Estudo de Texto para Bênção Matrimonial - 1 Pedro 4.10

09/02/1988

ESTUDO DE TEXTO PARA BÊNÇÃO MATRIMONIAL

1 Pedro 4.10


Martin Weingärtner

Cada um conforme o dom que recebeu: servindo uns aos outros como bons administradores da diversificada graça de Deus.

A tradução literal do versículo já indica que o pensamento nele expresso por Pedro requer, para ser compreendido adequadamente, que levamos em conta o seu contexto. Por isto enfoquemos num primeiro passo os versículos 7 a 11 que formam o contexto imediato:

I — O contexto

V. 7a: A perspectiva que determina os conselhos compreendidos nesta passagem é a do reconhecimento da vinda de Cristo. Sua iminência condiciona decisivamente todo comportamento de quem a espera.

V. 7b: Assim a esperança pela revelação plena da glória do Senhor Jesus requer dos que a compartilham criteriosidade e sobriedade para sintonizar a vivência diária com o clamor da oração que os crentes dirigem a Jesus. Lembra-te de mim, quando vieres em teu reino.

V. 8a: Este critério de agir é o amor, acima de tudo (cf., 1 Co 13). Os cristãos o experimentaram no seu encontro com o Salvador, como João o expressa: Nisto consiste o amor, não que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou, e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Assim nós amamos porque ele nos amou primeiro. (1 Jo 4,10+19).

V. 8b— 11a: O apóstolo concretiza este amor enfatizando três aspectos da vida do discípulo:

1. V. 8b: A prática do perdão. Neste ponto o próprio apóstolo vem de um aprendizado inesquecível, pois ele mesmo perguntara a Jesus quantas vezes devesse perdoar ao irmão. A isto ele lhe respondera: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. (Mt 18,21-22).

2. V. 9: A hospitalidade. Só a experiência do acolhimento por Deus capacita a acolher também. Por isto o apóstolo enfatiza a hospitalidade. Um pai de igreja em Alexandria (Atanásio?) foi perguntado como ajudaria alguém a chegar a fé. Ele respondeu: Eu o convidaria a morar um ano em minha casa.

3. V, 10 —11a: O serviço. A graça capacita a servir. Este serviço se concretiza no testemunho da palavra e na ajuda concreta. Esta concretização do amor não se limita aos irmãos, mas inicia entre eles. Onde ela não for vivenciada na comunhão dos crentes, ela não acontecerá fora dela.

V. 11 b: Por fim o apóstolo aponta para a meta e o propósito do nosso agir. Tudo deve redundar exclusivamente para o honra e glória de Deus. Assim todo louvor próprio e toda auto-compensação são desalojados.

II — Enfoque detalhado do v. 10

O termo grego traduzido por servir é DIAKONEIN e significa servir à mesa, zelar, ajudar, prestar serviço. Ele descreve o zelo do garçom que serve à mesa: Este tem em vista as necessidades daquele que está à mesa, proporcionando-lhe tudo de que dispõe, ficando para almoçar por último.

Assim se caracteriza o servir mútuo entre os cristãos! O apóstolo não entra em pormenores, mas descreve o espírito de abnegação que marca o agir cotidiano. Esta foi também a direção do agir de Jesus que, em Mt 20.28, descreve seu ministério empregando a palavra DIAKONEIN: O Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Cf. também o relato de Jo 13 que mostra Jesus lavando os pés dos discípulos).

Ao apontar o rumo, o apóstolo não ignora que na concretização deste servir defrontar-nos-emos com situações das mais diversas. Por isto, de início, ele aponta para a diversidade de dons concedidos. Ela possibilita enfrentar a multiformidade da vida, capacitando-nos a ajudar um ao outro, pois ninguém recebeu todos os dons, de modo que todos carecem do serviço do irmão. E, também, ninguém que aceitou a graça de Jesus fica sem dom algum, de modo que terá com que contribuir à comunhão fraterna.

Em vista disto Pedro recomenda a boa administração destes dons: Quão facilmente eles são atraídos pelo remoinho dos que monopolizam os dons no seu serviço (p. ex. monopólio pastoral) e assim paralisam e asfixiam os dons dos outros irmãos.

O acesso a este servir mútuo é concedido unicamente pela graça de Deus. Esta nos é dada no serviço que Jesus Cristo prestou a nós dando a sua vida em resgate por muitos. Sem aceitar o seu serviço gratuito e abnegado ninguém poderá servir, pois o medo e o cuidado por si mesmo o impedirão. Mui acertadamente Lutero ensina no Catecismo Menor: Mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com os seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. O evangelho da salvação por graça em Jesus possibilita e capacita o serviço, e assim é a chave para o mesmo. Quem não foi chamado pelo evangelho somente poderia ser forçado a servir, mas, então, este não seria o servir alegre de Cristo.

III — Meditação

1. Lendo esta palavra em seu contexto observamos que ela se dirige à comunidade cristã como um todo. Assim deveremos procurar compreendê-la neste contexto maior, antes de aplicá-la ao âmbito do convívio conjugal numa alocução de Bênção Matrimonial. Esta aplicação não é indevida, pois o lar cristão é uma comunidade cristã, já que Jesus disse: Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. (Mt 18,20)

2. Não nos é lícito falar do servir, omitindo a graça concedida em Jesus. O chamado e desafio do evangelho de aceitar o serviço de Jesus que nos liberta do egoísmo é fundamental. Só ele cria comunidade, também no lar. A exclusão do serviço de Jesus, de sua morte salvffica e assim do seu perdão do convívio conjugal bloqueia o carregar as cargas uns dos outros (Gl 6,2).

3. As habilidades e os talentos que temos, de per si, ainda não são dons. Somente quando reconhecidos como dádivas graciosas de Deus eles se tornam dons no sentido bíblico. Assim também, p. ex. a diversidade dos sexos somente no contexto da graça se torna instrumento do servir mútuo de cônjuge, deixando de ser instrumento de opressão (machismo/feminismo).

IV — Esboço de pregação

1° Jesus quer servir-nos primeiro.
2°. Libertados servimos um ao outro.
3º. A boa administração da diversidade dos dons serve para glorificar a Deus.


Proclamar Libertação – Suplemento 2
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Martin Weingärtner
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1988 / Volume: Suplemento 2
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 7319
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Portanto, a fé é assim: se não vier acompanhada de ações, é coisa morta.
Tiago 2.17
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