À frente do Conselho Mundial de Igrejas

Entrevista

13/08/2008

Oziel Alves

“Um só Deus. Um só Espírito. Uma só fé.” Esta é uma tríade que vem sinalizando o caminho do cristianismo no mundo. Atualmente existem mais de 38 mil tipos de denominações cristãs diferentes, entre católicos, ortodoxos, anglicanos, metodistas, luteranos, batistas, presbiterianos, pentecostais, neopentecostais, etc. Na teoria, um só povo. Na prática, grandes ou pequenas diferenças ideológicas parecem delimitar – seja com muros, cercas, interpretações, doutrinas ou costumes – esta afirmação. Mas, afinal: é possível existir união verdadeira entre denominações distintas apenas pelo fato de confessarem a mesma fé em Cristo Jesus?

Foi diante desse desafio que, em 1948, um grupo de delegados, representando diversas igrejas cristãs, reuniu-se em Amsterdã (Holanda), para selar “um firme propósito de permanecerem juntos”, deixando as diferenças de lado, para considerar aquilo que tinham em comum. Num período de pós-guerra, enquanto nações lamentavam a destruição de suas cidades e milhões de refugiados abandonavam suas famílias para fugir do terror, surge o Conselho Mundial de Igrejas, uma organização que chegou em boa hora, porque além de conjugar missão, espiritualidade e diálogo teológico, se empenha no desenvolvimento de projetos de apoio e responsabilidade social.

A instituição cresce rapidamente. Ganha notoriedade junto à sociedade e órgãos internacionais, sobretudo pelos programas de serviço como combate à fome, miséria, Aids e discriminação racial. Em pouco tempo, se notabiliza como a maior organização cristã empenhada na luta pela unidade da igreja e pelo diálogo inter-religioso.

Se por um lado o ecumenismo ganha forte apoio, sobretudo por parte das denominações ortodoxas, anglicanas, luteranas etc., por outro, principalmente entre as igrejas evangélicas brasileiras conservadoras, ele se estabelece como um dos principais empecilhos para o engajamento nesta unidade, já que por muitas denominações o movimento é considerado anticristão, visto que ignora o princípio coletivo da perseverança na doutrina dos apóstolos, conforme Atos 2.42, para configurar suas relações.

As críticas e acusações são muitas. Algumas delas, dirigidas até mesmo à alta cúpula da instituição. E foi para esclarecer essas questões um tanto polêmicas, que Enfoque entrevistou uma das maiores autoridades do CMI, o rev. dr. Walter Altmann, gaúcho que desde 2006 desempenha a função de moderador do Comitê Central da instituição.
Altmann, 68, é casado e tem quatro filhas. Na juventude, estudou Teologia em São Leopoldo (RS), prosseguiu com os estudos em José C. Paz, na Argentina, e logo concluiu seu doutorado em Hamburgo, na Alemanha. Por três anos foi pastor em Ijuí (RS), e mais tarde integrou o corpo docente da Faculdade de Teologia da IECLB, onde fizera sua graduação. Em 1981, assumiu a direção da universidade. Como reitor, por seis anos trabalhou na estruturação e implantação da Escola Superior de Teologia (EST), criando diversos institutos e o programa de pós-graduação que coordenou de 1989 a 1994. De 1995 a 2001, Altmann assumiu a presidência do Conselho Latino-Americano de Igrejas e, em 2002, foi eleito presidente nacional da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil, uma denominação com mais de 700 mil membros – permanecendo até hoje no cargo.

ENFOQUE – Décadas atrás, algumas igrejas pediram o desligamento do CMI por acreditarem que a instituição havia deixado de lado os valores cristãos tradicionais para se dedicar integralmente às questões políticas e econômicas. Nestes 60 anos de história, o CMI de fato se tornou um organismo de ajuda humanitária ou ele é muito mais do que isso?

WALTER ALTMANN – A maioria das igrejas evangélicas brasileiras nunca esteve afiliada ao CMI. Não compartilhavam, como em boa medida ainda não compartilham, do propósito de empenhar-se pela unidade entre as igrejas cristãs. Como me disse candidamente o líder de uma delas: “Nós crescemos por divisão”. Há, no mundo evangélico e pentecostal, o temor da constituição de uma superigreja, embora este não seja de forma alguma o objetivo do CMI, mas sim o do diálogo e da cooperação, com o empenho por uma unidade que reconcilie diferenças e que não represente uma uniformidade, mas antes de tudo um reconhecimento mútuo da fé em Cristo como nosso Senhor e Salvador. As igrejas que fazem parte do CMI desejam ardentemente corresponder à oração de Jesus de que “todos sejam um, para que o mundo creia”, assim como Ele e o Pai são um (Jo 17.21).
A ajuda humanitária tem sido, na vida do CMI, apenas um aspecto, e não o primordial. Desconheço se foi esta a razão pela qual a Igreja O Brasil para Cristo, após um breve tempo de membresia, se retirou do CMI, mas ela foi a única igreja brasileira a fazê-lo.

ENFOQUE – O CMI já estabeleceu alguma relação ecumênica com o islã, o espiritismo, o candomblé e algumas religiões não-cristãs? A pergunta se deve à aproximação dessas religiões durante a 9ª Assembléia do CMI, realizada em Porto Alegre.

WALTER ALTMANN – Não temos uma relação formal com nenhuma dessas religiões. Contudo, o diálogo inter-religioso é uma das faces do trabalho do CMI, e no Brasil ele se dá de forma mais intensa com as tradições afro-brasileiras do que com o islã, por exemplo. O objetivo desse diálogo não é de forma alguma unir ou fusionar as religiões, mas o de conhecer-se mutuamente melhor, ajudar a superar conflitos religiosos onde eles existem e cooperar, na medida do possível, em favor de objetivos comuns, como, por exemplo, a promoção da paz entre os povos. A 9ª Assembléia do CMI proporcionou espaço para oficinas e atividades oriundas de diversos círculos, inclusive aqueles ligados ao diálogo inter-religioso. Essas oficinas, porém, não foram parte integrante das sessões administrativas e programáticas do CMI, de que participaram os delegados das igrejas-membros.

ENFOQUE – Parafraseando suas próprias palavras – “muitas das novas igrejas rejeitam o ecumenismo, sobretudo se a igreja católica estiver envolvida” –, qual seu pensamento com relação a este quase “boicote” das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais?

WALTER ALTMANN – Respeitamos as decisões de todas as igrejas e buscamos, na medida do possível, dialogar com elas. No Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) há um bom número de igrejas pentecostais afiliadas e, quando presidente do CLAI, tive um bom relacionamento com elas, o que, sem dúvida, enriquece um organismo ecumênico como o CLAI. Algumas dessas igrejas pentecostais latino-americanas são membros do CMI também, com participação inclusive em seu comitê central.

Creio que à medida que estabelecemos diálogo e removemos mal-entendidos, abrem-se novas perspectivas de cooperação, mesmo se não passarem por afiliação formal ao CMI. A cooperação é mais importante do que a filiação. Aliás, o movimento ecumênico é mais aplo do que o CMI, que pretende apenas servir ao movimento ecumênico mais abrangente.
Um desenvolvimento importante, nesse particular, é o surgimento do chamado Fórum Cristão Global, que teve sua primeira reunião latino-americana (com participação pentecostal, também do Brasil) em Santiago do Chile, em junho de 2007, e o primeiro fórum global em Limuru, no Quê¬nia, em novembro de 2007. Ali, pela primeira vez na história, se reuniram altos representantes de praticamente todas as famílias cristãs – ortodoxos, católicos, protestantes históricos, protestantes evangelicais, pentecostais e independentes – que compartilharam suas experiências de fé e de sentido vocacional. É um caminho promissor, cujo desenvolvimento encomendamos à orientação do Espírito Santo.

ENFOQUE – Ecumenismo: esta palavra pode estar sendo mal interpretada?

WALTER ALTMANN – Há uma série de mal-entendidos em relação ao ecumenismo e em relação à própria palavra “ecumenismo”. Já aludi ao mal-entendido de que o CMI pretendia constituir-se numa “superigreja”. Ao contrário, o CMI constitucionalmente é um instrumento de diálogo e serviço das igrejas-membro, mas não tem qualquer prerrogativa de decisão sobre questões de doutrina, moral ou liturgia, em que a autonomia de cada uma das igrejas é plenamente respeitada.

Outro equívoco é que o ecumenismo teria algo a ver com “comunismo”. A semelhança fonética entre as palavras poderia estar sugerindo esta associação. Ela é, contudo, totalmente descabida. A responsabilidade social dos cristãos, pela qual o CMI advoga, é inspirada pelo próprio Evangelho, e não por alguma ideologia humana. Ela pretende corresponder, por exemplo, ao que Jesus Cristo nos ensinou na parábola do bom samaritano (Lucas 10) ou na parábola do juízo final (Mateus 25).

“Ecumenismo” provém da palavra grega (e bíblica) oikos, que significa casa. Trata-se, pois, do cuidado de nossa própria casa, nossa casa espiritual, a igreja cristã, e a casa em que habitamos, toda a criação de Deus. Nesse sentido, muitas igrejas entendem o ecumenismo como um chamado irreversível, como parte da própria natureza de cada igreja que, fiel ao Evangelho, não busca o sectarismo, mas o entendimento e a comunhão.

ENFOQUE – A cultura pós-moderna ocidental tem contribuído para a aceitação do homossexualismo, aborto e manipulação de células-tronco embrionárias como normais e biblicamente justificáveis. Como o CMI se posiciona diante dessas três questões tão polêmicas?

WALTER ALTMANN – Como já me referi, o CMI não “legisla” para as igrejas acerca de questões doutrinárias ou de moral, que são prerrogativas de cada uma das igrejas. Assim, o CMI não tem uma posição oficial em nenhuma das questões mencionadas. Na mesma medida em que estas questões são polêmicas em outros círculos, também entre as igrejas-membro do CMI elas não são alvo de consenso absoluto. Todavia, nem por isso essas questões devem ser vistas como tabu para o diálogo consciencioso e mutuamente respeitoso, sempre procurando auscultar os preceitos bíblicos, considerar os avanços do conhecimento científico e ter cuidado pastoral para com todas as pessoas.

ENFOQUE – Qual o posicionamento do CMI com relação à idéia de introduzir ensinamentos de outras religiões nas escolas?

WALTER ALTMANN – O diálogo sempre visa aproximações, remoção de mal-entendidos, busca de compreensão comum no assunto em pauta. Em relação ao diálogo inter-religioso, não parece haver dúvida de que a educação, no sentido de transmissão objetiva e justa das mais diversas religiões, é um elemento muito importante.

Nós, cristãos, não gostaríamos de que os adeptos de outras religiões nos julgassem sem o devido conhecimento do que cremos e defendemos, fazendo generalizações arbitrárias acerca de nós e da fé cristã. Então, tampouco devemos fazê-lo em relação às outras religiões. Isso de forma alguma compromete nossas próprias convicções cristãs. Ao contrário, nos auxilia em apresentarmos nossas convicções de forma adequada, assim como o apóstolo Paulo o fez no areópago de Atenas (At 17).

ENFOQUE – O que as religiões não sabem sobre o CMI e que deveriam saber antes de criticá-lo?

WALTER ALTMANN – O CMI não faz juízo sobre o conhecimento de outras religiões a seu respeito. Saliento, porém, que somos abertos a críticas. O CMI não se considera de modo algum uma entidade perfeita, imune à pecaminosidade humana, que afeta a vida de todas as igrejas e de todas as religiões, mesmo quando se empenham em ser fiéis a seu mandato e à sua vocação. É claro que as críticas só serão realmente proveitosas quando estiverem fundadas no correto conhecimento das posições defendidas e dos programas desenvolvidos pelo CMI.
O CMI tem muitas publicações (embora a maior parte delas apenas em inglês) e um site cheio de subsídios, também em espanhol, uma das línguas oficiais do Conselho (www.oikoumene.org). Entretanto, o CMI jamais visa polemizar, mas sempre buscar um melhor entendimento mútuo.

ENFOQUE – Há uma matéria – publicada pela FrontPageMagazine.com e intitulada “Fantasmas Soviéticos Assombram o CMI” – circulando na web, que o acusa de ser um teólogo pró-marxista e socialista e de ter apoiado, no final da década de 60, a agenda da Instituição CCP (Conferência Cristã pela Paz), da qual o senhor participava. A instituição fora citada como ferrenha defensora das iniciativas soviéticas mundiais, desde a invasão ao Afeganistão, passando pela lei marcial na Polônia, até as exigências para que o Ocidente se desarmasse. Ao que se sabe, tal reportagem lhe trouxe alguns constrangimentos. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

WALTER ALTMANN – Não diria que a reportagem me trouxe constrangimentos porque quem me conhece sabe que as acusações são totalmente infundadas e arbitrárias. Ela me trouxe, isso sim, muita decepção de que no âmbito cristão sejam construídas matérias desse tipo e difundidas livremente, sem o cuidado elementar de ouvir as próprias pessoas criticadas e acusadas. Nesse sentido, agradeço à revista Enfoque por me dar, nesta entrevista, a oportunidade de esclarecer essa questão.

Qualquer pessoa minimamente informada acerca da Conferência Cristã pela Paz (CCP) sabe que ela teve duas fases: antes e depois da invasão da Tcheco-Eslováquia pelas tropas soviéticas em agosto de 1968. Como movimento, a CCP surgiu na década de 1950 e foi inspirada pelo respeitável teólogo tcheco Josef Hromádka, que se empenhava pelo encontro e diálogo de cristãos do Leste e Oeste, no tempo da assim chamada Guerra Fria.
Fui convidado e participei da Conferência que se realizou na capital do país em março de 1968, em plena Primavera de Praga, que foi inclusive animada pela CCP e por Hromádka. Foi para mim, jovem pastor, uma experiência marcante encontrar e dialogar com cristãos de todo o mundo, inclusive aqueles que viviam em países da área de influência da então União Soviética. Também foi tocante testemunhar as esperanças do povo tcheco com o processo de abertura do regime e de construção de um “socialismo de face humana”.

Quanto à invasão soviética, Hromádka manifestou de público sua profunda decepção e crítica candente. Quanto a mim, não tive a partir daí nenhum contato mais com a CCP. Portanto, é totalmente descabido fazer referência a eventos posteriores, como a invasão do Afeganistão, e pretender, à base disso, estabelecer alguma ligação soviética minha ou do CMI. Sou cristão e é a partir da fé em Jesus Cristo que procuro pautar todas as minhas ações.

ENFOQUE – Qual o seu maior desafio e a sua maior recompensa frente a uma instituição que congrega 349 denominações, entre ortodoxos, anglicanos, protestantes, pentecostais e independentes de 110 países diferentes?

WALTER ALTMANN– No CMI é grande a pluralidade das igrejas representadas; grande, portanto, a variedade de tradições confessionais, de estilos de ser igreja, de ênfases teológicas, de formas de adoração. Isso sem falar nas diferenças culturais, já que ali estão congregados representantes de igrejas de todas as regiões do mundo.

O maior desafio, mas também a experiência mais gratificante, é desenvolver nessa pluralidade o sentido profundo de fraternidade entre irmãos e irmãs na fé em um mesmo Senhor e Salvador, sob o trino Deus, reunir-se em oração (nos mais diferentes estilos – Deus sempre nos ouve!), compartilhar experiências de fé, dialogar acerca dos assuntos que movem as igrejas e fortalecer-se mutuamente para a missão, o serviço e o testemunho público. Não posso imaginar-me sem essa profunda experiência de vivência cristã.

ENFOQUE – No dia 9 de setembro de 1964, W. A. Visser ‘t Hooft, primeiro secretário-geral do CMI, disse que o Conselho era um instrumento da unidade cristã. E ele foi além – “Ele deve desaparecer quando esta unidade for alcançada”. Quarenta e quatro anos depois, como você avaliaria a questão da unidade da Igreja no mundo?

WALTER ALTMANN – Como o CMI é um instrumento das igrejas e não uma finalidade em si, é parte de sua identidade e visão projetar os tempos em que ele se torne superado e, portanto, desnecessário, porque as igrejas terão encontrado outros caminhos para dar expressão palpável à sua unidade. Em minha alocução ao Comitê Central do CMI, em fevereiro passado*, quando celebramos os 60 anos de criação do Conselho, mencionei que muitas pessoas podem estar desencantadas com a lentidão do processo de aproximação e entendimento entre as igrejas cristãs. As dificuldades e os obstáculos são maiores do que o entusiasmo inicial que o ecumenismo fazia supor.

Há a tentação permanente de nos recolhermos cada qual ao interior de sua própria denominação. Mesmo assim, há avanços notáveis: em primeiro lugar, há a radical mudança de clima no relacionamento entre as igrejas, hoje muito mais respeitosas mutuamente; em segundo lugar, se o termo “ecumenismo” ainda é controvertido, a “unidade”, que é o coração do ecumenismo, é mais um tópico importante na agenda de todas as igrejas, não apenas daquelas que são membros do CMI.

ENFOQUE – Qual a importância do envolvimento da Igreja em questões políticas, econômicas e sociais, como é o trabalho do CMI no combate à Aids na África, por exemplo?

WALTER ALTMANN – Acentuo primeiramente que o CMI considera missão, diálogo teológico e ação social como partes integrantes da responsabilidade que as igrejas têm, e não considera a ação social como mais importante do que a missão e o diálogo teológico.
No tocante às questões políticas, econômicas e sociais, observamos que a globalização econômica não diminuiu a pobreza, a desigualdade e a destruição da natureza. Pelo contrário, levou à destruição do meio ambiente e aumentou o abismo entre pobres e ricos. Hoje provoca até uma crise alimentar de dimensões globais. Os grupos mais afetados são os pobres e, dentre eles, em especial as mulheres, os jovens, os povos indígenas e as pessoas com deficiência.

O grande desafio ecumênico nesta área é relacionar a pobreza, a riqueza e a ecologia a partir de uma forma concreta de análise, reflexão e ação com vistas à transformação de estruturas econômicas injustas, contribuindo, inclusive, para erradicar a pobreza, conforme a oitava Meta para o Milênio, estabelecida pela ONU.

No tangente ao trabalho relacionado ao combate à Aids, menciono a “Iniciativa Ecumênica em HIV e Aids na África”, que é desenvolvida entre as igrejas e pessoas na prevenção contra esta pandemia, promovendo o cuidado e aconselhamento às pessoas afetadas, e trabalhando pela eliminação do estigma e da discriminação sofrida pelos soropositivos.

Igrejas e comunidades são capacitadas e preparadas para interpretar seu papel nesses contextos a partir de sua confissão cristã, sua reflexão teológica, educação e ação. Consultorias, treinamento, publicações e aconselhamento pontual são oferecidos pelas igrejas e organizações ecumênicas que trabalham na região.

ENFOQUE – O CMI se notabilizou, sobretudo nos anos 80, por contribuir com o fim do apartheid. Como aconteceu esta mobilização?

WALTER ALTMANN – O racismo tem sido motivo de preocupação do movimento ecumênico ao longo dos últimos 70 anos. Em 1968, o comitê central do CMI criou o Programa de Combate ao Racismo (PCR). Houve ação junto aos governos dos demais países pleiteando a remoção do apoio ao regime segregacionista na África do Sul e na então Rodésia. Houve também empenho a que se retirassem os investimentos em empresas que apoiavam o apartheid. E houve ajuda humanitária, na área da saúde e da educação, à população pobre das nações em conflito.
A oitava assembléia do CMI, realizada em Harare, Zimbábue, em 1998, celebrando os 30 anos desse programa, recebeu o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela. Ele ocupou a tribuna central para agradecer o empenho direto do CMI na luta contra o apartheid e destacou a contribuição, entre outras, na área educacional: “O apoio de vocês exemplificou, na forma mais concreta possível, o modo através do qual a religião contribuiu para a nossa libertação”.

Enquanto isso, infelizmente, houve também outras igrejas que sustentaram o regime do apartheid, inclusive procurando legitimá-lo biblicamente. Também hoje o racismo não está superado no mundo e o CMI continua sabendo-se responsável na busca de sua abolição em toda parte, em todas as suas formas.

ENFOQUE – Que recado você deixaria para a liderança das denominações brasileiras, sobretudo aquelas que ainda não fazem parte do CMI e que, por razões conhecidas ou não, ainda rejeitam esta idéia de apoiar o ecumenismo?

WALTER ALTMANN – Eu faria um convite fraterno à liderança das denominações brasileiras a que buscassem as informações mais amplas possíveis acerca do CMI, não apenas de fontes terceiras, mas também junto a ele próprio. E abrissem a oportunidade do diálogo com irmãos e irmãs na fé que têm participado da vida do CMI, sem juízos prévios, mas no intuito de nos conhecermos mutuamente de modo mais profundo. Para contatar o CMI, basta acessar o website http://www2.wcc-coe.org/.

O cenário religioso mundial está em profunda transição. A proliferação de igrejas no mundo, em número cada vez maior, por mais regozijo que possa causar pelo crescimento de igrejas, não pode ser o alvo final de nossas relações. Precisamos dar ao mundo um testemunho mais unido da “razão da esperança que há em nós” (1 Pe 3.15).

* Disponível em www.oikoumene.org
(Fonte: Revista Enfoque Gospel – Edição 84 – jul/2008 )

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