Inclusão e acessibilidade

19/09/2013

 INCLUSÃO E ACESSIBILIDADE

“Direito à cidade para pessoas com deficiência”

O dia amanhece e me preparo para mais um dia de batalha. Pego meu veículo, chamo meu companheiro e começo minha jornada. Ao sair de casa, já me deparo com os primeiros obstáculos: cidade movimentada, buracos e objetos pelo caminho, ladeiras íngremes, pedestres e motoristas desatentos, vias estreitas e intransitáveis que, por vezes, me fazem transitar pela “contramão”, colocando em risco a minha vida. Apesar de ser uma pequena cidade, tudo está um caos, mas tenho que seguir meu caminho. Desvio de um buraco aqui, subo uma ladeira ali, sou ultrapassado por outros veículos que quase causam um acidente, por pouco não atropelo um pedestre, meu companheiro se assusta e pede cautela. Parece que estou num verdadeiro rally.

Quem lê este trecho e não conhece a minha história, deve imaginar que sou um motorista enfrentando o trânsito em meu cotidiano. Porém, sou um cadeirante. Encontro-me num estado de tetraparesia (fraqueza ou perda dos movimentos dos membros superiores e inferiores) devido a uma lesão raquimedular na coluna cervical. O veículo que eu piloto é uma cadeira de rodas motorizada. O meu companheiro é a pessoa que me acompanha e auxilia
naquilo que necessito.

Os obstáculos são inúmeros e diversos. Comecemos pelas calçadas, que por vezes são sem rampas de acesso, estreitas, íngremes, cheias de buracos. Como se não bastasse isso, a falta de conscientização das pessoas faz com que obstruam a passagem. Comerciantes expõem produtos, deixam seus carrinhos de carga em cima das calçadas, colocam mesa para o uso de seus clientes. Pessoas param para conversar e se aglomeram e nem notam que eu quero transitar naquele local. Outros estacionam suas bicicletas e, por vezes, fico a esperar a boa vontade de alguém que as retire.

Sei que o planeta necessita de muitas árvores, e é muito importante que se plante cada vez mais, contudo, de uma forma planejada. Em minha cidade, muitas árvores são plantadas no meio da calçada e me impedem de transitar por elas, fazendo com que eu tome a “contramão”, passando pela rua em meio aos carros. Outro obstáculo que constantemente encontro é composto de placas implantadas pelos órgãos públicos no meio das calçadas. Isto me indigna muito, pois eles deveriam ser os primeiros a zelar pela acessibilidade conforme a lei.

Quanto às rampas de acesso, são poucas e, em sua maioria, irregulares, sem sinalização, em lugares impróprios. Uma ou outra está de acordo com as normas e estas, por sua vez, são obstruídas por veículos dirigidos por pessoas sem consciência.

Outro problema que comumente encontro é dos veículos de transporte coletivo com o símbolo da acessibilidade, mas fazendo uso indevido dele. A grande maioria não possui acentos adequados e, no meu caso, como cadeirante, ainda passo pelo constrangimento de precisar que pessoas me “carreguem” para dentro do veículo. Aqueles que têm o elevador de acesso não possuem pessoas que saibam manusear o equipamento.

Eu, como cadeirante, não fico acomodado, como muitos pensam. Já busquei várias formas de melhorar a minha vida e das demais pessoas que necessitam de acessibilidade. Junto ao órgão publico da minha cidade protocolei uma solicitação de melhorias e sugeri algumas modificações.

Na comunidade da IECLB, da qual sou membro, também há vários problemas de acessibilidade. Não há acesso para o altar, num lugar específico e sinalizado
para a acomodação de um cadeirante, nem estacionamento para pessoas com deficiência, entre outras coisas. E se pensarmos nas outras deficiências, muitos outros problemas poderiam ser citados. Algumas medidas foram tomadas, mas não foram suficientes. Penso que, se a Igreja quiser ser local que acolhe a todos, deveria ser um espaço que proporcione esse acolhimento.

Acessibilidade, além de proporcionar a toda população o direito de ir e vir com segurança e o melhor grau de independência possível, garante a inclusão em todos os ambientes necessários para qualquer indivíduo.

As dificuldades de locomoção e a falta de acessibilidade quase puseram fim a minha vida, quando, em maio de 2011, por não ter como trafegar na calçada e pela negligência de um motorista, fui atropelado e fiquei preso entre a calçada e a roda do caminhão. Fiquei com sequelas, porém, Deus me livrou da morte.

É, a vida de pessoa com deficiência não é fácil. Às vezes não tenho nem vontade de sair de casa, mas Deus me dá forças para viver cada dia intensamente, mesmo com minhas limitações.

Caro leitor, cara leitora, você deve estar se perguntando como fica minha fé, mesmo com todas as dificuldades que passo, na situação em que me encontro e com as adversidades que a vida já me fez passar. Respondo: minha FÉ aumenta a cada dia. Agradeço a DEUS por minha vida e peço forças e proteção para viver sempre mais um dia.

Meu nome é Rogério Gums e tenho 34 anos. Vivo com minha companheira Suele e com meus pais. Há pouco tempo fui agraciado com um filho, o Arthur. Luto a cada dia com minhas limitações e com as que o mundo me impõe. Sempre tenho a esperança de um mundo onde todos possam viver bem com suas diferenças e necessidades.

João 10.10b: “O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância.”

Rogério Gums
Técnico e Bacharelado em Ciências Contábeis

 


Autor(a): Rogério Gums
Âmbito: IECLB
ID: 24842
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Nós te damos graças, ó Deus. Anunciamos a tua grandeza e contamos as coisas maravilhosas que tens feito.
Salmo 75.1
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