João 20.(19-23)24-29

Auxílio Homilético

14/04/1985

Prédica: João 20.(19-23)24-29
Autor: Wilfried Groll
Data Litúrgica: Domingo Quasimodogeniti
Data da Pregação: 14/04/1985
Proclamar Libertação - Volume X


l - O Texto

A exposição abaixo interpreta a perícope de Tomé sobre o pano de fundo da primeira aparição de Jesus a seus discípulos. De forma correspondente, a pregação deveria concentrar-se sobre a perícope de Tomé, 20.24-29, embora se recomende fazer também a leitura de 20.19-23, por razões de inteligibilidade. Segundo minha exegese, em v. 25 se deve traduzir crerei, em vez de acreditarei (Almeida).

II — Exegese

A perícope de Tomé não tem paralelos nos sinóticos. Quem lê a perícope de Tomé em João e se deixa orientar por ideias motoras das histórias pascoais nos sinóticos, poderia se deixar levar à seguinte compreensão: Tomé, um dos doze (Mc 3.18 par), não acredita na informação dos discípulos (Lc 24.11) ou, respectivamente, acha que os discípulos teriam visto um espírito (Lc 24.37), e exige uma prova mais palpável de que Jesus realmente vive. Esta prova e!e recebe através da auto-manifestação física do ressurreto (Lc 24.39-43), de modo que também ele vem a crer. Por desejar uma prova e não ter acreditado logo na informação dos discípulos, ele acaba sendo criticado (Mc 16.14). Ao ler a perícope em seu contexto joanino, vem-me, porém, outra compreensão. Nisto sigo o consenso da literatura abaixo indicada, de que o evangelho concluía originalmente com 20.30s, excluindo portanto, da interpretação o capítulo 21.

Tese 1: Com a concessão do espírito aos discípulos, a qual precede diretamente a perícope de Tomé, Jesus se tornou, para o evangelista, invisível em sentido teologicamente qualificado, mesmo para a comunidade dos discípulos. Sua aparição perante Tomé representa uma exceção especial pós-pentecostal.

Os eventos que nossa tradição eclesiástica, baseada em Lucas, separa por cinquenta dias, Páscoa e Pentecostes, estão encerrados com o dia da ressurreição, para o quarto evangelista. Na manhã de Páscoa o ressurreto adverte a Maria Madalena que ela não o detenha, uma vez que ainda não subira para o Pai, e a incumbe de comunicar aos discípulos que ele o faria agora (20.17). Este enunciado prepara aquilo que o evangelista narrará a respeito da noite da Páscoa, a concessão do espírito aos discípulos (20.22), conforme prometido por Jesus nas alocuções de despedida (14.16-20). Pois para o evangelista, a concessão do espírito aos discípulos pressupõe a ida de Jesus para o Pai (7.39). A concessão do espírito aos discípulos está ligada à aparição visível de Jesus perante seus discípulos, prometida na mesma passagem. Para o evangelista João, a transmissão do espírito inaugura, então, a época do espírito, assim como em Lucas o evento pentecostal inaugura a época da igreja. Durante esta época não está com os seus de forma visível, seja como Jesus terreno, seja como Jesus ressurreto. Ao invés, os discípulos têm agora outro consolador (14.16) ou seja, o Espírito Santo, enquanto que Jesus voltou para o Pai (16.5-7). Concomitantemente ele está invisível em sentido teologicamente qualificado também para a comunidade (16. 10).

Esta premissa teológica da perícope de Tomé corresponde à posição cronológica da mesma. A informação que os discípulos dão a Tomé, na qual estes a bem dizer realizam sua primeira pregação missionária e correspondem a seu comissionamento, ocorre no limite extremo do dia de Páscoa ou mesmo após este, visto que o dia judaico termina com o pôr do sol e, por outro lado, consta que Tomé não estivera presente à noite daquele dia. Especificação temporal expressa recebe então a aparição de Jesus perante Tomé, que é datada com a primeira reunião dominical da comunidade, uma semana após a Páscoa. As diferenças entre as situações aparentemente narradas em paralelo em 20.19 e 26 mostram que não se trata mais do grupo de discípulos que, amedrontados, mais uma vez estariam.

Como a rigor a época do espírito já teve início — Jesus, portanto é invisível e a comunidade está constituída — a aparição de Jesus perante Tomé constitui um caso especial pós-pentecostal, o que a narrativa ainda ressalta ao fazer a observação de 20.24, como que numa correção posterior, de que Tomé não estivera presente quando da primeira aparição de Jesus perante os discípulos (20.19). Neste evangelho essa aparição pós-pentecostal se justifica e se limita a ser exceção única pelo fato de Tomé ser caracterizado, numa manifestação incomum para o evangelista, como um dos doze (20.24), o qual, portanto recebera a promessa de rever a Jesus.

Tese 2: Para Tomé a mensagem da ressurreição de Jesus somente pode fundamentar fé se ela se refere à renovação da comunhão terrena com Jesus, na qual a fé se volta para Jesus de forma tal que o tenha fisicamente perante si.

Em 20.25 Kyrios não é título de soberania, mas designa, como também em 20.13,18,20, o Jesus terreno. A este, isto é, Jesus que acabou crucificado, os discípulos afirmam ter visto. Distanciando-me de toda a literatura consultada, penso que a resposta de Tomé nãp está articulando uma dúvida com relação aos discípulos ou sua mensagem, e sim ela exprime um mal-entendido grosseiramente naturalista da informação dada pelos discípulos. Com essa possibilidade o evangelista também opera no mais, como por exemplo em 3.4; 6.34; 8.52s. Tomé não entende a informação dos discípulos de que vimos o Senhor como proclamação da exaltação do crucificado para Deus, mas como anúncio de sua volta para o meio dos que vivem na terra. Sua identificação de Jesus se orienta na forma como ele fora visível pela última vez publicamente (19 23, 34s). Sua se reunindo a portas fechadas, mas de uma comunidade de discípulos, a qual novamente (20.26) se reuniu, a saber, no dia do Senhor (20.26). Fora o voto de paz, Jesus ao entrar nada mais tem a lhes comunicar, uma vez que já lhes comunicou todo o necessário (20. 20-23): Eles o tinham visto novamente e sua tristeza se transformara em alegria (16.16-20). Ele lhes deixara sua paz (14.25-29). Ele lhes dera o Espírito Santo (14.16-20) e os enviara. Com isto estava constituída a comunidade cristã. A constatação de que as portas estavam trancadas não é mais narrada em função do temor que os discípulos tinham dos judeus (20.19) (não mais se faz menção do temor), mas ao invés as portas trancadas apenas ainda servem para caracterizar a entrada prodigiosa de Jesus (20.26).

resposta declara que ele está disposto a crer caso novamente tiver perante si este Jesus em vida, o que quer dizer, corporalmente. Ele precisa vê-lo e tocá-lo. Caso contrário, fé não entra em cogitação para ele. O enunciado OU ME PISTEÜSO não tem um objeto, mas está em forma absoluta e tem sentido, religioso (1.7; 4.41s,48,53; 6.69; 11.15) como 20.29! PISTEÚEIN tem o sentido de crer, e não de acreditar como traduz Almeida. Aquilo que a primeira carta de João diz com referência à comunhão dos discípulos com Jesus é o que Tome quer ter novamente na situação pós-pascoal: Aquilo que foi desde o começo, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e nossas mãos apalparam, isto proclamamos: A palavra da vida (1 Jo 1.1). Para Tomé a palavra da vida depende totalmente de se poder contemplá-la e apalpa Ia com as mãos na pessoa de Jesus.

Esse mal-entendido também o caracteriza nas outras duas passagens em que seu nome é mencionado no quarto evangelho, de modo que no personagem Tomé, assim como no caso do personagem do discípulo amado é delineado um tipo bem determinado. Em 11. 15s Tomé entendeu erroneamente o discipulado relativo ao Jesus terreno como fidelidade terrena de um sequaz, até a morte, não percebendo que o discipulado haveria de atingir a sua meta na fé em Jesus. Nas alocuções de despedida (14.15) foi Tomé quem declaradamente não compreendeu que Jesus, ao ir para a cruz, estava indo para o Pai. Assim a crucificação de Jesus, como fim da possibilidade de ser sequaz na terra, num sentido bem específico, também representa para Tomé o fim de sua fé em Jesus: Somente a restauração da comunhão sensorial com Jesus é que pode tornar novamente possível a fé em Jesus, após a sexta-feira da paixão. Numa incrível condensação metafórica, a elevação de Jesus para a cruz é para o quarto evangelista ao mesmo tempo a exaltação de Jesus acima do mundo (12.32), de modo que vem a ser salvífica a contemplação do crucificado como sinal de salvação (3.14). Resumindo pode-se dizer concomitantemente sobre a resposta de Tomé: Assim como Tomé deixou de entender a crucificação como exaltação para o Pai (14.5), ele também deixa de entender corretamente o testemunho dessa exaltação na mensagem páscoa! dos discípulos. Assim como Tomé entendeu a fé como fidelidade terrena de um sequaz (11.7s,14-16), ele entende a informação dos discípulos, de que teriam visto o Senhor, no sentido de nova possibilidade de comunhão terrena sensorial, cuja concretização constitui para ele a essência da fé.

Tese 3: Através de um sinal Tomé obtém a fé no Senhor exaltado, a viver em união perfeita com Deus.

Diversos fatores indicam que o evangelista quer que a aparição de Jesus perante Tomé na presença dos discípulos seja entendida como sinal. Em primeiro lugar temos o versículo que se segue à perícope de Tome: Jesus fez perante os discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Em segundo lugar a exortação que Jesus dirige a Tomé - não sejas incrédulo, mas crente - mostra que sua aparição não apenas deve cumprir a condição para a fé, colocada por Tomé, pois caso contrário a exortação seria supérflua. Antes a aparição de Jesus perante Tomé coloca o mesmo frente à opção de doravante se mostrar crente ou incrédulo. Ocorre, porém, que no entender do evangelista todos os sinais efetuados por Jesus colocam frente a esta opção. Eles podem ser entendidos corretamente como sinais que indicam a comunhão de Jesus com Deus (3.2; 4. 19; 7.31; 9.17). Como tais eles podem provocar fé em Jesus. Ou, por outro lado, os sinais podem ser mal-entendidos como prodígios, pelos quais Jesus somente ainda é interessante em função dos milagres por ele realizados, sendo que então deixa de receber a devida atenção a sua comunhão com Deus, que simbolicamente transparece nesses milagres (2.23s; 6.26). Em terceiro lugar, a fé de Tomé condicionada pela visão de Jesus é relativizada por uma fé que não vê. De modo semelhante, ao longo de todo o evangelho é relativizada a fé condicionada por sinais. Pois mesmo a fé que recebe positivamente o sinal e que confirma a comunhão do autor do milagre com Deus, ainda carece de aprofundamento e radicalização em João até que ela capte a natureza única dessa comunhão de Jesus com Deus (3.2-13; 4.19-26; 6.14-69; 9.17-38). Isto relativiza a fé condicionada pela visão do milagre na medida em que a radicalização da fé; em última análise, não mais se deve à percepção do milagre como sinal, mas ao auto-testemunho de Jesus (4. 26; 6.68; 9.37; 11.25s) ou à atuação do espírito (3.5). Neste sentido o condicionamento da fé pela visão de sinais pode ser descrita como concessão às pessoas deste mundo (4.48), quando na realidade o auto-testemunho de Jesus deveria bastar (10.37s; 14.11).

Frente a este pano de fundo joanino é que o encontro entre Jesus e Tomé adquire consistência. A aparição de Jesus apresenta todas as características de um milagre: O Jesus crucificado e sepultado se mostra novamente vivo, ele fala, permite ser visto e apalpado. Ele penetra de forma miraculosa num ambiente fechado, e mesmo a distância tem conhecimento do desejo de Tomé. A condição que Tomé coloca para crer lhe é cumprida. Ele pode crer naquele sentido em que ele o imaginara: Afinal não estaria restabelecida a comunhão sensorial entre Tomé e Jesus, assim como ela fora restabelecida entre Lázaro e suas irmãs após a ressurreição deste (12.11s)? Não seria este Jesus aquele mesmo homem prodigioso que sabia caminhar sobre as águas (6.19) e que agora penetra na sala trancada? Não tem ele aquele mesmo conhecimento telepático tantas vezes demonstrado (1.42; 1.47s; 4.17s)? Que Jesus e o Pai são unos justamente não se pode' perceber em sua aparição após a sexta-feira da paixão, da mesma forma como não se podia deduzi-lo do Jesus terreno com seus milagres. Tomé ainda poderia interpretar erroneamente a aparição miraculosa, mas bem concreta e sensorial de Jesus como sendo restauração da comunhão com o Jesus terreno. Neste caso ele entenderia mal o sinal da aparição pessoal de Jesus como prodígio. Depois de lhe conceder o sinal, Jesus entretanto, o exorta a não se mostrar incrédulo, mas crente (20.27). Crente Tomé seria se apreendesse a unidade do crucificado parado vivo à sua frente, com Deus de forma tal que ele cresse que a vida do próprio Deus invisível estaria no crucificado. Justamente isto a confissão de Torne exprime: Senhor meu e Dons meu! Essa intitulação é singular em todo o evangelho. Ela reconhece a unidade do Jesus crucificado com o Pai sob o ponto de vista de sua glorificação ocorrida na exaltação (17.5), na qual ele pode ser novamente denominado de Deus (cf. 1.1).

Tese 4: Jesus pronuncia bem-aventuradas aquelas pessoas que creem, mesmo que não mais o vejam ou jamais o tenham visto, porque o fato de sua fé não ver corresponde à sua atuação no Espírito Santo.

A bem-aventurança daqueles que creem e não veem se refere exclusivamente à situação pós-pentecostal, e exclusivamente a esta. O versículo final da perícope não é um apêndice que serve de exortação, mas constitui de saída a meta de toda a perícope. Isentos de crítica continuaram aqueles discípulos que, apesar do testemunho de Maria Madalena — Vi o Senhor (20.18) — somente vieram a crer ao ver a Jesus (20.20). Tampouco é criticado a fé da própria Maria Madalena, suscitada pelo ouvir e ver a Jesus. Nas aparições pascoais de Jesus ocorreu, sob este aspecto, aquilo que ocorreu durante to¬da a atuação terrena de Jesus, ou seja, que a fé se voltava para o logos encarnado através da visão. Este foi justamente o sentido dessa época: 1.14 (cf. 1.29; 4.26; 9.37). A modificação qualitativa da relação da fé com Jesus apenas ocorre com o envio do Espírito. Essa modificação é que constitui o tema da perícope de Tomé. A pergunta final de Jesus dirigida a Tomé relativiza o caminho de Tomé em direção à sua fé no Senhor exaltado, isto é, o caminho que passou pelo enxergar ao Jesus invisível na época do Espírito, Ele precisou desse sinal, e isso acaba sendo criticado, embora lhe seja concedido (cf. 4.48). Em contrapartida recebe a bem-aventurança a comunidade pós-pentecostal, cuja fé está voltada para o Jesus crucificado mesmo sem enxergar, pois sua fé corresponde à atuação invisível do Jesus exaltado no Espírito Santo. Na frente de todos os discípulos o Senhor exaltado declara que a visão crente de sua pessoa física, como ela foi possível para os discípulos durante a sua estadia na terra, inclusive no dia de Páscoa, e como ela foi possibilitada mais uma vez como sinal para Tomé após o envio do Espírito, não representa vantagem frente a todos aqueles cuja fé não pode ou não mais pode voltar-se para a pessoa fisicamente presente do logos encarnado. Para o evangelista está respondida, assim, um pergunta da comunidade no período pós-apostólico.

Ill — Passos na pregação:

1. A situação dos discípulos uma semana após a Páscoa: Eles se reúnem como comunidade cristã. — Quasimodogeniti: Os que foram batizados na Páscoa pela primeira vez participam plenamente do culto. Hoje: A comunidade se reúne, renascida de água e espírito.

2. Tomé um caso especial? Sua pergunta também acompanha a nós, que temos a Bíblia e sabemos da ressurreição de Jesus: Quão mais seguros nos sentiríamos na fé, caso pudéssemos ver Jesus em pessoa. Anseios: Tornar Jesus visível por meio de provas históricas, se possível até a sua ressurreição. Poder ver a Jesus após a própria morte. Entretanto lembranças e expectativas e mesmo as mais pias concepções não podem ocultar para a nossa atualidade o fato de que não podemos ver a Jesus.

3. Tomé teve uma chance melhor. Teria sido mesmo melhor? A ambiguidade da aparição visível de um morto. Afinal Lázaro também não o fez e mesmo assim não cremos nele? Polémica contra espiritismo e a crença em pessoas redivivas (zombies, zumbis). No que tange a ressurreição de Jesus o que importa é nossa fé em Deus, e somente em relação ao Deus vivo é que faz sentido falar da ressurreição de Jesus.

4. Orientação dada pelo próprio ressurreto: Ele mostra os sinais deixados por sua crucificação. Ao dar sua vida na cruz, Jesus revela para este mundo a vida de Deus. O crucificado, sua obra e morte revelaram o Deus vivo. Isto é confirmado pela aparição de Jesus perante os discípulos. No crucificado Deus quis estar em nosso mundo, entregando-se incondicionalmente a este, em amor. Deus rejeita toda o qualquer objeção contra este caminho a qual, esteja interessada um verificar o sucesso dessa entrega. Neste sentido a cruz é de fato n última instância. Nela ele revela sua glória e supera o mundo. O fato de o crucificado estar vivendo e aparecer a seus discípulos é a confirmação de que foi realmente Deus quem, ao dar Jesus sua vida na cruz, definiu sua relação com nosso mundo; é também confirmação de que isto doravante passa a valer. Ora em diante podemos, olhando para o Jesus crucificado, crer que Deus é amor. Tomé o faz ao confessar a Jesus como seu Deus e seu Senhor.

5. Que significa ter o crucificado como seu Deus e Senhor? A cruz como princípio estrutural do senhorio de Jesus no espírito: o amor recíproco que vai até ao sacrifício da própria vida (Jo 15. 12s). O amor recíproco passa a ser testemunho para o mundo. Contar um exemplo. Quem quiser entrar no assunto de movimentos de solidariedade e seus mártires, encontra fundamentação mui especial no evangelho de João, uma vez que ali é o amor para com os irmãos que Jesus testemunha (13.34s) e que provoca o ódio do mundo (15. 18-21). Por outro lado se deveria considerar no caso concreto o fato do que em todo e qualquer movimento de solidariedade empiricamente o amor para com os irmãos anda de mãos dadas com a luta pelos próprios interesses. Essa ambiguidade, entretanto, não deveria receber uma crítica abstrata na prédica, mas deveria transparecer de formal tal que, dentro de uma perspectiva de esperança, a pregação convide para uma solidariedade crítica embora ativa.

6. O fato de a fé não enxergar não caracteriza fé cega, mas fé pura. O adágio segundo o qual os olhos da fé veem o que a incredulidade cega não vê, não se casa com nosso texto. O fato de a fé não enxergar é essencial à fé, porque no não-enxergar se exprime a relação da fé com seu fundamento. A cruz de Cristo mostra um crucificado, um morto. A fé supera essa pedra de tropeço e se volta para o Deus vivo invisível, que ali se manifesta, que sem reservas ama este mundo. Quem vai atrás disto mesmo assim não haverá de enxergar mais, porém é bem-aventurado por causa desta sua fé. O ressurreto nos quer dar semelhante fé porque quer estar aí também para nós, que vivemos nesta terra muito tempo depois dele.

IV — Subsídios litúrgicos

1. Confissão de pecados: Senhor Jesus Cristo, para nós é difícil crer que teu amor foi vitorioso neste mundo. Vemos demais que outras forças conseguem impôr-se. Perdoa-nos por tentarmos substituir a vitória do teu amor na cruz por vitórias de nossa própria autoria. Nós ficamos defendendo nossa posição e nosso prestígio. Quando o conseguimos, sentimo-nos bem. Senhor, temos medo de perder a nossa vida. Afinal, de qualquer forma haveremos de morrer. Então não queremos empenhar ainda por outros aquilo que temos para nós. Preferimos, estar entre os vencedores. Senhor Jesus Cristo, que por nós morreste para que percamos o medo de perder nossa vida, compadece-te de nós. Tem piedade de nós, Senhor!

2. Anúncio da graça: João 16.33b.

3. Oração de coleta com referência a 1 Pedro 1.3-9: Senhor onipotente que na morte do teu filho amado tomaste sobre ti e superaste toda a contradição das pessoas contra ti, concede-nos que venhamos a te dar razão de todo coração. Por Jesus Cristo, nosso Senhor, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina de eternidade a eternidade. Amém.

4. Assuntos para a oração final: Nosso Senhor e Deus, nós te agradecemos por podermos viver dentro do âmbito do teu amor. Por isso vimos a ti pedindo por todos aqueles que sofrem em teu mundo. Muitos não creem que o que está por trás da criação deste mundo é teu amor inescrutável. Faze de nós irmãos dos famintos, que venham a perceber que em teu mundo não é preciso morrer de fome. Vimos até ti e pedimos em favor de todos aqueles que estão oprimidos. Muitos não creem no espantoso ato do teu amor, que veio a consumar a redenção deles. Faze-nos solidários com eles, para que venham a perceber que em teu mundo existe um movimento de libertação. Vimos até ti e pedimos por todos aqueles perseguidos pelo medo. Muitos não creem que a vitória do amor é o alvo de todas as coisas. Dá-nos ânimo para que modifiquemos nosso modo de vida no sentido de que surja espaço vital e que outras pessoas venham a perceber que em teu mundo a esperança tem uma chance. Acolhe a nós e a eles. Tu pronunciaste bem-aventurados aqueles que creem, embora não te vejam. Ajuda que não venham a perder a fé por estar vendo a nós. Amém.

V – Bibliografia

- BONHOEFFER, D. Vier Predigtmeditationen über johanneische Perikopen I. Quasimodogeniti. In: Gesammelte Schriften. v. 4. München, 1961.
- BRAKEMEIER, G. Observações introdutórias referentes ao Evangelho de João. ln: Proclamar Libertação, v. 8. São Leopoldo, 1981.
- BULTMANN, .R. Das Evangelium des Johannes. 17. ed. Göttingen. 1962.
- FEINE-BEHM-KÜMMEL Einleitung in das Neue Testament. 14. ed. Heidelberg, 1965.
- GRASS, H. Oster-geschehen und Osterberichte. 3. ed. Göttingen, 1964.
- STECK, K. G. Meditação sobre João 20.19-31. In: Göttinger Predigt-Meditationen. v. 15. Göttingen, 1961.
- VOIGT, E. Meditação sobre João 20.19-29. In: Der schmale Weg. Göttingen, 1978.


Autor(a): Wilfried Groll
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 2º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 29
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1984 / Volume: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14653
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