiel a 1 Co 10.16-17.

g) Convite à comunhão: Lembrar que Jesus prepara, serve e convida todas as pessoas de modo igual: “Vinde, comei” (v. 12).

h) Comunhão: Buscar uma forma que ressalte a partilha e a comunhão da comunidade do ressurreto.

Bibliografia

CENTRO de Recursos Litúrgicos. Tear: Liturgia em Revista. Nº 4. São Leopoldo. Abril de 2001.
CNBB. Uma Igreja que Acredita: Evangelho Segundo João. São Paulo: Paulus, 1999.
GAEDE NETO, Rodolfo. João 21.1-14. In: Proclamar Libertação. Vol XVII, São Leopoldo, 1991.
KNEBELKAMP, Ari. Pastoral Popular Luterana. Devocionário Semente de Esperança, 2002.
WHITE, James. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Editora Sinodal/ IEPG, 1997.

Proclamar Libertação 29
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Eloir Weber
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 3º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 14
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2003 / Volume: 29
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7142
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