Eu sou um peregrinador

Comentário e reflexão

26/04/2014

HPD 179 – Eu sou um peregrinador

Letra: Friedrich Adolf Lampe (1719)

Melodia: do Saltério de Genebra, 1562

Textos bíbl.: Salmo 39.4-7; Salmo 84.1-12; Hebreus 11.13-16; Hebreus 13.14-15.

No ano de 1713, após uma epidemia de peste na cidade de Bremen, o então pastor da Igreja St. Stephani em Bremen, Friedrich Adolf Lampe (1683-1729), publicou um livro de conteúdo edificante, intitulado “Balsam aus Gilead, wider ansteckende Seuchen, zur gemeinen Erbauung bei diesen gefährlichen Läuften, mitgetheilet” (Balsamo de Gileade1, contra epidemias contagiosas, para edificação geral, nestes tempos2 perigosos, distribuido). Esta publicação contém nove hinos da autoria do P.Lampe. Em 1719, depois de ter passado pessoalmente por grave enfermidade, Lampe fez uma 2ª edição, acrescentando ainda uma oração e uma prédica. Nesta edição se encontram as 7 estrofes do hino “Mein Leben ist ein Pilgrimstand”, do qual temos quatro estrofes traduzidas em nosso hinário “Eu sou um peregrinador”. (Fonte: http://nl.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Adolph_Lampe )

Um ditado da Índia diz: “O mundo é como uma ponte. Passe por ela, mas não construa sua casa sobre ela”. É isto que o hino “Eu sou um peregrinador” nos quer ensinar. Pois é uma reflexão profunda a respeito de nossa vida, ou melhor: minha vida (do início até o fim o autor usa a 1ª pessoa no singular): Eu sou um peregrinador, ou peregrino.

O que é um “peregrinador”? O que ele faz? O que ele sonha ou espera? – O Dicionário Priberam da Língua Portuguêsa (http://www.priberam.pt/dlpo/peregrino) oferece várias definições: 1. O que anda em peregrinação a lugares santos. 2. Viajante, romeiro. 3. Estrangeiro. 4. Que está nesta vida para passar à eterna. – Nosso hino deixa claro que peregrino é a pessoa que segue sua jornada do berço até o túmulo, tendo como alvo definido a vida eterna. A 1ª estrofe esclarece: “Busco o Reino do Senhor. Voltado para a eternidade”. E´ com outras palavras o mesmo que o apóstolo escreve em Hebreus 13.14 “Na verdade, não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir”. O apóstolo João, em lugar disso, fala da “cidade santa, a nova Jerusalém” (Apocalipse 21.2+10).

A 2ª estrofe com as palavras “Os dias fogem sem parar... Rapidamente o fim virá!” dirige nossa atenção ao Salmo 90.9-10: “Acabam-se os nossos anos como um breve pensamento... tudo passa rapidamente, e nós voamos.” Lampe, quando fez o hino, ainda não contava com 40 anos de idade. Mas ele sabia: cada dia é como mais um passo em direção à eternidade. - Depois desta constatação surge inevitavelmente a pergunta: Será que estou preparado para me despedir da vida terrena? Ou, como posso preparar-me? O autor do hino sabe a resposta: Jesus Cristo é Senhor e Redentor. Por isso passa a usar a forma de oração e pede: “Senhor Jesus, prepara já minha alma e dá-me a tua graça!”

Na 3ª estrofe fica claro que peregrinação não é um passeio agradável ou uma alegre viagem turística. Às vêzes passamos por escuridão (Salmo 23.4: vale da sombra da morte), tempestade, tormentos, coração fraco, alma assustada. Esta estrofe não serve como propaganda atraente para chamar descrentes. Mas somos lembrados da realidade dura desta vida terrena. Porém, como o autor deste hino, não precisamos desesperar; mas podemos voltar-nos a Deus. Pois sua Palavra é lâmpada para nossos pés e luz no caminho (Salmo 119.105). Jesus havia preparado seus discípulos, dizendo: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16.33).

Na 4ª estrofe o autor põe em prática este “me volto a ti, meu Deus”; pois usa novamente a forma de oração. Ele o invoca, usando dois títulos para Jesus: “guarda de Israel” e “peregrino fiel”. O termo “guarda de Israel” encontramos no Salmo 121.4-8: “É certo que não dormita nem dorme o guarda de Israel... O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.” Na Bíblia não achamos nenhum lugar em que Jesus seria chamado de “peregrino”. Mas Lampe toma a liberdade de chamá-lo deste modo. Ele mesmo explica o motivo, na 4ª estrofe: “Foste um peregrino fiel: Em carne e sangue a nós vieste”. Disto a Bíblia não deixa dúvida. Basta lembrar João 1.14 “O Verbo se fez carne e habitou entre nós...” ou Filipenses 2.7: “A si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens.

No final do hino pedimos que Deus mostre a direção certa para seu Reino. Lembramos mais uma vez que “a vida foge”. Rogamos “Ó vem, Senhor”, como João o fez no final do Apocalipse 22.20 “Vem, Senhor Jesus”. E com confiança nos entregamos a Ele dizendo: “Recebe o peregrinador!” (cf. Jesus, Lucas 23.46 “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!”)

Notas:

1.Baseado em Jeremias 8.22 e 46.11

2. Época do Iluminismo ou Século da Luz, quando imperava a razão humana e se desprezava a fé em Deus.

3. John Julian, Dictionary of Hymnology (1907) indica 1723 como ano de primeira publicação do hino. 

Fontes:

http://www.hymnary.org/person/Lampe_FA1

http://de.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Adolf_Lampe


 


Autor(a): Leonhard Creutzberg
Âmbito: IECLB
Hino: 179. Eu sou um peregrinador
Natureza do Texto: Música
Perfil do Texto: Comentário ou reflexão sobre hino
ID: 28312
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