João 7.37-39a

08/06/2003

Prédica: João 7.37-39a
Leituras: Ezequiel 37.1-14 e Atos 2.1-21
Autor: Augusto Ernesto Kunert
Data Litúrgica: Domingo de Pentecostes
Data da Pregação: 08/06/2003
Proclamar Libertação - Volume: XXVIII
Tema: Pentecostes

1. Introdução

No texto grego, há alguma dificuldade para determinar a pontuação correta entre os versículos 37 e 38. A incerteza levanta a pergunta: quem gera a água viva? Johannes Schneider diz, no contexto: Há duas possibilidades de formulação: uma consiste em colocar o ponto depois das palavras 'quem crer em mim', a outra, em iniciar a frase com as mesmas palavras (p.170). No primeiro caso, a sentença ficaria assim: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba quem crê em mim. Na segunda formulação, teríamos o texto conforme a tradução de Lutero para a língua alemã e de Almeida para o idioma português, ou seja, no v. 37: Se alguém tem sede, venha a mim e beba, concluindo esta parte com um ponto e iniciando a nova frase com Quem crer em mim....

Em vista da polêmica e para não alongar-me no assunto, optei pelas traduções de Lutero e Almeida. Vejo neles coerência com o evangelho que anuncia Jesus como o centro da salvação. A pessoa cristã é a beneficiada com a água viva. Ele a recebe como dádiva e, depois disso, passa a ser, como diz Lutero, ein Rohr, um cano, melhor dito, um vaso comunicante pelo qual flui a água viva como corrente benfazeja em favor de outros. O cristão recebe a água viva para passá-la adiante; ele é abençoado para tornar-se uma bênção para outros; ele é servido para ser um servidor. Portanto, Jesus faz fluir rios de água viva dos agraciados.

Afirmar que o cristão gera a água viva seria colocar de cabeça para baixo o evangelho e o conceito teológico da Reforma, apoiando em cheio a tese da salvação por obras. Seria um ataque frontal à mensagem evangélica do solus Christus, sola gratia e sola fide, contestando a cruz como centro da salvação em Jesus Cristo. Jamais o evangelista João contestou a posição de Jesus como fonte de água viva ou que o Consolador, o Espírito Santo, vem a nós em nome de Jesus (João 14.26). Isto não invalida, antes fortalece o critério de que o cristão, agraciado com o Espírito que em pentecoste desceu sobre a multidão reunida, um diácono do amor em favor dos irmãos e das irmãs.

2. Exegese

A Bíblia de Almeida intitula os v. 37-44 do cap. 7 Jesus, a fonte da água viva. À nossa perícope, limitada aos v. 37-39a, antecedem textos que indicam rejeição à pessoa de Jesus, falando até em perseguição pelos mandatários em Israel. Em vista do clima existente, Jesus não vai publicamente à festa dos tabernáculos, e sim em oculto (7.10).

Não sabemos quando Jesus chegou a Jerusalém e passou a participar da festa. Em 7.14, consta que em meio à festa Jesus subiu ao templo e ensinou. Ele participou da festa antes do último dia da mesma. Sua presença foi ativa e não passiva. Assumiu posição publicamente, ensinando no templo. Saiu do anonimato. Sua presença destacou-se no último dia da festa e culminou na pregação conforme o texto da nossa perícope.

A água ocupou lugar importante na mensagem. Já em João 4.13s., no seu encontro com uma mulher samaritana no poço de Jacó, Jesus reportou-se ao beber da água por ele oferecida e que sacia a sede. Ele fala na fonte a jorrar para a vida eterna. O tema escolhido por Jesus estava intimamente ligado à razão da festa dos tabernáculos. O motivo básico era a água. No culto de encerramento, estava no centro o agradecimento a Deus pela água recebida e mais a oração, pedindo água potável e água para uma boa colheita no ano vindouro.

A festa durava uma semana. Nela, Israel revivia velhas tradições repletas de vivência religiosa. Ela estava ligada a acontecimentos do Sinai (Êx 19) e ao período de peregrinação de Israel. A liturgia do culto festivo integrava momentos vividos nessas situações. A festa dos tabernáculos ocupava lugar de destaque no calendário festivo. O momento culminante dos festejos ocorria no último dia no templo.

O texto de Levítico 23 transmite valiosas informações sobre o sentido e os preparativos para a festa. O v. 40 determina a duração de sete dias. Construíam-se cabanas de folhagem verde, lembrando a saída do povo do Egito, a peregrinação no deserto, a situação do povo a caminho.
À tradição liga-se também a festa da colheita. Este costume começou depois da fixação de Israel na Palestina. Como povo nômade no deserto, não plantava nem colhia. Israel conheceu a festa da colheita no convívio com os povos residentes na terra prometida. À medida que foi conquistando a terra e se fixando nela, passou a semear e a colher, assumindo costumes existentes entre os povos nativos. Presume-se que a uva deu origem à festa da colheita, ligando-se à tradição do Sinai (Voigt, p. 239).

Dois motivos alimentam o pensamento de que Israel juntou duas festas em uma só, preenchendo-a, como festa dos tabernáculos, com conteúdo religioso próprio. O Israel peregrino não plantava parreirais no deserto, não tendo, portanto, razões para promover a festa da colheita nesse período. Ele a assumiu posteriormente dos povos subjugados. Na festa da colheita, a água era importante, como fora para Israel no deserto.

O Israel peregrino sempre ressaltou a importância da água para a sua sobrevivência. A água continua tendo a mesma importância após a fixação na terra prometida, uma terra que seguidamente sofria períodos de seca com suas duras consequências. Nas duas tradições, a água ocupa lugar de destaque. Durante a festa dos tabernáculos, a festa da fusão de duas tradições, a do Sinai e a da colheita, os sacerdotes buscavam água na fonte de Siloé, situada ao pé do monte do templo. A água retirada da fonte recebia certa quantidade de vinho, e a mistura era despejada em duas bacias de ouro colocadas sobre o altar. Esse ato, em sua simbologia significativa, era o momento culminante do culto de encerramento das festividades. O procedimento lembrava a água recebida durante o tempo da peregrinação e agradecia a Deus por ela; ao mesmo tempo, expressava em oração o pedido pela bênção de Deus no ano vindouro, da doação de água potável ao povo e chuva suficiente para uma boa colheita.

O passado, atualizado no culto, era significativo na vida de Israel. Não só o respeito à tradição motivou a festa; ela se caracterizava também pela esperança escatológica. O culto expressava a esperança pela vinda da salvação com o Messias. A esperança tornou-se realidade, quando Jesus identificou-se - na simbologia usada com água viva -como Messias. O agradecimento pela água, ligado ao pedido por chuva abundante, manifestava o pedido pela vinda da salvação. Os textos de Isaías 44.3-5, que fala da água derramada sobre quem tem sede e sobre a terra seca, ligando a este ato o derramamento do Espírito sobre a posteridade, e Isaías 32.15, que diz: Até que derrame sobre nós o Espírito lá do alto, então o deserto se tornará em pomar (...), e ainda Isaías 12.3: E vós com alegria tirareis água das fontes da salvação, e, por fim, Êxodo 17.6: Ferirás a rocha e dela sairá água e o povo beberá nos falam do agradecimento e da esperança escatológica de Israel em conexão com a dádiva da água. Por isso, segundo Ezequiel 47.1-12, a coleta de água da fonte de Siloé ao pé do monte do templo que era depositada em ato simbólico nas bacias do altar tinha tanta importância.

A água, diz Johannes Schneider, era retirada de manhã bem cedo da fonte Siloé pelos sacerdotes e, colocada em uma jarra de ouro, era levada em cortejo festivo ao altar e, juntamente com uma porção de vinho, depositada em duas bacias de ouro (p. 169).

O cerimonial lembra a importância da água, lembra também mo mentos críticos na vida de Israel, marcados pela escassez de água. Lembra secas, plantações devastadas e a fome do povo. A mistura da água e do vinho indica a fusão de duas situações da história de Israel, reunindo duas tradições numa festa: a vida peregrina e fixação na Palestina juntamente com a colheita.

Chamou-me a atenção que João não usa o termo soma e sim koilía Consultei o dicionário de Walter Bauer (p. 726 e 1328s.) e verifiquei que o primeiro termo tem mais o sentido de corpo (perecível?) e koilía o de corpo ativo, produtivo. Bauer fala em Leibesfrucht, fruto do ventre, como o é o corpo da mulher. Almeida, em sua tradução, constatou algo a esse respeito, não usando o termo corpo, e sim o termo interior, o que corresponde à intenção do texto.

3. Meditação

O texto refere-se com insistência à água. Ela foi e é importante na vida de Israel. No passado o país sofreu com a falta de água, problema que persiste ainda hoje. Longas estiagens aniquilaram colheitas, provocando fome e carestia. A preocupação com a água é uma constante na vida do povo. O Antigo Testamento menciona isto em várias passagens. Confira os seguintes exemplos: Is 44.3-5; 12.3; Êx 17.6

Jesus usa a água como exemplo em sua pregação no último dia da festa. Ele se apresenta como a fonte de água viva, geradora e doadora de vida. Sua atitude deixa claro que, nele, a profecia da vinda do Messias tornou-se algo concreto. Veio a salvação a Israel. A partir daí, podemos entender a reação de alguns membros durante o culto, ao confessarem: Ele é o Cristo! (v. 41).

O pregador poderia mencionar a importância da água para a nossa vida; lembrar que o corpo humano tem, entre seus diversos componentes, a água como o de maior percentual; mencionar que a água significa vida ou morte para toda a criação. É bom lembrar isto em vista do esbanjamento da água e sua poluição assustadora.

Neste contexto, transcrevo uma reportagem do Jornal NH, de Novo Hamburgo, do dia 11.02.2002, p. 38, com o título A água é um bem social: A água é um bem social e não uma mercadoria. Infelizmente, porém, não é esta a tendência atual, quando se observa a sua crescente comercialização, quer através da privatização de empresas públicas, quer pela venda de água mineral por parte das multinacionais, segundo o especialista italiano Ricardo Petrella, do Fórum Mundial de Águas. No mundo, l,5 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à água potável e 30 mil pessoas morrem todos os dias de doenças por falta de acesso à água, segundo ele. É hora, portanto, de cuidar da água, evitando o desperdício e a poluição de fontes e mananciais.

A partir do valor da água para a vida de toda a criação, entendemos melhor a razão da festa dos tabernáculos e a liturgia do seu culto de encerramento, quando a comunidade agradece a Deus pela bênção da água recebida e pede a Deus que, no novo ano, dê a Israel água em abundância.

Jesus, com a sua intervenção, quer alertar o povo para os perigos que ameaçam a Israel. Auto-suficiência e segurança, marcas de uma nação orgulhosa, que julga ter a presença protetora de Deus assegurada por seu belo templo, são águas poluídas que ameaçam a fé. A comemoração de tradições, mesmo que ela aconteça em cerimônia religiosa, não é essencial à fé. As tradições, quando se desgastam em alegria barata e terminam em folia carnavalesca, tornam-se águas poluídas. Honrar as tradições, manter vivos bons costumes e o respeito à sua história dignificam a comunidade e merecem o nosso aplauso, jamais, porém, substituem a ligação com a fonte da água viva. Este tipo de sede sempre volta. Costumes, tradições e história, por mais importantes que sejam para a identidade de uma pessoa e de um povo, jamais substituem a comunhão com o doador da água viva.

A falta de água causa desidratação. Ela não só ocorre no corpo físico, mas também no corpo espiritual, quando estamos desligados do Espírito. O desligamento tem consequências muito sérias para a nossa vida pessoal e o nosso dia-a-dia na comunidade e na sociedade. A vida torna-se pobre. A comunhão esvazia-se, a comunidade passa ser frouxa. Os cultos perdem em participação dos membros. A ação da comunidade enfraquece. O seu testemunho e serviço diaconal tornam-se capengas. Com os vasos comunicantes entupidos e/ou vazios, o alimento que ativa e renova a vida dos membros que devem servir de canais que levam rios de água viva à sociedade e à vida pública, os maus efeitos da corrupção, violência, insegurança, poluição e contaminação não tardam em alastrar-se.

Ninguém gosta que o culto seja interrompido. O choro de uma criança já incomodaria; o sussurrar de pessoas prejudicaria nossa concentração. Quanto mais chocaria a atitude de alguém que fizesse um discurso durante a liturgia ou até durante a pregação do pastor! Seguramente um membro da diretoria convidaria a pessoa a calar-se ou retirar-se da igreja. Registraríamos o acontecimento como um escândalo. Todos nós acharíamos correta a atitude da diretoria e desrespeitosa a do repreen-dido. Provavelmente ninguém de nós se daria conta que o procedimento do membro poderia ser o grito de uma grande sede.

A perícope não fala da reação da comunidade sobre a intervenção de Jesus. Os versículos posteriores o fazem. É interessante ver a diversidade de posicionamentos. Alguns membros disseram com convicção Este é verdadeiramente o profeta (v. 40). Outros afirmaram: Ele e o Cristo (v. 41). Estas pessoas ouviram, entenderam e atenderam o chamado de Jesus. Foram à casa de Deus com sede e lá receberam para beber a água viva e saciaram a sua sede. Nestes corações, a palavra de Jesus caiu, como diz a parábola da semente, em terra fértil.

Não faltou o grupo de pessoas cheias de dúvidas: Porventura o Cristo vem da Galiléia? (v. 41). Alguns contestadores até queriam prendê-lo. Cegos, surdos, sem sede por vida; esta é a triste realidade dessa gente. Não entenderam o que acontecia em seu meio? Não reco nheceram quem estava diante dos seus olhos? Continuaram presos a sua vidinha cheia de problemas pessoais, interesses e dúvidas. Suas manifestações dão a entender que sua sede não era por água viva!

O exemplo de atitudes de membros do culto da festa dos tabernáculos leva-nos a perguntar pela nossa reação diante da mensagem e da oferta de Jesus. Ouvimos a sua palavra com alma sedenta ou nos enfileiramos entre os contestadores, os seguros e os satisfeitos consigo mesmos?
Jesus não pretendeu perturbar o culto. Ele quis servir. Ele veio para ajudar, para libertar e para salvar. Convidou os que tinham sede; repetiu-se em sua atitude o chamado: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mateus 11.28). Jesus chama os cansados para aliviá-los e os que têm sede para saciá-los.

Talvez houvesse exagero no comportamento do povo durante a festa. Talvez o exagero fosse, mesmo que inconsciente, um sinal de sede de quem jogou-se de corpo e alma nos festejos para esconder a perda de rumo em sua vida. A inquietação, o medo, muito barulho por nada, podem ser sintomas da busca por orientação, sintomas de sede de uma vida nova. Ao refletir sobre as confissões de drogados e alcoólatras, verifico que a solidão, a rejeição, a falta de compreensão, de amizade e apoio provocam desânimo, alimentam o desespero e seduzem para o consumo de drogas e álcool. Muitos, ao começar a abusai da bebida alcoólica, não o fizeram porque tinham sede de álcool, e sim porque estavam cansados, abatidos, tristes e solitários. Estas são marcas de almas com sede de mudança, renovação, amor e comunhão. São marcas que caracterizam a pessoa que sofre, que não está em paz com Deus, nem com seus semelhantes, nem consigo mesmo.

Até que ponto nós entendemos que tais marcas são gemidos de sofrimento e gritos de socorro dos que sofrem? Estamos ligados à fonte da vida e prontos para levar aos irmãos e às irmãs carentes os rios da água viva? Voigt diz que o chamado de Jesus alerta que vida significa do isolamento e integrar-se na comunhão; significa assumir sua (areia na sociedade; significa ser pessoa entre pessoas, diante da face de Deus e na comunhão com ele (p. 253). Jesus chama os que têm sede e os convida para beber. Não há condições estabelecidas para achegar-se a Jesus; não há discriminação. Idosos e jovens, ricos e pobres, os importantes e os joões-ninguém, poderosos e fracos, todos Não convidados. Basta ter sede, sede de justiça, sede de amor, sede de perdão, sede de sair de situações deprimentes, sede de comunhão, sede de ouvir e atender o convite. Muitos tipos de problemas provocam sede, fazem-nos sofrer, amedrontam-nos e nos acusam. Todos testemunham que algo está errado conosco, que algum vazio nos machuca, que estamos insatisfeitos conosco mesmos. Nesta realidade, vêm o convite: Quem tem sede, venha a mim e beba. Ao dar-nos conta que a nossa sede é sede de comunhão com Deus, de perdão da nossa culpa, saberemos que nós somos os convidados. Saberemos que Jesus doou-se a nós como água viva; pois quando Jesus nos convida a beber água viva, oferece o Espírito para libertar-nos para a nova vida. O que acontece quando Jesus entra em nossa vida? O texto não dá detalhes a respeito. Ele fala, porém, da dádiva maravilhosa de que: do seu interior fluirão rios de água viva; ou seja, aceitos e renovados pela ação do Espírito, somos capacitados a entender os gemidos dos irmãos e das irmãs e a levar a eles e a elas rios de água viva, recebidos da graça de Jesus Cristo.

A oferta de Jesus supera toda e qualquer proposta humana. Ela está ancorada na sua divindade. Somente a sua oferta sacia a sede. O saciar da sede está vinculado à ação renovadora do Espírito Santo. Em seu Espírito, Jesus se faz presente em nossa vida. Isto é maravilhoso. Mesmo que o seu convite pessoal tenha acontecido no culto da festa dos tabernáculos, há dois mil anos, Jesus está conosco hoje em espírito e verdade. O texto não se limita a uma simples narrativa histórica. Ele é evangelho. Ele é palavra de Deus. Ele é mensagem da vida, dinamizando a ação criadora e regeneradora da comunhão de vida com Jesus. A mesma ação pode acontecer hoje aqui e agora. Jesus se faz presente entre nós no Espírito. O convite para achegar-nos a Jesus e beber da sua fonte não nos confronta com uma personalidade apenas histórica, e sim com o Christus semper vivus, com o doador da vida. Todos temos sede por vida, e Deus ouviu o nosso clamor e atendeu à imensa sede da humanidade, doando-se em Jesus Cristo como a água da vida.

O texto diz: Quem crer em mim (...) do seu interior fluirão rios de água viva. Recebemos dádivas em dobro. Somos aceitos, somos saciados, somos renova dos e, ao mesmo tempo, somos agraciados com o dom de testemunhar, de amar e de servir. Aceitos, saciados e renovados pelo Espírito, tornamo-nos aptos para amar os irmãos e as irmãs.

Transformados, servimos com alegria; abençoados, podemos ser uma bênção para outras pessoas. Tornamo-nos, como diz o reformador M. Lutero, ein Rohr, um cano, melhor dito, um vaso comunicante que leva a outras pessoas a riqueza das dádivas recebidas. Quem crer em mim receberá o Espírito e será um vaso comunicante, pelo qual fluem rios de bênçãos em forma de serviços do amor ao próximo: auxílio ;i carentes, consolo aos abatidos, conforto aos doentes, comunhão aos dispersos e solitários e amor aos esquecidos.

Todo ufanismo, seja ele pessoal ou da igreja, que se comporta como se fosse dono do Espírito, é uma aberração e documenta pobreza espiritual. Ninguém é dono do Espírito. Ele é livre. Nenhum de nós determina as suas ações. Nós o recebemos como dádiva. Todos têm oportunidades iguais. Os que admitem ter sede e aceitam o convite bebem da água oferecida por Jesus. São saciados os que têm sede e bebem, e não os arrogantes, os eternos satisfeitos e os dominadores.

O Espírito não carece ser descoberto por nós; ele não é objeto de conquista, não é um potencial adormecido em nós, que precisaria apenas de um empurrãozinho para despertar e entrar em ação. Ele é dádiva para os que têm sede e se achegam a Jesus para beber da água da vida. A pretensão de fixar o Espírito às paredes da igreja e querer submetê-lo ao domínio humano está fadada ao fracasso e desconheci que o Espírito vem a nós em nome de Jesus, que se oferece juntamente com ele como água da vida.

Quando o texto diz: do seu interior fluirão rios de água viva, isto significa que o Espírito recebido com fé cria em nós a força do amor ao próximo, sinal da presença de Jesus em nossa vida, que ativa o serviço diaconal em palavras e ações, na comunidade e na sociedade. Ocorre o que lemos em João 15.8: Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto. Realiza-se a velha profecia de Ezequiel 37: Ele vem sobre nós c nos vivificará.

4.Subsídios litúrgicos

Confissão

Senhor, tu és o nosso refúgio de geração em geração. Quando a nossa alma sofre, o nosso coração e nossa consciência nos acusam e a vergonha nos faz enrubescer. Tu nos convidas para achegar-nos a ti. Em nossas aflições nos chamas como um pai amado a seus filhos queridos, dando-nos de beber do cálice da graça. Sabemos, Senhor, que não merecemos o teu perdão. Porém, a tua graça é maior do que a nossa culpa. Por isso, clamamos com esperança: ouve-nos, pai amado, e tem piedade de nós!

Palavra da graça

O Senhor ouviu as minhas súplicas. O Senhor acolhe a minha oração. No dia em que clamei, tu me aceitaste e alentaste a força da minha alma. (Salmo 6.9 e 138.3)

Oração de coleta

Agradecemos a ti, Senhor, nosso Deus, por podermos levantar nossas mãos e nossos corações a ti, juntamente com nossas petições e orações de intercessão e de agradecimento, por nos convidares a levar à tua presença nossa dor, culpa e desespero e nos prometeres saciar a nossa sede. Louvado sejas em tua graça, por ouvires o nosso clamor e aceitares as nossas súplicas, fortalecendo-nos em nossa fraqueza com ti ação do teu Espírito. Senhor, queiras renovar a nossa vida e enriquecê-la com o teu Espírito, fazendo-nos servos teus que levam, em teu nome, rios de compreensão, apoio e conforto aos irmãos e irmãs com sede de amor! Amém.

Bibliografia

BAUER, Walter. Griechisch-deutsches Wörterbuch. 3, ed. Berlin: Alfred Töpelmann, 1936.
DAS NEUE TESTAMENT Deutsch. Trad. e interpretado por F. Büchsel.
5. ed. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1949.
EICHHOLZ, Georg. Herr, tue meine Lippen auf. 5. ed. Wuppertal: Emil Müller, 1964. v. 3.
GÖTTINGER Predigtmeditationen. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1975.
SCHNEIDER, Johannes. Das Evangelium nach Johannes. Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1978.
VOIGT, Gottfried. Die geliebte Welt: Reihe III. Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1980.

Proclamar Libertação 28
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Augusto Ernesto Kunert
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes

Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 37 / Versículo Final: 39
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2002 / Volume: 28
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7151
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