Hebreus 13 - Culto de Instalação de Lideranças de Comunidade

Celebração

01/12/1995

1. Introdução

O que diferencia uma instalação de uma ordenação? Esta foi a pergunta que eu não soube responder direito a um estagiário norueguês, depois da instalação de um PPHPista (bacharel em Teologia em Período Prático de Habilitação ao Pastorado). Ensaiei uma resposta no sentido de que a ordenação era de caráter mais geral, definitivo, formal e que a instalação era mais restrita ao local de trabalho, limitada a determinado tempo de trabalho, talvez uma celebração de reavivamento da ordenação para o ministério naquela comunidade específica. Talvez se pudesse dizer ainda que ministros/as pastorais, catequéticos/as, diaconais são ordenados/as por Deus e instalados/as por lideranças da estrutura ecle¬siástica, segundo critérios muito humanos e — por que não dizer? — mundanos.

Não fiquei satisfeito com esses pensamentos provocados pela surpresa de uma pergunta inesperada. O assunto merece uma abordagem de mais fôlego, à parte. Importante, para este auxílio, é que um estudante de Teologia teve dificuldade de distinguir uma instalação, segundo a liturgia proposta no Manual de Ofícios Especiais, de uma ordenação.

Por isso, neste auxílio homilético me proponho a: a) levantar alguns pontos de reflexão sobre a prática e o sentido de instalações na Igreja; b) meditar sobre Hb 13, na perspectiva de uma instalação de lideranças de comunidade; c) sugerir um modelo alternativo de ato litúrgico para instalação de presbitério em comunidade ou paróquia.

2. Instalações

Em nossa Igreja estamos começando a ampliar as ordenações e instalações para outros ministérios além do pastoral. O valor dado a elas vai desde uma celebração especial até um penduricalho incómodo de um culto dominical que poderia ter sido mais breve.

Fim qualquer Igreja as ordenações e instalações informam sobre a relação entre sacerdócio geral e ministério especial. Pelo Batismo somos ordenados sacerdotes reais, isto é, pessoas totalmente autónomas e livres, sem necessidade de intermediários nas esferas política e religiosa. Pela ordenação ministerial — que de modo algum acrescenta algo ao Batismo — recebemos um ministério especial. Pela instalação recebemos um ministério ou cargo num local determinado e por um tempo determinado.

A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos, ecoa em meu ouvido, passando a ideia de que um cargo na Igreja sempre é um fardo pesado. Tem um efeito que apenas confirma a realidade, produzindo inércia e acomodação. A compreensão equivocada de que as diretorias estão aí para carregar o piano, ao invés de coordenar o trabalho de toda a comunidade, tem tirado a alegria de servir e esvaziado as assembleias. Poucos ainda se deixam empurrar. A Igreja toda sofre. Nenhum ministério especial pode funcionar se o sacerdócio geral não funciona. E isso também vale para o pastorado!

Penso que o equívoco de fazer em lugar de (presidente bom é aquele que carrega bastante caixas de cerveja, bate martelo construindo barracas e palcos de festas) está ligado ao equívoco de muitas comunidades estarem mais para associações religiosas do que para igrejas. Por isso, é necessário ter claro se estamos instalando a diretoria de uma associação religiosa ou o presbitério de uma Igreja.

O que, honestamente, caberia dizer a uma diretoria de associação religiosa: ' 'Agora é com vocês. Tratem de se esforçar para deixar a sua marca bem visível. Quem constrói será lembrado por longo tempo. Cuidem para que nenhum aproveitador venha a ser beneficiado pelos serviços religiosos sem pagar a anuidade, pois senão vira tudo uma bagunça! Comecem educando já as crianças: só merecem cestinho de Páscoa ou pacotinho de Natal aquelas crianças que sempre vieram no culto infantil. Porque quem não cumpre seus deveres também não deve ter direitos. (Teologia subjacente: quem não faz boas obras não tem direito à salvação!) Sejam honestos, Deus está observando, não caiam na tentação de roubar nas festas, porque vocês vêem que todos os outros estão se divertindo, enquanto vocês têm que trabalhar de graça. Cuidem para não misturar o dinheiro de coletas e contribuições com o seu próprio. Mantenham o património sempre bem conservado, paredes e muros bem pintados, a grama cortada. Não faltem aos cultos todos de uma vez, para que sempre haja alguém para acender as velas e contar a coleta. Tenham por obrigação a reunião mensal de balanço. Procurem garantir que sempre tenha pastor para dirigir os cultos e assumir a parte espiritual. Se vocês garantirem um bom atendimento por uma anuidade baixa, serão sempre reeleitos e estarão demonstrando capacidade para assumir ainda outros cargos de liderança na comunidade civil. Cuidem para não se expor em demasia e para ficar juntamente com seu pastor na coluna do meio, pois quem nada contra a correnteza corre o risco de ser levado por ela. Quem se esforçar bastante vai ter reconhecimento aqui e recompensas no porvir.

O que caberia dizer ao presbitério de uma Igreja? Vocês foram escolhidos para coordenar os trabalhos do Corpo de Cristo. Vocês estão recebendo a oportunidade especial de mostrar como a graça de Deus os liberta para um serviço alegre e desprendido em favor das outras pessoas, principalmente das mais necessitadas. Por isso, a medida de vocês não será o que os outros fazem ou fizeram, mas o que Deus fez. Suas tarefas são de natureza espiritual. Cabe a vocês dirigir, juntamente com o/a presbítero/a pastor/a, os encontros da comunidade com Deus, para que sejam encontros significativos e autênticos. Lembrem-se de que um ambiente bem ornado ajuda na comunicação do evangelho. Não se cansem de estudar as Sagradas Escrituras, para poderem orientar bem. Não se anima o corpo de Cristo com leis, mas com o evangelho da justificação por graça, da inauguração do reino de Deus; todas as outras coisas lhes serão acrescentadas. Atraiam colaboradores através de sua alegria e animação. Empenhem-se especialmente pelos mais pobres e fracos da comunidade. Procurem motivar toda a comunidade para que os mantenha integrados em seu meio. Vocês vão notar que toda a sua doação e serviço vão lhes trazer tal experiência de vida que poderão enfrentar, em melhores condições, aquilo que a vida ainda lhes reserva de surpresas. Jesus já nos garantiu o céu. Vamos nos dedicar inteiramente à sua criação. E nadar contra a correnteza faz parte do testemunho de uma comunidade cristã e de suas lideranças num mundo construído em cima de opressão e injustiça, em cima da cruz. Deus ajuda os seus a estabelecer sinais de vida neste mundo, sinais da ressurreição.

A instalação de um presbitério deve estar dentro da lógica de um projeto de Igreja. Se não há projeto, a instalação será vazia e levará à inércia. Se há projeto, também haverá um processo de construção e implantação desse projeto, estratégias e táticas. Continuar falando, p. ex., em sócios, anuidade, diretoria, não é uma boa tática linguística, quando se quer andar na direção de um projeto de Igreja. Relaxar com as instalações também não ajuda a sair da associação religiosa e chegar à Igreja. Talvez um lugar especial para o presbitério sentar na igreja possa ajudar a intensificar o compromisso espiritual de um presbitério...

Muitos/as pastores/as já tentaram entregar/compartilhar responsabilidades espirituais na comunidade e não conseguiram. Um período de basismo exagerado, que se poderia até chamar de democratura, instalou a ordem de que todos são tudo e ninguém é nada, uma falsa ausência de diferenças, um nivelamento por baixo, um desconhecimento de que papéis são imprescindíveis numa sociedade organizada. Aí, na Igreja, sobrou o/a pastor/a, cujo status é ritualmente bem elaborado e cujo papel comunitário, desse modo, fica claramente destacado.

Um dos erros reside na falta de uma estratégia de entrega de responsabilidades; é importante não queimar etapas para chegar ao presbitério dos nossos sonhos. E necessário construir, passo a passo, um processo de entrega. E nele não podemos desmerecer a função decisiva do rito, pois é ele que dá segurança à organização de um grupo, de uma comunidade.

O culto é um momento central da vida comunitária. Nele se expressa a vida comunitária e, através dele, a comunidade recebe estímulos para refazer o seu jeito de ser. Portanto, ele é um momento ritual importante no processo de entrega de responsabilidades espirituais. Uma liderança de comunidade que é empossada durante um churrasquinho com a diretoria anterior, compreensivelmente não pode ter outra atitude senão a de uma diretoria de associação religiosa!

Estamos redescobrindo que símbolos e gestos comunicam muito mais do que milhares de palavras desgastadas. Precisamos incorporar progressivamente símbolos e gestos em nossa vida comunitária. As Ordens Auxiliadoras de Senhoras Evangélicas e Juventudes Evangélicas têm o seu broche e/ou camisetas de identificação. O presidente de uma comunidade/paróquia deveria ter um símbolo, p. ex., uma pequena cruz de madeira que ele pode pendurar na parede de sua casa. Presbíteros/as poderiam ser vestidos/as com uma cruz de cartolina ou de pano quando recebem o cargo (gesto) e, até mesmo, quando estão presentes ao culto, embora ainda não ativamente participantes; um paramento assim caracteriza a instalação como momento solene e pode encorajar presbíteros/as a assumi¬rem a sua função neotestamentária.

3. O Texto

Toda a Carta aos Hebreus pode ser qualificada como um sermão sacerdotal. É difícil descobrir quem é o autor. O estilo de toda a carta não é paulino. Mas os vv. 18-19 e 22-25 deste último capítulo parecem ser um bilhete que Paulo acrescentou, participando, deste modo, da divulgação desse panfleto e conferindo-lhe autoridade. Os vv. 20-21, portanto, constituem a conclusão do sermão.

Depois de explicitar, ao longo de 12 capítulos, o novo eixo semântico da história da salvação na figura do sacerdote e rei justo, preexistente — Jesus Cristo —, e de demonstrar como se deram o cumprimento e a superação da intermediação religiosa e política expressa no culto de sacrifícios, o cap. 13 aponta para a vivência decorrente dessa nova realidade de salvação. Cabe à comunidade viver a partir do sacrifício único e perfeito de Cristo; outros sacrifícios não são mais necessários; agora, resta apenas tirar as consequências da salvação em Cristo. (Todas as pessoas que, em suas línguas, não conhecem mais a forma do consecutivo, como nós, têm tremendas dificuldades de compreender a relação entre salvação e serviço, entre gratuidade e consequência; a substituição que Bultmann propõe, a do indicativo salvífico ao qual sucede um imperativo ético é falha e inadequada, pois reinstitui o legalismo.)

É significativo que o capítulo inicie com as consequências sociais decorrentes da salvação: amor fraternal constante; hospitalidade; preocupação, ou melhor, identificação com os presos e torturados; honra ao matrimónio sem adultério; ter em vista a vida de todas as pessoas e não apenas a própria; não ser ambicioso por posses, confiar que Deus nos dá tudo de que precisamos; não ter medo, pois Deus protege. Se já temos a salvação, não temos mais nada importante a perder.

As consequências espirituais privilegiam o respeito aos guias e pregadores da palavra de Deus e a continuidade do seu trabalho. A perspectiva aqui não é de ruptura com a fé judaica, mas claramente de analogia e continuidade. As pessoas são alertadas a não se envolverem com doutrinas que não ressaltem a graça de Deus e que proponham:'' Comamos e bebamos, que amanhã morreremos''!

Os seguidores de Cristo aceitam a exclusão das estruturas de poder, aceitam o seu lugar fora da cidade, pois a cidade é a lógica, é a correnteza de uma estrutura social injusta; estar fora da cidade — onde estão a corte, o exército, os servidores do rei e a religião que legitima tudo isso — é ocupar o espaço crítico que o próprio Jesus também ocupou. A cidade representa uma forma de organização da sociedade que não é permanente, pois com a ausência da intermediação política e religiosa surgirá uma nova forma de organização da sociedade, sem cidade.

Atitudes espirituais cabíveis, agora, são o louvor, a confissão, a prática do bem e a cooperação mútua; estes são os sacrifícios que agradam (sacrifício = ação sagrada e não holocausto!). Obedecer vem de ob-audire: ouvir com atenção. Ouvir com atenção os guias e aceitar que coordenem todo o trabalho da comunidade, para que tenham alegria no que fazem e não gemam sob o peso de ter que fazer tudo sozinhos.

4. Proposta Litúrgica

A estrutura básica de um culto de instalação de presbíteros/as da paróquia ou da comunidade poderia ter a seguinte ordem:

Acolhida: (O novo presbitério está esperando na porta; o presbitério anterior ocupa seu lugar especial à frente) ' 'Todos nós, aqui reunidos, fomos convocados a servir a Deus, em resposta à salvação que ele nos concedeu de graça em Jesus Cristo. Os/as presbíteros/as, em nossa Igreja, recebem o privilégio de poder realizar seu serviço de modo especial. Estamos aqui, reunidos pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo, pelo amor de Deus Pai e na comunhão do Espírito Santo, para instalar o presbitério recém eleito. Seguem-se informações sobre a eleição (data da assembleia, nomes e cargos, período da gestão.)

Hino: Vamos cantar de Hinos do Povo de Deus o nu 140 (ou o equivalente em outros cancioneiros) e receber o novo presbitério de nossa comunidade. (A comunidade se levanta e, enquanto canta, o dirigente vai buscar o novo presbitério, entrando em procissão. Alternativa: As pessoas do novo presbitério estão sentadas isoladamente em meio à comunidade e são chamadas à frente — para simbolizar sua origem e vínculo comunitários e ao mesmo tempo destacar seu encargo especial.)

Oração preparatória: Senhor e Deus: Tu escolheste o teu povo, tiraste-o da escravidão do faraó; Tu lhe deste a Tua palavra e mandamentos; Tu lhe enviaste profetas e, enfim, vieste viver entre nós em Jesus Cristo. Por meio dele nos abraçaste com a salvação e nos renovas com o calor da Tua presença. Agora, concedes a esse presbitério o privilégio de servir-Te de modo todo especial. Abençoa a sua instalação para coordenar o serviço desta comunidade e dá que possa servir-Te com alegria e destemer. Concede-lhe a humildade de distribuir tarefas e chamar membros para colaborar; e lembra-nos sempre que, mesmo realizando todas as nossas tarefas, somos como servos inúteis, pois fizemos apenas o que era a nossa obrigação (Lc 17.10). Senhor, ouve as nossas súplicas. Amém.

Kyrie Eleison: Aqui a comunidade apresenta a Deus o seu clamor a respeito da sua situação no mundo: sofrimentos de todo tipo, injustiças e opressão, prosperidade de ímpios, apatia de muitos sócios, sobrecarga de poucas lideranças, pedido por um testemunho mais eficiente... As petições são entremeadas do refrão: Tem piedade, Senhor! (Celebrações do Povo de Deus [CPD], p. 9) ou uma tradução do Kyrie Eleison na melodia de CPD, p. 10 — Tem, Senhor, piedade!

Oração do dia: Enfatizará a época do ano eclesiástico, o lema da semana ou o tema do domingo e preparará para as leituras bíblicas.

Leituras bíblicas: A vocação de Moisés ou de um profeta e o Evangelho do dia, terminando com o Aleluia cantado pela comunidade.

Homilia: Hb 13.1-17, como palavra aos/às presbíteros/as e exortação da comunidade, para cumprirem seu sacerdócio real (veja comentário ao texto).

Passagem do cargo: Depois de uma palavra de agradecimento ao presbitério que termina sua gestão, feita por um membro da comunidade ou pelo pastor, o presbitério anterior vem entregar o símbolo presidencial e os livros (atas, caixa, carimbo, documento fiscal), conduz o novo presbitério ao seu lugar especial e, em seguida, vai sentar com a comunidade. Canta-se um Glória (veja sugestão abaixo) e seguem-se compromisso e bênção, novamente em frente ao altar. Alternativa: O presbitério anterior entrega o símbolo e os livros e fica junto ao/à pastor/a, para participar do ato de bênção. (No caso de alguém ser reeleito/a, o/a vice anterior pode assumir o papel do/a presbítero/a que está entregando o cargo.)

Glória: Louvor e bendição pela salvação, pelo privilégio de ser Corpo de Cristo, encarregado de colocar sinais do reino de Deus, pelos/as presbíteros/as que aceitaram este serviço especial, pelo Espírito Santo que move pessoas à doação... (Veja sugestão cm CPD, p. 10 e 11. Se o clima criado permitir, pode seguir-se uma salva de palmas.)

Compromisso: Vocês prometem coordenar e dirigir os trabalhos desta comunidade em fidelidade ao evangelho de Jesus Cristo, tendo em consideração a confissão luterana e seguindo as normas vigentes em nossa Igreja, então respondam: 'Sim, com o auxílio de Deus!'

Bênção: Uma oração de invocação do Espírito Santo, para que guie o novo presbitério na coordenação dos trabalhos da comunidade, ou a bênção sacerdotal de Nm 6.24, ou ainda Hb 13.20-21.

Envio: (Ao novo presbitério.) Vão e sejam bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Coordenem o testemunho evangélico e o serviço de amor dessa comunidade aqui em (local). Da tradição conservem o que é bom, mudem o que está ultrapassado, sejam corajosos e criativos. Não trabalhem em lugar da comunidade, mas sim com a comunidade.

(À comunidade.) Querida comunidade: tu és o corpo de Cristo; o testemunho evangélico e o serviço de amor continuam contigo. Membros do corpo de Cristo, coloquem-se à disposição do presbitério, dêem do seu tempo, ajudem, cada um/a com os seus dons, contribuam com dinheiro, para que o corpo funcione bem e possa estabelecer sinais evidentes do reino de Deus nesta terra. Vão e sirvam ao Senhor!

Despedida: Enquanto a comunidade canta um hino, o presbitério instalado sai na frente e troca cumprimentos na porta da igreja. (Essa prática, aliás, poderia se tornar praxe; dessa maneira, o/a pastor/a que cumprimenta na saída do culto fica integrado/a ao presbitério.)


Autor(a): Hans Alfred Trein
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Hebreus / Capitulo: 13
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1995 / Volume: 21
Natureza do Texto: Liturgia
Perfil do Texto: Celebração
ID: 14139
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