Lucas 22.14-15

Alocução Culto Eucarístico

24/11/1994

Pôs-se Jesus à mesa e com ele os apóstolos. E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer esta páscoa, antes do meu sofrimento. (Lucas 22.14-15.)

Prezados irmãos e irmãs em Jesus Cristo!

De que sofrimento fala Jesus? Certamente, daquele que viria. Diversos acontecimentos o aguardavam. Disso ele tinha consciência. No Getsêmani — no Monte das Oliveiras — Jesus fora orar, ao que seus discípulos adormeceram na vigília. Nisso se aproximaram os sacerdotes, capitães e anciãos para prendê-lo. Jesus foi entregue pelo discípulo chamado Judas. O discípulo Pedro, aquele que se mostrara mais corajoso, o negou três vezes. Sob a zombaria e o espancamento dos soldados, Jesus foi conduzido para o interrogatório dos chefes dos sacerdotes e escribas no sinédrio. Também pelo governador Pilatos ele foi interrogado e acusa-do, porém nada ficou provado — crime nenhum cometera. Entretanto, guardas, sacerdotes e a multidão insuflada ditam a sentença condenatória: Crucifica-o! Crucifica-o!

Então, com o aval de Pilatos, Jesus é torturado, sendo obrigado a carregar a sua própria cruz. Lá no Calvário, nela é pregado — é crucificado. A multidão, que presenciara tudo, aos poucos foi se retirando, inclusive a mãe de Jesus, um discípulo e outras duas mulheres. Os soldados ainda lançaram a sorte sobre suas vestes. Quanto escárnio e horror! Quanto sofrimento! Na extrema dor e agonia, saciaram-lhe a sede com vinagre. Até os criminosos crucificados, um de cada lado, zombaram dele. Nisso, Jesus de Nazaré inclinou a cabeça, soltando um grande grito — morreu.

Prezados irmãos c irmãs em Jesus Cristo!

O sofrimento de Jesus — a sua morte de cruz. O sofrimento humano — o nosso sofrimento: esta é a questão. No mundo de hoje inúmeras são as formas de sofrimento. Existe sofrimento que suporta as consequências do engajamento em prol de uma causa, por doação e dedicação a ela. Aqui o sofrimento é causado por outros: o sofredor é a vítima. E este é o caso de Jesus de Nazaré. Existe o sofrimento decorrente de carência material: da subnutrição, da fome, do subemprego, de estar sem casa, sem terra... Este sofrimento é decorrente da exploração e dominação.

Existe também o sofrimento que provém de carência afetiva — dos distúrbios no relacionamento uns com os outros. Existe o sofrimento decorrente da insatisfação, da frustração ou ruptura com as pessoas que dão sentido e alegria à nossa existência. Existe o sofrimento daqueles/as que são vítimas da imprudência, da estupidez e agressividade humanas. São vítimas dos acidentes de trânsito, das guerras, dos agrotóxicos, dos assaltos e assassinatos... Além do sofrimento decorrente das catástrofes naturais: dos temporais, vendavais, granizes, enchentes, incêndios e tremores de terra, existe o sofrimento dos doentes, especialmente os incontáveis casos de doenças crónicas, incuráveis e fatais. Existe ainda o sofrimento decorrente de discriminação ou marginalização racial ou grupai. Ainda temos o sofrimento decorrente de alienação religiosa...

Contudo, existe também o sofrimento do qual não somos vítimas, mas direta ou indiretamente autores. Sim! Existe o sofrimento de que não somos vítimas — mas autores e responsáveis. É o sofrimento que existe porque criamos ou mantemos regras ou práticas e/ou simplesmente nos conformamos com este mundo de sofrimento. Este sofrimento tem sua raiz — sua causa — na consciência de sermos autores/as do sofrimento alheio, de sermos culpados/as, de sermos pecadores/as: eu e você, você e eu!

Prezados irmãos e irmãs em Jesus Cristo!

Nesta semana da Paixão somos lembrados de que Jesus morreu pelos nossos pecados. Pela sua morte em nosso favor, ele nos concede o perdão de Deus. Na última ceia, naquela páscoa, Jesus se deu por seus discípulos/as. É isto: antes de seu sofrimento — de ser arrastado ao Calvário —, Jesus instituiu a Santa Ceia. Ela se destina a toda pessoa capaz de confessar sua culpa. Destina-se a toda pessoa que reconhece sua própria culpa e pecados. Somente a pessoa consciente de seus pecados saberá valorizar o perdão de Deus, dispondo-se a mudar de vida e a perdoar o seu próximo.

Na Santa Ceia Jesus Cristo está presente de forma concreta e visível ainda hoje. A sua presença, porém, não acontece porque nós nos reunimos e o convocamos. Antes é o contrário: nós nos reunimos e temos comunhão porque Jesus veio ao nosso encontro, dando-se por nós. Por isso, na Santa Ceia nós compartilhamos as nossas aflições, a consciência pecaminosa e tristezas. Segundo Martim Lutero, na Santa Ceia nos conscientizamos do nosso estado pecaminoso. Assim nos fortalecemos para lutarmos contra o pecado — a culpa que causa sofrimentos, proporcionando alegrias no dia-a-dia. Na Santa Ceia Jesus quer nos ajudar: aliviar e justificar. Por isso, ela é a ceia da graça, da alegria, da comunhão...

Jesus Cristo nos aceita e nos inclui na sua mesa. Por tudo isso, prezado irmão e prezada irmã, venha com o coração alegre e aliviado.

Todos juntos queremos, agora, orar do hinário Hinos do Povo de Deus o hino 54 (estrofes l a 3) ou o hino 150. Amém.

(Logo após, então, são trazidos os elementos da Santa Ceia para o altar. Segue-se a liturgia do sacramento da Santa Ceia.)


Autor(a): Carlos Luiz Ulrich
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 22 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 15
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Liturgia
Perfil do Texto: Alocução
ID: 17682
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