João 20.19-23

Auxílio Homilético

08/06/2014

Prédica: João 20.19-23
Leituras: Números 11.24-30 e 1 Coríntios 12.3b-13
Autor: Júlio Cézar Adam
Data Litúrgica: Domingo de Pentecostes
Data da Pregação: 8/06/2014
Proclamar Libertação - Volume: XXXVIII

1. Introdução

Os textos bíblicos previstos no Lecionário Comum Revisado para o Domingo de Pentecostes tratam da manifestação do Espírito Santo ao longo da caminhada do povo de Deus. No livro de Números 11.24-30, temos um texto pouco conhecido. No arraial, Moisés, juntamente com o conselho de setenta anciãos, recebe o Espírito de Deus e profetiza enquanto o Espírito está sobre eles. Dois homens, Eldade e Medade, que não estavam entre os setenta, também recebem o Espírito e profetizam no arraial. Ou seja, a força do Espírito expande-se para além da organização e do controle humano. A ação do Espírito é livre e soberana. Na Carta de Paulo aos Coríntios, em 1 Coríntios 12.3b-13, temos o texto que fala dos dons e carismas que o Espírito Santo desperta nas pessoas e na igreja, na reunião do povo de Deus. A diversidade dos dons é resguardada aqui. Os dons e carismas são diversos, mas o Espírito é o mesmo (v. 4). Há diversidade nos serviços e nas realizações, mas o Senhor é o mesmo (v. 5 e 6). A ação do Espírito gera efeitos diversos, amplos e abrangentes. E mais: a força do único Espírito age em cada indivíduo pelo Batismo e, ao mesmo tempo, congrega todos, na diversidade, em um só corpo.

O texto do evangelho, que é o texto da pregação, fala da aparição do Jesus ressuscitado aos discípulos no domingo da Páscoa. Aqui, Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo, enviando-os para a missão de perdoar pecados. A ação do Espírito aqui está diretamente relacionada ao Cristo ressuscitado. O Espírito é o novo sopro de vida (Gn 2.7), fortalecendo a comunidade dos discípulos, célula geradora da igreja, para sua missão de expandir o perdão gerado na cruz, por Cristo, ao mundo.

Há, portanto, uma riqueza imensa na compreensão de Pentecostes a partir dessa constelação de textos. A ação do Espírito Santo é mais ampla e abrangente do que apenas o relato de Atos 2.1-11, que é o relato mais conhecido. A celebração de Pentecostes é um momento para entender essa diversa, ampla e generosa ação de Deus, por meio de seu Espírito, ao longo da caminhada dele com seu povo e sua criação. O texto do Evangelho de João 20.19-23 não é uma substituição do relato de Pentecostes. Quer sim narrar uma manifestação do Espírito Santo, um ingrediente fundamental para enriquecer a grande manifestação de Pentecostes, conforme relata Atos.

É muito importante falar de Pentecostes e falar do Espírito Santo às nossas comunidades. Já de antemão podemos dizer que Pentecostes tem a ver com a própria dinâmica do Espírito. Ou seja, o próprio Espírito não se contenta com apenas uma manifestação. Pentecostes remete a uma variedade de manifestações de uma força que vai além daquilo que conseguimos prever e estabelecer (texto de Nm 11.24-30). O mesmo Espírito age em indivíduos e desperta dons e carismas individuais e diversos para serem usados em um mesmo corpo, a igreja. O que cria a unidade não é a mesmice de dons e carismas, mas a diversidade de dons provenientes das individualidades tocadas pelo Espírito (texto de 1Co 12.3b-13). A ação do Espírito está total e fundamentalmente vinculada à ressurreição de Cristo, ao evento da cruz, à Páscoa. A ação do Espírito tem a ver com Jesus Cristo. A partir dele, de seu sopro novo, uma nova realidade é criada: a igreja do perdão (texto de Jo 20.19-23).

2. Exegese

Ao que tudo indica, a intenção de João aqui é revelar Jesus como sendo Cristo à comunidade dos discípulos, à sua comunidade, à igreja nascente. Os discípulos, assim como provavelmente a comunidade joanina, estão perturbados com os eventos da paixão e incrédulos diante da ressurreição. Nesse contexto, João não pretende fundamentar uma teologia da ressurreição de Cristo, mas quer, sim, através de sinais concretos, guiar a comunidade a um novo relacionamento com o ressuscitado, criando assim a passagem para um novo tempo, o tempo da igreja. O Evangelho de João, por isso, dedica seus dois últimos capítulos (20-21) a descrever os sinais da ressurreição nas aparições do ressuscitado.

Vejamos como isso se mostra em nosso texto específico. O texto de João 20.19-23 pode ser dividido em duas partes: 1) a vinda do Jesus ressuscitado e a alegria que essa vinda desperta; e 2) a missão dos discípulos a partir do dom do Espírito Santo. Vejamos cada um dos versículos detalhadamente.

V. 19 – Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs--se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! Aqui está de forma clara a situação após o aparente desfecho trágico do projeto de Jesus com seus discípulos. Os discípulos, com exceção de Tomé e Judas, estão trancados em uma casa com medo das autoridades judaicas. É o domingo de Páscoa, de tardezinha, no primeiro dia da semana, que mais tarde viria a chamar-se “domingo” (Dia do Senhor). Se são apenas os dez discípulos ou o grupo maior dos seguidores e seguidoras de Jesus que estão reunidos, não sabemos. Importa mais o sentimento que os reúne. O medo é a palavra de ordem aqui. Nessa situação, Jesus ressuscitado veio e pôs-se no meio deles. Jesus atravessa a parede. Ou seja, há um sinal claro de que a identidade do crucificado-ressuscitado é outra. A aparição rompe o padrão físico que conhecemos. Jesus saúda os discípulos com uma saudação típica em Israel: Paz seja convosco. Essa saudação, por si só, é mais do que nosso bom-dia, boa-tarde e boa-noite. Ela expressa o shalom judaico, uma paz que vai além de um sentimento e de um desejo apenas. Ao usar essa saudação, o Jesus ressuscitado anuncia o teor de sua vinda. A paz, o shalom, a manifestação de algo novo, concreto, uma nova relação, um novo início manifesta-se por meio de sua ressurreição. Sua vinda aqui não é para recriminar a atitude dos discípulos até ali. Está tudo resolvido ntre Jesus e os discípulos. Tudo foi perdoado: a traição, o abandono, a negação de Pedro, a descrença na ressurreição e no relato de Maria Madalena (Jo 20.1-18).
Algo novo está sendo gestado.

V. 20 – E, dizendo isso, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. O Jesus ressuscitado, mesmo se manifestando de forma não física, é o crucificado. Não é um fantasma ou um espírito. Por isso ele mostra as chagas nas mãos e no lado. Elas comprovam a ressurreição que fora profetizada. A reação e o sentimento não podiam ser outros: alegria. Alegria não é aqui mero sentimentalismo. É alegria no espírito. Nasce da paz, do shalom. A alegria proveniente da paz que a ressurreição estabelece baseia-se ainda nos ferimentos, nas chagas, na cruz. Ou seja, a cruz não deve ser esquecida. Ela faz parte da ressurreição. A alegria está direcionada para a incumbência que virá: levar o perdão ao mundo, mundo cheio de culpa/cruz e graça/perdão, mundo com sinais da paixão e da ressurreição.

V. 21 – Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. Como vimos no v. 19, essa saudação não é uma mera saudação, uma formalidade. Ela está apontando para aquilo que a ressurreição começa a gerar na comunidade dos discípulos. Por isso Jesus repete a saudação. Essa paz é a paz que o mundo não pode dar (Jo 14.27). Lembremos também que a razão do envio de Jesus é nada mais e nada menos do que salvar o mundo (Jo 3.17). É paz alicerçada no perdão, alcançado por Jesus na cruz. Essa paz é a base de tudo. Por causa dela Jesus foi enviado ao mundo pelo Pai. Por causa dela Jesus enfrentou a cruz. Por causa dela Deus ressuscitou Jesus no domingo da Páscoa. Por causa dela Jesus está ali, no meio dos discípulos, enviando-os ao mundo. A igreja nasce dessa paz. Ela é a base para a nova relação e para a nova comunhão. Base para o envio dos discípulos.

V. 22 – E, havendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. A alegria e a paz que os discípulos vivenciam aqui ainda não podem ser entendidas e vivenciadas completamente. Por isso Jesus sopra sobre a comunidade dos discípulos o Espírito Santo. O Espírito Santo prometido anteriormente (Jo 14. 3 e 18) é dado aqui concretamente. Há uma relação entre esse sopro e o sopro de Deus nas narinas de Adão em Gênesis 2.7. Essa ação de Jesus marca a nova criação no novo primeiro dia da semana, no domingo da Páscoa. Sem esse
hálito de vida divino, o Espírito, a ressurreição teria permanecido apenas um relato, uma ideia, uma bonita história a ser compartilhada. O sopro do Espírito abre os olhos e o coração dos discípulos para a nova realidade. A ação do Espírito Santo dá certeza e convence as consciência, anima, dá coragem, arranca o medo, cria a realidade da paz, antes anunciada, cria a fé na ressurreição. Importante observar que é o Cristo crucificado-ressuscitado quem sopra. Ou seja, a ação do Espírito Santo na igreja passa pela crucificação e ressurreição de Jesus Cristo. A manifestação do Espírito não é algo isolado da Páscoa, como muito se vê em determinados grupos religiosos hoje.

V. 23 – Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos. Aqui está o teor da missão dada aos discípulos. A missão aqui não é fazer discípulos (Mt 28.19), pregar o evangelho (Mc 16.15), converter em nome de Jesus (Lc 24.47), mas especificamente perdoar e reter pecados. Ou seja, assim como a realidade da paz convosco foi possibilitada por Jesus Cristo na cruz e faz-se presente agora através de sua ressurreição, por meio do sopro do Espírito Santo, os discípulos são incumbidos de perdoar e reter os pecados, dando às pessoas acesso a essa nova realidade. Importante lembrar que, no Evangelho de João, Jesus é o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (Jo 1.35-40). Nosso texto confirma, portanto, a confissão de João Batista.

3. Meditação

Vários aspectos da meditação já estão presentes na análise exegética dos versículos acima. Há uma grande coerência interna nesse texto aqui estudado, assim como em todo o Evangelho de João. Cada parte desse pequeno texto e cada versículo estão intimamente relacionados entre si e, ao mesmo tempo, com todo o evangelho. A ressurreição de Cristo torna-se visível na paz, no shalom, presente na comunidade. Essa paz, no entanto, existe por causa do perdão conquistado por Cristo na cruz. Apropriamo-nos ou temos parte nesse perdão, não por nosso esforço ou mérito. Ele é dado a nós pelo próprio Cristo. É graça. E mais: não é algo para o nosso benefício apenas, como muitos pensam hoje. Essa realidade de paz, alicerçada no perdão de Cristo e tornada viva em nós pela ação do Espírito, em nós é algo para ser expandido através da igreja, ou seja, através do serviço de perdoar e reter pecados de pessoas mundo afora.

A ressurreição de Jesus Cristo e sua manifestação são motivo de grande alegria. Essa manifestação tira o medo daqueles que estão trancados em uma casa, libera-nos de nossas prisões. Se a grandeza dessa manifestação do Cristo crucificado e agora ressuscitado ainda não fosse sufi ciente para nos encorajar, então o sopro do Espírito Santo, a ação do Espírito, completaria o que nos falta. No Domingo de Pentecostes, é oportuno reforçar essa verdade. É o sopro do Espírito que permite que a ressurreição seja uma realidade entre nós. E mais: é o Espírito Santo que permite que nossas comunidades existam como realidades em que a paz acontece. Paz não como um sentimento apenas, mas como uma nova realidade, algo concreto.

O mesmo Espírito que nos viabiliza viver e entender essa nova realidade de paz e perdão envia-nos e espalha perdão ao mundo. É muito importante reforçar esta ideia: o perdão não nos é dado apenas por causa de nós, indivíduos isolados. O perdão nos é dado, sim, para que, perdoados, possamos tomar como incumbência a tarefa de perdoar e reter pecados de pessoas. Essa é a missão da igreja hoje. A igreja é feita de cada um de seus membros. Ela é a presença de Cristo no mundo. A igreja, seus membros, corpo de Cristo, é o Cordeiro de Deus vivo que tira o pecado do mundo (Jo 1.35-40).

Parece-me que essa incumbência deveria ser levada mais a sério como incumbência. A partir de nosso texto, podemos dizer que:

– a realidade da ressurreição está diretamente relacionada ao perdão dos pecados;

– esse perdão nos é dado por Cristo na cruz, de modo que já estamos em paz com ele;

– o perdão nasce dessa paz e gera a paz que o mundo não pode dar;

– pregar o evangelho é perdoar e reter pecados;

– essa tarefa é o motivo pelo qual a igreja é enviada, por Cristo, ao mundo.

A pregação, portanto, deveria trabalhar o aspecto do perdão. No centro de tudo está o perdão. Páscoa e Pentecostes giram em torno desse termo. Mas o perdão dos pecados não precisa ser encarado com pesar, tristeza, com julgamentos e moralismos. Em João, o perdão está rodeado pela Páscoa e pelo Pentecostes, pela alegria e pela paz. Perdão significa o fim do medo. Em que medida a comunidade e a igreja têm sido espaços desse perdão e dessa reconciliação? Em que medida a comunidade cristã é o espaço daqueles que carecem do perdão? É a comunidade um espaço de pecadores ou apenas daqueles “dignos”, “santos”? A comunidade tem ido ao mundo para perdoar e reter perdão? E, olhando do lado da comunidade, do lado das pessoas de hoje, cabe a pergunta: De que as pessoas necessitam perdão? Ou: Quais são os pecados que as pessoas cometem? Se a pregação abrisse um espaço para o diálogo sobre essas questões, seria muito bom. Arrisco dizer que falar de perdão e de pecados hoje obriga-nos a sair da dimensão apenas ontológica e dogmática. Deve ser uma dimensão teológica, ou seja, vinculada à vida vivida.

Precisamos olhar o dia a dia, nossa falta de tempo, a fragilidade de nossas relações, o individualismo e o isolamento, o consumismo de coisas e de pessoas, a degradação do planeta e da vida, a falta de sentido e esperança dos jovens, nossas doenças, em grande medida causadas por nossos alimentos contaminados e nosso estilo de vida degradante, a miséria da maioria das pessoas em todas as partes, as tantas injustiças e abusos, a violência que está à espreita em todo canto. Parece que constantemente temos perdido o fio da própria vida. É um pecado contra Deus, mas também contra a vida, contra nós mesmos. Nosso pecado deixa-nos com medo de sair à rua (situação dos discípulos). Para cada uma dessas expressões há uma centena de exemplos concretos e reais. Em cada um deles está nosso pecado, que precisa ser redimido e retido. Que o Espírito Santo, que sempre pôs o mundo e a vida em movimento, nos toque neste culto de Pentecostes através da pregação, para que o perdão seja uma realidade viva. Que o Espírito faça a Páscoa do Cristo ressuscitado, paz convosco, ser uma realidade em nossa comunidade e, através dela, no mundo, até que ele volte.

4. Imagens para a prédica

a – Situação de medo: Quando eu era pequeno e sentia medo à noite, quando estava dormindo no escuro, eu me tapava com a coberta. Ficava embaixo da coberta, com o coração batendo muito rapidamente, com calor, quase sem ar, com muito medo. O medo não ia embora. Até que eu chamava meus pais ou meus irmãos. Eles vinham, acendiam a luz e mostravam que não havia motivo para meu medo. Então tudo ficava bem. Eu ficava com vergonha de meu medo e por ter acordado todo mundo. Mesmo assim, podia dormir em paz. O texto bíblico lembrou-me dessa situação, que deve ser a situação de muitos. Os adultos e os jovens devem lembrar sua infância quando também sentiam medo. As crianças vão lembrar talvez uma situação parecida ocorrida em uma noite próxima. Assim estavam os discípulos: Mortos de medo! Incrédulos da ressurreição! Achando que tudo tinha sido em vão. Então Jesus aparece (a luz é acesa). O medo dá lugar à alegria. Tudo faz sentido. O perdão vira realidade. A ressurreição cria paz como uma nova realidade. Podemos dormir em paz, sabendo que o dia virá.

b – Culto e liturgia: O culto e a prédica são ótimos momentos de catequese, de ensino. Nossas comunidades carecem de esclarecimentos básicos sobre aspectos teológicos, confessionais e litúrgicos, que às vezes julgamos ser conhecidos. Por isso, na prédica deste culto de Pentecostes, poder-se-ia falar de alguns desses aspectos.

c – Pentecostes e o Espírito Santo: Por ser Domingo de Pentecostes no calendário litúrgico, é um excelente momento para falar sobre a celebração e sobre o próprio Espírito Santo. Os textos bíblicos apontam para a ação do Espírito Santo na caminhada do povo de Deus. Mesmo que o relato de Atos 2.1-11 seja o relato fundante, a ação do Espírito, por sua própria dinâmica, não se restringe apenas a esse ato. Muito importante: a ação do Espírito está relacionada com Jesus Cristo, com o evento da cruz, com a Páscoa. O sopro do Espírito passa por Jesus Cristo sempre. No calendário litúrgico, a festa de Pentecostes encerra o ciclo da Páscoa. No culto de Pentecostes, o Círio Pascal, símbolo do Cristo ressuscitado, é apagado, simbolizando a passagem para a nova chama da ressurreição, o Espírito Santo. Ou seja, Pentecostes está totalmente imbricado na Páscoa, não é algo isolado.

d – Perdão e remissão de pecados: Outro aspecto importante que poderia ser aprofundado são o perdão e a remissão dos pecados. As pessoas hoje parecem não querer mais falar de pecado e da necessidade da remissão. Perdão e remissão de pecados estão relacionados ao sacramento do Batismo. Se houver Batismo e/ou Confirmação/profissão de fé (em algumas comunidades, Batismos e Confirmações ocorrem no Domingo de Pentecostes), seria uma excelente base para falar do perdão e do pecado. É aqui, em torno da fonte batismal, que a igreja assume sua tarefa, para a qual Cristo enviou: perdoar e reter pecados. Um culto de Pentecostes, tendo como texto de pregação João 20.19-23, poderia ter a rememoração do Batismo. Seria um excelente momento para refletir sobre a realidade do pecado e a necessidade do perdão diário. Do sacramento do Batismo se desdobram vários outros elementos que poderiam ser incluídos na pregação: a confissão e a remissão de pecados no início do culto; a conversa individual em que pecados são retidos e perdoados; a visita a moribundos e a unção com óleo; o gesto da paz como gesto de reconciliação na Eucaristia.

5. Subsídios litúrgicos

A poesia a seguir pode ser usada na prédica, na acolhida ou como preparação
para o envio.

Vento de Deus

Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus dando vida,
aproxima-te, sopra fecundo!
Sopra-me vida em teu sopro!
Faze-me todo janelas,
olhos abertos e abraço.
Leva-me em Boa Notícia
sobre os telhados do medo.
Passa-me em torno das fl ores,
Beijo de graça e ternura.
Joga-me contra a injustiça
em furacão de Verdade.
Deita-me em cima dos mortos,
boca-profeta a chamá-los.
Amém. (Pedro Casaldáliga)

Confissão de pecados:

Ó Santíssimo Espírito,
neste dia de Pentecostes
colocamo-nos em tua presença
manifestando a nossa fragilidade,
reconhecendo os nossos erros
e pedindo o teu perdão.
Lava-nos e purifica-nos,
renovando nossas vidas
no teu fogo abrasador.
Na certeza do teu perdão,
glorificamos-te,
hoje e sempre.
Amém.
(Vera Lúcia Chvatal)

Oração eucarística (com base em Jo 20.19-23):

Deus da paz,
graças te damos por tua criação e por nossas vidas. Damos-te graças pela presença e ação de Teu Espírito Santo em todos os tempos e lugares. Por meio dele criaste tudo o que existe. Por meio dele sustentaste a fé do teu povo em sua caminhada. No tempo certo, tu vieste a nós em Jesus Cristo, nova manifestação do Espírito, feito gente, nosso irmão. Por isso, animados por esse sopro de vida em nós, tua comunidade, louvamos-te e adoramos-te com nossas vozes e nossa música, juntando-nos com os anjos e com toda a tua igreja, cantando... (Sanctus).

Deus da paz,
graças te damos por Jesus Cristo. Ele, encarnação humana do Espírito, viveu entre nós, tornou-se próximo da gente, ensinando com gestos concretos a paz que o mundo não pode dar. Para nos perdoar de todo o nosso pecado, assumiu a morte na cruz, para no Domingo da Páscoa voltar à vida, na ressurreição, a verdadeira paz conosco, motivo de alegria eterna. Tudo isso lembramos nesta ceia, fazendo o que Jesus Cristo mesmo fez. Ele, nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi traído... (Narrativa da instituição).

Deus da paz,
graças te damos pelo Espírito Santo. Sopra sobre nós aqui nesta refeição o teu Espírito para que este pão e este fruto da videira sejam agora para nós o corpo e o sangue de Cristo, ceia da nova aliança do perdão para a nova vida contigo, nossa salvação. Que essa refeição nos fortaleça e que teu Espírito nos impulsione a ir mundo afora, perdoando e retendo os pecados do mundo. Amém.

Elementos litúrgicos que deveriam ser usados na liturgia: gesto da paz, cordeiro de Deus. Na Eucaristia, o Cristo ressuscitado vem e faz-se presente entre nós, livrando-nos do medo e dando-nos alegria e paz.

Bibliografia

BARRETT, Charles K. Das Evangelium nach Johannes. Berlim: Ev. Verlagsanstalt, 1990.
BOOR, Werner de. Evangelho de João II: comentário esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002.
NICCACI, Alviero; BATTAGLIA, Oscar. Comentário ao Evangelho de São João. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
WIKENHAUSER, Alfred. El Evangelio según San Juan. Barcelona: Herder, 1978.


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Autor(a): Júlio Cézar Adam
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: Domingo de Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 19 / Versículo Final: 23
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2013 / Volume: 38
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 28355
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