Estudo 9 - Que é necessário e o que é útil na igreja ( CA XV, XXVI e XXVIII )

Estudos da Confissão de Augsburgo

20/01/1980

ESTUDO 9
QUE É NECESSÁRIO E O QUE É ÚTIL NA IGREJA
(CA XV, XXVI e XXVIII)

Joachim Fischer

1. Liturgia, velas no altar, talar - para Quê? 

A. Tradições e costumes cristãos: não necessários à salvação 

Para quê temos liturgias para nossos cultos e velas acesas no altar? Para quê os pastores usam o talar? Para quê serve na Igreja a administração: o presbitério, o Distrito e a Região Eclesiástica, a IECLB com Concílio Geral, Conselho Diretor e Secretaria Geral? A Igreja não pode existir sem todas essas coisas? 

Sim, poderia. Pois ela é, antes de tudo, uma comunhão de pessoas, a congregação de todos os fiéis em torno da Palavra de Deus ( CA VII e VIII; cf. o estudo 8). Sem o evangelho, sem as pessoas (sem nós cristãos) e sem nossa fé em Deus a igreja não existe, nem pode existir. Mas não precisa haver uma determinada forma de liturgia, velas no altar, o talar para o pastor, determinados órgãos administrativos. Essas e muitas outras coisas, que podemos chamar de ritos, costumes ou tradições, não foram ordenados por Deus. Foram criadas pelos próprios cristãos. Têm, portanto, uma origem humana. Podem ser mais antigas ou mais recentes. Nenhuma, porém, é intocável, imutável. Pois tais tradições e costumes não são necessários à salvação (CA XV e XXVIII ): pela sobrevivência de tradições humanas não podemos merecer graça ou satisfazer por pecados (CA XXVI). 

Portanto, não têm razão todos aqueles que não querem mudar nada na Igreja, por exemplo, na forma do culto, no hinário, na administração. No querer mudar nada é uma atitude contrária ao Evangelho e a fé em Cristo. Somos livres no que diz respeito aos costumes e às tradições humanas na Igreja. E é altamente necessário preservar nas Igrejas a doutrina da liberdade cristã (CA XXVIII). 

B. Tradições e costumes cristãos: úteis ao convívio na comunidade 

Mas, se as tradições e costumes humanos não são necessários para a justificação e salvação, a não seria melhor abolir e eliminar tudo que não é Palavra de Deus?

Não, de maneira alguma. Na comunidade, na Igreja convivemos uns com os outros. Somos pessoas humanas (e filhos de Deus ao mesmo tempo). Para nosso convívio humano precisamos de certas regras, ordens, costumes, tradições. Senão haveria uma tremenda confusão ou anarquia total. Mas na Igreja faz-se tudo “com ordem e sem tumulto (CA XXVIII). Costumes e tradições humanas, portanto, são úteis à tranquilidade e à boa ordem na Igreja (CA XV). Por isso podemos ficar com os costumes e as tradições vivas e vividas que nos ajudam em nossa vida de Fé. 

Mas sempre devemos permanecer atentos. Há situações e momentos em que costumes e tradições não são mais uma ajuda, e sim, um obstáculo. Não servem mais. Tornam-se velhos, superados. Morrem. Então está na hora de mudá-los. Comunidades, pastores juntamente com seus presbitérios podem deixar atrás de si as velhas tradições e criar algo novo. No momento oportuno o próprio Jesus permitiu o que conforme os tradicionalistas não era lícito (leia Marcos 223-28). 

Também não têm razão, portanto, todos aqueles que querem acabar com todas e quaisquer tradições e costumes que temos em nossa igreja. Não têm razão os que querem forçar mudanças, custe o que custar, ou os que querem introduzir constantemente coisas novas sem que os outros tenham tempo suficiente para realmente aceitar e “digerir” as mudanças. Tal transformismo desvia os cristãos dos assuntos realmente importantes e provoca muita briga desnecessária e outros males na Igreja. 

2. O Evangelho - necessário em todos os sentidos 

Nunca devemos esquecer que as tradições e os costumes na Igreja não têm um valor em si. Querem levar-nos a Cristo, para o Evangelho. Esta é a fonte da vida de fé de cada um. É o centro e o fundamento da comunidade, da Igreja. No Evangelho Deus comunica-se conosco. Aceita-nos com toda a nossa culpa. Justifica-nos pela fé por causa de Cristo. O Evangelho, pois, é indispensável para nós cristãos: 

“É necessário preservar o artigo principal do Evangelho: que alcançamos a graça pela fé em Cristo, no por determinadas observâncias ou por cultos instituídos pelos homens. (CA XXVIII) 

A Igreja está autorizada e incumbida por Deus a divulgar o Evangelho de todas as maneiras possíveis: 

a) pregando-o publicamente (nos cultos, nos meios de comunicação); 

b) batizando pessoas que aceitam Jesus Cristo como seu Senhor; 

c) distribuindo a Santa Ceia a todos que procuram, em alegria ou tristeza, a comunhão com Cristo; 

d) anunciando aos aflitos o perdão de seus pecados ou rejeitando pedidos de perdão não-sinceros; 

e) orientando as pessoas com firmeza e clareza em questões de fé numa sociedade em que proliferam religiões e seitas; 

f) rejeitando tudo que é contra o Evangelho; 

g) excluindo da comunhão da Igreja, unicamente através da Palavra de Deus, todos os teimam em resistir a Deus.

Segundo o Evangelho compete àqueles que estão incumbidos do ministério da palavra e dos sacramentos: perdoar pecados, rejeitar doutrina que dissente do Evangelho -é-- excluir da comunhão da Igreja os ímpios cuja impiedade é conhecida. Todavia, sem força humana, mas com a palavra. (CA XXVIII) 

Nessas atividades consiste o poder dos cristãos e da Igreja. É um poder bastante diferente daquilo que se entende por poder no mundo. É o poder do serviço, do amor ao próximo. 

Que é necessário na Igreja? 

A doutrina sobre a graça e a justiça da fé. Ela é a parte principal do Evangelho e deve ter eminência na Igreja acima de tudo. (CA XXVI) 

Que é útil na igreja? 

Tudo - tradições, costumes, ritos humanos - que ajuda a promover o Evangelho e a fomentar a fé. 

3. Perguntas para reflexão 

a) Que tradições e costumes vivos há em sua comunidade? 

b) O que merece ser mudado nas tradições de sua comunidade e da nossa igreja - e, por quê? 

c) Você sabe o que significam as diversas partes da liturgia dos nossos cultos? (Para aa reflexão desta questão observe a ordem do culto dominical, contida no fim do hinário da IECLB.) 

d) Como podemos divulgar e promover melhor o Evangelho de Cristo? 

4. Hinos sugeridos 

No. 129: Deus, Teu Verbo, o dom precioso
No. 103: Conosco, em Tua graça

Veja:

Confessando Nossa Fé – Estudos da Confissão de Augsburgo

A Confissão de Augsburgo (sem notas e comentários)
 


 


Autor(a): Joachim Fischer
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Confessando Nossa Fé - Estudos da Confissão de Augsburgo / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980
Natureza do Texto: Educação
ID: 19774
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