O Pai Nosso - Introdução

Auxílio Homilético

20/03/1982

Pai nosso, que estás nos céus

Werner Brunken

I — Introdução

O Pai Nosso faz parte do Catecismo Menor e Maior de Martim Lutero. Este quis, nas seis Partes que compõem o Catecismo, descrever os pontos mais importantes contidos na Sagrada Escritura. E um destes pontos é a oração do Pai Nosso. A oração foi, em todos os tempos, o elo de ligação entre as criaturas e Deus. Orar é falar com Deus. Como temos necessidade de falar uns com os outros, assim precisamos sentir que temos a necessidade de falar com Deus.

Jesus pessoalmente pediu que as pessoas orassem (Mt 6.5-11). Aconselhou a não usar muitas palavras e nem repetições inúteis. Ao mesmo tempo disse que Deus, o Pai, já sabe de tudo que precisamos, antes mesmo de pedir. Mas, apesar de Deus saber de tudo, Jesus ensinou a oração do Pai Nosso como modelo para todas as orações.

Helmut Thielicke deu ao seu livro sobre o Pai Nosso o título A orçação que envolve o mundo (ou abraça o mundo todo). Para explicar a validade deste titulo Thielicke diz que toda pessoa tem a necessidade de contar as suas alegrias e tristezas. E a oração do Pai Nosso serve muito bem para isto, pois em suas palavras expressa tudo que o coração humano sente.

Tertuliano disse certa vez: O Pai Nosso é um breviarium totius evangelii (um breviário ou resumo de todo o Evangelho). Podemos concordar com esta colocação, pois Jesus se identificou com esta oração. Ele próprio está contido nas palavras do Pai Nosso.

Uma mãe tinha ensinado seus filhos a orar desde pequenos. Certa noite o filho mais novo não quis adormecer. A mãe tomou a criança em seus braços e andou com ela pela sala. Enquanto o pai estava sentado numa poltrona, a filha de seis anos pediu para a mãe: Eu quero Ir para a cama; venha orar comigo mamãe. Eu não posso agora. Peça para o papai, para que vá com você e ore. O pai?, riu a pequena. Ele não sabe orar. E o pai, ao ouvir estas palavras, ficou envergonhado. Deus falou pela boca desta criança ao pai. Levantou-se, pegou • criança pelas mãos e disse: Eu também tive uma mãe que me ensinou a orar, mas eu esqueci tudo. Entretanto, quero aprender de novo a orar. Levou a criança para a cama e orou depois de não tê-lo feito durante muitos anos, a oração do Pai Nosso. Dai a importância de aprendermos a orar.

II — Meditação — Mt 6.9a

1. Contexto

Estas palavras fazem parte da oração do Pai Nosso. Ao mesmo tempo são precedidas por palavras sobre a oração. No conjunto todo, •s palavras fazem parte do Sermão da Montanha, que contém palavras de Jesus.

2. Tradução

Quanto à tradução deste texto, Lucas 11.2 não conhece as palavras nosso que estás nos céus. Na versão de Lucas a oração começa: Pai, santificado seja o teu nome. No entanto, a nota de rodapé cita escritos antigos que conhecem a frase toda. Nas notas de rodapé em Mateus encontramos também a forma singular estás no céu. Vamos ficar com a forma do texto de Mateus que, no nosso entender, expressa com clareza o de que precisamos. Mais detalhes abaixo.

3. Meditação

a) Pai

Esta palavra nos é familiar. Uma das primeiras palavras que uma criança aprende a pronunciar é pai. E como se sente feliz ao poder chamar: Pai! Esta possibilidade recebemos através de Jesus Cristo. Por ele podemos chegar a Deus e dizer: Pai. Não existe relação mais forte entre pais e filhos do que esta. Através da obra de Cristo, nos nos tornamos filhos de Deus, podendo assim falar com Deus como sendo o nosso Pai.

Martim Lutero expressou esta relação no Catecismo Menor com as palavras: Deus quer atrair-nos carinhosamente com estas palavras, para crermos que Ele é o nosso verdadeiro Pai e nós, os seus verdadeiros filhos, para que lhe roguemos sem temor, como filhos amados ao querido pai.

Jesus usou sempre a expressão Pai para falar com Deus. E isto lhe proporcionou uma comunhão perfeita com Deus, chegando a afirmar em Jo 10.30: Eu e o Pai somos um. E mais adiante Jesus diz em Jo 14.6: Ninguém vem ao Pai senão por mim.

Se podemos, portanto, falar com Deus como sendo o Pai, é porque Jesus nos precedeu e conquistou para nós esta possibilidade de chamarmos Deus de Pai.

O apóstolo Paulo descreve a relação com Deus assim: Pois todos que são guiados pelo Espirito de Deus são filhos de Deus... baseados no qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8.14-15). Sendo santuário de Deus (2 Co.6.16) Ele promete: Serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas (2 Co 6.18).

Assim, baseados em Cristo e nas palavras bíblicas, podemos viver esta realidade na vida de oração. Temos um Pai.

b) Nosso

É importante verificar que não se trata de meu Pai, mas de nosso Pai. Não é meu direito exclusivo poder pronunciar estas palavras, mas de todos. Todos podem proferir esta oração e chegar ao Pai: os fortes e os fracos, os grandes e os pequenos, os simpáticos e os antipáticos, idosos e jovens, brancos e pretos, ricos e pobres. Assim, o Pai Nosso é realmente a oração que abraça o mundo. Em todos os recantos do globo, onde pessoas se reúnem para prestar culto ao Senhor, aí ressoam as palavras do Pai Nosso.

Em encontros ecuménicos pode-se experimentar que, apesar das diferenças que separam as diversas igrejas, o Pai Nosso é compartilhado por todos. Podemos ser gratos que o Pai Nosso proporciona união diante de Deus.

c) Que estás nos céus

Nada podemos comparar com esta oração, que não se restringe a esta terra, mas chega até nos céus. No original grego lemos que está nos céus e não no céu. Muitos não entendem esta expressão e dizem que os que oram esta oração estão no mundo da lua, pois não existe céu. Foram os astronautas russos, que, ao viajarem pelas alturas na nave espacial afirmaram que não viram céu, nem Deus, concluindo dal que não existe Deus.

Entretanto, esta afirmação não prova nada, pois a astronomia ensina que o universo é grande, que não se consegue ver o seu fim. Diante desta imensidão o astronauta americano exclamou: Quando vi com meus olhos este maravilhoso mundo dos céus, ai só pensei uma coisa: que Deus deve ser aquele que criou tudo.

Assim, é completamente errado pensar que Deus mora num lugar determinado — no céu. A lingua inglesa define bem a diferença entre céu e céus. Para o céu com as estrelas, o sol e a lua o inglês un sky e para os céus no sentido bíblico, a palavra heaven. Isto nlgnifica que não vamos procurar Deus num determinado lugar que pudesse ser designado de céu. Os céus estão em todos os lugares, mesmo que isto pareça contraditório. Em todos os lugares, onde Deus está, é céu. O céu é o mundo de Deus, o que nós só conseguimos expressar com as parcas palavras nos céus. Onde Deus reina e tem todo o poder sobre o céu e a terra, ali ele está. Deus é vivo e pessoal; podemos falar com ele e ele não fica em silêncio. Deus, o Pai, reina sobre tudo e todos e guia a nossa vida insignificante maravilhosamente.

Este é o grande segredo que está presente quando oramos: Pai nosso que estás nos céus. Quão felizes podemos viver, pois temos um Pai que ouve as nossas orações e com o qual podemos contar em tudo e em todos os lugares.

III — Esquema para prédica (ou catequese)

1. Explicar o Pai Nosso como sendo:

a) Parte de um todo (palavras de Jesus) — Sermão da Montanha:

b) É introdução à oração do Pai Nosso;

c) Orar é falar com Deus;

d) Exemplo da criança (ver introdução).

2. Pai

3. Nosso

4. Que estás nos céus

5. Conclusão: Oração que abraça o mundo. Incentivar para fazer uso da mesma.

IV — Subsídios litúrgicos

1. Intróito: Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação (2 Co 1.3)!

2. Confissão dos pecados: Deus e Pai! Confessamos diante de ti a nossa falta de confiança em ti como sendo o nosso Pai. Pois tantas vezes desobedecemos, não conversando contigo. Perdoa-nos pelo sangue de Cristo, fortalecendo-nos para procurar-te com mais confiança. Tem piedade de nós, Senhor!

3. Absolvição: Assim diz Jesus Cristo: Em verdade vos digo, se pedirdes alguma coisa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome. Glória a Deus...

4. Oração de coleta: Deus e Pai! Estamos felizes por termos a ti como nosso Pai que nos une neste instante. Concede que este encontro nos fortaleça na confiança em ti, pois somos teus filhos, através de Jesus Cristo! Amém,

5. Leitura: Mateus 6.5-8.

6. Prédica: Mateus 6.9a.

7. Oração de intercessão: Pai! Nós te louvamos e glorificamos por esta lição excelente que recebemos. Jesus Cristo nos ensinou que temos um Pai que vela por nós. Como filhos se dirigem confiantes aos pais, assim dirigimo-nos a ti como sendo o nosso Pai. Concede que vivamos esta realidade e que possamos assim ser pais fiéis para os nossos filhos, aceitando-nos também como irmãos, que buscam a orientação do mesmo Pai.
Outras intercessões incluir à vontade.

V — Bibliografia

DANNEBAUM, H. Katechismusstunden für Erwacksene. Wuppertal, 1956.
GIRGENSOHN, H. Katechismusauslegung. Parte 1. 2.ed., Witten, 1960.
HELBICH, H. — M. Katechismus 74. 2.ed., München, 1974.
LUTERO, M. O Pai Nosso. São Paulo, 1365.
SCHABERT, A. Die Bergpredigt. München, 1966.
SCHNIEWIND, J. Das Evangelium nach Matthäus. In: Das Neue Testament Deutsch. Vol.2. 8.ed., Göttingen, 1956.
THIELICKE, H. Das Gebet, das die Welt umspannt. 10.ed., Stuttgart, 1961.

Proclamar Libertação – Suplemento 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1982 / Volume: Suplemento 1
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7299
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Há algo muito vivo, atuante, efetivo e poderoso na fé, a ponto de não ser possível que ela cesse de praticar o bem. Ela também não pergunta se há boas ações a fazer e, sim, antes que surja a pergunta, ela já as realizou e sempre está a realizar.
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