Isaías 29.18-24

Auxílio Homilético

13/08/1978

Prédica: Isaías 29.18-24
Autor: Walter Altmann
Data Litúrgica: 12º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 13/08/1978
Proclamar Libertação - Volume: III

l - Tradução

V. 17: Não falta só um pouco, quase nada, e o Líbano se tornará em pomar, e o pomar será considerado mato?

V.18: Naquele dia os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos dos cegos, libertos de escuridão e trevas, enxergarão,

V. 19: Os pobres terão em Javé alegria e mais alegria, os miseráveis dentre os homens rejubilarão no Santo de Israel.

V.20: Pois desapareceu o tirano, acabou o escarnecedor, aniquilados estão todos os que planejam a desgraça,

V.21: os quais com uma palavra denunciam um ser humano e armam armadilhas para quem procura julgar retamente, oprimindo violentamente por um nada o justo.

V. 22: Por isso, a respeito da casa de Jacó, assim falou Javé, aquele que resgatou Abraão: Então Jacó não se envergonhará nem empalidecerá seu rosto.

V. 23: Ao contrário, quando enxergar a obra da minha mão em seu meio, santificarão meu nome, santificarão o Santo de Jacó e temerão o Deus de Israel.

V, 24: Os de espírito vacilante encontrarão sentido, os céticos obterão ensinamento.

II - Situação e atualidade

As tentativas de datar a época de redação desta perícope variam desde a época do próprio Isaías (século VIII a. C.) até a era da revolta dos macabeus (século II a. C.). Observa-se uma semelhança com os pequenos apocalipses pós-exílicos contidos em Isaías 24-27 e 34-35, sendo o mais provável uma datação intermediária, no espaço entre os grandes profetas escriturísticos e a apocalíptica. Podemos divisar prefiguradas em nosso texto e repetidas então também em nosso tempo (bem semelhante) as figuras e estruturas típicas que costumam brotar num presente destituído de sentido: da repressão à revolução, do arbítrio à legalidade, da representação cúltica do passado à antecipaçlo apocalíptica do futuro. Nisto consiste então também a elevada atualidade desta palavra profética para nós: ela testemunha a esperança na mutabilidade do ser humano e da sociedade humana. (Gerhard Bauer, Meditação em Hören und Fragen, Vol. 6, Neukirchen, p. 397)

Aconselha-se, portanto, tomar a perícope como um texto independente, incluindo tão-somente o versículo 17 que dela, a rigor, faz parte. Os versículos 13 a 16, como exposição da perversidade do povo, podem eventualmente servir de contraste para a conversão de Deus a esse mesmo povo, provocan¬do a grande mudança.

III - Exposição

1. A radical mudança: Não falta só um pouco, quase nada? (v. 17)

O texto anuncia como iminente a mudança radical e completa da situação. Falta pouco, quase nada. Esse é um tom apocalíptico que traz implícita toda a dimensão de perversidade da presente ordem. Contudo, o anuncio não se detém na descrição do mal, mas proclama seu fim. Por isso sua primeira palavra é positiva. Não lhe basta denunciar a tirania e seus servidores, mas almeja fortalecer suas vítimas e dar ânimo aos indecisos. Muito em breve nada ficará como esta: seres numa nos mudarão, o mundo e a sociedade mudarão, até a natureza mudará. Uma grande esperança, uma intensa expectativa contrastam aqui com a realidade opressiva e frustrante.

A fé cristã autêntica tem se nutrido dessa firme expectativa de que Deus não permitirá que o estado de coisas se perpetue. Sim, ela vive da convicção de que tudo pode mudar, pela confiança na promessa divina de que tudo vai mudar. Inversamente, a fé murcha, morre e se transforma em ideologia religiosa para manter a perversidade, quando ela descrê na ação decisiva de Deus. É um engano pensar que a confiança na ação iminente de Deus leve ao pessimismo para como homem, a sociedade e o mundo. O contrário tem ocorrido: sempre que a cristandade perdeu a convicção na ação de Deus, ela passou a tomar a realidade dada como insuperável e começou a se ajustar ao estado de coisas.

2. O que muda?

A. Desapareceu o tirano. (v.20)


O pano de fundo da radical mudança é a realidade opressiva. O autor escreve em tempos, em que Israel há muito perdeu sua autonomia, estando sujeito ao domínio externo. Como hoje, porém, também naquela época o poder dominante externo encontrava seus aliados internamente, criando um sistema de dependência e dominação. O profeta proclama o fim iminente de todo esse sistema, que se caracteriza externamente pela prepotência político-militar (o Líbano poderia ser símbolo da potência estrangeira dominante), internamente pelo desvirtuamento deliberado do direito favorecendo os fortes e esmagando os fracos. Os dedo-duros captam favores para si, entregando à desgraça seus irmãos inocentes (v.21). Todos esses, os opressores e seus aliados, serão muito em breve aniquilados. O profeta não indica qualquer sinal de esperança para eles.

B. Os pobres terão alegria e mais alegria. (v. l9)}

O segundo grupo de que fala o profeta são as vítimas do sistema de opressão. Ele se mostra solidário com elas. Coloca-se a seu lado e sabe lhes anunciar a iminente libertação. Júbilo substituirá a miséria e a alegria tomará o lugar da pobreza. São eles os prediletos de javé. E assim como a proclamação do fim dos tiranos serve para abalá-los já agora, assim também o anúncio da libertação dos pobres serve para fortalecê-los em sua esperança e luta. Essa é uma forte tradição bíblica. Não se trata de um consolo ilusório para os pobres, mas da manifestação de luta do Deus que se coloca decididamente ao lado dos necessitados, manifestando seu poder na fraqueza solidária.

C. Os de espírito vacilante encontrarão sentido. (v. 24)

Há ainda um terceiro grupo, com o qual o profeta não se identifica, mas consegue compreender e a quem dirige seu chamado de conversão. Trata-se dos - vacilantes, dos céticos, dos surdos e dos cegos. Isto é, trata-se daqueles que, de frustração em frustração, de desilusão em desilusão, não conseguem mais crer nas promessas de Deus. A realidade parece desmentir tão radical e tão constantemente as promessas divinas, que a descrença toma posse de seus corações e suas mentes, paralisando sua ação. O profeta simpatiza com eles, pois sente sua desgraça. Não são cooperadores voluntários dos opressores, mas tampouco encontram ânimo para se colocar na solidariedade dos oprimidos. Por isso estão fora de lugar, são desarraigados, não encontram sentido nas coisas e andam errantes. O profeta sabe que a atitude desses desiludidos fortalece a opressão e dificulta a alegria do pobre. Contudo, ele não os despreza, ele os chama e lhes transmite ânimo e esperança. Ele sabe que o dia iminente da grande mudança acarretará também a união dos pobres com os vacilantes. A promessa de que não se envergonharão, mas santificarão a Javé (v.22), lhes é comum.

3. A fonte última da mudança: A obra de minha mão em seu meio (v.22)

Com que base pode o profeta, em meio a uma realidade opressora, proclamar o fim da tirania, conclamar à solidariedade com os pobres e chamar os vacilantes à conversão? Não é tudo ilusão? No entanto, o profeta conhece Javé e sabe que Javé está presente em meio à realidade, participando dos sofrimentos e das lutas dos homens. Ele sabe que Javé resgatou Abraão, libertou o povo cativo do Egito, fê-lo retornar do exílio. Ele também sabe que Javé transformará decisivamente o homem, a sociedade e a natureza. Por isso pode proclamar agora, em Javé, no Santo de Israel, alegria, júbilo. Por isso já agora não precisa se envergonhar nem empalidecer. Mas pode santificar seu nome, anunciando sua obra e participando de coração, mente e ação. Tanto mais sabe e pode aquela comunidade que conhece o amor de Jesus, em quem os surdos realmente ouvem, os cegos já libertos de fato enxergam, os de espírito vacilante podem encontrar sentido e os céticos ensinamento. Pois nele Deus derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos. (Lc l, 52-53,Cântico de Maria)

IV - Pregação

A pregação deste texto poderá obedecer o esboço da exposição. Muito importante será poder concretizar. Onde divisamos hoje os poderes externos e internos que oprimem o povo, com que Deus e solidário (e seu arauto também deveria sê-lo!)? Igualmente importante será ser veículo de esperança e ânimo para aqueles que, frustrados diante da magnitude do mal, perderam o entusiasmo e ação ou se refugiaram num misticismo e numa espiritualidade desencarnada e desinteressada dos sofrimentos e das lutas terrenas.

Por fim, não se poderá ocultar a angustiante pergunta pela localização da igreja. Na medida em que ela for vacilante e desesperançada, vale também para ela o chamado profético à conversão e à fé. Mas se ela participar da tirania? A perspectiva de que ela poderia estar sujeita ao veredito divino do aniquilamento, por sua conivência com a injustiça, não poderá ser subtraída. Contudo, por fim, se ela se colocar sob o senhorio de Jesus Cristo, poderá também viver a solidariedade divina com os fracos e ser assim sinal presente da radical mudança de libertação.


 


Autor(a): Walter Altmann
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 13º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 29 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 24
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978 / Volume: 3
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18168
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