Décio Emerique Lauretti (*1950)

Obra e Biografia

29/06/2012

Décio Emerique Lauretti (*1950) – HPD 449

Décio Emerique Lauretti, o autor da melodia do Hino “Que estou fazendo se sou cristão” nasceu aos 28/11/1950 em Casa Branca, uma pequena cidade no interior de São Paulo, filho de Rogério Lauretti e Nilda Emerique Lauretti. Entre seus parentes havia professores, pastores e escritores. A mãe era organista da igreja presbiteriana, o pai, bancário, tocava violino e regia o coral. A mãe lhe ensinou as primeiras notas ao piano, depois estudou com um velho professor de Casa Branca.

Em 1962 a família foi morar em São Paulo, perto da Igreja Presbiteriana da Vila Mariana, onde um tio era regente do coral. Aos treze anos Décio começou a cantar no Coral Evangélico de São Paulo, teve o primeiro contato com ‘O Messias’, de Händel. Aos quatorze anos tornou-se organista dos cultos das quartas-feiras, tocando num velho harmônio Bohn, que ele apreciava muito.

Estudou piano com duas outras professoras particulares e, aos quinze anos, teve as primeiras aulas de órgão com o maestro Samuel Kerr. Depois, foi aluno do então organista do Teatro Municipal de São Paulo, Ângelo Camin. Mais tarde teve algumas aulas de Harmonia. Nunca teve estudo formal de Composição. Com a chegada do primeiro órgão eletrônico, Décio tornou-se organista principal da igreja, acompanhando o coral em muitas apresentações em diversas cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Santos, Jaú.

Seu ‘primeiro e principal amor’ foi a música barroca, particularmente J.S. Bach. Aos quinze anos começou a rabiscar umas composições extemporâneas para piano e para órgão. Aos dezessete anos compôs um ‘Salmo 121’ para 4 vozes e órgão, que foi publicado. Para tal, obteve uma carteira de compositor na Ordem dos Músicos do Brasil.

Por volta dos dezoito anos, surgiu a idéia de fazer música sacra com estilo brasileiro. Cantavam-se somente músicas traduzidas, tanto nos corais como nos cultos. Nas reuniões da mocidade cantava-se os ‘corinhos’ do movimento ‘Palavra da Vida’, de origem americana.

Começou a musicar poemas de Gióia Jr. , usando o violão para compor em ritmo de samba, baião, cantigas singelas. Conheceu, pouco depois, a missionária presbiteriana Norah Buyers, musicista de imenso talento, a grande incentivadora dos músicos brasileiros para que produzissem música ‘com a nossa cara’. Por sua iniciativa, foi publicada a coletânea ‘Nova Canção’, pela Imprensa Metodista, onde constam 13 composições de Décio Lauretti. Desse período data a sua amizade com Jaci Maraschin, pastor anglicano, músico e poeta de talento, de quem compôs as melodias de alguns lindos poemas.

Para Natal de 1971 compôs uma Cantata de Natal, com acompanhamento de órgão e percussão (a primeira vez que se viu atabaque, triângulo, agogô no altar da igreja). Na Páscoa de 1973 foi apresentada uma Cantata de Páscoa de sua autoria, cujo texto mostrava a influência clara da Teologia da Libertação. Isso no auge da repressão da ditadura militar. E em 1974 seguiu a melodia para o hino “Que estou fazendo se sou cristão”, cuja letra é de João Dias de Araújo. Décio optou por uma seqüência harmônica barroca num ritmo brasileiro, o baião. Veja mais em HPD 449.

Duas outras peças de Décio para coral foram divulgadas: um poema belíssimo do Maraschin (‘Nasce Jesus nos caminhos abertos da espera ...’), para 4 vozes numa marcha-rancho. O maestro Umberto Cantoni, então regente do Coral Evangélico de SP apresentou-a num festival de corais na Suíça. A única pequena peça composta após a mudança para Socorro (1978) foi um ‘Kyrie’ para 4 vozes à capella.

Após a mudança para o interior, a participação musical tornou-se mais restrita. Em Socorro houve um Coral Municipal que por muitos anos foi dirigido pela esposa Telma, cabendo ao Décio o acompanhamento ao órgão.

Quanto à importância da música em sua vida, Décio confessa: “Me sinto muito privilegiado pela oportunidade que tive de ouvir boa música desde a infância em minha casa, através dos discos de meu pai. Na igreja, a música tornou-se a minha ‘porta para a transcendência’ e o veículo para os valores que julgava importante serem divulgados. Hoje, toco mais em minha casa, o que me proporciona momentos de grande alegria interior.”

Quanto à profissão: aos quinze anos, optou em tornar-se médico (influenciado pelo seriado ‘Dr. Kildare’ da TV, bem como pelos relatos de sua mãe sobre Albert Schweitzer, teólogo e organista de renome, e médico-missionário na África). - Estudou na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Formou-se em 1974. Fez dois anos de Residência em Cirurgia Geral no Hospital das Clínicas de SP, até fevereiro de 1977.

Telma, a esposa de Décio, é Pedagoga. O casal teve o desejo de mudar para um lugar que precisasse dos dois, nas áreas da Educação e Saúde. Travaram conhecimento com a região de Bragança Paulista. Ali Décio foi convidado para dar aulas de Cirurgia na Faculdade de Medicina daquela cidade. Nessa escola era professor titular de Técnica Cirúrgica e assistente de Clínica Cirúrgica, durante 22 anos.

Foram morar em Socorro que fica a 45 km de Bragança. Ali nasceram o filho Marcio e a filha Paula. No ano de 1978, não havia nenhum cirurgião residindo nesta cidade. Dr. Décio passou a trabalhar na Santa Casa. E no mesmo ano foi aprovado em concurso federal para o antigo INAMPS, e assumiu o cargo de cirurgião do Pronto-Socorro aos sábados no Hospital Heliópolis. Em dezembro de 2010 se aposentou, após completar sessenta anos de idade. Continua a atender normalmente em seu consultório e a operar na Santa Casa de Socorro.

Fonte: Informações por e-mail do próprio Dr.Décio E. Lauretti.

Notas:

1 Ele recorda: “Toquei numa igreja pela primeira vez no jubileu de 50 anos de pastorado de meu avô materno Theodomiro Emerique. Eu tinha seis anos de idade, minha mãe sentou-me ao seu colo no harmônio da igreja e, com ela pedalando os foles, toquei um hino dos ‘Salmos e Hinos’ que ela havia me ensinado.”
2 RAFAEL GIÓIA MARTINS JR. (1931-1996) foi membro ilustre da Igreja Batista de Vila Mariana, poeta que se destacou no cenário evangélico brasileiro e na poesia cristã brasileira. Poeta, Jornalista, Radialista, Político e Professor universitário..
3  Ele comenta a respeito: “Ainda guardo uma carta do então cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, ‘recomendando’ minha cantata, dando o respaldo da Arquidiocese à sua apresentação. Eram ‘tempos bicudos’, e tínhamos medo difuso das ‘autoridades’. “


Autor(a): Leonhard Creutzberg
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Música
Perfil do Texto: Autor Melodia
ID: 18144
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Arrisco e coloco a minha confiança somente no único Deus, invisível e incompreensível, o que criou o céu e a terra.
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