João 13.31-35

Auxílio Homilético

02/05/2010

Prédica: João 13.31-35
Leituras: Atos 11.1-18 e apocalipse 21.1-6
Autora: Ângela Lenke
Data Litúrgica: 5º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 02/05/2010
Proclamar Libertação - Volume: XXXIV

O amor é, no fundo, uma questão de fé e por causa da fé o amor

deixa de ser uma opção, porque ele já é resposta da fé.

O novo mandamento de amarmos uns aos outros é

um chamado de vida e discipulado cristão.


1. Introdução

João 13.31-35 faz parte das palavras de despedida de Jesus, que iniciam no capítulo 13 e vão até capítulo 17, com a oração sacerdotal de Jesus. Os textos anteriores e posteriores tratam do serviço amoroso que devemos prestar uns aos outros, em humildade, “lavando os pés” e servindo os outros. Eles enfatizam igualmente que, na vida e no ministério de Jesus, pessoas o enfrentaram, como Pedro, e o traíram, como Judas. Essa traição levará Jesus à morte na cruz.

2. Exegese

V. 31 – Após ter indicado Judas como traidor, Jesus comunica à sua comunidade de discípulos que ele será glorificado. Essa glorificação, no entanto, tem um sentido inusitado, ou seja, ela implicará sua morte e ressurreição. Secularmente, interpretamos glorificação como boa fama, reputação, elogio. Aqui a exaltação de Jesus acontecerá porque ele dará sua vida para salvar os seus.

V. 32 – A glorificação destina-se a Deus, contudo Deus será glorificado em Jesus Cristo. Assim percebemos a unidade entre o Pai e o Filho e, ainda, a profunda obediência do Filho ao Pai.

V. 33 – Nesse versículo, sentimos o profundo carinho que Jesus tem por seus discípulos, pois os chama de “filhinhos”. É a expressão de Jesus que mais chama nossa atenção nesse versículo. Jesus não poderia chamar os discípulos de forma diferente, afinal ele os resgatou, ensinou, deu-lhes sentido de vida e os ensinou a servir. Ninguém poderia acompanhar Jesus dali em diante. Jesus demonstra sua vontade em levá-los consigo, mas ele precisa percorrer sozinho esse caminho de morte, ressurreição e glorificação.

V. 34 – O que Jesus deixará a seus discípulos é o amor. Jesus os instrui a permanecer no amor. Jesus ensina o novo mandamento, que implica amar além das fronteiras, além do grupo social e familiar, além dos grupos de solidariedade existentes na época. O amor deverá ser o símbolo de pertença a Jesus Cristo e de unidade entre os discípulos. Por causa do amor, eles serão conhecidos por todos como discípulos de Jesus. Jesus permanecerá conhecido porque ele é o Alfa e o Ômega (Ap 21.6), e somente ele poderá fazer novas todas as coisas (21.5).

3. Meditação

Ninguém pode ensinar a amar se não ama! Ninguém pode pedir para que outros amem se não tem o mandamento do amor como prática diária! Por isso somente Jesus poderia pedir para amarmos uns aos outros. Afinal, o seu amor por nós significou sua morte. Essa morte, no entanto, é morte para vida: vida eterna e salvação dos pecados.

O que mais chama a atenção nesse texto são a forma e o conteúdo das expressões de Jesus. Ele gostaria muito de levar junto os seus discípulos, porque esses o acompanharam no seu ministério, na comensalidade, nas curas e milagres, nas festas e nos campos, na companhia alegre das pessoas e nas discussões sérias com partidos políticos e grupos religiosos. Jesus esteve sozinho muitas vezes, mas também tinha com quem caminhar, repartir, conversar. Agora ele sente que chegou a hora de ser glorificado. Sente na pele a traição, contudo a glorificação é mais importante. Sua tarefa é mais importante, e a traição faz parte do processo para a glorificação ao Pai.

Somos humanos e sentimos o que uma traição representa em nossa vida. Pode ser traição de amigos, de membros da igreja, de familiares, adultério. Assim entendemos o início do texto e compreendemos a situação de Jesus antes da sua morte.

Ninguém pode ensinar a amar se não ama! Jesus chama seus discípulos de “filhinhos”. Em muitos lugares dos evangelhos, vemos expressões de carinho de Jesus a seus discípulos. Jesus tem autoridade para ensinar o novo mandamento porque ele amou de verdade, amou sem distinção, amou e deixou-se amar (por exemplo, quando a mulher lava os pés de Jesus com perfume, enxuga-os com seus cabelos e derrama óleo na cabeça de Jesus – Jo 12.1-8). Jesus tem autoridade para ensinar o novo mandamento porque ele amou mesmo os que o contradiziam, condenavam e faziam fofocas às suas costas. Isso não era apenas exemplo de paciência, mas de amor, porque eles não sabiam o que estavam fazendo. O novo mandamento não deve ser encarado por nós como algo que já sabemos e que estamos saturados de pregar. O novo mandamento é nossa marca enquanto discípulos de Jesus Cristo! É muito fácil pregar sobre o novo mandamento e não praticá-lo. Quantos na comunidade não são amados! Quantos têm problemas e nós apenas apontamos para eles como sendo “os problemáticos” da comunidade, não os aceitando assim como são! Se tivéssemos um pouco mais de amor, provavelmente ajudaríamos mais. Só mostraremos serviço na comunidade se amarmos de verdade o que fazemos, se amarmos as pessoas que nos foram confiadas e a nós mesmos. É muito fácil falar em amar uns aos outros. Quando olhamos para o banco ao lado e vemos aquela pessoa que falou mal de nós, simplesmente esquecemos o exemplo de Jesus, que continuou seu caminho e amou as pessoas até a última hora, mesmo quando falaram mal dele.

Amar! Amar!Amar! Quantas vezes esse verbo nos foi ensinado! Desde pequenos, somos instruídos a amar: no Culto Infantil, no Ensino Confirmatório, no ministério. A Bíblia sempre aponta para o amor. Mas no cotidiano parece ser tão difícil praticá-lo. Por que complicamos tanto quando é apenas uma questão de seguir o exemplo de Jesus, questão de obediência àquele que mais amou e que mais pregou o amor em ações e palavras? As pessoas falam: “Como posso amar o vizinho que roubou o que era meu?”, “como amar a colega da OASE que falou mal de mim no grupo da terceira idade?”, “como amar aquele presbítero que sem- pre bate de frente comigo?”. Os discípulos de Jesus também tiveram que ser ensinados a amar. Marcos 10.35-45 revela uma competição, João 6 revela a falta de amor dos discípulos para com aqueles que seguiam Jesus e estavam famintos. Nós seremos eternos discípulos de Jesus. Amando também erramos. Servindo também erramos. Contudo a nossa forma de amar não pode ser como nós achamos que é amar, e sim segundo o exemplo de Jesus. Na verdade, somos muito desobedientes a Jesus Cristo, porque odiamos mais, servimos menos e amamos menos do que ele pede e ensina.

O amor é, no fundo, uma questão de fé, e por causa da fé o amor deixa de ser uma opção, porque ele já é resposta da fé. O novo mandamento de amarmos uns aos outros é um chamado de vida e discipulado cristão.

O amor, em sua prática, não é cego. Amarmos uns aos outros não significa praticar assistencialismo, porque então, sim, o amor seria cego. Receber e distribuir é muito fácil! Porque não será necessário envolvimento, e o centro das atenções não será a transformação e o crescimento mútuo no amor e na edificação integral. Amarmos uns aos outros implica demandar esforços, delegar tarefas, envolver-se em causas do reino, buscar incessantemente a transformação para a autonomia, servir por causa da fé, imitar o exemplo de amor segundo Jesus. O “amarmos uns aos outros” implica importar-se com o outro, saber manter distância para educar. O “amarmos uns aos outros” não existe porque é legal, porque é bonito vivermos em harmonia, mas porque é o mandamento que Jesus ensinou. É “novo” mandamento porque esse amor que Jesus ensina ultrapassa o muros da nossa consciência de sociedade, igreja, grupo social e comunidade. “Novo” por causa de Cristo: “Eis que se fizeram novas todas as coisas” (Ap 21.5), porque tudo o que Jesus ensinou e purificou “não é comum” (At 11.9). Amar verdadeiramente significa sacrifício.

Como esse “novo mandamento” é praticado por você no cotidiano? Como sua comunidade vive esse mandamento? Você ama as pessoas que fazem parte do seu círculo social, comunitário, familiar?

4. Imagens para a prédica

Recorri a livros que me auxiliassem em alguma imagem ou parábola. Contudo a melhor fonte é a Bíblia. Por isso achei oportuno lembrar as palavras de Jesus em Lucas 6.43-45 sobre a árvore e seus frutos. Essa comparação que Jesus faz é ótima para ilustrar a pregação deste dia. Se somos verdadeiros discípulos de Cristo, amaremos por obediência e porque temos um coração puro. Nenhum discípulo pode ser infrutífero. Somos árvores que produzem frutos e sementes de amor? Que tipo de árvore somos? Do que nosso coração está cheio? “... porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45b).

5. Subsídios litúrgicos

A pregação deste dia e o culto todo poderão ser uma oportunidade para promover reconciliação, perdão e oportunidade para ir ao encontro de quem ainda não fomos, para dizer às pessoas o quanto as amamos. Além do gesto da paz, através de mútuos abraços, esse culto poderia contemplar outras dinâmicas, como por exemplo: fazer grupos para orar em conjunto; incentivar a família a dar-se as mãos e orar, pedindo para que se aceitem as diferenças nela existentes; pedir às pessoas para ir ao encontro de algum irmão ou irmã com quem menos têm contato ou em relação ao qual houve algum mal-entendido, para orar em conjunto ou dar- se um abraço. Jesus Cristo veio ao nosso encontro, amou-nos sem distinção e amou-nos gratuitamente.

Bibliografia

BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. Barueri, São Paulo: Sociedade Bíblica do Bra- sil, 1999.
BRUNKEN, Werner. In: Proclamar Libertação, Volume XXIX. Ed. Sinodal, 2003. p.149-153.
CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Volume II. São Paulo: Ed Hagnos.
JUCKSCH, Alcides. Amor sem Fronteiras. Gramado: Editora Conhecer a Bíblia, 1995. LIEVEN, Guilherme. In: Proclamar Libertação, Volume XVII. Ed. Sinodal, 1991.



 


Autor(a): Ângela Lenke
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 35
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2009 / Volume: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25113
REDE DE RECURSOS
+
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Mateus 5.9
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br